Não existe nada mais chato do que escolher escolher uma armação de óculos para você próprio. Aliás, existe. Escolher para os outros. Descobri isso depois de uma curta história.
Começei a namorar uma linda moça e foi aquela paixão. Tudo era uma beleza no namoro e logo estávamos noivos. Depois de mais ou menos uma semana de noivado (ou duas de namoro), quando fui visitar os pais da moça, foi que eu começei a desconfiar que ela não era japonesa como eu pensava, mas sim, que ela não enxergava muito bem.
- Amo-or. - eu chamava carinhosamente.
- Quem?
- Eu, aqui, à sua esquerda.
- É você, papai?
E assim eu descobri que os óculos dela haviam quebrado uma semana antes de eu conhecê-la.
- Mas ela já foi fazer a consulta no oculista esta semana. - aliviava a mãe dela.
- E quantos graus ela vai usar?
- Diminuiu um pouco, desta vez. É só catorze e meio, quinze e meio.
E assim chegou o dia dela escolher a armação de seus óculos. Eu, o noivo querido, claro, tive de ir junto, para ajudar a escolher. Aliás, eu recomendo, nesta situação, sempre irem de dupla, pois certamente, depois, as pessoas irão achar os óculos horríveis e basta um culpar o outro pela tragédia.
Mas o fato é que a menina não se decidia pela armação. Também, coitada, nenhuma mesmo servia em seu rosto.
- Essa eu gostei!
- Eu também. É inovador. Nunca vi igual.
- Está de cabeça para baixo - disse a moça da loja.
Após horas e horas rodando nas óticas da cidade, finalmente achamos uma armação que fosse de nosso agrado. A cor? Sei lá, um verde fluorescente, mas, que é isso, estamos em tempos modernos. No outro dia os óculos estariam prontos.
No outro dia chegamos cedo na ótica. Minha noiva ansiosa, louca para chegar em casa e mostrar o visual novo. Quando a moça chegou trazendo os óculos, ela logo os colocou no rosto, em frente ao espelho.
- Ai, meu Deus!
- Que foi, amor? - eu não entendia.
- Ai, meu Deus!
- O que foi? - perguntou a atendente.
- Só agora que eu estou vendo a armação horrível que eu escolhi. Aliás, que eu escolhi, não. Que voc...
E foi se virando pra mim, quando parou, de repente, espantada.
- Ai, meu Deus! Ai, meu Deus!
- O que foi, agora, amor?
- Então é você que era o meu noivo?