Armando |
Não me considero um paraplégico típico. Não é que eu queira ser
diferente mas como tive poliomielite aos seis meses de idade, fui criado
com total intimidade com o problema. Não houve um choque em minha vida,
como acontece com quem sofre um acidente e fica paraplégico, o que me
parece ser a maioria. Tive problemas, sem dúvida, pois aos 5 anos comecei a usar um aparelho nas pernas e andava apoiado em muletas. Para acompanhar o ritmo das outras crianças eu às vezes levava tombos incríveis, pois me metia a subir em árvores e a pular muros. Só aos 12 anos comecei a usar cadeira de rodas, uma opção bem mais saudável e cômoda.
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Também aos 5 anos resolvi que queria aprender a ler, mas nessa época as
crianças iam para a escola somente aos 6 ou 7 anos, o que fez com que
meus pais contratassem uma paciente professora particular que em pouco
tempo não aguentava mais me dar aulas, pois eu queria sempre as coisas
no meu modo e não no dela. Mas aprendi a ler e escrever. Aos 6 anos fui
parar, em função da proximidade de minha casa, em um colégio inglês, e
tive que aprender a língua pela necessidade de relacionamento com os
colegas, todos filhos de ingleses ou americanos. Depois de um ano lá
entrei para um colégio "normal". Tive a oportunidade de estudar, tendo uma vida escolar normal, como também era normal a minha vontade de fazer bagunça em aula, o que me rendeu algumas suspensões e castigos variados. Não fui um aluno brilhante, não sendo também um dos últimos colocados. Paralelamente eu tinha interesse em assuntos como a música e a eletrônica, aprendendo a tocar acordeon e violão, fazendo mais tarde um curso de eletrônica por correspondência. A eletrônica, aliás, foi a minha primeira forma de ganhar dinheiro. A música foi a segunda. E a informática foi a definitiva. Já adulto, a dificuldade de locomoção passou a ser um problema maior, pois embora meu primeiro emprego tenha sido a dois quarteirões de casa, algum tempo depois passei a trabalhar no centro da cidade. Mas dava-se um jeito qualquer, taxi, carona com amigos, etc. Casei, descasei, casei, descasei, casei, descasei, casei. No caminho, dois filhos, já dois homens agora. Como quase todas elas dirigiam, íamos juntos para o centro da cidade. Eu nunca quis dirigir, razão pela qual nunca tive carro adaptado. Não tenho muita paciência para isso. Coisa herdada de meu pai, que só teve automóvel durante alguns dias por ter ganho um numa rifa. Rapidamente se desfez dele e voltou à sua tranquila vida de pedestre. Claro que já existe o costume de não ir a lugares que me parecem difíceis. Sem dúvida nosso país não tem o hábito de facilitar as coisas para nós. Encontrei muita facilidade para fazer quase tudo na Europa e nos Estados Unidos. Em Roma, até fiquei em um hotel com escadas na entrada mas a gerência se prontificou a ter alguém para me ajudar sempre que necessário. E funcionou. Foi engraçado aliás constatar que existem diferenças bem acentuadas entre alguns dos países em que estive no trato com os paraplégicos. Na Inglaterra todos são muitos solícitos, e antes que apareça o problema já avisam qual é a solução. Na França eu tinha que perguntar pelas facilidades, e elas existiam. Já na Itália nem sempre existiam facilidades para nós. Nos Estados Unidos, em Nova York especificamente, não encontrei barreiras ou dificuldades, existindo sempre um acesso para cadeiras de rodas. Até os ônibus são facílimos de se usar. Como se pode ver, minha vida tem sido relativamente fácil e pouco afetada pelo fato de ser paraplégico. Ou eu é que sempre fui indiferente a isso e toquei minha vida fazendo o que deveria ser feito ? Email - amiller@pobox.com
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