O que é
uma afta?
A afta ou úlcera aftosa recorrente é uma doença comum, que ocorre em cerca de
20% da população, caracterizada pelo aparecimento de úlceras dolorosas na
mucosa bucal, as quais podem ser múltiplas ou solitárias.
Quais as
características clínicas da afta?
As aftas costumam ser precedidas por ardência e prurido, bem como pelo
surgimento de uma área avermelhada. Nessa área desenvolve-se a úlcera,
recoberta por uma membrana branco-amarelada e circundada por um halo vermelho.
Essas lesões permanecem cerca de 10 dias e não deixam cicatriz; em geral, o
período de maior desconforto perdura por dois ou três dias.
Todas as
aftas são iguais?
Não. Atualmente são reconhecidos três tipos de aftas, sendo a vulgar ou minor
a forma mais prevalente. As outras formas são mais raras: uma delas é
conhecida como herpetiforme, porque lembra a manifestação do herpes simplex,
apresentando um grande número de pequenas ulcerações superficiais
arredondadas e agrupadas, que também perduram por cerca de 10 dias; a outra
forma é chamada afta major, que, como o nome indica, produz uma ferida maior
(com mais de 1 cm de diâmetro), mais profunda, mais dolorida, mais difícil de
tratar e que permanece semanas ou, às vezes, meses.
Por que as
aftas doem tanto?
As aftas são lesões ulceradas: há exposição do tecido conjuntivo, que é
rico em vasos e nervos, o que provoca dor. Além disso, o quadro pode ser
agravado por infecções causadas por microorganismos do meio bucal.
O que causa
a afta?
Não podemos afirmar que exista um agente etiológico específico. A literatura
aponta uma alteração da resposta imunológica como possível causa primária
em alguns pacientes e secundária em outros. Os ácidos presentes na alimentação,
os pequenos traumas à mucosa, distúrbios gastrintestinais, o ciclo menstrual e
o estresse emocional agem como fatores desencadeantes.
Qual a relação
entre as aftas e a dieta?
Alguns alimentos, quando em contato com a mucosa bucal, podem desencadear uma
resposta imunológica alterada em certos pacientes, o que provocaria o
aparecimento da ulceração. Muitas vezes os pacientes são alérgicos: têm
aftas quando ingerem certos alimentos.
As aftas são contagiosas?
Não, pois não se trata de doença infecciosa. No entanto, há um traço
familiar envolvido. Filhos de pais portadores de aftas apresentam chances bem
maiores de também sofrerem com aftas.
Outras doenças
podem parecer aftas?
Sim. O câncer de boca, ou carcinoma epidermóide, freqüentemente começa como
uma lesão ulcerada. Por isso, frente a uma úlcera bucal que não cicatriza
dentro de 15 dias, o paciente deve procurar o cirurgião-dentista para o diagnóstico
da lesão. Além disso, algumas doenças infecciosas, como o herpes, e algumas
doenças dermatológicas com ocorrência intrabucal, como o lúpus, embora
tenham características próprias bem conhecidas, em certas fases de seu
desenvolvimento podem parecer-se com aftas, principalmente para o leigo.
Só agora,
perto dos 50 anos de idade, comecei a sofrer com aftas. Por quê?
Confirmado o diagnóstico (pois nem toda ferida na boca é uma afta), será
preciso investigar algum fato relevante na história médica do indivíduo ou se
houve alguma modificação importante em seus hábitos de vida. Um fator muitas
vezes relacionado com essa história é o abandono do hábito de fumar. O fumo
provoca um espessamento da mucosa bucal, que parece tornar-se mais resistente à
penetração de agentes desencadeadores da afta. Resta saber se vale correr o
risco de adquirir um câncer de boca ou pulmão para se proteger das aftas.
Queimo
minhas aftas com formol; há algum problema nessa prática?
A aplicação de substâncias cáusticas, como o formol, sobre as aftas destrói
o tecido da região, inclusive as terminações nervosas, o que faz desaparecer
a dor. Entretanto, o que se faz é substituir a afta por uma queimadura química,
que causa injúria a tecidos normais. Além disso, há risco de maiores danos
pela inadequada manipulação dos produtos por parte dos usuários. Não se
recomenda tal prática.
Qual o
melhor tratamento para as aftas?
Não existe tratamento que seja eficaz para todos os portadores de aftas. Alguns
têm uma lesão aftosa uma vez por ano; outros apresentam lesões múltiplas
diuturnamente. As medicações de uso sistêmico, como os imunossupressores, são
mais efetivas na redução dos sintomas, mas possuem efeitos colaterais indesejáveis,
às vezes graves, sendo, por isso, reservadas para os casos mais severos da doença,
exigindo o acompanhamento atento de um especialista. Para os indivíduos com
quadros clínicos mais leves, a melhor abordagem é a aplicação tópica de
anti-sépticos, antiinflamatórios, anestésicos ou protetores de mucosa,
naturais ou sintéticos. O cirurgião-dentista deve ser consultado para um
adequado diagnóstico e orientação terapêutica.
- Orientações
sugeridas por Marina H. C. G. de Magalhães, Professora Doutora Assistente
de Disciplina de Patologia da FOUSP, e por Norberto Nobuo Sugaya, Professor
Doutor da Disciplina de Semiologia da FOUSP.
- REVISTA DA APCD V. 53, Nº 6,
NOV./DEZ. 1999