Way Out vol.2
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No ano passado, o jornalista Rui Eduardo Paes — há muito empenhado na divulgação da chamada música improvisada e em explorar as fronteiras entre o som «musical» e o som «concreto» — decidiu promover a edição de um primeiro volume de Way Out, compilação de artistas e projectos nacionais. O facto de agora se publicar este «Volume 2», transformando assim o projecto inicial numa espécie de revista sonora periódica, parece atribuir alguma razão ao compilador, quando este afirma julgar «que é já para todos evidente que existe, de facto, uma nova realidade musical "alternativa", no nosso país e que esta começa a ser conhecida além-fronteiras», citando depois os exemplos de Rafael Toral, Carlos Bechegas e Osso Exótico.
Deste último projecto (também representado com Para Percussão e Violinos) veio David Maranha, cujo tema «Quatro Violinos» (sete minutos e treze segundos de sinusoidais) abre o disco. Seguem-se o guitarrista Manuel M. Mota, um cativante exercício de Discmen (José António Moura), os Electro Flan (Gonçalo Falcão, Gonçalo Freitas, Paulo Correia e Manuel Laranjinha) e o saxofonista Rodrigo Amado - primeiro a solo, com Drum'n'Sax, depois na companhia do contrabaixista Miguel Leiria Pereira em RM2. Destacam-se ainda as presenças do violinista Ernesto Rodrigues e de Jorge Valente (um ex-Plexus), dos Zzzzzzzzzzzzzzzzzp! (o colectivo electrónico de José Moura Barbosa, Manuel A. Dias, Miguel Carvalhais e Miguel Sá) e de Américo Rodrigues, este com dois exercícios sobre a voz, um deles no tema «Marinetti's Voice», de Victor Afonso.
R.E.P. confessa que não foram aqui incluídos todos os nomes que gostaria — uns não puderam, outros não quiseram — e deixa uma nota de esperança: «Julgo mesmo que a travessia do deserto de que tantos se queixavam está a terminar.» Em todo o caso, o disco recomenda-se, particularmente a quem tenha o gosto de explorar aventuras sonoras inéditas e não a quem procure «canções» ligeiras, uma vez que as linguagens aqui em jogo exigirão, da parte do ouvinte, um esforço superior de concentração e entendimento.
Jorge Pires (Expresso)