Veio Ver VERÍSSIMO ?


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Um autor que, às vezes, é personagem

(extraído de "O Globo" - 21/02/99)

por Luiz Noronha

Mesmo com todo jeito de cidadão do mundo, Luis Fernando Verissimo diz com orgulho que jamais sairia de sua casa no bairro de Petrópolis, em Porto Alegre ("É uma cidade muito original, os nomes dos bairros são Petrópolis, Ipanema, Teresópolis..."), onde vive desde os 5 anos. Hoje, moram na casa Verissimo e Lúcia, sua primeira namorada séria e mulher há mais de 30 anos, o filho Pedro e sua mãe, dona Mafalda. Uma das filhas, Fernanda, vive em Moçambique e a outra, Mariana, em São Paulo. Ele trabalha num amplo escritório no subsolo da casa, sem hora certa para começar ("logo pela manhã, leio vários jornais e revistas; às vezes, a idéia para a crônica bate imediatamente, às vezes, não") e, habitualmente cercado de amigos, já foi protagonista de histórias que dariam para compor um extenso fabulário:

CASAMENTO 1: Essa é um clássico da família. Verissimo vivia no Rio, tentando ganhar dinheiro para viajar para a Europa. Trabalhava como escriturário e apaixonou-se perdidamente por uma colega de repartição, Lúcia. No dia em que Lee Harvey Oswald acertou Kennedy, ele levou-a até a porta de uma joalheria, mostrou-lhe uma aliança exposta na vitrine e disparou, à queima-roupa:
- Está vendo aquele anel ali? Pois bem, te dou cinco minutos para me dizer se aceita casar comigo.
Ao que Lúcia respondeu quase imediatamente:
- Quero!
Em seguida, os dois foram comemorar brindando com uma Coca-Cola num botequim próximo. A Europa ficou para trás e o casal acabou indo para Porto Alegre, onde vive até hoje.

SILÊNCIO: Uma das características da personalidade de Verissimo mais lembradas pelos amigos é sua timidez. Certa vez, ele e seu pai (que também era reservado, mas não tanto) faziam uma viagem de carro de uns 400 quilômetros pelo interior do Rio Grande do Sul. Corre a lenda que, no começo da viagem, Erico perguntou a Luis Fernando se ele estava bem e a resposta só veio quando estavam quase chegando.

CASAMENTO 2: Vez por outra, Lúcia se revolta contra a introspecção do marido. Um dia, ela chegou a dizer que não conhecia o homem com quem estava casada. A resposta saiu de primeira:
- Se você me conhecesse, saía correndo - disse ele.

EM CENA: Prestes a se apresentar com o grupo de jazz e humor Muda Brasil, em Brasília, Verissimo teve uma idéia: entrar em cena com o palco às escuras, deixando para acender a luz quando os dublês de músicos e humoristas que integravam o grupo estivem posicionados. Só que, no breu, Verissimo não notou que o palco tinha acabado, continuou andando, levou um tombo e quebrou a perna. Quando as luzes foram acesas, o que se viu foi Chico Caruso chamando um médico. Demorou até que o público parasse de rir e levasse a sério o pedido de socorro.

MANCHETE: O primeiro dia de trabalho de Verissimo como redator do jornal "Zero Hora" é daqueles que ficarão para sempre nos anais da imprensa gaúcha. Exatamente no dia seguinte, o jornal saiu com um erro crasso estampado na manchete da primeira página. O acidente causou enorme preocupação na família: teria sido culpa dele? Não foi.

DESNATURADO: Verissimo se auto-define como um "gaúcho desnaturado": não sabe andar a cavalo, não toma chimarrão e, apesar de dizer que gosta da vida no campo, lembra que lá tem "espinho, mosquito e falta de água corrente."

ASSASSINATO: Fã de histórias em quadrinhos, ("as americanas, tipo Action Comics"), Verissimo criou personagens de estrondoso sucesso, como o detetive Ed Mort, o analista de Bagé e as cobras, que ele acaba de decretar mortas para sempre. O motivo é simples:
- Não fica bem para um homem de 60 anos ficar desenhando cobrinhas...

COMBATE: Revoltado contra um artigo assinado por Juremir Machado da Silva no "Zero Hora", em que seu pai era acusado de covardia política, Verissimo pediu demissão, em 1995, do jornal em que trabalhava desde que começou a escrever. Depois de um abaixo-assinado de mais de cem jornalistas gaúchos, de mensagens da Câmara dos Vereadores e do próprio Juremir sofrer ameaça de demissão, ele voltou atrás.

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