A
Canonização Do Antigo Testamento
INTRODUÇÃO
O Antigo Testamento é indubitavelmente uma obra extraordinária,
nele se encontra a história dos patriarcas, do povo de Israel,
as grandes maravilhas de Deus. Enfim toda a palavra inspirada, revelada
e consequentemente toda sua autoridade. Pois Deus, escolheu grandes homens,
com uma fé grandiosa e incomparável, para tal propósito
de transmissão.
Pretende-se neste trabalho, descrever e analisar, de uma forma sucinta,
como todas estas informações do Antigo Testamento foram
sendo administradas, quais o critérios utilizados, para a formação
do cânon bíblico. Como foram selecionados os livros, deixados
por esses homens, que Deus escolhera.
Será feita uma análise também os escritos da época,
as línguas utilizadas, e de que forma as mesmas foram sendo interpretadas,
e transmitidas de geração em geração. Qual
influencias elas tiveram, na formação de um povo, e na formação
do Antigo Testamento. Como, a mão de Deus, esteve em presente em
toda a formação do Antigo Testamento, no que se refere a
Revelação, a Autoridade e a Inspiração, como
também na seleção de todos os livros que viriam a
compor o cânon do Antigo Testamento. Quais foram os materiais utilizados
para a confecção propriamente dita, desta magnífica
obra; o Antigo Testamento.
I. O PERÍODO
DE TRANSMISSÃO ORAL
Houve um tempo que a Revelação de Deus era transmitida
de forma oral, não escrita. No início dessa transmissão
oral do Antigo Testamento Bíblia, Deus escolheu um povo particular
para ser intermediário da revelação, o povo judaico.
Abraão foi chamado por Deus como pai de muitas nações.
Deus, fez dele e de outros homens, livros, isto é, antes da palavra
escrita. Adão trouxe a história da criação
através de 390 anos e contou-a a Lameque, e assim sucessivamente
até o tempo de Moisés. Portanto, Deus traçou toda
a história da transição oral das Escrituras, desde
o dia em que falou a Adão (Gn 1: 28), até o tempo em que
ordenou a Moisés que escrevesse num livro.
Há uma seqüência de transmissão oral da história,
na qual inicialmente com Adão para Lameque, até chegar em
Moisés. Logo a história da transmissão oral, verbal,
da palavra de Deus segue um traçado. Sete homens trouxeram a revelação
desde a criação, até que a bíblia começou
a ser escrita. Este é o número bíblico da perfeição,
assim, Deus deu a sua palavra, não pela vontade produtiva de homem
algum, mas os homens santos de Deus falaram através do Espírito
Santo.
Pode-se assim concluir que o ensino oral, era o meio de se comunicar a
Revelação divina durante o período compreendido desde
a criação do homem até o dia em que o próprio
Deus ordenou a Moisés que, registrasse de forma escrita suas mensagens,
em tábuas, no Monte Sinai, para que ficassem desta forma registradas
para a posteridade.
II. COMO FOI ESCRITO
O ANTIGO TESTAMENTO
Como se viu no capítulo anterior, no início a revelação
de Deus não era de forma escrita e sim oral, à partir de
Moisés começa-se então a escrever o Antigo Testamento.
Naquela época a escrita diferenciava-se muito desta que conhecemos
hoje, desde a maneira como se escrevia até o material usado para
a escrita, como veremos a seguir.
2.1 O material utilizado
O material usado na confecção do Antigo Testamento consistia
basicamente de: cerâmica, pedra, argila e cera. Estes foram os materiais
usados no princípio por Moisés e os profetas, sendo que
eles utilizavam de cinzel de ferro para entalhar pedras e estilete para
escrever na argila e cera. Pergaminho: feito de peles de animais, eram
bem duráveis. Papiro: feito de planta, uma espécie de cana
que crescia em lagos e rios do Egito e da Síria. As lâminas
eram prensadas, secas e polidas. Para escrever no pergaminho e no papiro
usava-se de uma pena (cana com ponta feita de junco). Para se registrar
tanto no papiro quanto no pergaminho usava-se uma tinta que era uma mistura
de água, goma e carvão.
2.2 As Línguas
O Antigo Testamento foi escrito em duas línguas: O Hebraico e o
Aramaico.
2.2.1 Língua Hebraica
É uma língua semítica adotada, originalmente, pelos
israelitas que tomaram posse da terra de Canaã, a oeste do rio
Jordão, na Palestina. Também foi chamada de cananeu e judaica,
depois da fundação do reino de Judá. O hebraico começa
a desaparecer como língua comum do povo hebreu por volta do ano
722 a.C.
Tem-se três formas do hebraico: o hebraico clássico, o hebraico
mísnico e o hebraico moderno. No hebraico as frases são
escritas da direita para esquerda, sendo que, esta é a língua
preponderante do Antigo Testamento.
2.2.2 Língua Aramaica
A língua aramaica é semítica e tem suas origens na
língua dos arameus, antigo povo do Oriente Próximo, foi
falada, em diferentes dialetos, tanto na Mesopotâmia como na Síria,
antes do ano 1000 a.C. e, mais tarde, converteu-se no idioma do atual
Oriente. Esta língua aparece apenas em alguns trechos do Antigo
Testamento (Esdras 4:8 a 6:18 e 7: 12-26; Jeremias 1011”; Daniel
2:4 a 7:28).
O trabalho de composição do Antigo Testamento era bastante
difícil. O material necessário para escrever não
era de fácil acesso, sendo um material de preço elevado
na época. O trabalho de se escrever a mão era muito vagaroso,
sendo que a tarefa das pessoas que escreviam e dos copistas era árdua
e devia ser feita com o máximo de atenção para evitar
a ocorrência de erros. Todos estes fatores tornavam a produção
dos manuscritos dispendiosa, contudo, não faltaram pessoas de boa
vontade que copiaram as escrituras e a fizeram chegar até nós.
III.
CANÔN: TERMO E CRITÉRIOS PARA SELEÇÃO
3.1 O termo cânon
O termo cânon é proveniente do grego “kanon”,
que nos primórdios significava vara, régua ou barra, e,
posteriormente passou a significar lista ou padrão de medida. Com
relação à Bíblia, diz respeito aos livros
que satisfazem o padrão e que, portanto, foram incluídos
nela.
O vocábulo cânon é usado pelos cristãos para
indicar uma lista autoritária de livros que pertencem ao Antigo
ou ao Novo Testamento, por conseguinte, quando se fala de cânon
do Antigo Testamento refere-se à lista de escritos inalteráveis
em seu conteúdo, forma e volume que são aceitos pela igreja
como divinamente inspirados e autoritários para a vida, fé
e a prática dos cristãos.
3.2. Critério para seleção
O cânon do Antigo Testamento não surgiu como num passe de
mágica, mas, é produto de um gradual reconhecimento pelos
judeus da autoridade de Deus presente em alguns livros então escritos.
Pode-se dizer então que em se falando de Antigo Testamento a igreja
“canonizou” de certa forma algo que já estava canonizado
(GLAGLIARDI, 1995, p.20).
Segundo Glagliardi para o julgamento de quais livros seriam considerados
sagrados foram usados alguns critérios:
a) Tem autoridade divina? É um “assim diz o Senhor”?
b) Foi escrito por um homem de Deus? É autentico?
c) Tem poder para transformar vidas?
d) Foi aceito pelo povo de Deus, lido e usado como regra de vida e fé?
e) Está o conteúdo deste livro em conformidade doutrinária
com a Lei?
f) É fiel historicamente?
g) Foi escrito até o tempo do profeta Malaquias?
Confort afirma que o agente qualificador de um livro para ocupar lugar
no cânon do Antigo ou do Novo Testamento não é o simples
fato de ser antigo, informativo, ou de fazer muito tempo que é
lido valorizado e aceito pelo povo de Deus, mas sim, que tenha a autoridade
de Deus para aquilo que diz.
Em síntese o que realmente qualifica um escrito a fazer parte do
cânon é a autoridade de Deus, e não apenas critérios
humanos. Se realmente foi Deus quem inspirou as Escrituras, o próprio
Deus deve ser o selecionador.
IV. A FORMAÇÃO
DO CÂNON
Os livros que compõem o Antigo Testamento não foram considerados
canônicos da noite para o dia, instantaneamente, Champlin afirma
que “o processo de canonização de qualquer coleção
de livros sagrados, é um processo histórico que necessita
de vários séculos para ser completado”(CHAMPLIN, 1995,
p625). O cânon do Antigo Testamento foi um processo lento e gradativo,
os livros foram sendo considerados canônicos em épocas diferentes,
não se sabe ao certo quanto tempo levou para que se chegasse a
atual forma do cânon vetero-testamentário.
Sabe-se porém que o cânon do Antigo Testamento foi elaborado
em três etapas distintas: A primeira seção –
a Lei, a segunda seção – os Profetas e a terceira
seção – os Hagiográficos.
4.1 A Primeira Seção – A Lei
A Lei (Torá), ou Pentateuco é de fato a primeira seção
a ser escrita e considerada canônica. Ela é composta dos
cinco escritos cuja autoria é atribuída a Moisés,
um dos primeiros e o maior profeta de Israel, sendo eles, Gênesis,
Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio.
Não se sabe qual a época precisa em que chegou a ter a forma
atual, e os estudiosos divergem a respeito. Os Samaritanos sustentam a
data de 722 a.C., os críticos porém, negam esta idade, em
vista da natureza dos manuscritos. Alguns estudiosos afirmam que ocorreu
na época de Esdras e Neemias e que a leitura da Lei feita por Esdras
(Nee 8:3) foi fator definitivo para a canonização.
Pelo menos sabe-se que deve ter sido antes da ruptura entre samaritanos
e judeus, pois os samaritamos tem o mesmo Pentateuco e o consideram literatura
sacra. Posto que os samaritanos não possuem os demais livros do
Antigo Testamento, exceção feita de um texto variante do
livro de Josué, é provável que esses outros livros
não fossem ainda tidos por sagrados ao tempo da ruptura, o que
não significa, porém, que não existissem naquela
época.
4.2 A Segunda Seção – os Profetas
A segunda seção e formada pelos escritos chamados de Profetas
Antigos, Josué, Juizes, Samuel e Reis, bem como os chamados Profetas
Posteriores como Isaías, Ezequiel e Jeremias e os doze Profetas
Menores, que eram considerados como sendo um só livro.
Não se sabe ao certo quando a segunda parte do Cânon judaico,
chegou a ser considerado tão sagrado que nenhum outro livro lhe
podia ser acrescentado. Sabe-se contudo, que já desfrutava essa
qualidade no começo do século II a .C., conforme atestam
algumas evidências históricas e o seu uso no cântico
em louvor aos pais, em Eclesiástico 44. Nesse tempo já havia
outros livros que começavam a merecer certa reverência especial
e que mais tarde vieram a constituir o terceiro grupo de livros do cânon
judaico.
4.3 A Terceira Seção – os Hagiográficos
Os escritos hagiográficos compreendendo, Salmos, Provérbios,
Jó, Cânticos, Rute, Lamentações, Eclesiastes
e Ester, Daniel, Esdras, Neemias e Crônicas foram o último
grupo de livros a serem aceitos como sagrados em um todo.
No prólogo ao Eclesiastico, Jesus Ben Siraque (em torno de 132
a.C.) escreve que os judeus já tinham três divisões
em sua Bíblia, a Lei, os Profetas e os outros livros. As referências
feitas pelo historiador judeu Flávio Josefo (cerca de 100 d.C.)
e as citações em o Novo Testamento (Lc 24:44, Mt 23:35)
indicam que no tempo de Jesus e de seus Apóstolos o cânon
do Antigo Testamento já continha as três seções
concluídas como as conhecemos hoje, sendo que na Bíblia
Hebraica o Antigo Testamento conta de 24 livros, ou de 22 caso se una
Rute com Juizes e Lamentações com Jeremias, não obstante,
trata-se dos mesmos 39 livros do cânon Protestante.
A data da conclusão do cânon vetero-testamentário
é incerta, alguns afirmam ser ele completo na época da conclusão
da versão dos setenta, a Septuaginta, outros informam que ele deu-se
somente com a realização do concílio de Jamnia. Portanto,
pode-se considerar o cânon hebraico terminado entre os anos de 100
a.C. e 100 d.C.
V. OUTRAS FORMAS
DE CÂNONES
5.1 O Cânon Católico
A igreja Católica segue praticamente a versão dos LXX, sendo
a versão Vulgata Latina tida como canônica em 1546 no concílio
de Trento, nesta versão estão inclusivos os livros considerados
apócrifos ou deuterocanônicos, Tobias, Judith, I Macabeus,
II Macabeus, Eclesiástico, Sabedoria.
5.2 O Cânon Protestante
As igrejas Protestantes seguem basicamente o cânon judaico, e conferem
pouco valor aos livros deuterocanônicos, alterando apenas a sua
ordem de colocação dos livros, sendo esta ordem de acordo
com a ordem da Vulgata. Lutero, no entanto, os considerou menos sob o
ponto de vista formal do que do ponto de vista do conteúdo, tendo
o Eclesiástico e a Sabedoria de Salomão sido altamente privilegiados
por ele, ao passo que os livros canônicos foram envolvidos também
em sua crítica. As igrejas Protestantes negam a canonicidade dos
livros apócrifos.
5.3 O Cânon Samaritano
O cânon Samaritano contém apenas os cinco livros da Lei.
Gêneses, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio.
Além desses, os samaritanos, tem uma adaptação do
livro de Josué, onde contém uma continuação
da história até os tempos do Império Romano. Esse
cânon mais curto é geralmente explicado supondo-se que a
congregação dos samaritanos se separou dos jerusalemitanos
num tempo em que os judeus ainda não tinham desenvolvido as partes
proféticas e hagiográficas do cânon.
VIII. TABELA COMPARATIVA
DOS CANÔNES
CANÔN
JUDAICO
|
CANÔN
CATÓLICO
|
CANÔN
PROTESTANTE
|
CANÔN SAMARITANO
|
A Lei
(Torá)
|
O
Pentateuco
|
O
Pentateuco
|
O
Pentateuco
|
Gênesis
|
Gênesis
|
Gênesis
|
Gênesis
|
Êxodo
|
Êxodo
|
Êxodo
|
Êxodo
|
Levítico
|
Levítico
|
Levítico
|
Levítico
|
Números
|
Números
|
Números
|
Números
|
Deuteronômio
|
Deuteronômio
|
Deuteronômio
|
Deuteronômio
|
Profetas
(Neviím)
|
Livros
Históricos
|
Livros
Históricos
|
|
Profetas
Antigos
|
Josué
|
Josué
|
|
Josué
|
Juizes
|
Juizes
|
|
Juizes
|
Rute
|
Rute
|
|
Samuel
|
I Samuel
|
I Samuel
|
|
Reis
|
II Samuel
|
II Samuel
|
|
|
I Reis
|
I Reis
|
|
|
II Reis
|
II Reis
|
|
Profetas
Posteriores*
|
I Crônicas
|
I Crônicas
|
|
Isaías
|
II Crônicas
|
II Crônicas
|
|
Jeremias
|
Esdras
|
Esdras
|
|
Ezequiel
|
Neemias
|
Neemias
|
|
Oséias
|
Tobias
|
Ester
|
|
Joel
|
Judith
|
Livros
Poéticos
|
|
Amós
|
Ester
|
Jó
|
|
Obadias
|
I Macabeus
|
Salmos
|
|
Jonas
|
II Macabeus
|
Provérbios
|
|
Miquéias
|
Livros de
Sabedoria
|
Eclesiastes
|
|
Naum
|
Jó
|
Cântico dos Cânticos
|
|
Habacuc
|
Salmos
|
Livros
Proféticos
|
|
Sofonias
|
Provérbios
|
Isaías
|
|
Ageu
|
Eclesiastes
|
|
* No cânon Judaico na divisão dos Profetas Posteriores, com
exceção dos Livros de Isaías, Jeremias e Ezequiel,
os demais eram considerados como fazendo parte de um só livro.
** Em algumas versões este livro esta junto com Juizes.
*** Em algumas versões este livro está junto com Jeremias.
****Esdras e Neemias formam um só livro.
VII. CONCÍLIO
DE JAMNIA
Ao final do primeiro século de nossa era os rabis reunidos em
Jamnia examinaram quais os livros que deveriam ser considerados Escritura.
Discutiram, aí, se Ezequiel e Cantares deveriam sê-lo. É
evidente que esses rabis não viam os limites do cânon como
definitivamente fixados. Por outro lado, é significativo que eles
não aventuraram a possibilidade de inclusão de algum livro
novo; sua preocupação era, antes, saber se algum livro,
apesar de largamente reverenciado, deveria ser rejeitado, como era o caso
de Ezequiel, aceito em Eclesiástico 49.8.
A fixação do cânon, pois, é a conclusão
de um processo, e não o seu início. Quando certos livros
forem reverenciados durante tão longo tempo que não seja
mais possível separar-se deles, ou quando não se fazem novas
adições durante tanto tempo que uma nova edição
se torna inconcebível, então o cânon torna-se fixo
por consenso tácito, o que possibilita sua fixação
por decisão. A evidência por consenso tácito antes
de os rabis terem se reunido em Jamnia, é que os livros do cânon
judaico do Antigo Testamento, sempre fizeram parte da Bíblia da
Igreja Cristã.
Nos mais antigos manuscritos do Antigo Testamento, escritos em grego,
encontram-se alguns livros adicionais que não existem no Antigo
Testamento hebraico. Alguns são, livros judaicos escritos originalmente
em hebraico e que os cristãos devem ter recebido de judeus que
os consideravam livros sagrados. Contudo, não há evidência
de que os mesmo fossem reconhecidos como tal pelo judeus, ou rabis reunidos
em Jamnia, os tivessem por canônicos. Gradativamente alguns livros
adicionais, não pertencentes ao cânon judaico, foram sendo
considerados como fazendo parte da Bíblia. Na verdade nem todos
os países da Igreja antiga os aceitavam. Mais tarde no Concílio
de Trento, a Igreja Católica Romana declarou-os canônicos.
Alguns reformadores, por sua vez, consideraram-nos de leitura proveitosa,
sem aceitá-los como canônicos, outros simplesmente os rejeitaram.
VIII. OS LIVROS APÓCRIFOS
A expressão apócrifo vem do grego “ta apokrypha”,
que à princípio significa “coisas ocultas” e
que em se tratando de cânon tem o sentido de “escritos excluídos
do cânon”. Cerca de treze livros são considerados apócrifos
no Antigo Testamento, sendo eles: 3 e 4 Esdras (ou 1 e 2 Esdras), Tobias,
Judith, O Restante de Ester, Sabedoria de Salomão, Eclesiástico
(também chamado de Sabedoria de Jesus ben Siraque), Baruque, a
Carta de Jeremias, os acréscimos a Daniel, a Oração
de Manassés e 1 e 2 Macabeus.
Estes livros são chamados apócrifos, ou seja, foram excluídos
do cânon por não serem considerados como inspirados por Deus.
Lutero citado por Bentzen, define os apócrifos como: “Livros
que não podem ser tidos como iguais aos livros da Sagrada Escritura,
mas que não obstante são bons e úteis para se ler”
( BENTZEN, 1968, p30). Para Jerônimo (séc. V d.C.), os livros
apócrifos são o excesso da Septuaginta em comparação
com as Escrituras Hebraicas, e não deveriam ser usados como fonte
de qualquer doutrina cristã.
Os livros apócrifos são encontrados na versão dos
setenta, a Septuaginta. No concílio de Trento em 1548, a Igreja
Católica reconheceu os escritos apócrifos, com exceção
de 3 e 4 Esdras e da Oração de Manassés, como autoritários,
ou seja canônicos. Isto deu-se em oposição a reforma
de Lutero, e de acordo com Tarnner, citado por Turner, “o motivo
foi que a Igreja Católica encontrou nesses livros o seu próprio
espírito”. ( TURNER, 1949, p38).
8.1 Breve resumo dos apócrifos e suas heresias.
3 Esdras (ou 1 Esdras). Denota ser uma compilação de material
extraído de diversas partes do Antigo Testamento e inclui o “Debate
dos três soldados” (3:1-5; 6), no qual a supremacia da verdade
é demostrada através de erros e inconsistências históricas.
Entra em contraste com suas próprias fontes.
4 Esdras (ou 2 Esdras). Livro apocalíptico no qual Esdras através
de visões lamenta a situação difícil de Israel
e procura um Messias que restaure a nação a sua glória
anterior.
Tobias (200 a.C.). É uma mistura de folclore e romance, sendo
uma história novelística sobre a bondade de Tobiel, pai
de Tobias, e alguns milagre feitos pelo anjo Rafael, entre as suas heresias
apresenta a justificação pelas obras (4:7-11, 12:8), superstições
(6:5), mediação dos santos (12:12), um anjo engana Tobias
e o ensina a mentir (5:16 a 19). Além de conter erros históricos
e geográficos.
Judith (150 a.C.). Narra a maneira de como uma mulher judia mata um líder
inimigo e salva o seu povo. Sua grande heresia é a própria
história onde os fins justificam os meios. Esta marcado por erros
cronológicos.
O Restante de Ester compreendem o sonho de Mardoqueu, o edito de Assuero
contra os judeus, as orações de Mardoqueu e Ester, o edito
de Assuero a favor dos judeus e um epílogo.
Sabedoria de Salomão (há divergências quanto a datagem,
uns dizem 40 d.C. e outros afirmam 100 a.C.). Sua essência doutrinária
é mais próxima do pensamento grego que do hebraico e tem
a finalidade de lutar contra o epicurismo. Apresenta o corpo como prisão
da alma (9:15), doutrina estranha quanto a origem e o destino da alma
(8:19,20) e salvação pela sabedoria, (9:19).
Eclesiástico (180 a.C.). O autor utilizou o modelo do livro de
Provérbios. Suas heresias são a justificação
pelas obras (3:33,34), trato cruel aos escravos (33:26 e 30), incentiva
o ódio aos samaritanos (50:27,28).
Baruque (100 d. C.). Apresenta-se como sendo escrito por Baruque, o cronista
do profeta Jeremias, numa exortação aos judeus quando da
destruição de Jerusalém, porém a sua apresentação
é inverossímil, visto que o livro é de data muito
superior. Sua principal heresia é a intercessão pelos mortos
(3:4).
Acréscimos a Daniel compõem-se de três seções
suplementares alheias ao hebraico, sendo elas: Capítulo 3:24-90,
a oração de Azarias seguida pelo cântico dos três
jovens quando libertos da fornalha; Capítulo 13, a história
de Suzana na qual Daniel a salva num julgamento fictício baseado
em falsos testemunhos; Capítulo 14, Bel e o Dragão contém
histórias sobre a idolatria.
A Oração de Manassés consiste num curto salmo, que
apresenta o suposto pedido do rei pela misericórdia divina durante
um período de aprisionamento na Babilônia.
1 Macabeus (100 a.C.). Narra a história de três irmãos
da família dos Macabeus, que no chamado período interbíblico
(400 a.C. – 3d.C.), lutam contra os inimigos visando a preservação
de seu povo e de sua terra. Tem base em algumas fontes literárias
genuínas, embora a autenticidade de determinados trechos seja contestada.
2 Macabeus (100 a.C.). Não é uma continuação
de 1 Macabeus, mas um relato paralelo, cheio de lendas e prodígios
de Judas Macabeu. Contém diversos erros cronológicos e contradições
efetivas. Entre suas doutrinas errôneas estão a oração
pelos mortos (12:44-46), culto e missa pelos mortos (12:43), intercessão
pelos santos (7:28 e 15:14), e o próprio autor não se julga
inspirado (15:38-40, 2:25-27).
CONCLUSÃO
Pode-se assim concluir que o ensino oral, era o meio de se comunicar
a Revelação divina durante o período compreendido
desde a criação do homem até o dia em que o próprio
Deus ordenou a Moisés que, registrasse de forma escrita suas mensagens
em livros.
O trabalho de composição do Antigo Testamento era bastante
difícil. O material necessário para escrever não
era de fácil acesso, sendo um material de preço elevado
na época. Também o trabalho da escrita a mão, era
muito vagaroso, sendo que a tarefa das pessoas que escreviam e dos copistas
era árdua e devia ser feita com o máximo de atenção
para evitar a ocorrência de erros. Todos estes fatores tornavam
a produção dos manuscritos dispendiosa, contudo, não
faltaram pessoas de boa vontade que copiaram as escrituras e a fizeram
chegar até nós.
O agente que qualifica um livro para ocupar lugar no cânon do Antigo
ou do Novo Testamento não é o simples fato de ser antigo,
ou de fazer muito tempo que é lido valorizado e aceito pelo povo
de Deus, mas sim, que tenha a autoridade de Deus para aquilo que diz.
Não se sabe ao certo a data da conclusão do cânon
vetero-testamentário, alguns afirmam ser ele completo na época
da conclusão da versão dos setenta, a Septuaginta, outros
informam que ele deu-se somente com a realização do concílio
de Jamnia. Portanto, pode-se considerar o cânon hebraico terminado
entre os anos de 100 a.C. e 100 d.C.
Tem-se feito uma comparação entre os cânones: judaico,
católico, protestante e samaritano. Já ao final do primeiro
século de nossa era os rabis reunidos em Jamnia examinaram quais
os livros que deveriam ser considerados Escritura.
Os livros apócrifos são livros de boa leitura, mas de modo
algum inspirados, deve-se ter cuidado ao lê-los, além de
bom conhecimento teológico para se examinar as suas heresias, evitando
assim toma-los por fonte de qualquer doutrina.
Espera-se ter alcançado o objetivo, com seriedade e dedicação,
que a própria matéria exige. Pois acima de tudo, o que vale
mesmo são as oportunidades, que a vida oferece a cada dia, para
o crescimento pessoal. E assim desta forma, divulgar a Palavra de Deus.
Obtendo assim certeza e conhecimento sobre o assunto acima exposto, pois
no futuro possivelmente, estaremos falando a outros, todas estas coisas
sobre a formação do cânon.
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