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Meus antepassados de sobrenome Câmara, originários da Ilha da Madeira, chegaram ao Brasil no início do século dezoito (1700~1720), fixando-se, inicialmente, na hoje cidade de Barão de Cocais, antigamente chamada São João do Morro Grande, da qual são considerados fundadores e primeiros habitantes.
A geração seguinte, contudo, viveu em Rio Piracicaba, cujo nome antigo era São Miguel do Piracicaba, no período de 1750 a 1780, mais ou menos. A partir de 1780, os Câmaras já eram encontrados nas localidades de Piedade do Paraopeba, Betim e Curral del Rey (hoje, Belo Horizonte).
Meu trisavô, Joaquim Gomes Rodrigues da Câmara, nascido em Piedade do Paraopeba, foi para Ouro Preto, onde, em 1833, se casou. Nessa cidade nasceram seus filhos. Dali, por volta de 1840, Joaquim empreendeu uma longa viagem, cerca de 300 quilômetros, até Formiga, no oeste de Minas, onde já vivia um tio dele, desde, aproximadamente, 1820. Formiga era, então, apenas um arraial chamado São Vicente de Ferrer de Formiga.
Joaquim Gomes Rodrigues Câmara, seu irmão Delfino e o tio deles, João Gomes Rodrigues da Silva (da Câmara), deixaram muitos descendentes na região. Cinco deles, embora já não ostentando o sobrenome Câmara, vieram a governar a cidade, como prefeitos.
Dada a estreita ligação da cidade com a família Câmara, convém destacar alguns aspectos históricos:
Do Dicionário Histórico e Geográfico de Minas Gerais, do Dr. Waldemar de Almeida Barbosa, colhe-se o seguinte informação sobre as origens da cidade de Formiga:
"...é uma das raras cidades mineiras que conservam o nome dado pelos primeiros povoadores da região. Realmente, as sesmarias concedidas ali, antes da ereção da capela, fazem menção da paragem chamada a Formiga. Assim a de Antônio Gonçalves Lopes, de 1768, e a de Domingos Antônio da Silveira, de 1777. Também numa carta do Conde Valadares ao Capitão-Mor do Tamanduá, de 1769, há menção de nomes de indivíduos 'moradores no sertão chamado da Formiga..."
Há três versões sobre a origem deste curioso nome de cidade. A primeira está relacionada com os tropeiros que se arranchavam às margens de um ribeirão e tinham suas cargas de açúcar atacadas por formigas, resultando daí a denominação "Rancho, ou Sítio, das Formigas. O nome passou ao riacho, "Ribeirão das Formigas", e depois ao povoado.
Outra versão diz que o nome é decorrente dos índios que habitavam a região, chamados "Formigas" por terem o costume de comer uma espécie de formiga, as tanajuras ou içás.
Finalmente, Djalma Garcia Campos defende a tese de que o nome foi dado pelos pioneiros de origem açoriana, que repetiam na região os topônimos de sua terra natal. Assim, São Miguel, hoje chamada Calciolândia, copiou o nome da maior ilha do Arquipélago dos Açores. Furnas também denomina um lago na Ilha de São Miguel. A hoje cidade de Candeias teve seu nome a partir de N.S.das Candeias, padroeira da Ilha do Pico. Nessa linha, chegou-se a Formiga, cuja região lembrava aos pioneiros os Ilhéus das Formigas, localizados entre a Ilha de São Miguel e a de Santa Maria.
"Depois que surgiu a capela, as sesmarias já fazem menção à aplicação de São Vicente de Ferrer de Formiga. Esta capela, dedicada a São Vicente de Ferrer, foi erigida de conformidade com a previsão episcopal de 13 de abril de 1780."
No acervo de Livros Paroquiais da Diocese de Divinópolis (livro no. 119), há um assento de batizado que certamente terá sido um dos primeiros realizados na Capela de São Vicente de Ferrer:
"Aos sete de janeiro de 1771, o reverendo Pe. Dr. Salvador Pais Godoi batizou solenemente a Vicente, filho natural de Ana de Barros. Foram padrinhos o Capitão José de Sousa Souto e Ana Roza de Jesus. E para constar mandei fazer este assento."
O naturalista francês, Auguste de Saint-Hilaire, passou pelo povoado de Formiga por volta de 1819 e no relato que deixou, "Viagem às Nascentes do Rio São Francisco", dá indicação das remotas origens da cidade:
"...O povoado estava então com pouco mais de mil habitantes, uma quarta parte dos quais, aproximadamente, era constituída por pessoas da raça branca. Entretanto, em meados do século anterior o arraial ainda nem existia. Conheci um ancião que fora o primeiro a se estabelecer ali, em 1749, ocasião em que se iniciou a construção de uma capela."
O francês não registrou o nome do ancião e a história de Formiga perdeu um significativo dado. O saudoso Leopoldo Correia, médico e historiador, em seu "Achegas à História do Oeste de Minas", entendeu que o ancião mencionado pelo gaulês talvez fosse o Sargento-Mor João Gonçalves Chaves, cuja provisão foi concedida aos 11 de março de 1765.
Seguindo a cronologia da história da cidade, em 1832, criou-se a Paróquia de São Vicente de Ferrer. O censo demográfico de 1838 revelou que o arraial e região contavam com 6290 habitantes. No ano seguinte, foi elevado à condição de vila com o nome de Villa Nova de Formiga e, pela Lei 880 de 6 de junho de 1858, fundou-se a cidade.
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