Transcorria o ano de 1606 e da Espanha, pela primeira vez, enviaram para o Peru uma
imagem de Nossa Senhora do Carmo. Não se sabe com precisão o dia de sua chegada ao porto
do Callao, para logo ser instalada em sua capela da Légua, no meio do caminho entre o
citado porto e Lima, a capital. Reza a tradição que um comerciante chamado Domingos Gomes da Silva, invocou a Virgem do Carmo quando sofreu um naufrágio, prometendo construir uma capela e mandar trazer da Espanha a imagem de Nossa Senhora do Carmo, caso fosse salvo. |
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Conta-se também que a mula sobre a qual era transportada a imagem, ao chegar no lugar conhecido como La Légua, empacou e nada a fez andar um passo sequer. Assim esse lugar foi escolhido para se construir a capela da promessa.
Sobre a fundação da capela, escreve o Padre Antônio Vázquez de Espinoza, Carmelita da Antiga Observância, que residiu na cidade entre 1617 e 1619: "Há no meio do caminho entre Callao e a cidade de Lima ricas chácaras e suntuosos casarios. A uma légua encontra-se uma casa e convento de Nossa Senhora do Carmo com suas armas, edificada por Domingo Gomes de Silva, varão virtuoso e bem de vida, que dedicou e consagrou este lugar a Nossa Senhora do Carmo, onde havia algumas jovens vestidas com o hábito de Nossa Senhora, que com grande observância e clausura, guardavam a regra e, com fervor, recitavam o ofício divino, pelo qual Nosso Senhor era louvado e servido, e os fiéis edificados com tão grande exemplo".
Conta-se que num terremoto ocorrido em 1746, as ondas do Callao chegaram a uma légua e bem próximo a esta casa de jovens, que por se achar a essa distância do Callao se denominou Ermida da Légua. Os Religiosos de São João de Deus vindos de Lima, se encarregaram do Hospital de Callao e mais tarde se estabeleceram na Ermida da Légua, onde instalaram uma espécie de hospedaria.
"Em seu recinto se venera, há muito tempo, desde que se fundou o mencionado Convento, uma imagem da Virgem do Carmo, cujo culto jamais foi interrompido. A capela, com suas duas torrezinhas pontiagudas, se destacam em meio aos verdejantes campos circunvizinhos. É de dimensões regulares encontrando-se ainda em bom estado de conservação, graças ao cuidado dos devotos da imagem que são muitos.
Anualmente a imagem é conduzida em procissão até Callao, carregada pelos confrades e acompanhada de numerosa multidão. Ela permanece bastante tempo no porto e ali se celebra a novena. É devolvida à sua capela em meados de outubro, em devota procissão, que seria melhor chamada de romaria, devido aos milhares de pessoas que acompanham seu andor. (...) Os inumeráveis ex-votos de ouro e prata que colocam em seu manto, que em certas ocasiões se renovam, demonstram que não sem razão é invocada com fervor pelo povo".
Esta imagem é chamada de Nossa Senhora do Carmo da Légua, Patrona do Callao. Foi coroada solenemente no dia 7 de outubro de 1951, pelo Cardeal Arcebispo de Lima e Primaz do Peru, Dom Juan Gualberto Guevara, Delegado Papal para a coroação da Virgem do Carmo da Légua.
Este Santuário foi parcialmente destruído em maio de 1992, devido à detonação de um carro-bomba. A restauração do Santuário devolveu-lhe a primitiva dignidade, e renovou em sua raiz a profunda piedade Mariana do Callao.
No dia em que tomou posse como bispo titular da Diocese de Callao, Dom Miguel Irízar anunciou que a Igreja do Carmo da Légua se transformaria em Santuário, e também que ali se fundaria um Mosterio de Monjas Carmelitas Contemplativas que "serão as melhores guardiãs do Santuário de Nossa Senhora do Carmo da Légua".
Nossa Senhora do Carmo da Légua, rogai por nós!
![]() | P. Vargas Ugarte, "Historia del Culto de María en Iberoamérica y de sus imagenes y santuarios más celebres", Lib IV, Cap XXXIII. |