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Bom Dia Dado! Bom Dia meu amigo!

No dia dez de maio, você faria dezesseis anos conosco. Infelizmente, por razões cujo pleno entendimento ainda está fora do nosso alcance, a sua partida foi antecipada. Faz quase um ano. Por vezes, parece uma eternidade quão grande é a saudade. Por outras, é como se tivesse sido há pouco, tão forte é a sua presença entre nós. Nessa dicotomia, em tudo sentimos a sua presença e a sua falta; nos momentos de laser que você curtia e conseguia fazer mais alegres ou nos momentos de tristeza, os quais a sua personalidade solidária tornavam mais amenos. Foi gratificante a oportunidade que tivemos de conviver contigo aqueles quinze anos e dezoito dias passados aqui. Teve alguns percalços, é verdade. Mas eles fizeram com que sentíssemos a vida com mais intensidade. Certamente dos momentos bons e também de outros aprendemos, com a tua ajuda, a tirarmos algum proveito na forma de aprendizado, tanto para a nossa vida aqui como aí. Temos boas e não tão boas notícias. Entre as últimas, é triste lembrar que, em termos de saúde, Pelotas continua literalmente parada. O hospital que presta atendimento de emergência aqui e arredores, sendo também um hospital escola, funciona precariamente e quase à custa de "chantagens" já que quase todos os meses é obrigado a marcar uma data de fechamento para que alguma providência seja adotada e, assim, funcionar por mais alguns dias; o único hospital de pronto atendimento para traumatologia funciona apenas entre as sete e as dezenove horas; um outro, com unidade de terapia intensiva para recém nascidos, tem apenas dois leitos para pacientes que necessitam de respiração assistida. Neste caso, não é necessário dizer que muitos prematuros morrem por falta de um respiradouro que custa algo em torno de dez mil reais. É um valor desprezível quando comparado ao contraditório investimento de mais de um milhão de reais que está sendo feito, no mesmo hospital, para adquirir um sofisticado equipamento de ressonância magnética de última geração.

Não sei porque ocorre isso se o povo daqui é tão bom e solidário. Nós mesmo tivemos e continuamos tendo a oportunidade de receber manifestações explícitas e reconfortantes de solidariedade. Lembra-se quando você ficou doente? Não há, então, como explicar, porque tudo está indo ladeira abaixo, tão rapidamente, e não se faz nada ou se faz muito pouco.

Quanto as boas notícias: a semente por você lançada, na forma de uma "Webpage" para divulgar informações sobre doação de órgãos e transplante, germinou, está crescendo e, graças a ajuda de vários velhos e novos amigos, já deu frutos, materializados em uma ONG. A ADOTE é uma realidade até mesmo virtual, pois já tem um domínio na internet (www.adote.org.br). O Brasil inteiro está ouvindo falar sobre ela através do Movimento Nacional de Ação da Cidadania (seção dos empregados da Caixa Econômica Federal), da Loteria Federal do Brasil, da participação em Congressos, dos jornais, do rádio, da TV e outros meios. Já está instalada em uma sede própria, graças à Associação Comercial de Pelotas que, através do espírito empreendedor e solidário do Sr. José Luis Fonseca, literalmente adotou a ADOTE.

Nos próximos dias, será realizada uma mesa-redonda sobre doação de órgãos, com a participação de vários profissionais convidados e dos seus colegas do Colégio São José. No final do mês (dia 30) será realizada a Caminhada da Caridade. Esta caminhada foi uma proposta da ADOTE que através da imensurável capacidade de liderança e bondade de uma anjo, com nome de Maria Eulalie, foi assumida por diversas outras instituições. Em setembro, acontecerá a Semana Nacional da Doação de Órgãos e Tecidos. Como bem sabes, essa iniciativa da ADOTE já foi acatada pela Associação Brasileira de Transplante de Órgãos, pelo Sistema Nacional de Transplante do Ministério da Saúde e por várias organizações patrocinadoras.

Entre outras boas notícias, tem algumas que nos dizem respeito mais de perto. A Santa Casa realizou dois transplantes de rim em uma semana após dez meses sem captação; o número de transplantes no Brasil em 1998 aumentou em relação a 1997 e as projeções para 1999 indicam um aumento ainda maior e da ordem de vinte a trinta por cento; semana passada, através de portaria do Ministério da Saúde, o governo criou o "fundo nacional de transplantes" com um aporte inicial de cento e cinco milhões de reais para o ano em curso. Em face desses resultados temos que ser otimistas. É um alento indicativo de que estamos iniciando uma arrancada para sairmos dos três transplantes por milhão de habitantes por ano. Um índice ridículo quando comparado aos quase trinta da Europa e da América do Norte. O nosso índice é até inferior ao da Argentina e do Chile!

Tem mais. Está tramitando na Câmara Municipal, por sugestão do Dr. Cesar Borges, um projeto de lei, de autoria do vereador Edmar Campos, propondo a instituição da Medalha do Mérito da Saúde "a ser outorgada anualmente a todos aqueles que se distinguirem por relevantes serviços prestados à saúde do município". O nome da medalha: Eduardo Gonçalves de Assis. Que honra filho!!!

Pois é. Como disse no início, não é fácil suportar a sua ausência, mesmo sentindo a sua presença em todas as nossas ações pela ADOTE. Conforta-nos, contudo, a certeza contida nas palavras da sua (e nossa) amiga Bia, escritas há quase um ano: "A morte é um sono eterno. Adormece o corpo para que o espírito acorde em lugar distante. Distante mas perto... Perto para quem se ama. Boa noite Dado! Boa Noite meu amigo! Espero que estejas adormecendo feliz ao lado dos anjos, pois, com toda a certeza, em breve a eles te igualarás." Um beijo do teu pai.

Diário Popular, 14 de maio de 1999

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