Mosaico, um eterno retorno
Mosaico é arte antiga, mas que sempre se renova, sempre volta mais revitalizada, mais presente e mais contemporânea. Ela nasce no alvorecer de todas as civilizações, como um traço natural, uma vocação imanente do ser humano, assim que se inicia o processo civilizatório. Nas comunidades mais primitivas, o homem ajuntava conchas nas praias, ou reunia penas extraídas das aves caçadas nas matas, com as quais compunha sua arte plumária - duas formas simples e ancestrais de realizar mosaicos. O refinamento levou o homem ao uso da pedra na confecção do mosaico, aprendendo a cortá-la em pequenos cubos e a ordená-las em trabalhos harmônicos e utilitários, especialmente após a descoberta e o uso do ferro. Júlio César levava artesãos mosaicistas em suas campanhas bélicas, para que eles construissem o piso de sua tenda. Alexandre, o grande, nasceu em Pella, na Macedônia, de onde vieram os primeiros mosaicos em seixos rolados. Ali também surgiram
os primeiros mosaicistas que cortariam tesselas em mármores e outras pedras duras de tamanhos homogêneos. Muitos deles iriam se transferir para Alexandria, no litoral do Egito, formando uma escola de artesãos gregos, que irradiaria a arte do opus tesselatum, logo utilizado e disseminado em todo o Império Romano, a partir do século III antes da nossa era. Enfim, de lá para cá, o mosaico pode ter enfrentado períodos de ocaso e usufruido de momentos de apogeu e reconhecimento. O fato é que ele sempre renasceu, retemperado e pujante até porque é uma forma cultural de reproduzir a vida, a espacialidade do homem, seu impulso de reunir as coisas, juntá-las , ordená-las e emprestar um significado. A Igreja empregou o mosaico de forma abundante, valendo-se de seu brilho e de seus mistérios cromáticos para divulgar o evangelho, sobretudo durante o período bizantino, a partir do século IV da era cristã. O mosaico se perderia em sua trajetória no momento em que pretendeu competir com outras artes visuais, especialmente a pintura, da qual se tornaria mera cópia, mera tentativa  de representá-la na pedra e assim constituir-se em "arte para a eternidade". Vã pretensão. Até por isso e principalmente por esta súbita crise de identidade, o mosaico não participará do Renascimento artístico que ocorrerá a partir do século XIV. Na época, o mosaico transformara-se em mera arte derivada, assim como o vitral e a tapeçaria, seus primos mais chegados. Na prática, o mosaico só vai ser resgatado e revivificado a partir da segunda metade do século XIX, com a construção da Ópera de Paris, na qual se distingue o grande italiano Gean Domenico Fachinna, a quem se deve a invenção do método indireto na colocação do mosaico, uma idéia brilhante, capaz de revolucionar a história da arte musiva. Mas aí já é outra história, muito mais próxima do que muitos imaginam. Chegamos então a um outro patamar, a uma nova etapa, a uma contemporaneidade sobre a qual, vamos falar em outra página. Tudo devagar, como na realização de um bom mosaico.
Gougon, em nov. 2003
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vento leste, para onde vai o mosaico