Os esboços
de pregação não têm uma forma rígida.
Podem variar muito, mas aqui vão algumas dicas que podem
servir como base para sua elaboração.
A estrutura do esboço é a mesma da pregação.
O esboço será então um roteiro para o pregador
não se perder durante a pregação, ou mesmo
para não se esquecer dos pontos mais importantes da mensagem.
Em outras palavras, é um mapa com alguns pontos de referência.
Em resumo, o esboço PODERÁ ter:
1- Tema da mensagem
2- Texto base
3- Introdução
4- Tópico 1
5- Tópico 2
6- Tópico 3
7- Ilustração
8- Conclusão
Vamos analisar cada
parte.
Tema
da mensagem - É o titulo do assunto a ser tratado,
ou o nome da mensagem. Em alguns casos a gente fala o titulo na
hora da pregação, outras vezes não é
necessário. Mas, no esboço a gente coloca. É
bom para se ter um rumo determinado na mensagem e também
facilitar depois a escolha de um esboço entre muitos que
a gente tem guardado. Quem vai pregar deve ter claro o assunto que
vai ser tratado. Não basta escolher um versículo e
subir ao púlpito. Isso pode ate acontecer, e Deus pode usar,
mas não deve ser a regra. Pode ser que o pregador comece
a falar sobre um assunto e dali mude para outro e para outro, e,
no fim, não passou nada de consistente. Então, vamos
escolher um tema definido. Por exemplo: "A vinda de Cristo
ao mundo" é o titulo de uma mensagem evangelística.
Texto
base:
Toda pregação precisa ter um texto bíblico
como base. Este é o fundamento que vai dar autoridade a toda
a mensagem. Normalmente, o texto é pequeno: 1 versículo
ou 2, ou 3. Raramente se deve utilizar um capitulo todo. Só
quando o capitulo estiver todo relacionado ao mesmo assunto. Se
eu for falar sobre a oração do Pai Nosso, não
preciso ler todo o capitulo 6 de Mateus. No caso do nosso exemplo
(A vinda de Cristo ao mundo), usaremos o texto de I Timóteo
1.15:
"Fiel é
esta palavra e digna de toda aceitação: que Cristo
Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores, dos quais eu sou o
principal."
Introdução:
É o início da pregação. Existem
inúmeras maneiras de se começar uma pregação.
Por exemplo: "Nesta noite, eu gostaria de compartilhar com
os irmãos a respeito do assunto tal..." ou "No
texto que acabamos de ler, temos as palavras de Paulo a respeito
da vinda de Cristo ao mundo." Para muitas pessoas, a primeira
frase é a mais difícil. Apesar de muitas alternativas,
o ideal é que a introdução seja algo que prenda
logo
a atenção dos ouvintes, despertando-lhes o interesse
para todo o restante da mensagem. Pode-se então começar
com uma ilustração, um relato interessante sobre algo
que esteja relacionado com o assunto da pregação.
Um outro recurso muito bom é começar com uma pergunta
para o auditório, cuja resposta será dada pelo pregador
durante a mensagem. Se for uma pergunta interessante, a atenção
do povo esta garantida até o final da palestra. Voltando
ao nosso exemplo, poderíamos começar a mensagem perguntando:
"Você sabe para que Jesus veio ao mundo? Nossa mensagem
desta noite pretende responder a essa pergunta tão importante
para todos nós."
Tópicos
- Os tópicos são as divisões lógicas
do assunto, ou a divisão mais lógica possível.
Por exemplo, se o titulo da minha mensagem for "O Maior Problema
da Humanidade", eu poderia ter os seguintes tópicos:
1- a corrupção da humanidade; 2 - as conseqüências
do pecado; 3 - a solução divina para o homem. A divisão
em três tópicos é aconselhável por ser
um numero pequeno, de modo que o povo tenha facilidade de acompanhar
o raciocínio do pregador, sem perder o fio da meada. Podemos
ate mudar esse numero, mas o resultado pode ser uma mensagem complexa.
Os tópicos devem ser organizados numa ordem que demonstre
o desenvolvimento natural do tema, de modo que os ouvintes vão
sendo levados a compreender gradualmente o assunto até a
conclusão.
Em algumas mensagens, os tópicos podem ser argumentos a favor
de uma idéia que se quer defender com o sermão. Será
bom se eles estiverem organizados de maneira que os mais interessantes
ou mais importantes sejam deixados por ultimo, de modo que, a mensagem
vai se tornando cada vez mais significativa, mais consistente e
mais interessante a cada momento ate chegar à conclusão.
Se você usar seu melhor argumento logo no inicio, sua mensagem
ficara fraca no final.
Em alguns casos, o próprio texto bíblico já
tem sua própria divisão, que usaremos para formar
nossos tópicos. O texto de I Timóteo 1.15 é
assim. Dele tiramos os seguintes tópicos:
1 - Jesus veio ao mundo
- Falar sobre a aceitação geral da vinda de Jesus.
Todos crêem que ele veio.
2 - Para salvar os pecadores
- Falar sobre diversas idéias que as pessoas tem sobre o
objetivo da vinda de Cristo, e qual foi sua real missão.
3 - Dos quais eu sou
o principal - Falar sobre a importância do reconhecimento
do pecador para que a obra de Cristo tenha eficácia em sua
vida.
Um outro exemplo de
divisão natural é João 3.16:
1 - Deus amou o mundo.
Falar sobre o amor de forma geral e sobre o amor de Deus.
2 - Deu o seu Filho
Unigênito - O amor de Deus em ação. Deus não
ficou na teoria.
3 - Para que todo aquele
que nele crê não pereça mas tenha a vida eterna
- O objetivo da ação de Deus.
Esse versículo é riquíssimo. Podemos elaborar
varias mensagens dentro dele. É importante prestarmos atenção
a esse detalhe. Se, de repente, tivermos um entendimento muito profundo
de um versículo, é melhor que elaborar mais de um
sermão, do que tentar colocar tudo em um só, fazendo
um sermão muito longo ou complexo, principalmente quando
o texto permitir vários ângulos de abordagem, ou contiver
mais de um assunto. Uma duração ideal para um sermão
é trinta minutos. Quarenta, só em casos especiais.
Já um estudo bíblico pode durar uma hora. Logicamente,
o Espirito Santo pode quebrar esses limites, mas creio que ele não
faz isso com freqüência.
Ilustrações
- Ilustrações são ditados, provérbios
(não necessariamente os de Salomão) ou pequenas histórias
que exemplificam o assunto da mensagem ou reforçam sua importância.
Como alguém já disse, as ilustrações
são as "janelas" do sermão. Por elas entra
a luz, que faz com que a mensagem se torne mais clara, mais compreensível.
Muitas vezes, os argumentos que usamos podem ser difíceis,
ou obscuros, mas, quando colocamos uma ilustração,
tudo se torna mais fácil para o ouvinte. Existem muitas historinhas
por aí que não aconteceram de fato e são usadas
para ilustrar mensagens. Não há problema em usá-las.
Podem ser comparadas às parábolas bíblicas.
Entretanto, é importante que o pregador diga que aquilo é
apenas uma ilustração. As ilustrações
são muito importantes, porque despertam o interesse dos ouvintes,
eliminam as distrações e ficam gravadas na memória.
Pode ser que, na segunda-feira, os irmãos não se lembrem
de muita coisa do sermão de domingo, mas será bem
mais fácil lembrar das ilustrações, dos casos
contados como exemplo, e, juntamente com essa lembrança,
será também lembrado um importante ensinamento. No
exemplo da mensagem de I Timóteo, poderíamos usar
uma ilustração no tópico 3, mencionando que
um doente precisa reconhecer sua doença para ser curado,
ou contando um curta historia sobre um doente que reconheceu ou
não sua doença. Não é obrigatório
o uso de ilustrações no sermão. Se não
tiver nenhuma, paciência. Às vezes, os próprios
relatos bíblicos já ilustram muitobem os assuntos
que abordamos. Outro detalhe a se observar: não é
bom usar muitas ilustrações na mesma mensagem, pois
a mesma perderia sua consistência e seria mais uma coleção
de contos. Como dissemos, ilustração é luz,
e luz demais pode ofuscar a visão.
Conclusão
- A conclusão será o ápice da mensagem, o fechamento.
Não basta fazer como aquele pregador que disse: "Pronto!
Terminei." A conclusão é a idéia ou conjunto
de idéias construídas a partir dos argumentos apresentados
no decorrer da mensagem. Nesse momento pode-se fazer uma rápida
citação dos tópicos, dando-lhes uma "amarração"
final. Nessa parte, normalmente se convida para o posicionamento
dos ouvintes em relação ao tema. Ainda não
é o apelo. O pregador incentiva as pessoas a tomarem determinada
decisão em relação ao assunto pregado. Depois
desse incentivo, dessa proposta, o assunto está encerrado
e pode-se fazer o apelo, se for o caso, e/ou uma oração
final. No caso do nosso exemplo (A vinda de Cristo ao mundo), poderíamos
concluir convidando os ouvintes a reconhecerem sua condição
de pecadores, para que o objetivo da primeira vinda de Cristo se
concretize na vida de cada um. Para fechar bem podemos encerrar
dizendo que Cristo vira outra vez a este mundo para buscar aqueles
que tiverem se rendido ao evangelho.
O esboço deve
ser o menor possível. Pode-se, por exemplo, usar uma frase
para cada parte. Pode haver determinado tópico representado
por uma única palavra. O esboço é o "esqueleto"
da mensagem. Coloca-se o que for suficiente para lembrar ao pregador
o conteúdo de cada divisão. Se uma palavra ou uma
frase não forem suficientes, pode-se
colocar mais, mas com o cuidado de não se elaborar um esboço
muito grande, de modo que o pregador poderia ficar perdido no próprio
esboço na hora de pregar. Então, o recurso que deveria
ser útil torna-se um problema. Opcionalmente, o pregador
pode fazer o esboço, bem pequeno e, em outro papel, fazer
um resumo da mensagem. No púlpito, só o esboço
será usado. O destino do resumo será o arquivamento.
Em outra ocasião, quando o pregador for usar o mesmo sermão,
o resumo será muito útil. Se ele tiver guardado apenas
um esboço muito curto, este poderá não ser
suficiente para lembra-lo de todo o conteúdo de sua mensagem.
Eis aqui o esboço
que construímos durante essa explicação:
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Introdução
: Você sabe
para quê Jesus Cristo veio ao mundo?
Tópico 1 -
"Jesus veio ao mundo" - Falar sobre a aceitação
geral da vinda de Jesus. Todos crêem que ele veio (ate os
ímpios).
Tópico 2 -
"Para salvar os pecadores" - Falar sobre diversas idéias
que as pessoas tem sobre o objetivo da vinda de Cristo. Fundar uma
religião? Dar um golpe de estado? Ensinar uma nova filosofia
de vida? Qual foi sua real missão? Salvar os pecadores.
Tópico 3 -
"Dos quais eu sou o principal" - Falar sobre a importância
do reconhecimento do pecador para que a obra de Cristo tenha eficácia
em sua vida. Ilustração: O doente precisa reconhecer
sua doença.
Conclusão :
Uma idéia clara sobre o objetivo da vinda de Cristo. Um reconhecimento
pessoal da condição de pecado. Aceitação
de Cristo como Salvador.
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Você poderá
ler um pouco mais sobre essa mensagem de I Timóteo 1.15 no
artigo denominado "O Sentido do Natal".
Veja que o titulo da mensagem pode se mudado de acordo com a ocasião
e a necessidade, mas o conteúdo é o mesmo.
Bons estudos e boas mensagens!
APÊNDICE
A PREGAÇÃO
É aconselhável que o pregador faça um curso
de oratória. Entretanto, mesmo não se podendo fazê-lo,
o talento e a prática podem desenvolver bastante as habilidades
de quem fala em público. A observação de outros
pregadores, as críticas construtivas dos ouvintes e algumas
dicas de pessoas experientes no assunto poderão ser muito
úteis.
Vão aqui algumas considerações sobre a pregação:
1 - O domínio
do assunto a ser falado é o princípio da segurança
do orador. Portanto, estude bem o assunto com antecedência.
2 - Ao falar, evite ficar andando de um lado para outro. Isso cansa
as pessoas. O orador pode andar mas não o tempo todo.
3 - Evite repetições excessivas de frases ou palavras.
Por exemplo, algumas pessoas falam o "né" no fim
de cada frase. Isso cansa e desvia a atenção de quem
ouve.
4 - Para não
se perder, use um esboço com algumas frases ou palavras que
vão ajudá-lo na seqüência da palestra ou
pregação. Porém, não é aconselhável
que se escreva toda a mensagem para se ler na hora. Isso torna a
palestra monótona. Escreva apenas algumas frases norteadoras.
5 - Ao falar não
fique olhando apenas em uma direção ou apenas para
uma pessoa. Procure ir dirigindo seu olhar para as várias
pessoas no auditório.
6 - Falar corretamente
é fundamental. Se houver algum problema nesse caso, procure
fazer um curso de língua portuguesa. Os termos chulos e as
gírias não são admitidos na pregação.
7 - O outro extremo
também é problemático. Procure não utilizar
palavras muito difíceis, a não ser que esteja disposto
a também explicar o significado. O uso de termos complexos
ou estrangeiros demonstra erudição do orador mas pode
inutilizar a mensagem se os ouvintes não forem capazes de
compreendê-la.
8 - O uso de gestos
é bom mas deve ser praticado com moderação
e cuidado. Não use gestos ofensivos. Não use gestos
que não combinem com o assunto. Imagine que alguém
esteja falando sobre a ceia do Senhor e ao mesmo tempo pulando ou
batendo palmas. Não combina.
9 - O tom de voz também
é importante. É bom que seja variado. Se você
falar o tempo todo com voz suave, o povo poderá dormir. Se
você gritar o tempo todo, talvez as pessoas não vão
querer ouvi-lo novamente. O tom de voz deve acompanhar o desenvolvimento
do assunto, apresentando ênfase e volume nos pontos mais importantes,
nos apelos ou nas conclusões que se quer destacar. O falar
suave e o falar alto e enfático devem ocorrer alternadamente
para não cansar o ouvido do público.
10 - Em se tratando
de sermões sobre temas bíblicos, é fundamental
que o pregador tenha orado antes de falar e que também esteja
se consagrando ao Senhor para falar com unção e autoridade.
11 - O nervosismo e
a timidez devem ser tratados com a prática. O início
é mesmo difícil, mas com o tempo e a perseverança,
a segurança vem. Não existe outro caminho. Algumas
pessoas aconselham a começar falando sozinho diante do espelho
para treinar. Não sei se isso resolve. O certo é que
começar com uma platéia pequena é mais aconselhável.
O nervosismo será menor. Antes de falar no templo, será
melhor começar nos cultos domésticos.
12 - Outro detalhe importante é a duração da
palestra. Se for um sermão em igreja, o tempo deve ser de
até 30 minutos. Se o assunto for maravilhoso e envolvente,
então pode até chegar aos 40 minutos. Estudos bíblicos
podem durar 1 hora. Em acampamentos esse tempo pode até se
estender um pouco mais. Não existem regras para isso, mas
apenas percepções práticas. Esses limites podem
variar dependendo do lugar, do propósito, do auditório,
e de muitos outros fatores. Mas, de forma geral, esses tempos sugeridos
são razoáveis. Se quisermos ir muito além,
poderemos cansar muito o auditório e o que passar do limite
não será mais captado nem aproveitado pelos ouvintes.
Anísio Renato de Andrade |