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OS ÍNDIOS DO CEARÁ |
O CEARÁ: DE PINZÓN A
MATIAS BECK |
FORTALEZA: A CIDADE E
SUA HISTÓRIA |
A COLUNA PRESTES NO
CEARÁ |
FREI TITO DE ALENCAR |
PATATIVA DO ASSARÉ |
PADRE CÍCERO E O
MILAGRE DE JUAZEIRO |
O CALDEIRÃO E A SAGA
DO BEATO JOSÉ LOURENÇO |
MANSINHO: O BOI
SAGRADO DO CARIRI |
O CEARÁ E SUA
GEOGRAFIA |
  
Será que
ainda existem "índios " no Ceará?
No Brasil, dos cinco milhões de
"índios" à época da colonização, restam um pouco mais de 200 mil e, no Ceará,
alguns grupos "indígenas", como os Tapeba e os Tremembé, lutam pelo
reconhecimento, por parte do governo federal, de que são "índios" e legítimos
donos de suas terras.
OS ÍNDIOS DO CEARÁ

Foto: Índios do Ceará
Sobre a origem do nosso índio
pouco se sabe. Segundo os historiadores, quando os europeus chegaram às praias
do Ceará no século XVI encontraram diversos povos indígenas, cada um com idioma
próprio, dominando sertões e praias a se deixar governar por leis próprias da
natureza.
Segundo Dr. Pedro Théberge, no Brasil habitavam "dois tipos" de índios: os
Tapuias, antigos habitadores do continente americano e os Tupis.
No Ceará predominava a raça
Tapuia, que ocupava quase toda a sua superfície. Os Tapuias viviam muito
isolados, em tribos distintas e independentes umas das outras, fazendo-se a
guerra entre si, e sempre aos Tupis, contra os quais ligavam-se às vezes muitas
tribos Tapuias.
Desta inimizade incessante veio
o nome de Tapuia que em língua Tupi quer dizer contrário ou inimigo.
Faziam parte do grupo Tapuia os seguintes povos: Tarariú, Kanindé, Paiakú,
Genipapo, Jenipabuçu, Arariú, Anacé, Karatiú, Karirí, Kaririaçú, Kariú, Guanacé,
Guanacésguakú, Guanacé-mirim, Jaguaruana, Jagoarigoara,Assanasseses-Açú, Kataguá,
Aimoré, Aperikú, Aperuí, Aeriú, Kixerariú, Irapuã, Acimi, Vidaé, Xibata, Akarisú,
Tokaiú, Akoki, Tukurijú, Okingá, Karku-Açú, Guaiú, Jurupary-Açú, Kamamú,
Parnamirim, Xixiró, Xokó, Kipapá, Kikipaú, Humor, Kabinda, Genipapo-Açú, Jurema,
Jururu, Irapuã de Granja, Kandadú, Kerereú, Kandandú, Akigiró, Kipapau,
Akanhamakú, Anaperú, Kixariú, Guarium, Kixará, Panaticnarema, Javó, Apujaré,
Koansú, Inhamún, Kixelô, Juká, Perga, Juguaruana, Jaguambara, Palié, Panatí,
Pianí, Kanén, Kalabaça, Baturité, Kamocim, Ikó, Ikozinho, Kariré, Akonguaçú,
Pitaguary, Tremembé...
Do grupo Tupi podemos citar os
Tabajara e os Potiguara.
Os índios Tapeba são o resultado do encontro de três povos distintos: Potyguara,
Tremembé, Kariri, que passaram a conviver no aldeamento de Nossa Senhora dos
Prazeres de Caucaia, que passou a ser chamado de Soure, mas por força do
Decreto-Lei no. 1.114, voltou novamente a ser chamado de Caucaia.
Atualmente existem no Ceará
oito povos indígenas, espalhados em 10 municípios. Eles formam 51 comunidades,
divididos em 1.396 famílias. São, no total 9.293 famílias que habitam áreas que
somam 15.208 hectares. Oficialmente apenas os Tapeba e os Tremembé são
reconhecidos.
1- Genipapo-Kanindé
a)Município: Aquiraz
b)Uma comunidade, 44 famílias, 300 pessoas.
2- Kanindé
a)Município: Aratuba e Canindé
b)Duas comunidades, 141 famílias, 1.106 pessoas.
3- Kalabaça
a)Município:Poranga
b)Uma comunidade, 20 famílias.
4- Pitaguary
a)Município:Maracanaú e Pacatuba
b)Três comunidades,90 famílias, 600 pessoas.
5- Tapeba
a)Município:Caucaia
b)Dezessete comunidades, 450 famílias, 2.800 pessoas.
6- Potyguara
a)Município:Monsenhor Tabosa
b)Duas comunidades, 46 famílias, 276 pessoas.
7- Tabajara
a)Município:Monsenhor Tabosa
b)Uma comunidade, 27 famílias, 120 pessoas.
8- Tremembé de Almofala/ Varjota
A)Município: Itarema(distritos de Almofala e Patos)
B)Vinte comunidades, 500 famílias, 3.500 pessoas.
9- Tremembé do Córrego João Pereira
a)Município: Itarema
b)Quatro comunidades, 78 famílias, 591 pessoas.
O CEARÁ: DE PINZÓN A MATIAS BECK

Foto: Planta do Forte Shoonenborck
1.O DESCOBRIMENTO
Segundo o Almirante Max Justo
Guedes,o primeiro europeu a pisar em terras brasileiras, em 1500, não foi o
navegador português Pedro Álvares Cabral. Foi o espanhol Vicente Yañez Pinzón,
que teria chegado, na manhã do dia 26 de janeiro, na Ponta do Mucuripe, em
Fortaleza.
Outros historiadores divergem
de tal tese, na verdade, Pinzón teria pisado em mais três locais do litoral
cearense: Jericoacoara, o Rio Curu e a Ponta Grossa, em Icapuí.
2.A OCUPAÇÃO
A primeira tentativa de
conquista do Ceará foi efetuada em 1603, pela bandeira dirigida por Pero Coelho
de Sousa que, com a patente de Capitão-mor, tinha por objetivo explorar o Rio
Jaguaribe, além de impedir a ação dos traficantes estrangeiros, e ainda
descobrir minas no Ceará.
A expedição de Pero Coelho, contou com a participação de Martim Soares Moreno,
além de alguns soldados e indivíduos conhecedores da Costa.
Depois de repetidas lutas com
os índios, Pero Coelho, após acampar no Forte São Lourenço, resolveu firmar-se
no lugar, com a fundação da cidade a que denominou de Nova Lisboa.
Contudo, acabou sendo acossado pelos índios inimigos e pela trágica seca de
1605-1607, sendo obrigado a retirar-se primeiro para o Jaguaribe, seguindo
depois ao Rio Grande, a fim de não ver morrer de fome outros membros da família,
pois havia perdido um de seus filhos e muitos de seus companheiros. Frustava-se,
assim, a primeira empresa colonizadora no Ceará.
Nova tentativa de conquista
veio em 1607, com os missionários da companhia de Jesus, cujo trabalho tinha
fins catequéticos. Os resultados foram insignificantes, comparados à tragédia
sofrida pelo padre Francisco Pinto, morto pelos índios Tocarijus e à fuga
dramática de seu companheiro, padre Luís Figueira.
3.A FUNDAÇÂO DO CEARÁ POR SOARES MORENO
Segundo os historiadores, a
posse do território do Siará Grande se deve a Martim Soares Moreno, que esteve
na terra em 1603 com a comitiva de Pero Coelho, na ocasião fez amizade com
algumas Nações Indígenas.
O retorno de Soares Moreno ao
Ceará se deu em fins de 1611, quando fundou um pequeno forte que recebeu o nome
de São Sebastião.
Apesar do esforço e interesse
de Soares Moreno pelas terras do Ceará, permaneceu por pouco tempo aqui, indo
combater os franceses no Maranhão, só voltando em 1621.
Com o descaso da Matrópole e a
retirada de Soares Moreno, em 1631, para combater os Holandeses em Pernambuco,
concretizou-se a ruína do Forte e seu abandono, antes mesmo da invasão
Holandesa, em 1637.
4.A OCUPAÇÃO HOLANDESA NO CEARÁ
A ocupação do Ceará pelos
holandeses se deu por razões econômicas, visto que, não iam muito bem os
negócios da Companhia das Índias Ocidentais. Com o intuíto de obter lucros com a
exploração de salinas, âmbar, pau-violeta e minérios, nas costas cearenses, os
holandeses comandados pos Matias Beck aportaram no Mucuripe em 03 de abril de
1649.
Ao deixar o Mucuripe, a
esquadra chefiada por Matias Beck, estacionou num local onde posteriormente
receberia a designação de "Praia de Iracema"(05-04-1649). Não aprovado o local,
levantou âncoras e no dia seguinte encontrou nas proximidades um córrego o qual
os nativos davam o nome de "Marujaitiba", três léguas distantes do Forte de São
Sebastião.
A construção do novo reduto
administrativo foi concluída em 9 de setembro de 1649, cujo nome "Forte
Schoonenborck" é uma homenagem ao governante holandês em Pernambuco.
Depois de constantes e inúteis
buscas das apregoadas riquezas minerais, e em 1654, com a expulsão definitiva
dos holandeses do Brasil, deixa Matias Beck o Ceará para, ao redor do seu
Schoonenborck, ser restabelecida a colonização portuguesa, desta vez, sob a
orientação governamental do Capitão-mor Álvaro de Azevedo Barreto, que mudou o
nome do Forte para Nossa Senhora da Assunção.
FORTALEZA: A CIDADE E SUA
HISTÓRIA
Fortaleza, a capital do
Ceará, é uma cidade repleta de encantos. Banhada pelas águas verdes do Oceano
Atlântico, a história do município se confunde com a do Brasil, por se tratar
de uma das cidades mais antigas do País. Fortaleza é um dos roteiros mais
procurados pelos turistas e mescla história, folclore, cultura, beleza natural e
modernidade. Tudo começou quando o português Pero Coelho de Souza aportou na
região, em 1604. Nas margens do Rio Ceará, ele ergueu o Fortim de São Tiago,
marco inicial de Fortaleza. Com a ameaça de uma invasão francesa, em 1612, o
fortim, que se encontrava quase que em estado de ruínas, foi ampliado e
reformado, recebendo um novo nome, Forte de São Sebastião. Mais tarde, o Ceará
sofreu a invasão dos holandeses, que permaneceram no comando, de 1637 a 1644,
quando construíram, às margens do Riacho Pajeú, o Forte Schoonemborck (depois
rebatizado de Fortaleza de Nossa Senhora da Assunção). Em 17 de março de 1823, o
imperador D. Pedro I elevou a Vila de Fortaleza de Nossa Senhora da Assunção à
categoria de município, alterando seu nome para Cidade de Fortaleza de Nova
Bragança. Com o tempo, essa denominação foi encurtando até se tornar Fortaleza.
Dona de um povo alegre e livre, Fortaleza é descontração dia e noite. A cidade
está diretamente ligada ao mundo, através do Aeroporto Internacional Pinto
Martins.
População de Fortaleza
A cidade possui uma população de 2.138.234 habitantes (IBGE/2000), sendo
composta por 1.137.872 mulheres e 1.000.362 homens.
O Clima de Fortaleza
A cidade apresenta um clima tropical quente e seco, com chuvas no verão , sendo
refrescada por uma constante brisa vinda do mar. Sua temperatura média anual é
de 27’C. A umidade relativa de seu ar é de 77%. O período de chuvas acontece
entre janeiro e julho e revela média pluviométrica anual de 1.600 mm.
Hidrografia
Fortaleza é uma cidade bem abastecida por água. Ela está localizada em meio a
três bacias hidrográficas: a bacia do vertente marítima, a do Rio Cocó, Ceará,
Maraguapinho, Pacoti e Coaçu. A água tratada é advinda do açude Acarape do Meio,
do sistema Pacoti-Cavião-Riachão e do Pacajús.
Relevos/Limites
Situada na região nordeste do Brasil, a capital do estado do Ceará encontra-se
estabelecida no litoral e se estende ao longo de 336 quilõmetros quadrados. Seu
relevo suave deu um tom octogonal à Fortaleza, conferindo-lhe um traçado de
ruas quase perfeito. Assim, a cidade é de fácil orientação para os que a
visitam. Seus limites são:
Norte: Oceano Atlântico.
Sul: Pacatuba e Itatinga.
Leste: Oceano Atlântico e Aquiraz.
Oeste: Caucaia e Maracanaú.
A COLUNA PRESTES NO CEARÁ
No ano de 1924, estouraram revoltas armadas
tenentistas no Rio Grande do Sul e São Paulo, as quais acabaram sufocadas. Os
"revoltosos", contudo, unidos sob a liderança de Luís Carlos Prestes,
continuaram a lutar contra as estruturas oligárquicas pelo interior do país.
Esses homens - formadores da coluna prestes - percorreram mais de 24 mil Km do
território nacional, tentando conscientizar as massas de sua exploração, fazendo
propaganda contra contra o governo, exigindo a queda de Artur Bernardes e
anistia política. A coluna enfrentou tropas regulares do Exército e da polícia e
até grupos de cangaceiros e jagunços (os "batalhões patrióticos") a serviço de
coronéis. Não sofreu uma derrota sequer.
Por volta de 1925, rumores
davam conta de que a lendária Coluna Prestes se aproximava do Ceará. Ao tomar
conhecimento de tal fato, o Presidente da República Artur Bernardes, que se
esforçava em reprimir os tenentes, convocou ao Palácio do Catete, no Rio de
Janeiro, o deputado federal Floro Bartolomeu, delegando-lhe poderes para
organizar a "defesa do território cearense". Floro recebeu vasta quantidade de
material bélico e recursos financeiros.
Você pode estar se indagando:
por qual motivo o presidente convocou um deputado(Floro) e não o governador(José
Moreira da Rocha) para combater a Coluna Prestes no Ceará? Ora, porque Artur
Bernardes sabia que chamar Floro Bartolomeu era o mesmo que chamar os jagunços e
coronéis do Estado para lutar a favor do Governo, uma vez que era notório o
envolvimento daquele político com bandoleiros.
Regressando ao Ceará, Floro organizou um "batalhão patriótico", cujos membros
eram todos jagunços enviados pelos latifundiários da zona sul Cearense. O
deputado teve ainda a idéia de procurar o grupo cangaceiro de Virgulino Ferreira
da Silva, o "lampião", para lutar a seu lado na "defesa da legalidade".
Para tal foi importante a figura do padre Cícero, a quem o "rei do cangaço"
admirava bastante. Recebendo uma carta do padre, Lampião e um grupo de 50 homens
dirigiram-se a Juazeiro(início de 1926) em total aquiescência das autoridades.
Foi um acontecimento festivo. Uma multidão formou-se para vê-lo. Algumas pessoas
até pediram autógrafos...
Existem controvérsias se de
fato Pedra Cícero se encontrou com o Cangaceiro, mas o certo é que Lampião se
comprometeu a combater a Coluna Prestes, recebendo uma falsa patente de Capitão
do Exército e vultosa quantia de armas e munições. O "bandido" após se
comprometer a "deixar aquela vida de crime" seguiu seu destino, mas para bem
longe dos revoltosos. O Cangaceiro - agora definitivamente chamado de "Capitão
Virgulino" - talvez tenha temido a fama aguerrida dos tenentes.
Em janeiro de 1926, parte da Coluna(cerca de 132 homens comandados pelo capitão
João Alberto) atravessou a fronteira piauiense e ocupou a cidade de Ipu, onde
foram saqueados os grandes latifúndios e os comércios locais.
A região ficou em pânico,
propositadamente espalhado pelas classes dominantes, as quais afirmavam ser
aquela uma "coluna de ateus interessados em prostituir as mulheres". As cidades
despovoaram-se. Segundo boatos, estariam os revoltosos dirigindo-se para Campos
Sales, onde se reuniriam aos tenentes que ainda estavam no Piauí e marchariam
sobre Fortaleza. Em consequência, o Exército e os "batalhões patrióticos"
dirigiram-se para a proção Sudeste Cearense.
No dia 15 de janeiro de 1926,
os tenentes trocaram tiros com a polícia em Crateús e de fato seguiram para
Campos Sales, a 7 léguas desta localidade, no povoado de São Domingos, os
revoltosos, já sob o comando de Luís Carlos Prestes, novamente entraram em
choque com as forças governantes(22 de janeiro), mas na tática de evitar
conflitos desnecessários, tomaram a rota de Aopiara, Iguatu e Solonópolis e
entraram na Paraíba, frustrando as Oligarquias Cearenses.
FREI TITO DE ALENCAR

Foto: Tito de Alencar
"É preferível morrer a perder a vida"
Frei Tito
No dia 14 de setembro de 1945.
Nasce em fortaleza Tito de Alencar Lima. Seus pais não tinham a menor idéia do
que que a vida havia reservado para o filho. Mas o tempo revelou uma infância e
uma juventude felizes. E foi mostrando seu espírito de liderança, principalmente
a partir de seu ingresso na Juventude Estudantil Católica, no final dos anos 50.
Com 20 anos, quando inicia seus estudos no Convento da Serra, em Belo Horizonte,
resolve realizar o sonho de ser frade. A partir dali, ajuda e escrever não só a
história de vida, mas parte da história deste país. Frei Tito iria se
transformar em um mártir pela luta dos direitos humanos no Brasil, mas
terminaria vítima da violência instalada nos porões da ditadura que ajudou a
combater.
Parte desta história pode ser
encontrada no memorial Frei Tito,no Museu do Ceará. O espaço abriga desde
documentos, como a certidão de Nascimento de Tito, até os últimos óculos que
usou. Também fazem parte do acervo a máquina de escrever e o rosálio, que foram
fiéis companheiros do frei por bastante tempo. Ainda estão no acervo muitas
correspondências do frei Tito, incluindo a famosa carta escrita na prisão,
descrevendo as torturas sofridas, e que terminou ganhando o mundo como prova das
torturas praticadas contra os presos políticos brasileiros.
Frei Tito foi preso pela
primeira vez pelas forças da ditadura em 1968, por estar participando de um
congresso clandestino da união Nacional dos Estudantes, em Ibiúna, interior de
São Paulo. Ficou fichado pela Polícia e tornou-se, de modo mais explícito, alvo
da repressão militar, que pouco a pouco alargava seu poder de atuação. Depois de
se livrar da prisão, Tito continuou na sua rotina de membro da Ordem dos
Pregadores, pensando sobre as implicações do caminho que havia escolhido e na
busca de mais coragem para segui-lo. O tempo passava e sua opção exigia mais
engajamento e muito mais ciudado com o que fazia.
Mas frei Tito não conseguiu
impedir que a equipe do delegado Fleury, uma das mais aterrorizantes figuras da
repressão militar no período, invadisse o convento dos dominicanos, em novembro
de 1969. Acabou preso, acusado de particpar da organização do encontro
clandestino da UNE, realizado no ano anterios. No início de 1970, o frei
cearense foi torturado nos porões da ditadura. Na tentativa de denunciar a
violência praticada nas prisões do regime militar, e movido por uma gande
roragem, Tito escreveu a famosa carta-denúncia, que seria reproduzida em
diversos países.
A carta chocou o mundo. Nela,
Tito descreveu as torturas sofridas e assegurou que no País estava criando-se
uma máquina de triturar homens e mulheres. em pouco tempo, o documento
transformou-se em símbolo na luta pelos direito humanos. Tito só iria sair da
prisão em 1971, junto com outros 69 presos que foram trocados pela liberdade do
embaixador da Suíça, Giovani Enrico Bücher, seqüestrado pela Vanguarda Popular
Revolucionária.
Antes de embarcar para o Chile,
Tito escreveu para um companheiro do presídio: "...reuniremos os grandes ideais
que o futuro do povo brasileiro tanto anseia: a construção do socialismo. E só
os verdadeiros homens é que foram chamados para este ideal. Contra isso, nada
vence. Nem tortura, nem perseguições...".
Depois de passar alguns meses
no Chile, sob ameaça de ser novamente preseguido, frei Tito embarcou para a
Itália. em Roma, não encontrou acolhimento, pois era considerado um "frade
terrorista". Seguiu então para Paris. Lá, encontrou o tão esperado refúgio.
Apesar de bem acolhido pelos dominicanos, a angústia continuou. Mesmo em terra
estrangeira, sentia-se perseguido. Ouvia vozes do delegado Fleury e imaginava o
risco de novas torturas. O risco de alguém de sua família cair nas garras da
repressão também causava assombro em frei Tito, o que o fez partir para um
tratamento psiquiátrico.
O estado de frei melhorava e piorava até que, no dia 10 de agosto de 1974, um
morador de Lyon encontrou seu corpo suspenso por uma corda, à sombra de álamo. A
imagem sugeria um suicídio. E deixou uma certeza: sua morte foi causada pelas
torturas que sofreu nas prisões da ditadura. Em seu túmulo, na França, estava
escrito: "Frei da Província do Brasil. Encarcerado, torturado, banido,
atormentado...até a morte, por ter proclamado o Evangelho, lutando por
libertação de seus irmãos. Tito descansa nesta terra estrangeira".
O corpo de Frei Tito veio para
o Brasil em 1983. Antes de chegar a Fortaleza passou por São Paulo, onde foi
realizada, no mesmo dia 25 de março, uma celebração litúrgica em sua memória e
pela memória de Alexandre Vannucchi. Mais de 4 mil pessoas assistiram à missa.
No túmulo em sua terra, a legenda que dizia "Tito descansa nesta terra
estrangeira" mudou para "Tito hoje descansa junto ao seu povo".
PATATIVA DO ASSARÉ

Foto: Patativa do Assaré
QUEM É ESSE POETA?
Antônio Gonçalves da Silva,
filho do agricultor Pedro Gonçalves da Silva e de Maria Pereira da Silva, nasceu
em 5 de março de 1909 no Sítio denominado Serra de Santana, distante três léguas
(18 quilômetros) da cidade de Assaré, localizada no sopé da chapada do Araripe.
Mais tarde aquele menino franzino ficou conhecido no mundo como "Patativa do
Assaré", um dos maiores poetas populares do Nordeste.
Ainda no período de dentição,
em conseqüência da moléstia conhecida por Dord'olhos, o pequeno Patativa perdeu
a visão. Aos oito anos, ficou órfão de pai e teve que trabalhar, ao lado de seu
irmão mais velho, para sustentar os mais novos. Com a idade de 12 anos,
freqüentou uma escola, onde passou quatro meses. Desde muito criança, o pequeno
Patativa era apaixonado pela poesia. De 13 a 14 anos começou a fazer versinhos
que serviam de graça para os serranos. Os versos tinham como temas as
brincadeiras da noite de São João, testamento do Judas e ataque aos preguiçosos,
que deixavam o mato estragar os plantios das roças. Com 16 anos de idade,
comprou sua primeira viola e começou a cantar improviso.
Atualmente, o poeta é uma das maiores referências culturais cearenses. Por
tratar em versos de assuntos como a dureza da vida no sertão, os políticos que
só chegam nesses lugares quando precisam de voto, a morte causada pela pura
falta de alimento ou de atendimento, em meio a tanta miséria e a diferença de
vida entre as classes, o poeta Patativa do Assaré recebeu no ano de 1999, o
título de Doutor Honoris Causa da Universidade Federal do Ceará. O título foi um
reconhecimento à gramática verticalizada da língua falada do Nordeste
brasileiro. O nome do poeta foi indicado ao título pelo professor Gilmar de
Carvalho do Departamento de Comunicação Social da UFC, e que é um grande
admirador da poesia do saudoso Patativa.
Além de irreverente, Patativa
também cantou as boas coisas de sua terra, como as festinhas, os costumes e a
natureza. apesar de ser um homem do campo, nunca atribuiu seus problemas a um
Deus injusto, com se a vida ruim dos lugares onde a seca atinge fosse uma
punição divina.
Mesmo com pouco estudo, o poeta
justificou esse dom afirmando que " o talento não se ganha na escola, e mesmo
com uma vida tão difícil é possível se tornar um grande trovador e poeta de
nossa cultura.
Patativa do assaré lançou o primeiro livro "Inspiração Nordestina", em 1956,
pela editora Borsoi. Depois vieram "Cantos de Patativa", em 1966, pela mesma
editora. Em 1970, Figueiredo Filho publicou seus poemas comentados Patativa do
Assaré. O poeta tem inúmeros folhetos de cordel e poemas publicados em revistas
e jornais. Pela editora Vozes teve uma antologia com cada poema selecionado por
ele mesmo, de nome "Cante lá que eu canto cá", datado de 1978.
Mesmo distante de nós
fisicamente, o poeta vive entre nós através de sua fabulosa obra.
PADRE CÍCERO DE JUAZEIRO

Foto: Padre Cícero Romão Batista
Na tarde de 11 de abril de
1872, chega a Juazeiro um padre de 28 anos: Cícero Romão Batista.De pequena
estatura,cabelos escuros e pele clara, rezou a missa na rústica capela de Nossa
Senhora das Dores. Em três horas de marcha a cavalo, vinha da cidade vizinha do
Crato, onde nascera, passar alguns dias na localidade.
Naquela época Juazeiro possuía
apenas uma capela, uma escola e 32 casas com tetos de palha em apenas duas ruas.
Padre Cícero não gostou do local. Mas, segundo a tradição, um sonho mudou a sua
vida.
Ao anoitecer, depois de horas a
confessar os homens e as mulheres do arraial, o sacerdote atravessou o pátio da
capela em direção ao prédio da pequena escola, onde estava provisoriamente
alojado. Entrou em seu quarto e dormiu. Sonhou que 13 homens vestidos como
personagens da Bíblia chegavam à escola, que ele acordava e se levantava da cama
para olhar os visitantes.
De repente, viu-se diante de Cristo, que apontou para seus acompanhantes, homens
pobres e mal vestidos. Depois, voltando-se inesperadamente para o jovem padre,
ordenou: -E você, padre Cícero, tome conta deles!
Meses depois, padre Cícero
juntou os poucos pertences que tinha no Crato e mudou-se para Juazeiro. Trouxe a
mãe e duas irmãs solteiras. Foi morar numa pequena casa coberta de palha, em
frente à capela de Nossa Senhora das Dores.
Começa aí sua vida de
sacerdócio entre os pobres da região. No início, o convívio é difícil. Juazeiro
era um antro de bêbados, desordeiros e ladrões de cavalos. Ponto de parada de
tropeiros e mercadores, eram comuns farras e prostituição.
Com muita dedicação, padre
Cícero desenvolveu um trabalho de reabilitação na coletividade, rezando e
aconselhando os desafortunados, os miseráveis da seca e da fome do sertão. E era
esse povo mais simples que sempre lhe atribuía a qualidade de santo e profeta.
Um fato importante vem
confirmar a fama de milagreiro do padre. Numa sexta-feira de março de 1889,
quando deu a comunhão à beata Maria Madalena do Espírito Santo de Araújo, a
hóstia ficou vermelha em sua língua. O fenômeno teria acontecido várias vezes,
mas foi mantido em segredo, sendo revelado apenas em 1891. O povo considerou o
fato um milagre: teria sido o sangue de Cristo que avermelhara a hóstia.
A tranqüilidade da vida
sacerdotal do padre Cícero acaba completamente depois disso. Sobre ele desaba
uma campanha injuriosa de setores da Igreja. Crescem as intrigas dos inimigos
políticos. Até que, em abril de 1894, a própria Santa Sé julga o caso da beata.
Nega o milagre e proíbe as medalhas que já haviam sido estampadas com a imagem
da Maria de Araújo. E mais: padre Cícero tem dez dias para sair de Juazeiro, sob
pena de excomunhão, sendo proibido de celebrar atos religiosos. Em obediência às
determinações da Igreja, vai residir em Salgueiro, no estado de Pernambuco.
Em 1898, ele é chamado a Roma,
na Itália, para se defender diante das altas autoridade da Igreja sobre os
acontecimentos de Juazeiro. O Supremo Tribunal do santo Ofício recebe padre
Cícero, ouve sua explicações e examina o assunto. Ele é então absorvido e volta
a Juazeiro, onde pode continuar a abençoar os podres, apesar de ainda estar
proibido de rezar missa por uma contra-ordem do bispo do Crato.
A notícia dos milagres corre o Brasil de ponta aponta, atraindo milhares de
forasteiros para o lugarejo. Padre Cícero torna-se um consolo para os
peregrinos, o "pastor de almas obscuras". Beatos, beatas, romeiros e uma massa
incontida de pobres tomam conta da cidade. Cícero Romão Batista vira o Padim
Ciço dos sertanejos, e Juazeiro é a "nova Jerusalém".
A Beata Maria de Araújo e o Milagre da
Hóstia

Maria Madalena do Espírito Santo de Araújo, a Maria de Araújo, era uma das
muitas beatas que Juazeiro conheceu. Nascida em 23 de maio de 1863, era uma
mestiça de cabelos quase crespos que usava cortados baixinhos, estatura média,
franzina, cabeça pequena e um pouco arredondada, olhos quase negros, lábios um
pouco grossos. Vestia hábito de beata, preto, conservando a cabeça coberta e
tinha aspecto fisionômico e geral de pessoa simples, dócil e boa.
Maria seria uma das muitas Marias brasileiras, pobres e desconhecidas, se
não tivesse passado por uma experiência até então inusitada. Em uma de suas
muitas comunhões de mulher apegada a fé da igreja católica, a hóstia que
recebeu da mão de padre Cícero se transformou em sangue. E nada mais, a
partir daquele seis de março de 1889, seguiu na sua vida o ritmo normal.
Investigações. Perseguições. Dúvidas. Ameaças. Descrédito. Maria de Araújo
entrou numa gigantesca roda viva. Foi vítima de tortura.
Afastada do convívio social por algum tempo, o seu nome não podia mais ser
pronunciado, por ordem de Roma
Túmulo retirado da igreja
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BEATA Maria de Araújo vivia num mundo carregado de
misticismo(Foto: Cláudio Lima)
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Julho 18h02min 2004] Jornal O Povo
Simples, pobre, negra e analfabeta. Assim a professora
Maria do Carmo Pagan define a beata. Ela nasceu no antigo
povoado de Joaseiro, distrito do Crato, em 24 de maio de 1862 e
recebeu o nome de Maria do Espírito Santo de Araújo. Ainda
menina, aos 4 anos, tinha visões de Nosso Senhor. Aos 9 anos,
ela foi preparada para fazer a Primeira Comunhão pelo padre
Cícero. A partir daí, comungava diariamente e demonstrava ter
uma profunda fé católica.
Na adolescência, Maria recebeu os estigmas de Cristo, a coroa de
espinhos. ''Naquela época, a beata vivia num ambiente carregada
de misticismo. A igreja tinha um papel muito importante na sua
vida, assim como da maioria das pessoas. E o padre Cícero era o
seu diretor espiritual''. Foi em 1880, que Maria de Araújo foi
consagrada beata junto a outras jovens mais ou menos da sua
idade. Antes, ela fez um retiro espiritual dirigido pelo Reitor
do Seminário São José, monsenhor Francisco Monteiro.
Quando a Igreja suspendeu padre Cícero de ordem por causa do
''milagre'', a beata foi enviada para uma Casa de Caridade, em
Barbalha. E, na hora em que a Igreja voltou atrás e o liberou
para celebrar, fora de Juazeiro do Norte, ele levou a beata de
volta que ficou morando numa casa, na cidade, cuidando de
crianças órfãs. Como era proibido de celebrar no território de
Juazeiro, o padre Cícero rezava a missa no sítio São José, na
divisa com o Crato. Os fiéis compareciam a todas as celebrações.
A professora Maria do Carmo diz que o padre Cícero pediu a beata
que, quando uma pessoa chegasse à sua casa ela não abrisse a
porta, para evitar os curiosos. Maria de Araújo esteve confinada
durante muito tempo e, em 1912, ficou muito doente. ''O padre
Cícero foi visitá-la e pediu: 'Minha filha, não morra porque eu
preciso muito de você. Estamos na iminência de uma guerra. Você
é minha espada forte e não pode morrer'. Na época ocorreria a
chamada revolução de 1913-14, da qual padre Cícero participou e
que derrubou o governador eleito do Ceará, Franco Rabelo.
A beata viveu por mais dois anos e morreu no dia 17 de janeiro
de 1914. Tinha 52 anos. Maria do Carmo diz que numa entrevista
feita com uma sobrinha dela, soube que Maria de Araújo tinha
oferecido a vida pela paz em Juazeiro do Norte. De fato, a sua
morte ocorreu dois dias após o fim da revolução.
Seu corpo foi sepultado no interior da capela de Nossa Senhora
do Perpétuo Socorro (onde atualmente está o corpo do padre
Cícero). Por ordem diocesana, seu túmulo foi retirado no dia 22
de outubro de 1930. Não se sabe para onde foram os restos
mortais da beata. Há quem diga que foram novamente sepultados em
uma vala comum do cemitério do Socorro.
FONTE: JORNAL O POVO |
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MILAGRE DA HÓSTIA
O fenômeno que não acabou
A
professora e psicóloga Maria do Carmo Pagan Forti, de São Paulo,
foi a primeira a defender uma tese de mestrado sobre a ''beata
do milagre''. Ela diz que o sangramento da Hóstia aconteceu para
que Juazeiro do Norte fosse reconhecido como um lugar santo
Rita Célia Faheina
da Redação
[17
Julho 18h02min 2004] Jornal O Povo
Março de 1889. Em vez de chuva farta, comum nessa época
do ano, o sertanejo nordestino sofria com a escassez de água e
comida. O temor de um ano seco fazia com que o povo da região do
Cariri se reunisse diariamente para rezar na igreja e nas casas,
para pedir a Deus que os livrasse dos horrores da seca. Era
nesse clima de orações e muita fé que o padre Cícero celebrava,
naquela primeira sexta-feira do mês, a missa em honra do Sagrado
Coração de Jesus. Na hora de dar a comunhão à beata Maria do
Espírito Santo de Araújo, a Hóstia consagrada se transforma em
sangue. O ''Milagre da Hóstia'' será um dos temas abordados no
III Simpósio Internacional sobre Padre Cícero, que começa neste
domingo no Memorial Padre Cícero, em Juazeiro do Norte,
a 563 quilômetros de Fortaleza.
Não foi uma única vez. O fenômeno se repetiu por mais de 100
vezes num período de dois anos (1889-91). Também não era só
quando a beata comungava com o padre Cícero. O fato se repetiu
com outros sacerdotes. ''Na época da quaresma, a transformação
acontecia às quartas e sextas-feiras'', diz a professora e
psicóloga Maria do Carmo Pagan Forti, que estudou o fato durante
20 anos para escrever sua tese de mestrado do Curso de
Pós-Graduação em Ciências da Religião na Pontifícia Universidade
Católica (PUC-São Paulo). O estudo virou livro e foi lançado com
o título: Maria de Juazeiro, a Beata do Milagre.
A professora Maria do Carmo diz que sua intenção,
no estudo, não foi atestar se era ou não um milagre, ''Isso quem
diz é a Igreja Católica. Eu sempre me interessei pela relação do
homem com o sagrado''. Estudiosa de Parapsicologia, a professora
paulista confessa que chegou a pensar que se tratava de um
fenômeno parapsicológico. ''Até defendi isso num congresso que
participei em 1989. Mas, depois analisando e comparando com
outros fenômenos parapsicológicos vi que existia uma distância
muito grande entre um e outro''.
Ela explica que o fenômeno parapsicológico tem uma relação com o
lado psíquico do dotado e tem um fim. Ele acaba quando se rompe
esta relação. ''No caso da beata Maria de Araújo, ela foi
cuidada, estudada, venerada e o fenômeno não acabou''. A
psicóloga diz que, no seu estudo, analisou o fenômeno como uma
linguagem simbólica.
''O símbolo muda a realidade e vai se transformando. O
sangramento da hóstia aconteceu para dizer que Juazeiro do Norte
é um lugar santo. Aqui (Maria do Carmo se mudou de São Paulo
para Juazeiro do Norte há um ano) o romeiro pode ser roubado e
não acha ruim. É uma terra santa''. Ela diz que esse símbolo a
faz pensar que não se trata de um fenômeno meramente humano. ''É
muito maior'', conclui.
CRONOLOGIA
1889
- No dia 6 de março, durante a comunhão geral oficiada pelo
padre Cícero, a beata Maria de Araújo não pode engolir a Hóstia
consagrada que se transformou numa substância vermelha,
hematóide (semelhante ao sangue), em sua boca. O fenômeno se
repetiu várias vezes e passou para a história como os ''milagres
de Juazeiro''.
1891
- No dia 28 de março, o médico Marcos Madeira, que presenciara a
transformação da Hóstia consagrada em sangue, declara, através
de um documento oficial, ''à fé do seu grau'', que se tratava de
um fato sobrenatural pois não encontrara qualquer explicação
científica.
- Em 17 de julho, o padre Cícero Romão Batista é submetido a um
questionário enviado pelo bispo do Ceará, dom Joaquim José
Vieira sobre os ''milagres de Juazeiro''.
- No dia 21 de julho é nomeada a primeira comissão para
investigar os fatos ocorridos com a beata Maria de Araújo. O
padre Clicério da Costa Lobo era o chefe da comissão e padre
Francisco Antero Ferreira, o secretário.
- Em 28 de novembro, dom Joaquim nomeia a comissão que irá
verificar ''os milagres''. O relatório conclusivo afirmava que
não havia explicação natural para o fato e teria de ser
considerado como ''expressão miraculosa''.
1892
- No dia 4 de abril, o bispo do Ceará ordena ao vigário do
Crato, padre Alexandrino de Alencar, que faça um segundo
inquérito sobre o caso da Hóstia que virou sangue na boca da
beata Maria de Araújo.
- Em 22 de abril fica concluído o segundo inquérito. Dessa vez,
apresenta um parecer totalmente contrário do relatório
apresentado pela primeira comissão.
- No dia 5 de agosto o padre Cícero Romão Batista é suspenso de
ordem. Não poderia mais oficiar atos religiosos.
1893
- Em 25 de março dom Joaquim publica uma carta pastoral sobre os
''milagres de Juazeiro''. Trata como engano os documentos que
comprovam o fato ''sobrenatural'', inclusive os atestados
médicos.
1894
- No dia 4 de abril, a Congregação do Santo Ofício, no Vaticano,
analisa a documentação enviada por dom Joaquim. Os ''milagres''são
reprovados.
1897
- Em 29 de junho o padre Cícero Romão Batista se afasta de
Juazeiro do Norte e vai para Salgueiro (PE), em obediência a uma
determinação de seus superiores.
- No dia 18 de dezembro ele retorna e Juazeiro do Norte e se
prepara para ir ao Vaticano.
1898
- Em 13 de janeiro, padre Cícero segue para Recife e de lá vai
para Roma.
- No dia 1º de setembro, ele se apresenta à Congregação do Santo
Ofício e faz seu ato de submissão e obediência aos decretos da
Igreja, recebendo autorização para celebrar e retornar para
Juazeiro do Norte.
- Em 5 de setembro, padre Cícero celebra missa às 11h, na Igreja
de São Carlos Al Corso, no altar de Nossa Senhora das Dores. Foi
a primeira celebração que ele presidiu depois de suspenso.
- Dia 6 de outubro, o sacerdote é recebido em audiência pelo
Papa Leão XIII. Esteve com ele durante 20 minutos e lhe
presenteou com um rosário de ouro.
- No dia 4 de dezembro, o padre Cícero volta a Juazeiro e é
recepcionado pelo povo. Tinha reconquistado o direito de
celebrar. Mas, as pessoas não tinha esquecido o milagre e, por
causa da idolatria cada vez maior, foi novamente suspenso e
dessa vez de forma definitiva. |
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FONTE: JORNAL O POVO
CALDEIRÃO E A SAGA DO BEATO JOSÉ LOURENÇO

Foto: Sítio Caldeirão
O Caldeirão foi a maior
experiência agrária coletiva que o Nordeste já provou. Há exatos 66 anos, deu-se
um confronto entre homens fradados munidos até à medula e centenas de famílias
de camponeses que durante anos encheram um místico e político Caldeirão - e sem
armas de guerra. Era o começo do fim.
Quando chegou ao Juazeiro em 1891, vindo da Paraíba, José Louenço era mais um
nas romarias. Com um propósito além: à procura do pai que havia se deslocado
antes para o local, foi bater na casa do Padre Cícero. Também, ele iria de
qualquer jeito. Queria ser orientado. Acabou virando um protegido do Padre
Cícero.
Ainda em 1895, José Lourenço
organiza uma comunidade de romeiros no sítio Baixa Dantas. O local prospera. A
amizade com o Padre Cícero empurra bandos de famílias pobres e crianças órfãs
para o sítio. José Lourenço permanece no sítio Baixa Dantas até 1926, pois o
proprietário vende as terras e o beato é obrigado a deixar o local sem nenhuma
indenização rumo ao Caldeirão.
No Caldeirão a fartura da comunidade
era tanta que, durante a seca de 1932, uma das muitas terríveis que abateu o
Nordeste, centenas de desvalidos correram para o Crato. Foram recebidos com
comida, trabalho e orações pelo beato. Naquele momento os fiéis dominavam até
mesmo técnicas primárias de irrigação, o que permitia multiplicar a fartura da
irmandade de Santa Cruz do Deserto.
Contudo, após a morte do Padre
Cícero os romeiros ficaram na pior. Um testamento do padre, feito ainda no
início dos anos 20, destinava a maior parte do seu patrimônio aos salesianos.
Nesse lote estava incuída a fazenda Caldeirão. Com a morte do padre, os
herdeiros queriam expulsar imediatamente os camponeses, os fanáticos e
comunistas, no dizer oficial.
No ano de 1936 foi enviada uma
expedição militar ao Caldeirão. O Sítio é invadido e o beato refugia-se com
alguns romeiros na Serra do Araripe. No ano seguinte a polícia prepara nova
investida contra José Lourenço sob o comando do capitão José Bezerra, que acabou
morrendo em 10 de maio de 1937 durante a resistência liderada por Severino e
seus seguidores. Ainda no mesmo ano, como vingança, a policia invade a Serra
matando centenas de camponeses. Mais uma vez, o beato não foi localizado.
Quase como um milagre, o beato José Lourenço escapou a todos os cercos e
perseguições da Igreja, da Polícia, do Estado e dos aviões do Ministério da
Guerra. Não sofreu jamais um ferimento ou foi obrigado a disparar um único tiro.
E não era por falta de coragem. É tanto que retornou, em 1938, para o Caldeirão
de Santa Cruz do Deserto, munido apenas de enxada e rosário. Com uma penca de
almas e ajudado pelas boas chuvas do início de 1939, colheu uma safra de feijão
e produziu uma carrada de rapaduras e arrobas e mais arrobas de algodão. Quando
o sítio começava a ganhar ares de fartura outra vez, os padres da Ordem dos
Salesianos promoveram uma ordem de despejo contra o beato. Sem querer nenhum
rebuliço, ele deixou a área e foi morar no Sítio União, município de Exu, terra
de Luiz Gonzaga. Lá permaneceu até a sua morte em 12 de fevereiro de 1946,
vítima de peste bubônica.
O corpo do beato foi enterrado
em Juazeiro do Norte, ao lado do túmulo do amigo Padre Cícero. Uma romaria, a
pé, carregou o seu caixão ao cemitério, a 80 Km do local da morte. As mulheres
cantavam benditos; os homens de boa vontade louvavam o bravo negro, cem por
cento de trabalho e fé.
Mansinho: O boi sagrado do Cariri
No tempo das vacas gordas, o
Padre Cícero ganhou de presente um zebu e deu para o amigo beato José Lourenço
tomar conta num estábulo em Baixa Danta. Diz-se que os romeiros, na intenção de
agradar o Padim, enfeitavam os chifres do boi Mansinho com grinaldas de flores.
Mais: que alguns chegavam mesmo a acreditar que na santidade do animal e no
poder de cura de seus excrementos pelo fato do bicho já ter passado pelas mãos
do Padre não menos milagroso.
E tome acusações a José
Lourenço. De um lado, é tachado de culpado por incentivar o fanatismo. Do outro,
de ser um herege completo provocador da desordem social. Numa palavra, para o
influente Floro Bartolomeu, deputado federal à época, isso significava atraso.
Tudo o que ele não queria para a promissora Juazeiro. Foi então que Floro
condenou os dois, o beato e o animal, a penas diferentes. O beato foi parar na
cadeia, onde ficou 40 dias(1922). O boi, coitado, esquartejado publicamente teve
suas partes distribuídas com a população. Dizem que o beato foi obrigado a
provar da carne de Mansinho. Que maldade!
O CEARÁ E SUA GEOGRAFIA
O Estado do Ceará está situado na Região Nordeste do Brasil, um pouco abaixo da
linha do Equador, numa posição nitidamente tropical entre 2º 46'30'' e 7º52'15''
de latitude sul e 37º14'54'' e 41º24'45'' de longitude ocidental. Sua capital,
Fortaleza, localiza-se numa planície na zona litorânea, entre 3º30' e 4º30'S e
38º39' WGR. O Ceará faz limites a Sul com Pernambuco, a Norte com o Oceano
Atlântico, a Oeste com o Piauí e a Leste com a Paraíba e o Rio Grande do Norte.
O Clima no
Ceará
Região |
Clima |
Temperatura Média¹ |
Média das Médias |
Média das Máximas |
Média das Mínimas |
Litoral |
Quente e úmido |
Entre 26 e 27ºC |
Acima de 30ºC |
Superior a 19ºC |
Serra |
Frio e úmido |
Em torno de 22ºC |
27ºC |
17ºC |
Sertão |
Semi-Árido |
- |
Entre 32 e 33ºC |
23ºC às noites |
Fonte: FUNCEME
Municípios do Ceará:
184 (Litorâneos, área total de 15.000km²; Serranos, área total de 25.000km² e
Sertanejos, área total de 100.000km². Distritos: 765. Mesorregião (n/): 7.
Microrregião (n/): 33. Litoral: 573km (2,48% do total de km do litoral
brasileiro).
População - Habitantes (n°):
6.549.148 (Censo de 1991).
Densidade: 43,5 hab/km².
Homens: 3.038.954 (48,53%). Mulheres: 3.269.392(51,47%). Rural: 34,65%. Urbana:
63,35%.
Coeficiente
de Mortalidade Infantil:
75/1.000 nascidos vivos.
Coeficiente de Mortalidade Materna:
150,7/100,000 menores de 1 ano.
Taxa média de crescimento demográfico:
1,7% ao ano, no geral e 3,4% na Região Metropolitana de Fortaleza. Municípios
mais populosos: Fortaleza - 1.958.660; Maracanaú - 206.306; Caucaia - 194.359;
Juazeiro do Norte - 189.208; Sobral - 136.133.
População da Região Metropolitana:
2.307.017 (1/3 da população do Estado, e uma área de apenas 2,4% do território
estadual.
Economia -
PIB (1995)
- US$ 10.045.147 mil. Crescimento do PIIB: (1995) 5,02 em relação a 1994.
Renda Per Capita: US$ 2.227.
Orçamento estadual: (para
1997) R$ 4.075,7 bilhões.
PIB agropecuária: 8,50%
(1995).
PIB da Indústria de Transformação:
24,53% (1994).
PIB de serviços: 55,6%
(1994).
PIB do comércio: 9,42%.
PEA (População Economicamente Ativa):
2.909.970 pessoas, 43,45% da população total (1994).
População ocupada: 2.834.893.
Pessoas com ocupação informal:
64.258.
Taxa de crescimento da população ocupada:
2,5% a.a. Oferta de trabalho: 115 mil./ano.
Poupança global: 17,5% do
PIB.
Exportações (1995): US$
352,131 milhões.
Importações (1995): US$
656,781 milhões. ICM: R$ 950.829 (mil.).
Participação em relação ao país:
2,01.
Principais produtos de exportação:
cajú, cera de carnaúba, lagosta, fios de algodão.
N° de estabelecimentos agropecuários:
324.278.
Rebanho bovino: 2.621.144
cabeças. Caprinos: 1.115.993. Ovinos: 1.470.335. Avicultura: 10t/mês de frango;
78 milhões de ovos/mês.
Participação no PIB agropecuário:
30%. Suínos: 1.373.179. Pescado: 36.276t.
Rodovias - Número total:
48.217 (12% pavimentadas). Federais: 2.747km (pouco mais de 10% das estradas da
malha estadual). Estaduais: 8.818km, dos quais 3.674,km asfaltadas (49%).
Municipais: 38.888km (74,7% da malha rodoviária estadual, apenas 1%
pavimentado).
Bacias hidrográficas
As
principais:
Jaguaribe, que ocupa 50% do território cearense; Banabuiú: 19.500km²; Acaraú:
12.540km², 15% do territótio estadual; Poti: 12.330km²; Machado: 6.761km²; Choró:
5.100km²; Pirangi: 4.440km²; Aracatinga: 4.000km²; Pacoti: 1.800km²; Mundaú:
1.600km²; Timonha: 1.600km²; Ceará: 900km².
Chuvas: de janeiro a
maio.Pluviometria Média Anual: 775mm. (sertões, 400mme litoral/serras, 1.200mm).
Açudes: 7.227. Evapotranspiração: 1.700mm.
Insolação:
2.800horas/ano. Evaporação: 1.463,60. Nebulosidade: 3,70.
Pressão atmosférica: 1.010
mb. Temperatura média anual: 25º, sendo o litoral com 26º, sertão com 27º e
serras com 22º. Umidade relativa do ar: litoral: 80% e sertão: 70%. Temperatura
de água do mar: 25 a 28º. Salinidade da água do mar: 36º a 37º.
Lagoas principais(na Região Metropolitana de
Fortaleza): Messejana, Parangaba, Maraponga, Mondubim, Opaia,
Pajuçara, Jaçanau.
Lagoas (no interior do Estado):
Guriú, Jijoca, Caiçaras (Acaraú), Jirau, Tanque Salgado, Saco da Velha
(Aracati), Assaré Grande, Pau Preto (Araripe), Tabocas e Pombas ( Assaré), Uruaú
(Beberibe), Santa Cruz (Bela Cruz), Lagoa do Mato (Brejo Santo), Angico,
Papagaio (Campos Sales), Macacos, Junco (Caridade), Várzea e Inhuçú (Carnaubal),
Bananas, Tabapuá, Genipabu, Capuã (Caucaia), Curral e Grande (Granja), Paulos,
Bastiana (Groaíras), Bento e Brito (Itapajé), Mercês, Rodela e Baixío
(Itapipoca), Bestas e João Gonçalves (Jaguaruana), Saco do Barro e Timbaúba
(Juazeiro do Norte), Juvenal e Maracanau (Maranguape), João de Sá e Santa Rosa
(Marco), Angico e Jardim (Martinópole), Malhada Funda (Missão Velha), Diamante
Velha (Monsenhor Tabosa), Exu e Vacas (Morada Nova), Barro e Santo Antônio (Nova
Russas), Tigre e Cana Brava (Novo Oriente), Antônio Diogo (Redenção), Croatá e
Mundo Novo ((São Gonçalo do Amarante), Patos e Vaca Seca (Senador Pompeu).
Açudes: 7.227 unidades.
Potencial de acumulação: 11,5 bilhões de m³. Reserva de água subterrânea
explorável: 1,2 bilhões de m³. Volume de água açudada: 11,52 bilhões de m³.
Açudes principais: Orós,
Pentecoste, Pereira de Miranda, Arrojado Lisboa, General Sampaio.
Açude do Castanhão:
Abrange os municípios de Alto Santo, Jaguaribara, Jaguaretama e Jaguaribe,
concluído em dezembro de 2002, tem capacidade máxima de 6,7 bilhões de metros
cúbicos d'água.Além de proporcionar o desenvolvimento hidroagrícola, reforçar o
abastecimento da grande Fortaleza, controlar as enchentes do baixo Jaguaribe e
viabilizar a produção de pescado do Estado, ainda permitirá a instalação de um
pólo turístico na região, com perspectivas de criação de empregos e,
conseqüentemente, melhorando a qualidade de vida dos moradores dos municípios
circunvizinhos. Localiza-se a poucos quilômetros da BR 116, que liga o Ceará aos
estdos do sul do País,acesso fácil e a 250km da Região Metropolitano de
Fortaleza.
Potencial de acumulação: 18,2
bilhões de m³.
Reserva de água subterrânea explorável:
1,2 bilhões de m³.
Volume de água açudada: 11,52
bilhões de m³. Açudes principais: Orós, Pentecoste, Pereira de Miranda, Arrojado
Lisbôa, General Sampaio. Da Praia de Bitupitá, a oeste do Estado, no município
de Barroquinha, até Icapuí, no extremo leste, estendem-se 573 km de costa. Um de
seus aspectos mais marcantes é a regularidade costeira quebrada apenas por
pequenas e tranqüilas enseadas e pelas estreitas fozes dos rios.
Descrião |
Km |
Participação (%) |
Brasil |
Nordeste |
Ceará |
573 |
7,73 |
15,10 |
Nordeste |
3.795 |
51,23 |
- |
Brasil |
7.408 |
- |
- |
O litoral cearense,
importante fator moderador das condições climáticas, é banhado por águas de
tonalidade verde-azulada e de temperatura que oscila entre 25 e 28ºC, sem falar
na pureza das fontes de água doce à beira-mar e nas águas translúcidas das
lagoas interdunares. Extensas são as dunas que lhe molduram, alternadas por
terras ou rochas altas e íngremes denominadas falésias. Suas praias são longas,
geralmente baixas e em suave declive, ora primitivas, ora com razoável
infra-estrutura e equipamentos de apoio ao turismo, ensobradas por coqueiros
onde se abrigam as inúmeras colônias de pescadores.
Serras do Ceará
Muito embora
se constate que, para o conjunto do território cearense, os relevos com
altitudes inferiores a 200 metros têm larga predominância, é importante
ressaltar as serras, planaltos e chapadas cujas áreas se estendem a partir de
400 metros até o ponto culminante do Estado - Pico Alto, no município de
Guaramiranga, com 1.114 metros de altitude. Nessas áreas destacam-se como
características as formações montanhosas, as colinas de vales aplainados
utilizados para lavoura, altitudes elevadas, encostas em forma de abismo,
nascentes de rios, cachoeiras, cascatas, bicas, pequenas barragens, florestas
úmidas, flora e fauna expressivas, topos horizontalizados, fontes de água
cristalina, perenidade dos rios, sítios paleontológicos, clima ameno, baixas
temperaturas, grutas, mirantes e áreas propícias para trilhas.
No Cariri, o
planalto situado na chapada do Araripe atinge um nível de altitude de 800 a 900
metros. As vertentes apresentam escarpas abruptas de onde jorram abundantes
mananciais. No sopé da serra estende-se uma faixa estreita de calcário de grande
importância pela abundância de fósseis cretáceos que apresenta, revelando uma
terra bastante fértil.
Os relevos
úmidos reúnem os maiores potenciais de vegetação do Estado, cujas formações
florestais que abundam nas serras úmidas possuem árvores com até 20 e 30 metros
de altura com espécies conhecidas como "madeira de lei", de importante valor
industrial, e vegetais de palmas pendentes destacando-se a samambaia, algumas
orquídeas e outros epífitos.
As
principais reservas florestais do Estado encontram-se nas encostas úmidas, na
porção nordeste da chapada da Ibiapaba e encosta da chapada do Araripe, onde
estão as Florestas Nacionais de Ubajara e do Araripe. Representativas áreas de
concentrações vegetais são também encontradas nos elevados níveis da serra da
Meruoca, na encosta sudeste, e maiores altitudes das serras de Maranguape e
Baturité.
A
hidrografia nas serras úmidas é a mais rica do Estado, dada a maior permanência
dos cursos d'água e abundância de fontes perenes. Na Ibiapaba, entre as fontes e
quedas d'água encontradas citam-se como as mais importantes a da Bica, no
município de Ipu, cujas águas lançam-se do Pico Angelin (Serra da Amontada a 130
m de altitude - a Bica do Ipu), a cachoeira do Boi Morto, no rio Jaburu,
localizado no município de Ubajara, e as quedas d'água do rio Pirangi.
As fontes do
Cariri surgem na chapada a 700 m de altitude. Sobressaem-se como mais
importantes: a fonte do Itaitera, a do Granjeiro, que banha a cidade do Crato,
as pequenas fontes do Miranda e da Ponte, a do Salamanca ou Caldas - a única
estância hidromineral do Estado, a do Farias, a de São José, perto do Araripe,
acentuadamente termal(geotérmica), a do Cravatá, em Jardim.
A região da
serra de Baturité é coberta pela bacia hidrográfica Pacoti - Choró - Pirangi que
atinge altitudes superiores a 600 metros. Nesta região as fontes e quedas d'água
são mais abundantes nas imediações das cidades de Maranguape, Pacatuba,
Redenção, Baturité e Guaramiranga. As quedas d'água mais notáveis encontradas
nesta bacia são as do Oratório e Paracupeba.
Elevações |
Altitude |
Destaque |
Serra de Baturité |
500 acima de 900m |
Pico Alto, mais alto
do Estado, com 1.114 m, fontes e quedas d'água, representativa área de
concentração vegetal |
Chapada da Ibiapaba |
700 acima de 900m |
Parque Nacional de
Ubajara, Guaraciaba do Norte maior altitude , fontes e quedas d'água. |
Chapada do Araripe |
700 acima de 900m |
Floresta Nacional do
Araripe, fontes e quedas d'água, fósseis. |
Serra da Meruoca |
500 a 900m |
Representativa área
de concentração vegetal. |
Serra de Maranguape |
500 a 700m |
Pedra da Rajada,
fontes e quedas d'água, representativa área de concentração vegetal. |
Serra da Pacatuba |
500 a 700m |
Fontes e quedas
d'água. |
Sertões
A região
sertaneja, que representa cerca de 57% do território cearense, corresponde a
área em que as médias pluviométricas situam-se entre 500-700 mm, incluindo zonas
em que estas médias não atingem os 500 mm.
O período
seco tem duração de 6,7 ou 8 meses e as médias térmicas máximas registradas
situam-se entre 32 e 33º C e a média das mínimas em 23ºC durante as noites. Dada
a baixa umidade (inferior a 70%) a amplitude térmica é mais elevada. Em Santa
Quitéria, Sobral, Independência, Araripe e Tauá (Nordeste e Sudoeste)
encontram-se as médias térmicas mais elevadas do Estado.
Concorre
para a rigorosidade do clima na região do sertão, sua localização no centro do
Estado, circundada pelas chapadas da Ibiapaba, Cariri e Apodi, com depressões
abrigadas dos ventos que se dirigem ao interior.
A topografia
sertaneja apresenta planícies formando as depressões dos cursos dos rios
Jaguaribe, Acaraú e Coreaú, os pés-de-serra, serrotes e serras que não atingem
600 metros. Intensa vida agrícola nos pés-de-serra, destacando-se a periferia da
chapada do Araripe, da serra de Baturité, Uruburetama, Meruoca, Rosário e
Ibiapaba. Destaque para a serra do Estevão, situada nos sertões de Quixadá, com
clima ameno e um relevo que assume feição singular formando o acidente conhecido
por "Pedra da Galinha Choca".
A aridez do
clima dominante reflete-se pela presença da caatinga que se caracteriza pela
forte adaptação a insuficiência d'água, aos solos rasos e pedregosos, aos altos
índices térmicos e baixa pluviosidade. Na estação das chuvas a caatinga é um
misto de árvores e ervas e no estio reduzem-se a espécies arbóreas ou
arbustivas. Merece atenção a flora das várzeas, dominadas quase que
exclusivamente pela carnaubeira.
No que
respeita a hidrografia, o sertão reúne três grandes áreas de drenagem: a do rio
Jaguaribe, Acaraú e Poti. A primeira, cobrindo cerca de ¾ de todo o Estado e
destacando dois grandes açudes - o Orós (2 bilhões de m³) e Arrojado Lisboa (1
bilhão e meio de m³). No sistema do rio Acaraú incluem-se vários açudes públicos
estaduais, dentre os quais merece destaque o açude Paulo Sarasate (Araras) que
armazena 1 bilhão de metros cúbicos d'água. O rio Poti, até alcançar o boqueirão
por onde penetra no Piauí, atravessa a região semi-árido dos sertões de Crateús.
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