Conversa Séria

Carlos Augusto de Oliveira Jr.



     "Nós precisamos conversar", disse Aderbal a Rosa, que odiava a frase "Nós precisamos conversar", ainda mais dita por telefone. "No Shopping?" Sugeriu Aderbal. "No bar do Beto, mesmo".
     Foi lá que se conheceram, através do Beto. Oito ou nove meses de namoro. E ele queria "conversar" de novo, mas agora era sério. O que queria? Falar em (Argh!) casamento, aquela mesma ladainha da semana passada? Ou, pior, só faltava ele dizer que...
     - Estou grávido - Após um gole de Coca-cola com gelo e limão.
     - Cof! Cof! - engasgada com a cerveja - Como?
     - É isso aí. Estou grávido.
     - Como assim, grávido? Você não tomava pílula?
     - Parei no segundo mês de namoro.
     - O QUÊ? Como é que você faz um negócio desses sem me dizer nada?
     - Hmf. Você não perguntou.
     Rosa enche o copo de cerveja e o traga de um gole só.
     - E... É meu?
     Aderbal olha pra Rosa como quem viu um fantasma, ou o novo plano do governo. "Como você pode perguntar uma coisa dessas?", questiona, já com os olhos úmidos, e ela faz um gesto de "Sei lá".
     - Bem que me disseram. Vocês são todas iguais. Como você pode perguntar uma coisa dessas? - repete.
     - Tá, tá. Desculpa. Eu tô nervosa, droga. Esquece. E desde quando você está assim?
     - Desde... desde o lual, na praia.
     - Aquele lual, na casa do Beto? Mas já faz...
     - Dois meses, dezenove dias e... - olhando o relógio - algumas horas.
     - E porque você não me contou nada?
     - Ah! Sei lá. Fiquei muito pensativo. Eu até engordei, mas você nem notou. Aliás, cortei o cabelo semana passada e você não notou.
     - Alguém mais sabe disso?
     - Que eu cortei o cabelo? Ah, da gravidez? NÃO! Não. Só o... o Cláudio, o Beto...
     - Que ótimo, que ótimo! O mundo todo sabe que eu vou ser mãe, menos eu...
     - Pôxa, Rosinha - abrindo um sorriso - Que lindo, você falando que vai ser mãe.
     - Tsc. Sai daí... - resmungando baixo - E você já pensou em... em... tirar? - O QUÊ? Nunca! Rosinha, você sabe minha opinião sobre isso, não sabe?
     - Olha, Aderbal, eu não tenho condições de assumir esse filho, não. Cê sabe que não ganho quase nada, e até o ano passado eu era desempregada. E não tô muito bem na faculdade à noite.
     - Pode ser, mas... você sabe que papai vai querer que a gente case.
     - Casar? Com vinte e dois anos? - Fica pensativa - Meu Deus! Eu repudio casamento.
     - Não fale assim, Rosinha. A gente tem conversado, e você não criticou em nada a hipótese.
     - Eu estava enrolando, Aderbal. Já imaginou o que meus pais vão dizer? Rosa Nogueira Freitas, a menina querida da família, engravidando o mundo todo, por aí, a torto e a direito.
     - Não fale assim, Rosinha! - retomando o choro - Não seja grossa.
     - Não! Eu já estou até imaginando o discurso de mamãe: "Muito bem! Está ótimo. Ótimo! Tá vendo a decepção que você deu pro seu pai?"
     - Pare, Rosinha, por favor...
     - E você... - Rosa se inclina e põe seus cotovelos sobre a mesa, olhando nos olhos de Aderbal, irônica - Você vai casar de branco?
     - Rosinha...
     - Não, desculpa Aderbal, mas... não dá. - e se levantando: depois a gente conversa tá?
     - Não me deixe aqui, Rosinha, por favor...
     - Fiiiiiu! - assobiando com os dedos na boca - Beto! Depois a gente acerta aí - e sai em alta velocidade. Aderbal cai em choro, levanta-se, vira-se e diz:
     - Rosinha! Rosinha! São gêmeos!


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