Escolha de Óculos

Carlos Augusto de Oliveira Jr.



     Não existe nada mais chato do que escolher escolher uma armação de óculos para você próprio. Aliás, existe. Escolher para os outros. Descobri isso depois de uma curta história.
Começei a namorar uma linda moça e foi aquela paixão. Tudo era uma beleza no namoro e logo estávamos noivos. Depois de mais ou menos uma semana de noivado (ou duas de namoro), quando fui visitar os pais da moça, foi que eu começei a desconfiar que ela não era japonesa como eu pensava, mas sim, que ela não enxergava muito bem.
     - Amo-or. - eu chamava carinhosamente.
     - Quem?
     - Eu, aqui, à sua esquerda.
     - É você, papai?
     E assim eu descobri que os óculos dela haviam quebrado uma semana antes de eu conhecê-la.
     - Mas ela já foi fazer a consulta no oculista esta semana. - aliviava a mãe dela.
     - E quantos graus ela vai usar?
     - Diminuiu um pouco, desta vez. É só catorze e meio, quinze e meio.
     E assim chegou o dia dela escolher a armação de seus óculos. Eu, o noivo querido, claro, tive de ir junto, para ajudar a escolher. Aliás, eu recomendo, nesta situação, sempre irem de dupla, pois certamente, depois, as pessoas irão achar os óculos horríveis e basta um culpar o outro pela tragédia.
     Mas o fato é que a menina não se decidia pela armação. Também, coitada, nenhuma mesmo servia em seu rosto.
     - Essa eu gostei!
     - Eu também. É inovador. Nunca vi igual.
     - Está de cabeça para baixo - disse a moça da loja.
     Após horas e horas rodando nas óticas da cidade, finalmente achamos uma armação que fosse de nosso agrado. A cor? Sei lá, um verde fluorescente, mas, que é isso, estamos em tempos modernos. No outro dia os óculos estariam prontos.
     No outro dia chegamos cedo na ótica. Minha noiva ansiosa, louca para chegar em casa e mostrar o visual novo. Quando a moça chegou trazendo os óculos, ela logo os colocou no rosto, em frente ao espelho.
     - Ai, meu Deus!
     - Que foi, amor? - eu não entendia.
     - Ai, meu Deus!
     - O que foi? - perguntou a atendente.
     - Só agora que eu estou vendo a armação horrível que eu escolhi. Aliás, que eu escolhi, não. Que voc...
     E foi se virando pra mim, quando parou, de repente, espantada.
     - Ai, meu Deus! Ai, meu Deus!
     - O que foi, agora, amor?
     - Então é você que era o meu noivo?
     


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