NOSSA SENHORA DO BOM SUCESSO

Este título teve início em Portugal, no século XVI, onde havia uma irmandade, cuja protetora era "Nossa Senhora do Bom Sucesso dos Agonizantes". Por volta de 1637, veio para o Rio de Janeiro o Padre Miguel Costa, muito devoto da Senhora do Bom Sucesso, que trouxe uma cópia de sua imagem. Dois anos depois, com a ajuda de alguns fiéis, ele providenciou a construção de um templo. Na festa de inauguração, no dia 11 de setembro, estando o Santíssimo Sacramento exposto, três sacerdotes afirmaram ter visto na Hóstia Sagrada a imagem de Maria Santíssima.

No final do século XVII havia em Pindamonhagaba, no atual Estado de São Paulo, uma pequena matriz dedicada à Senhora do Bom Sucesso. Entre seus devotos estava o Padre João de Faria Fialho, que reedificou e enriqueceu o templo.

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Nossa Senhora do Bom Sucesso

Alguns anos mais tarde, esse Padre Faria participou em uma das primeiras bandeiras de desbravamento nos sertões dos Cataguás (Minas Gerais antigamente era conhecida como "Campo dos Cataguás" devido à tribo de índios que habitava o seu sertão). Ele descobriu ricas jazidas de ouro no sopé do Itacolomi, no local onde se encontra o bairro da cidade de Ouro Preto, que tomou o seu nome. Confiando na proteção da Virgem do Bom Sucesso, o vigário bandeirante levou uma imagem da Santa em sua ousada expedição e, após o êxito alcançado, ergueu em agradecimento à Mãe de Deus uma pequena capela sob este orago, junto aos veios auríferos.

Após a retirada do Pe. Faria de Vila Rica, grande escândalo abalou a ermida, que foi interditada devido ao assassinato de um sacerdote dentro da igreja, quando celebrava a Missa. Os fiéis construíram um outro templo dedicado à sua Padroeira, conhecido atualmente como a "Capela do Padre Faria". Devido ao êxito da "bandeira" do Padre Faria, a Senhora do Bom Sucesso passou a ser invocada também como Protetora dos bens terrenos, não perdendo entretanto seu antigo caráter protetor. O culto espalhou-se pelo Vale do Paraíba e na região das Minas Gerais, onde os santuários mais famosos encontram-se nas cidades de Caeté, Bom Sucesso e Minas Novas.

Em 1740 era pároco na Matriz de Vila Nova da Rainha (hoje Caeté) o Pe. Henrique Pereira, homem bom e zeloso do bem de suas ovelhas. Naquela época era costume as famílias se apresentarem na igreja para se confessarem e depois recebiam um bilhetinho do padre. Este bilhete era denominado "escrito de desobriga", com o qual poderiam receber os sacramentos.

Certa vez, um chefe de família muito rígido levou uma de suas filhas à Matriz a fim de ser desobrigada pelo pároco. Tendo ela confessado um pecado que o padre se negou a absolver, a moça, temendo o castigo que o pai lhe infligiria, se não a visse na mesa da comunhão, começou a gritar dizendo: "O Sr. Vigário está me solicitando no confessionário! Meu pai, acuda-me!" O povo amotinou-se dentro da igreja e o sacerdote foi preso, algemado e enviado a Lisboa, pois seu suposto crime era da alçada do Santo Ofício.

Atendendo a sugestão de um amigo, o padre Henrique recorreu à proteção da Virgem do Bom Sucesso, prometendo erguer-lhe um magnífico templo em Vila Nova da Rainha, se a verdade fosse descoberta sem que ele tivesse de revelar o segredo da confissão. Por admirável coincidência, no mesmo dia a moça caiu doente e resolveu confessar a outro padre a verdade dos fatos. O sacerdote obrigou a jovem a fazer uma confissão pública diante das autoridades e pouco depois ela morria. Enviada a declaração à rainha D. Maria, o Padre Pereira foi libertado e recebeu trinta mil cruzados para iniciar a construção da igreja dedicada à Senhora do Bom Sucesso.

Esta lenda não corresponde à verdade histórica, pois D. Maria I só se tornou rainha em 1777. Segundo o cônego Raimundo Trindade, o padre Henrique foi julgado e reconheceu sua culpa, tendo partido para Portugal a fim de perder de vista a tentação que o ia perdendo. O historiador conta ainda que o vigário de Caeté regenerou-se e morreu chorado pelo povo e com a reputação de um santo.

Outra lenda se narra a respeito da chegada da imagem da Senhora do Bom Sucesso a Caeté. Conta-se que o Pe. Pereira, tendo que partir para sua paróquia, ajustou com um tropeiro a condução da estátua da Virgem, adquirida com o donativo de devotos ricos de Lisboa. Certa tarde, enquanto jantava em sua residência, ouviu o tropel de animais à sua porta. Um escravo foi ver quem era e voltou, gritando: É a Santa, meu Senhor!" O sacerdote acudiu logo e, vendo a padiola que carregava a imagem, procurou debalde pelo tropeiro e seus ajudantes. O povo, admirado, exclamou: "Milagre!" Com efeito, o milagre parecia convincente, porque várias horas depois o tropeiro e os tocadores das bestas de carga ainda estavam longe dali, procurando a padiola. A caravana havia sido dispersada por uma nuvem de marimbondos e somente os animais que carregavam a Santa haviam sido poupados e foram parar, sem guia, nas portas do Vigário.

Não se sabe ao certo quando foi iniciada a construção da magnífica igreja de Caeté, toda em cantaria azul e branca, um dos mais belos templos de Minas Gerais, atribuído ao arquiteto Bracarena. Diogo de Vasconcelos afirma ser ela uma obra-prima da época e situa a sua inauguração em 1765; todavia no frontispício da igreja figura a data de 1757.

Nossa Senhora do Bom Sucesso,
Rogai por nós que recorremos a vós!

Fonte:

"Invocações da Virgem Maria no Brasil", de Nilza Botelho Megale, Ed. Vozes, 1998, pp. 95-99.

Colaboração:

Nossos agradecimentos à Srta. Márcia, secretária da Paróquia Nossa Senhora do Bom Sucesso, de Caeté (MG), pelo envio da figura que ilustra este título.