Veio Ver VERÍSSIMO ?


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Munição renovada com uma pontaria de mestre

(extraído de "O Globo" - 21/02/99)

por Luiz Noronha


De sua nova trincheira no GLOBO, Verissimo promete mirar e atirar nos mesmos alvos. O presidente Fernando Henrique, por exemplo, que para ele "está cada vez menos parecido com o sociólogo Fernando Henrique".

- Este Governo fez uma aposta e perdeu. O perigo, agora, é o passo seguinte, que vai ser mais duro ainda. Estou com a impressão de que ninguém, hoje, controla o que se passa no Brasil. O que mais me espanta é que, se fosse responder às críticas que faço a ele, Fernando Henrique falaria com muita eficiência, falaria muito bem, seria muito simpático. Mas o fracasso do presidente não é só dele, é de uma geração inteira, da minha geração, da qual o país esperava uma solução que não veio.

Até certo ponto empolgado com Itamar ( "ele é engraçado, é um palhaço, mas é bom quando o palhaço tem poder, quando tem uma polícia militar a seu serviço, dá uma mexida nas coisas"), Verissimo detecta curiosas inversões entre as linhas políticas tradicionais.

- Antes, a esquerda era mais ideológica e a direita, mais pragmática. Hoje, a situação mudou, a direita adotou o ideário neoliberal e a esquerda apresenta projetos mais objetivos. Tenho minhas simpatias pelo PT, mas não me sinto à vontade com uma postura engajada. Minhas preocupações são mais humanistas, acredito que o caminho passa pela social-democracia, e nem sei se seria a tal Terceira Via do gabinete gay do Tony Blair.

Opa! Uma piada politicamente incorreta! E as patrulhas?

- Não ligo para isso, acho que estou imune a elas.

Autor de alguns dos maiores best-sellers do mercado editorial brasileiro ( "O analista de Bagé", de 1981, já vendeu mais de 500 mil exemplares; "O jardim do diabo", seu primeiro romance, vendeu 40 mil; "Comédias da vida privada", de 1994, vendeu 120 mil; e "Comédias da vida pública" está na casa dos 90 mil) Verissimo tem seu último romance, "O clube dos anjos", que fala da gula dentro da série Plenos Pecados, da Editora Objetiva, na oitava edição, com mais de 40 mil exemplares vendidos. Dele, a Editora L&PM prepara o relançamento, em março, de vários títulos esgotados há tempos, como "A mulher do Silva", "A grande mulher nua" e seu primeiro livro, "O popular". Apesar de ser dono de uma capacidade de criação que chama atenção desde que fazia sucesso como redator na agência de publicidade MPM, nos anos 70, Verissimo quase faz pouco de sua atividade como escritor:

- Só começo a escrever quando estou de frente para o computador. Já tentei andar com um caderninho para anotar idéias, mas acabava esquecendo o caderninho e as idéias. Não tenho nenhuma obra dentro de mim para botar para fora, não tenho essa compulsão. Meus livros fazem sucesso porque as histórias são curtas, escritas de maneira fácil. A atividade de cronista me realiza completamente e acredito que é perfeitamente possível atingir a profundidade ficando na superfície - diz ele, como se explicasse seu estilo.

Fã de Saul Bellow, John Updike, e Phillip Roth, entre os americanos; e de José Roberto Torero, Rubem Fonseca, Moacyr Scliar e Tabajara Ruas, entre os brasileiros, citados de primeira, Verissimo gosta de dizer que só tem dois prazeres verdadeiros, viajar e comer. Ele conta que já teve sua "fase de Nova York", mas agora se confessa encantado com Paris, "que combina a beleza com as facilidades de uma grande metrópole". Mas paixão mesmo ele só tem uma: o futebol. Animadíssimo com a volta de Dunga ao seu Internacional, ele acha que o técnico da seleção brasileira, Wanderley Luxemburgo, tem "um problema de vaidade para administrar" e critica o jeito moleque de jogadores como Romário:

- Ele é a cara do futebol carioca, meio displicente, nem sempre objetivo, do drible pelo drible, em que uma jogada bonita vale mais que um gol. E isso acontece muito porque o torcedor carioca estimula esse tipo de atitude. Agora, o problema do futebol do Rio são os cartolas. É muito feio o que eles estão fazendo - diz ele, peso pluma com pegada de peso pesado. (Colaborou Daniela Name)

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