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O ENREDO DO CRIOULO DOIDO!
MARCO ANTÔNIO FELICIO DA SILVA - Gen R1

JORNAL "O GLOBO" - 19 FEV 98

 

Sem dúvida, é interessante levar-se, ao povo, algo de valor cultural, de forma amena e divertida, como fazem algumas escolas de samba quando do desfile no Sambódromo, no Rio de Janeiro, ou por todo o Brasil, enfocando passagens ou homenageando vultos da nossa História. Entretanto, há que se fazer sem escamotear a verdade, embora tal verdade possa estar adornada por fantasias, muito brilho, miçangas e paetês. Esta falta de seriedade e de compromisso com a verdade mudando a História e desprezando valores perenes, sem qualquer contestação, se faz presente na homenagem que a Acadêmicos do Grande Rio faz a Luís Carlos Prestes.

Prestes tem sido mostrado como vítima, perseguido por ter dedicado a vida em defesa da liberdade e da democracia. Uma deslavada mentira! Aqueles que assim o fazem, mentem para justificar as próprias idéias e atitudes do passado. Prestes foi um dos líderes da Intentona Comunista, responsável pela morte de brasileiros, subordinados a interesses da União Soviética, tanto que recebia ordens de agentes comunistas estrangeiros e, quando foragido, foi hóspede, durante longo tempo, do Governo soviético, tendo se casado com uma agente do serviço secreto daquele país, Olga Benário. Anos após, foi colocado sob suspeita de traição por seus próprios companheiros de clandestinidade. Esta não é uma cantilena anticomunista, pois o comunismo acabou. É uma questão de valores. Àqueles que necessitam refrescar a memória, eu recomendaria a leitura do livro "camaradas", do repórter William Waack, de procedência insuspeita.

Interessante que a desfaçatez parece ser mais abrangente do que se pensa. Não fica restrito ao enredo do crioulo doido da citada escola, pois cantam o que deveria ser motivo de choro e exaltam o que deveria ser causa de vergonha nacional.

Há pouco tempo, pudemos assistir, através da televisão, à inauguração do busto do revolucionário e comunista Guevara, tendo como pano de fundo o Hino Nacional, tocado por banda militar, emoldurado pelo "emocionado" pranto do governador de Brasília. Deveria ele estar chorando, não por um terrorista, mas por milhares de brasileiros, muitos dos quais na periferia do Distrito Federal, sob o seu Governo, vivendo e morrendo em condições aviltantes para um ser humano. Deveria verter lágrimas por milhares de cubanos privados da liberdade ou da vida, mortos no paredon nas prisões ou afogados quando fugiam da cruel ditadura policial que Guevara ajudou a implantar e manter. Apresentar tal figura como paladino da democracia, da justiça e da liberdade é, no mínimo, uma ofensa à inteligência, mesmo de medíocres. Não me parece que a ditadura policial em Cuba, até hoje, seja democracia.

Poucos dias antes da cena caricata do governador de Brasília, não vi a mínima alusão nos jornais, não vi nenhuma palavra de qualquer autoridade do Governo, muito menos alguém aos prantos, pelos brasileiros mortos, cruel e covardemente, no ida 27 de novembro de 1935, durante a chamada Intentona Comunista chefiada por Prestes, o Cavaleiro da Desesperança e da Desgraça.

O ministro da Marinha, em recente solenidade quando condecorava ex-guerrilheiros comunistas, disse que bobagens todos podem ter cometido. Não é ser contra o reconhecimento de que mudaram ideologicamente, mas seriam bobagens ações de guerrilha, terrorismo, justiçamento, assaltos a bancos nas décadas de 60 e 70 ou mesmo os assassinatos traiçoeiros de militares brasileiros, em 1935, na calada da noite, dentro dos quartéis, enquanto cumpriam com o seu dever?

De forma difícil de entender, estamos esquecendo parcela daqueles que perderam suas vidas em defesa da liberdade e da Nação, enquanto traidores são exaltados. Deixamos apagar da memória fatos que exaltam o amor à pátria, engrandecem o sentimento de cumprimento do dever com os sacrifícios da própria vida, deixamos de cultuar valores que devem ser sagrados para toda a Nação e, principalmente, para os verdadeiros soldados.

Isso, para os militares, longe de contribuir para a equilibrada inserção da instituição militar no contexto democrático e a sua cúpula no jogo político de forma simpática aos que detêm o poder, contribui para o desvirtuamento dos fatos históricos, para um revanchismo dissimulado, até mesmo negado, mas presente e consentido, com o objetivo de atingir as Forças Armadas, tentando quebrar a coesão interna, o espírito de corpo, trazendo certa desprofissionalização e alienação, a perda de identidade e descrenças, gerando mudança de valores até então sagrados e a incapacidade de influir politicamente e de reagir, quando necessário, em defesa dos interesses das forças e da Nação. Dotações orçamentárias, das mais baixas do mundo, ainda assim reduzidas e contingenciadas, no decorrer dos últimos anos, por várias vezes originaram a necessidade de economia de alimentação, determinando a diminuição das horas de trabalho e o corte de horas de instrução, influenciando diretamente na capacidade operacional. A promessa de solução para a questão salarial, sempre adiada em nome de impossibilidades que inexistem para outros poderes e classes de funcionários, colocados como imprescindíveis e de difícil formação, como se os militares não fossem, vem afetando os quadros e reduzindo o interesse pela carreira militar de parcela do que existe de melhor em nossa juventude, causando irritação nos subordinados e propiciando a descrença nos chefes. Desagregação familiar por dificuldades financeiras, a procura de outra atividade substituta da militar para satisfação pessoal ou de atividades paralelas para a melhoria do orçamento doméstico já não são novidades.

Declarar através da imprensa, como o fez o ministro da Marinha recentemente, que muitos militares são obrigados a morar na favela ou na periferia, não conseguindo pagar o colégio dos filhos, mas que, mesmo assim, não há descontentamento, traduz, no mínimo, insensibilidade e afastamento da realidade. Quem poderia estar contente se não consegue pagar suas contas, dar educação aos filhos e manter a sua família condignamente?

Ficar calado diante destes fatos, concorrendo ou aceitando passivamente a deturpação da História e a inversão de valores é, sem dúvida, ser, também, partícipe do enredo do crioulo doido!

 

BRASIL ACIMA DE TUDO !!!