Meu nome é Haroldo P. Silva e fiquei paraplégico aos 22 anos de
idade, em 1988. Na época os médicos não souberam explicar muito
bem como eu havia pego uma doença neurológica rara (apenas 1,2 pessoas
em 1 milhão são afetadas) chamada mielite transversa. Esta doença
inflama a baía de mielina, que envolve a medula, daí para matar
os neurônios é um pulo. A minha doença é fatal se não diagnosticada
a tempo, foi a rapidez do diagnóstico e seu tratamento correto que
me salvou. Algo em torno de uma semana foi o tempo que levou para
minha vida virar de cabeça para baixo e sem o movimento das pernas
para voltar ao normal. Pensei em muitas coisas e até em me matar,
mas com fé em Deus superei isso e ainda luto com paixão pela vida
até hoje como deficiente físico.E aí? Aos 22, um cara bem de vida,
com uma namorada ( que aliás me deixou),
trabalhando na firma
do pai, na faculdade, tudo ia bem...
O choque de ver meus movimentos
das pernas irem se esvaindo aos poucos foi portanto duro de aguentar.
Após 20 dias de hospital e outros tantos exames fui para casa...
É aí que começa sua recuperação? É difícil dizer, como alguém se
recupera totalmente? Acho que as pessoas com deficiência se adaptam,
mudam, transformam-se, numa metamorfose emocional e física que nunca
termina, num moto contínuo de determinação e alegria de viver...
Vencer a deficiência física inclui tudo que vem junto com ela,
não só a resistência em casa, mas os olhares de pena, conselhos
banais, visitas sinceras, esperanças que não morrem...
Após dois anos em cadeira de rodas, muita fisioterapia e
terapias como acumpuntura, choques elétricos, rezas, promessas
e outros temperos, finalmente encontrei uma fisoterapeuta especialista
no tipo de doença que me afetou. Foi como aprender a andar de novo,
do modo mais primitivo. Primeiro engatinhar, depois de joelhos,
aí os primeiros passos com andador em 1990. Foi como nascer de novo.
Naquele mesmo ano conheci a mulher com quem me casaria quatro anos depois.
Com ela já fui à Gramado e até à Disney World, um lugar em que passei
tão desapercebido que estranhei. A deliciosa sensação de ser apenas mais
um e não o rapaz deficiente. Desde 1990 já andei kilometros e kilometros,
vencendo barreiras físicas, arquitetônicas e médicas, sempre com meu andador
e dando um passo de cada vez. Tenho certeza de que ainda andarei
muito mais e como a minha esposa gosta de dizer sempre com um
sorriso nos lábios e uma vontade inquebratável de viver.
Haroldo P. Silva
Email - cborges@ibeuce.com.br