Olho para o relógio.  21:45.  Digo: 
	“Vamos, o show já vai começar”.  
	Eles abaixam o volume do toca fita,  “Highway to Hell” tocando a mil.
O carro está bem longe do  Pacaembu  (odeio  guardadores,  sempre é  vantagem
andar um pouco mais), mas dá para ouvir o som. Meu primo me estende uma lati-
nha de cerveja e diz:  “Relaxa, vamos beber mais um pouco.  Ainda é o show do
Angra.”  Eu não estava muito no pique de beber, em clima de festa.   Sabe,  o
Renato Russo morreu ontem... Mas também estava sem a menor vontade de encarar
um angra...  Vamos a cerveja!!!!   E não foi muito...  meia dúzia de latinhas
para cada um... Acabaram antes do Angra, o suficiente para entrar no clima...
e ainda AC/DC no toca fita para ajudar...  
	Terminado Angra,  fomos rapidinho para o portão do estádio.   Nem foi
preciso tanta pressa, o show ainda iria demorar para começar.  O Pacaembu lo-
tadaço,e vou traçando a estratégia para arrumar um bom lugar para ver o show:
	“Vamos indo pelas laterais, e chegando na frente invadimos.”
	“Lateral direita ou esquerda?”
	“Direita.  Acho que vai ter uns lances especiais daquele lado...”
	Achei errado.  O lado esquerdo (direito do palco)foi privilegiado por
Angus no solo que antecedeu o bis.   Ele deu a volta por detrás do palco,  em
cima dos ombros de Brian Johnson,acabando numa plataforma no meio do público, 
do lado esquerdo. Um dos pontos alto do show,e eu lá, perdidão do outro lado.
	Chegamos bem na lateral do gramado, uns 20 metros do palco.  Não dava
para ir mais.  
	“Na hora que começar o show a gente invade um pouco mais pro meio”.
	Na espera.  23:00 e nada de começar.  Rolling Stones tocando.   “Honk
Tonk Woman”,   “Harlem Shuffle”, “Brown Sugar”...  Parecia provocação... Será
que eles queriam uma comparação com o show dos  Stones de 95?   Comparar  com
aquele que foi o melhor show que eu vi na minha vida?
	Pela pontualidade é que eles não iriam ganhar ninguém.Um coro de vaia
já estava sendo ensaiado.   Eu não estava ligando muito,  é sempre bom curtir
Rolling Stones num estádio lotado...
	As luzes se apagam.  Expectativa geral.   No telão Beavis & Butthead.
O público delira.   Os dois em frente o camarim do AC/DC,  várias garotas en-
trando,  e eles,  “Acho que é hoje que vamos faturar”.   Aparece o desenho do
Angus Young com chifrinhos e dá uma risada maligna.   De trás dele sai um mu-
lherão com lingerie preta e capa,que encobre todos e dá início ao espetáculo.
A bola gigantesca  demolindo o cenário que estava no palco ( onde que  estava
nem dava para ver direito o que era). O público alucina.  Começa com “Back In
Black”.  O Fabrício aproveita para invadir mais para o meio.   Eu e meu primo
conseguimos entrar apenas um pouco, resolvi ficar por ali mesmo, já tinha uma
vista razoável.  Não estava muito com fôlego para tentar entrar mais,  estava
gastando todo ele tentando acompanhar Brian Johnson,  mas minha  garganta não
agüentou nem metade da música.   Fico as músicas seguintes mudo, só pulando e 
gesticulando. Até tento cantar um pouco em “Thunderstruck”, mas não dá. Minha
garganta só volta para “Hard As a Rock” e não me deixa até o final do show.
	O show tem um ritmo muito intenso, quando tem uma pausa é de pura di-
versão, como o striptease de Angus após “Boogie Man”.   Ele vai tirando  cada
peça do uniforme escolar numa performance muito divertida. Na hora de mostrar
a bunda, fica apenas na cueca com o emblema do AC/DC.   A platéia meio que se
decepciona, mas foi muito engraçado.
	A unidade do som da banda é uma coisa incrível.   Eles se  fixaram no
mesmo tipo de música durante 20 anos e não conseguem ser cansativos. As músi-
cas novas já nascem clássicas.  “Hail Caesar” é a maior prova disto.  Músicas
antigas estão  misturadas com as novas e ninguém  percebe,  e todas empolgam.
AC/DC é uma das poucas bandas no mundo, como Motorhead e Ramones, que  conse-
guem esta proeza.  
	Quando toca “The Jack” eu aproveito a empolgação do público e procuro
um lugar melhor. Me afastando mais ainda, mas acabo atrás de duas garotas que
são a maior prova viva da existência de Deus.   Aproveito uma das partes mais
nobres do show,  a seqüência  “Rock ‘n’ Roll Ain´t Noise Pollution”,   “Dirty
Deeds Done Dirt Cheap” e “You Shook me All Night Long”.   Mas no meio de “You
Shook...” aparece o protetor das deusas, um brutamontes mal-humorado que fica
repetindo sem parar “que merda de show, que merda de show”.   Cara  típica de
que gosta de pagode, sambanojo, e que me empurra mais para atrás ainda,  para
um lugar mais sujo, apertado e sem visão.   Fico sem ver nada em “Whole Lotta
Rosie”, “T.N.T.” e “Let There Be Rock”,perdendo aquelas estripulias do Angus.
	Aproveito o bis e vou atrás do Fabrício.   Acho ele bem no meio,  com
ótima vista para o palco.  E bem menos apertado.   A grande bola de demolição
cai,  e o Angus  surge no meio de fogo,  no centro do palco e  manda bala  em
“Highway To Hell”, e o show finaliza com “For Those About To Rock  (We Salute
You).
	Resultado final: fico sentado no chão, boquiaberto, tentando absorver
tudo,  mesmo após terminado o show.    Não conseguiu ultrapassar  os  Rolling
Stones, mas chegaram perto.  E em alguns aspectos até ultrapassaram.  Como no
jogo cênico, as demolições, o sino em “Hells Bells”,  o Brian Johnson montado
na bola em “Ballbreaker”, os tiros de canhão em  “For Those About to Rock...”
e a grande prostituta inflável de “Whole Lotta Rosie” que sozinha batia todos
bonecos dos Stones juntos.  E o grande showman Angus,  que se não é um  ótimo
guitarrista, compensa os longos solos (que eu sempre costumo achar muito cha-

to) em ótima diversão.

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