JOSÉ DA COSTA FIALHO

(1698~+-1780)

Em Janeiro de 1677, em Lisboa, na Freguesia de São Nicolau, nasceu Manoel, filho de Antônio Francisco e sua mulher Agostinha da Costa:

"Em os dez dias do mês de janeiro de 1677, batizei a Manoel filho legítimo de Antônio Francisco e de sua mulher Agostinha da Costa. Foi padrinho Antônio Figueiredo, madrinha Deodiva"

Cerca de três anos mais tarde, na mesma freguesia, aos 10 de junho de 1680, batizava-se Antônia, filha de Manoel Fialho e Margarida Francisca.

"Em os dez dias do mês de julho de 1680, batizei a Antônia, filha de Manoel Fialho, cuteleiro, e de sua mulher Margarida Francisca. Padrinho Manoel Filho e Aleixa Estevo Franco"

Manoel e Antônia casaram-se, em 1697, na Igreja da Santa Casa de Misericórida de Lisboa, tendo o cura Faustino Fialho lavrado o registro do casamento:

"Aos 20 de junho de 1697, por comissão do dr. Sebastiao Monteiro Davide, desembargador da Relação Eclesiástica e Juiz dos Casamentos, Vigário Geral neste Arcebispado, eu o Padre João da Costa de Oliveira, tesoureiro da Santa Casa de Misericórdias, presentes as testemunhas, se recebeu Manoel Francisco, filho de Antonio Francisco e de Agostinha Costa, batizado na freguesia de Sao Nicolau, donde é morador, com Antonia Maria, filha da Manoel Fialho, já defunto, e de Margarida Francisca, batizada na freguesia de São Nicolau, donde é moradora, na forma do Sagrado Concílio Tridentino, foram testemunhas Manoel Soares, irmao da Santa Casa, e Roque da Costa, morador ao Salvador, Agostinho Soares, morador ao Campo Grande, que comigo assinaram era ut supra, o Cura Faustino Fialho, Manoel Soares"

O casal foi morar atrás da Igreja de N.S. da Parma, vivendo ambos do ofício de forneiro. Forneiro, segundo a terminologia da época, era quem lidava com fornos, não para feitura de pães, mas para trabalhar metais. Corresponderia aos ofícios de funileiros, ferreiros e serralheiros. Àquela época não havia a especialização de hoje, nem diversidade de metais.O bairro onde moravam havia uma concentração desses forneiros, conforme se pode deduzir do depoimento de João Luís no processo de habilitação sacerdotal de um neto daquele casal. João Luis qualificou-se natural da freguesia de NS de Belem do Rio Moceiro, termo de Cintra de idade de 53 anos (em 1754), morador na Rua dos Forneiros, em Lisboa, e sendo ele próprio forneiro. Declarou, então, que

" que conheceu Manoel Francisco Feyo o qual foi forneiro e conheceu sua mulher cujo nome não se lembra, nem sabe ele testemunha onde foram batizados e os conheceu por moradores atrás de N.S. da Palma."

Observe-se que nesse depoimento, João Luís acrescentou um sobrenome a Manoel Francisco: Feyo, conforme a grafia original. Poderia ser apenas uma alcunha em razão da aparência de Manoel, mas não era. Em outro depoimento, João Alves Guimarães, de mais ou menos 73 anos (em 1752), procurador de causas [advogado], morador na Rua do Mestre Goncalo, freguesia de São Nicolau, Lisboa, declarou que

" mora há mais de 60 anos [na frequesia de São Nicolau], [sendo] natural de NS da Purificacão de Bucellas [e ] que conheceu na vizinhança a Manel Francisco Feio, avô paterno que se diz do habilitando, e sabe que este foi natural e batizado nesta freguesia de São Nicolau e que foi forneiro e que foi filho de Antonio Francisco Feyo e de Agostinha da Costa, que também conheceu ele testemunha e tinham o mesmo ofício e que conheceu a Antônia Maria, avó paterna do habilitando e também natural da mesma freguesia"

Esse depoimento confirma, então, o sobrenome Feio, bem como a profissão e local de residência de Manoel e Antônia Maria, que iniciavam naquele ano de 1697 a sua vida conjugal. Não demorou a vinda de um rebento:

"Aos 3 dias do mês de abril de 1698, batizei a José, filho de Manoel Francisco e sua mulher Antônia Maria. Foram padrinhos Domingos Fialho, o cura Domingos da Silveira"

Seria de se esperar que o pequeno José, crescendo alí no bairro dos forneiros, filho e neto de forneiros, viesse também a aprender esse ofício. Engano. Manoel da Silva, forneiro de latão, natural do lugar da Gualva freguesia de Nossa Senhora das Misericordias da Vila de Bucellas, declarou que era

"morador na calçada que vai para o largo desta freguesia de São Nicolau de Lisboa [e] que conheceu muito bem a José, o qual aprendeu o ofício da barbeiro".

O ofício de barbeiro, àquela época, tinha uma conotação diferente da de hoje. Não se tratava apenas da profissão de cortar cabelos. Na verdade, o barbeiro tinha algum conhecimento de medicina, sendo habilitado a curar feridas, fazer sangrias, aplicar ventosas e receitar medicamentos naturais. Em termos de hoje, poderiam ser comparados aos práticos de farmácia, enfermeiros ou, modernamente falando, paramédicos.

Talvez José tenha aprendido seu ofício juntamente com Pedro dos Santos, barbeiro, de 55 anos (em 1754),

"que conheceu com vagar a José".

"Com vagar" dá a entender que, de fato, os dois conviveram mais tempo que o usual, talvez exercendo juntos o ofício.

José, que tomou os sobrenomes "da Costa" de sua avó paterna e "Fialho" do avô materno, além de não ter se tornado forneiro, procurou novos rumos para sua vida: o Brasil, conforme nos relatam vários depoimentos:

"diz que conheceu José da Costa Fialho, pai que diz ser do habilitando, o qual foi natural desta freguesia de São Nicolau que embarcou para fora e não o tornou a ver mais" (José Alves Guimarães)

"diz que conheceu muito bem a José da Costa Fialho (...) o qual embarcou e foi natural da freguesia de São Nicolau" (João Luís)

"que conheceu com vagar a José da Costa Filho (...) desta freguesia de São Nicolau donde foi para o Brasil" (Pedro dos Santos).

" José da Costa Fialho foi para o Brasil onde ouviu dizer que se casou". (Manoel da Silva).

Não se sabe exatamente com que idade José da Costa Fialho embarcou para o Brasil, mas aos 22 anos de idade, em 1720, em Olinda, Pernambuco, ele já se casava com Maria de Sousa Delgado:

"Aos vinte dias do mês de janeiro de 1720, nesta Matriz de São Pedro, corridos os banhos na foram do Sagrado Concílio Tridentino, se receberam na presença do Padre Felipe Borges Teixeria com minha licença, José da Costa, filho legítimo de Manoel Francisco e de sua mulher Antônia Maria, ambos naturais da cidade de Lisboa, e Dona Maria de Sousa, exposta na casa do alferes Domingos de Sousa Delgado, assistiram como testemunhas o Mestre de Campo Cristóvão de Mendoça Array e o almoxarife Manoel Lopes Santiago, que todos comigo assinaram. O vigário Antonio de Sousa Carneiro, Padre Felipe Borges Teixeira"

Em Olinda, nasceram um filho e três filhas do casal. O filho, Francisco Xavier da Costa Fialho, nascido aos 10 dias do mês de dezembro de 1721, foi ordendado sacerdote em 1757 e de cujo processo de habilitação foi possível retirar as informações aqui transcritas.

Ainda restam não desvendados os desígnios que levaram José da Costa Fialho e toda família a enfrentarem um longa viagem desde Olinda, Pernambuco, até São João Del Rey, em Minas Gerais. O fato é que aqui fixaram residência definitiva. As filhas se casaram em São João Del Rey, deixando grande descendência entre os mineiros. Francisco Xavier da Costa Filho recebeu as ordens sacerdotais em Mariana em 1757.

José da Costa Fialho, ao que tudo indica, findou seus dias em Minas Gerais, tendo falecido entre 1770 e 1780.

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