Como Passar no Vestibular sem Fazer Esforço Algum

Carlos Augusto de Oliveira Jr.



     É o que eu procuro há tempos... passar no vestibular sem fazer esforço! A minha parte, de não mover uma palha durante os meses antecedentes, eu cumpro todos os anos, mas o resultado nunca vem. Talvez no próximo seja melhor fazer, pelo menos, a inscrição.
     Eu parei de fazer vestibular por problemas de saúde. Não tentar nem o formulário de inscrição é, para mim, um remédio pessoal para diminuir o meu stress. Já enfrentei muitos vestibulares... não me pergunte quantos! É como perguntar a idade a uma mulher! E eu já estava quase me profissionalisando quando resolvi parar. Não agüentava mais a mesma ladainha. Antes do vestibular:
     - Ah, você vai fazer vestibular?
     - Vou.
     - Pra quê?
     - Pra quê?
     - É, pra quê?
     E eu, já quase louco de tanto estudar, com as mãos para o alto:
     - Ora, meu Deus, pra quê que se faz um vestibular nesse mundo? Para tentar passar, ora, pra ser alguém na vida, pra sustentar minha família, os cincos filhos que eu vou ter, os cachorros, a pensão da ex-mulher, o...
     E o pior era depois do vestibular:
     - Ah, você fez vestibular?
     - Fiz.
     - Pra que curso?
     - Você se refere a que ano, exatamente?
     - Ah, você fez mais de um?
     - Em cada ano, não.
     - Então... os vestibulares que você fez, foram pra quais cursos?
     - Em ordem cronológica ou alfabética?
     Quando eu lembro dessas coisas, vejo que não passar no vestibular é uma situação constragedora, mas, cá entre nós, tem algumas vantagens. Por exemplo, logo depois que sai o resultado, o pessoal encontra você na rua, que diz "E aí, passou?", e você responde "Não". O máximo que você ainda pode escutar é um "Ah..." ou "Que pena! Mas vestibular é que nem Carnaval, tem todo ano". Mas se você tivesse passado... era inevitável! Você iria se encontrar com, pelo menos, dois ou três chatos, e iria, sem querer, travar, por alguns minutos, aquele diálogo estéril e ridículo.
     - Ooooi, Clóvis, tudo bem?
     - Tudo bem, Ana?
     - Olha! Visual novo, hein? O que foi isso, piolho?
     - Hein?
     - Não! Assim... é normal, cara! Todo mundo já teve piolho um dia.
     - Ah! Cê tá falando do cabelo.
     - Qual?
     - O meu.
     - Onde?
     - Onde o quê?
     - Onde é que tá o cabelo?
     - O meu cabelo? Tirei, né Ana? Passei no vestibular.
     - Não!
     - Foi.
     - Mentira.
     - Foi!
     - Rá, Clóvis! Você, na faculdade? Deixa de onda, cara!
     - Que é isso, Ana?! Tô te dizendo, pôxa, passei no vestibular.
     - Ah, tá. Vou fingir que acredito. E o CDF aí, passou pra quê?
     - Adivinha!
     - Advogado?
     - Não.
     - Médico?
     - Ahn, ahn!
     - Jogador de futebol?
     E você também vai encontrar aquela pessoa, que você não vê há anos, que com certeza vai perguntar:
     - Passou mesmo? Ah, que legal. E foi no primeiro?
     E daí, se é o primeiro ou o nono vestibular? A única diferença do primeiro para os outros é que, nele, você ainda pode ter a cara de pau e dizer "Ah, eu não passei, mas esse foi por experiência". Pois é, mas se tivesse passado, você não iria dizer: "Foi, passei, mas nem comemore: foi só por experiência". O primeiro vestibular nunca é esquecido porque não se esquece das vitórias, e muito menos das derrotas.
     Não resta dúvidas, então, de que o vestibular é um dos momentos mais marcantes na vida de um brasileiro. Os outros são, não necessariamente nesta ordem, o primeiro beijo, a primeira vez, o primeiro filho, e o primeiro gol de Romário na Copa de 94.
     Só para se ter uma idéia: uma vez eu conheci um cara que, no dia da sua primeira prova de vestibular, deu o seu primeiro beijo e teve a sua primeira relação logo em seguida (segundo ele, um sucesso). Meia hora depois, estava fazendo provas de Matemática e Física do vestibular e, na saída, descobriu, para o espanto de todos, que havia fechado ambas as provas! "Não acredito! Hoje é o melhor dia da minha vida! O que mais poderia me acontecer?" E estas foram as suas últimas palavras...


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