Sem dúvida, é interessante levar-se, ao povo, algo de valor cultural, de forma
amena e divertida, como fazem algumas escolas de samba quando do desfile no Sambódromo,
no Rio de Janeiro, ou por todo o Brasil, enfocando passagens ou homenageando vultos da
nossa História. Entretanto, há que se fazer sem escamotear a verdade, embora tal verdade
possa estar adornada por fantasias, muito brilho, miçangas e paetês. Esta falta de
seriedade e de compromisso com a verdade mudando a História e desprezando valores
perenes, sem qualquer contestação, se faz presente na homenagem que a Acadêmicos do
Grande Rio faz a Luís Carlos Prestes.
Prestes tem sido mostrado como vítima, perseguido por ter
dedicado a vida em defesa da liberdade e da democracia. Uma deslavada mentira! Aqueles que
assim o fazem, mentem para justificar as próprias idéias e atitudes do passado. Prestes
foi um dos líderes da Intentona Comunista, responsável pela morte de brasileiros,
subordinados a interesses da União Soviética, tanto que recebia ordens de agentes
comunistas estrangeiros e, quando foragido, foi hóspede, durante longo tempo, do Governo
soviético, tendo se casado com uma agente do serviço secreto daquele país, Olga
Benário. Anos após, foi colocado sob suspeita de traição por seus próprios
companheiros de clandestinidade. Esta não é uma cantilena anticomunista, pois o
comunismo acabou. É uma questão de valores. Àqueles que necessitam refrescar a
memória, eu recomendaria a leitura do livro "camaradas", do repórter William
Waack, de procedência insuspeita.
Interessante que a desfaçatez parece ser mais abrangente do que
se pensa. Não fica restrito ao enredo do crioulo doido da citada escola, pois cantam o
que deveria ser motivo de choro e exaltam o que deveria ser causa de vergonha nacional.
Há pouco tempo, pudemos assistir, através da televisão, à
inauguração do busto do revolucionário e comunista Guevara, tendo como pano de fundo o
Hino Nacional, tocado por banda militar, emoldurado pelo "emocionado" pranto do
governador de Brasília. Deveria ele estar chorando, não por um terrorista, mas por
milhares de brasileiros, muitos dos quais na periferia do Distrito Federal, sob o seu
Governo, vivendo e morrendo em condições aviltantes para um ser humano. Deveria verter
lágrimas por milhares de cubanos privados da liberdade ou da vida, mortos no paredon
nas prisões ou afogados quando fugiam da cruel ditadura policial que Guevara ajudou a
implantar e manter. Apresentar tal figura como paladino da democracia, da justiça e da
liberdade é, no mínimo, uma ofensa à inteligência, mesmo de medíocres. Não me parece
que a ditadura policial em Cuba, até hoje, seja democracia.
Poucos dias antes da cena caricata do governador de Brasília,
não vi a mínima alusão nos jornais, não vi nenhuma palavra de qualquer autoridade do
Governo, muito menos alguém aos prantos, pelos brasileiros mortos, cruel e covardemente,
no ida 27 de novembro de 1935, durante a chamada Intentona Comunista chefiada por Prestes,
o Cavaleiro da Desesperança e da Desgraça.
O ministro da Marinha, em recente solenidade quando condecorava
ex-guerrilheiros comunistas, disse que bobagens todos podem ter cometido. Não é ser
contra o reconhecimento de que mudaram ideologicamente, mas seriam bobagens ações de
guerrilha, terrorismo, justiçamento, assaltos a bancos nas décadas de 60 e 70 ou mesmo
os assassinatos traiçoeiros de militares brasileiros, em 1935, na calada da noite, dentro
dos quartéis, enquanto cumpriam com o seu dever?
De forma difícil de entender, estamos esquecendo parcela
daqueles que perderam suas vidas em defesa da liberdade e da Nação, enquanto traidores
são exaltados. Deixamos apagar da memória fatos que exaltam o amor à pátria,
engrandecem o sentimento de cumprimento do dever com os sacrifícios da própria vida,
deixamos de cultuar valores que devem ser sagrados para toda a Nação e, principalmente,
para os verdadeiros soldados.
Isso, para os militares, longe de contribuir para a equilibrada
inserção da instituição militar no contexto democrático e a sua cúpula no jogo
político de forma simpática aos que detêm o poder, contribui para o desvirtuamento dos
fatos históricos, para um revanchismo dissimulado, até mesmo negado, mas presente e
consentido, com o objetivo de atingir as Forças Armadas, tentando quebrar a coesão
interna, o espírito de corpo, trazendo certa desprofissionalização e alienação, a
perda de identidade e descrenças, gerando mudança de valores até então sagrados e a
incapacidade de influir politicamente e de reagir, quando necessário, em defesa dos
interesses das forças e da Nação. Dotações orçamentárias, das mais baixas do mundo,
ainda assim reduzidas e contingenciadas, no decorrer dos últimos anos, por várias vezes
originaram a necessidade de economia de alimentação, determinando a diminuição das
horas de trabalho e o corte de horas de instrução, influenciando diretamente na
capacidade operacional. A promessa de solução para a questão salarial, sempre adiada em
nome de impossibilidades que inexistem para outros poderes e classes de funcionários,
colocados como imprescindíveis e de difícil formação, como se os militares não
fossem, vem afetando os quadros e reduzindo o interesse pela carreira militar de parcela
do que existe de melhor em nossa juventude, causando irritação nos subordinados e
propiciando a descrença nos chefes. Desagregação familiar por dificuldades financeiras,
a procura de outra atividade substituta da militar para satisfação pessoal ou de
atividades paralelas para a melhoria do orçamento doméstico já não são novidades.
Declarar através da imprensa, como o fez o ministro da Marinha
recentemente, que muitos militares são obrigados a morar na favela ou na periferia, não
conseguindo pagar o colégio dos filhos, mas que, mesmo assim, não há descontentamento,
traduz, no mínimo, insensibilidade e afastamento da realidade. Quem poderia estar
contente se não consegue pagar suas contas, dar educação aos filhos e manter a sua
família condignamente?
Ficar calado diante destes fatos, concorrendo ou aceitando passivamente a
deturpação da História e a inversão de valores é, sem dúvida, ser, também,
partícipe do enredo do crioulo doido!