t e x t s 

“Lautari” designa, na terminologia dos ciganos da Roménia, “aquele que improvisa”, o músico ambulante que aprende escutando os mestres. É também a designação escolhida por este trio de Lisboa, que escolheu, entre todas as formas musicais disponíveis, aquela que, pelo menos em Portugal, se afigura como a de maiores dificuldades, tanto em termos de prática como de aceitação junto do grande público. Formado no ano de 1994, em Lisboa, o grupo encontra-se neste momento na fase de procura de plataformas de trabalho viáveis e que se coadunem com as respectivas personalidades, necessariamente diferentes e, por vezes, contraditórias entre si. Num campo de manobra cheio de minas e na mira de não poucos preconceitos auditivos, os Lautari conseguiram para já assegurar a sua subsistência como grupo, não abdicando das suas convicções a favor de um impacte mais imediato no consumidor médio. Escolheram a improvisação, “pelo risco” e “por uma necessidade de comunicação”, como acontece com José Oliveira, que afirma “não ter tempo, nem jeito, nem pachorra, para dizer alguma coisa enquanto na simples posição de intérprete”. José Oliveira, que, no passado, já tocou com o trompetista Sei Miguel e com Celso de Carvalho, faz suas as palavras do percussionista inglês Roger Turner, quando este diz que a música é “uma forma de guerrilha”, embora faça questão de frisar que, “já na música barroca, se incluía uma margem significativa de improvisação”. A audição de nomes como Evan Parker, Barry Guy, Paul Lytton, Paul Lovens, Derek Bailey, representantes da free music inglesa dos anos 60 e 70, mas também Archie Shepp, Ornette Coleman ou Eric Dolphy, foram determinantes na génese da estética perfilhada pelos Lautari. “A persistência em fazer este género de música”, diz Carlos Bechegas, que, entre outros, já tocou com Carlos Zíngaro e numa das derradeiras formações do Plexus, “deve-se a uma certa impaciência de alguns músicos para se relacionarem com as partituras”, a par da exigência de “uma criatividade específica”, que dá para conseguir “uma certa dinâmica de resultados, impossível de obter por outros meios”: “Se se faz uma improvisação que a seguir é escrita, mesmo se os “virtuosos” forem tocar aquilo – que são as mesmas notas -, não resulta da mesma maneira do ponto de vista dinâmico. Quando se improvisa, tem-se a sensação de encontrar uma coisa pela primeira vez”. Uma opção que acarreta uma enorme dose de responsabilidade e de entrega total à música, já que a espontaneidade absoluta e a sintonia perfeita entre os instrumentistas nem sempre acontecem quando se quer e nos locais programados. Ernesto Rodrigues fala nos ensaios como “ateliers de improvisação, ideais para desenvolver a linguagem colectiva e os métodos de execução instrumentais do grupo. Depois, no palco, o que é preciso é esquecer tudo isso e entregar-se por inteiro à inspiração do momento. Em nome de uma certa virgindade, como se cada nova apresentação fosse sempre uma primeira vez”. “O que define, entre outras coisas um bom improvisador”, conclui José Oliveira, “é a sua capacidade de reacção, em tempo real, no instante, e de forma adequada e criativa, aos estímulos que recebe de outrem. E isto é uma forma de composição, composição instantânea”.

Fernando Magalhães
 

Os registos discográficos de Ernesto Rodrigues têm uma importância superlativa pelo facto de juntar músicos da segunda de quatro gerações de improvisadores portugueses, como são o próprio Ernesto Rodrigues e José Oliveira. “Formados” pelo free-jazz, estas duas figuras consagradas da nossa improvisação souberam evoluir com os tempos e adaptar-se à realidade circundante. Deflagração do fraseado convencional até este desaparecer, acomodamento do ruído, estruturas “em suspensão” indirectamente bebidas no minimalismo e directamente no jazz modal, apurado sentido colectivista, integração engenhosa de silêncios, execuções pausadas e baseadas na escuta, jogos entre serenidade e inquietação, atonalismo, politonalismo: estão lá todos os ingredientes.

Rui Eduardo Paes
 

Ernesto Rodrigues’ music results of two of his personal passions: free jazz and contemporary "classical" music with a specific focusing on post-serialism. And it bursts out of a cause embraced in an almost militant way: improvisation. This may assume various shapes and, as such theorist of this family of the Art of Sounds as Derek Bailey once stated, doesn't necessarily have to be experimental. In fact it actually isn't in most occasions.
Such is not the case with this violinist who's also devoted to instruments such as viola and soprano saxophone and is now developing skills on India's Sarangi. His approach depicts each improvisation as an experiment, an adventure ruled only by the casualty of circumstances and spontaneous creativity. Add to this the way his musical studies, (classical) formation and background and also his "audio memories" (Portuguese popular music, rock, both areas of former activity) melt with his musical taste and his aesthetic and expressive universes (which meet British and German schools of "New Improvised Music") and you'll be closer to his world.
Ernesto Rodrigues assumes all radicality inherent to this openness to the "becoming" of improvised speech quite naturally, and leading to an obvious consequence: His music is atonal, polytonal, microtonal, and non-idiomatic.  Little is any trace of free jazz and "chamberistic" classicism is but a far away reference. Yet, such queues are present since no breakthrough or innovation is obliged to cut off with all history(ies). In fact, Ernesto Rodrigues still applies Cage's concepts as to the use of noise and silence, which is a direct consequence of the acceptance of the fact that neither of these are non-musical - an idea that still to this day is not unruffled, decades after John Cage's formulation. All of his production stands for this, from «IK*Zs(3)» with Carlos Bechegas on flutes and electronics, to «Assemblage» a CD with Manuel Mota on electric guitar.
Being aware that noise recycling is an attribute of electric and electronic instruments, one has to acknowledge that Ernesto Rodrigues’ option towards the principles of "noise" patent in such examples as «Self Eater and Drinker» with Jorge Valente in the synthesiser and computer, «Multiples» with Guilherme Rodrigues on cello, «Sudden Music» with António Chaparreiro on electric guitar, «23 Exposures» with Marco Franco on soprano saxophone and «Ficta» (with excellent Argentinean pianist Gabriel Paiuk) is most clear and obvious mostly on acoustic contexts. Interesting to notice is that Ernesto Rodrigues "bruitage" (to which - it is only fair to point out - percussionist José Oliveira contributes the most) co-exists with vast "spacings" and a sound production and progression at "near-silence" level, similar in some way to what you can listen to in Radu Malfatti, or Rhodri Davies, Mark Wastell and Burkhard Beins’ Sealed Knot.  This is a Music shaped by restlessness and intensity, but at the same time holding such a delicacy, sense of detail and even mildness which read out as total paradox.
Paradox is also present in the way Ernesto Rodrigues articulates an intuitive musical production - whose source is to be found only on the domain of "praxis" - with unmissable conceptualism. «Self Eater and Drinker»’s main idea is the autophagy of acoustic sounds by electronics. «Multiples» is a work of almost miniatures, inspired by Anton Webern, which understands every part as a metonymy of the all, in such a way that each next improvisation is but another aspect of what's already been enunciated. «Sudden Music» celebrates the ephemeral character of music even when a static structure, which like olds everything under suspension, is present. «23 Exposures» plays with the idea of exposing film to light: Depending on the degree of that exposure the revealed photo offers a greater or lesser image sharpness. Extreme situations where all figuration becomes impossible is in fact what this work is all about.
«Ficta» is an allusion to a time in history - baroque - where improvising meant to embellish with ornaments. In fact, "Musica Ficta", Fictional Music, in those days was but a way to invent, to create in a complementing fashion, what wasn't set on the score. Music Improvisation today is quite a different story, but still is - even to greater extent since there is no score - an enhancer of imagination, and namely of new ways to combine sounds and even of the making of entirely new sounds.

Rui Eduardo Paes
 

L’histoire de l’improvisation au Portugal rencontre chez Ernesto Rodrigues et José Oliveira, deux de ses figures les plus consacrées, apartenant tous les deux à la deuxième de quatre générations de musiciens. Cela ne les a pas empéchés, ensemble avec António Chaparreiro, guitarriste venu récemment du Rock, d’adhérer aux nouvelles pratiques qui transforment actuellement le scénario de ce que l’on appelle “free music”. Longues durées, minimalisme dans la géstion du matériau sonore, fréquente utilisation de l’espace et de la respiration, focus en l’elaboration de textures, déconstructionisme, eclatement du phrasé conventionnel, application de concepts venus du “noise” à l’esthétique du “near silence”, adhésion aux paramètres audio de l’eléctronique, bien que dans une musique foncièrement acoustique: ce sont bien là les caractéristiques de leur CD «Sudden Music», tout comme de leur travail sur scène. Cette capacité d’adaptation n’a rien d’étonnant quand on connait le travail de ces deux défricheurs de contrées: Ernesto Rodrigues est un violoniste/altoiste d’intérêts divers qui englobent sa passion pour les compositeurs “classiques” contemporains et le passage par plusieures formations de musique populaire, en particulier sa colaboration avec les chanteurs-compositeurs Fausto et Jorge Palma; José Oliveira, en plus de percussioniste avec une abordage des instruments qui le place dans la lignée de Paul Lytton, Paul Lovens ou Roger Turner, est aussi artiste plastique et poète, aux liaisons étroites avec le mouvement Fluxus. Depuis toujours, furent leurs objectifs, la permanente inovation et la diversification, et  celles-ci, precisemment, ont attiré António Chaparreiro, las des lieux-communs du Rock, à ces domaines de la musique créative de nos jours. Dans ses mains, l’énergie de ce genre d’expréssion cesse de se presenter sous sa forme la plus évidente pour gagner en subtilité et en opportunité. Ensemble, ils peuvent faire en sorte qu’une tempête paraisse paisible.

Rui Eduardo Paes
 

A música livre de Ernesto Rodrigues é uma estrela no galático movimento da nova música improvisada a qual surgiu em meados dos anos 60; sucedâneo do free jazz, do experimentalismo e da obra aberta; intuição do instante, constelação de compositores-intérpretes; passarela de instrumentistas excepcionais, construtores do bizarro, virtuosos do epigrama; emancipou-se como música/performarte, concebeu um espaço autónomo e atípico da vertente solística e/ou colectiva, com técnicas audaciosas e conceptualizações esquisitas; no âmbito da criação portuguesa de hoje, cadáver esquisito, a arte intimista do seu violino é um discurso singular, uma formidável formulação da pós modernidade.

Jorge Lima Barreto
 

Um facto histórico respeitante à música improvisada nacional, aconteceu na acolhedora sala da Associação Cultural Abril em Maio (Lisboa). E se é difícil sobreviver ao exaltar uma forma de expressão pouco acarinhada, mais aventurado se torna conseguir reunir 12 músicos e formar uma Orquestra onde improvisação e liberdade assumem o papel principal. Tendo em conta o exímio trabalho que Ernesto Rodrigues tem desenvolvido ao longo destes anos, acrescentando a concepção e condução deste magnífico projecto. É chegada a hora de reconhecer a solidez, não só enquanto músico, como também valorizar a sua postura, que o torna uma "figura" fulcral da livre expressividade nacional.
Predominada por elementos de sopro, esta Orquestra de Geometria Variável apresentou-se em duas partes distintas. Apreciando e qualificando a primeira parte de alto nível, todos os instrumentistas se apresentaram de forma considerável detonando uma plena sintonia com o desígnio deste projecto. Destacando o saxofone soprano de Marco Franco (possuidor de um sopro forte e conciso) e a delicada sonoridade proveniente da guitarra de António Chaparreiro, edificaram-se como essenciais suportes para que Ernesto Rodrigues adoptasse uma postura mais solta para o necessário trabalho de condução. Aguarda-se com expectativa a gravação deste empreendimento bem como uma actuação para um público mais abrangente. Ficamos à espera.

Carlos Lourenço
 

The violinist/violist Ernesto Rodrigues upsets the surface of silence once again with a new cd in which free-improvisation is once again associated to a concept: in this case, that of assemblage/assembly, the construction is made up of varied elements in which unity results precisely from diversity. A condition which does not alter his search for a discoursive and expressive state based on almost nothing, even if such an effort is constantly belied by the unrest and engagement of the performers - Guilherme Rodrigues, on cello and pocket trumpet; José Oliveira, on percussion, prepared acoustic guitar and inside piano; and Manuel Mota on flat electric guitar. The game proposed by «Assemblage» consists in this very struggle between will and praxis and in the contradictions arising from such a conflict. Few times has the practice of improvisation been so transparent.

Rui Eduardo Paes
 

Para os mais distraídos, e para aqueles que gostam mas  crêem que a música improvisada não tem qualquer tipo de expressão no nosso país, deveriam por certo estar mais atentos à agenda da Associação Cultural Abril em Maio. Utilizando o seu palco para combater a apatia, a ignorância e inércia, cada vez mais fortemente instaladas, Ernesto Rodrigues tem desenvolvido inúmeras actuações e performances dignas de louvor e reconhecimento. Desfrutando da estada de Gianni Gebbia (saxofone alto); Ernesto Rodrigues (violino, viola, electrónica), Nuno Rebelo (guitarra eléctrica) e José Oliveira (percussão, guitarra acústica preparada), beneficiaram da melhor maneira a compleição improvisativa, contagiada pelo saxofonista italiano, onde a capacidade e o conhecimento individual de cada músico, veio ao de cima de uma configuração tão natural, que fez emergir toda a sala a uma condição magnetizadora e hipnótica. Subtileza - arte - talento - Cérbero - belo - soberbo - celsitude - aplauso, são palavras que podem descrever uma actuação distinta. Na memória não ficam palavras, ficam sim imagens abstractas, onde a contemplação irá residir eternamente.

Carlos Lourenço
 

Sexta feira, o magnífico espaço da Abril em Maio, acolheu um espectáculo da Variable Geometry Orchestra, o terceiro da sua curta vida. Vou tentar explicá-lo: Durante uma hora e picos, a VGO apresentou aos parcos presentes (cerca de 20 e tal) um programa de improvisação completa, destilado pelo colectivo de 11 elementos (eram para ser 12, mas alguém ficou pelo caminho), com porções de improviso colectivo dirigido ou não, e com peças improvisadas "au moment" por quartetos de sopros, trios de cordas, ou conjugações entre os dois, por vezes acompanhadas da guitarra eléctrica, noutros pelo contrabaixo, ou pela bateria, ou pelas percussões de mil e um objectos aparentemente inofensivos. Foi bastante interessante, com momentos muito bons e sinceramente gostei. Gostei principalmente de Marco Franco, do Ernesto Rodrigues, do Chaparreiro, do baterista e até do percussionista, mas sobretudo do colectivo. Do colectivo porque, as improvisações foram-se revelando, desenrolando, com indicações do Ernesto Rodrigues para o assumir de papéis, e depois iam-se encaixando, iam brotando, quase sempre de forma agridoce, sem nunca explodir, eram sussurros, espasmos, ventos, completados por mil e um sons de que o olhar procurava a origem. Nalguns momentos pareceram-me pouco decididos, como que procurando-se a si próprios, concerteza fruto do pouco tempo que tocaram juntos, o que por outro lado deixa antever, com uma maior rodagem, uma interligação empática mais forte na improvisação.Tudo isto durou cerca de uma hora e tal. Seguiu-se depois a projecção de parte de um video com a gravação de um anterior espactáculo de Ernesto Rodrigues & co, com uma diferente formação. O video não era o mero registo de imagem, era sobretudo a transformação videoplástica da música, da improvisação. Uma espécie de improvisação plástica em suporte video ao som que se ouvia. Zooms gigantes, blurs, saturações, pormenores, etc, etc. Por esta altura uns meros 10 resistentes ainda por lá se encontravam. A pedido de muitas famílias todo o elenco subiu ao palco para uns 20 minutos de pura desgarrada freeimprov. Delírio e caos em doses maciças, os onze elementos entregaram-se à improvisação total sem regras, numa cacofonia que teve momentos absurdos e momentos de puro deleite, tal era a desgarrada ... só visto! Há-de haver mais! A Abril em Maio prometeu. Ah! E já têm a novel Bock preta, bem boa por sinal. Hasta! Stay free,

Nuno
 

Ulrichsberger Kaleidophon 2003
[...] Atemberaubend war das in sich gekehrte portugiesische Quartet Assemblage. Ein feiner Belag aus Geräuschkies, der Streich-, Blas- und Schlaginstrumenten nichts von ihrer Charakteristik belässt, dessen Duktus aber nur mit diesem Instrumentarium ziseliert werden kann: Weg von der instrumentalen Kenntlichtkeit zu einer zarten Zeichmung, die den Zuschauer mit Beschlag belegt und Staunen lässt. [...]

Michael Frank (Süddeutsche Zeitung)
 

Ernesto Rodrigues, com Guilherme Rodrigues, Manuel Mota, José Oliveira e Margarida Garcia, são outras presenças portuguesas no Co-Lab (dia 24 às 12h30).
[Ernesto Rodrigues], partiu para os limites mais radicais da música improvisada até chegar à chamada “micromúsica” ou “near silence”, apropriação das directivas de John Cage, mestre escultor do silêncio ou, melhor dizendo, poeta-cientista munido de microscópio sonoro de alta potência.

Fernando Magalhães (Público)
 

O clube de Jazz lisboeta Hot Clube, acolheu nesta noite um dos projectos mais elevados de Ernesto Rodrigues - FICTA.
Agregando o guitarrista Manuel Mota à formação base do trabalho gravado em 2002, a este quinteto nada faltou para que a subtileza sonora invadisse o mítico espaço da Praça da Alegria.
O meu destaque vai sem dúvida para a astúcia demonstrada pelo pianista Gabriel Paiuk, desenvolvendo técnicas menos convencionais, no que respeita à forma de preparar o instrumento. Paiuk conseguiu tirar do piano amplas possibilidades tímbricas e sonoras.
Evidenciando-se o local não ser o espaço ideal para o género musical em questão. Foi gratificante sentir que a coesão e maturidade deste magnífico colectivo não se tivesse deixado abalar pelas conversas e ambiente mais calorosos inerentes aos clubes de jazz.
Espero contudo que a engrandecedora mensagem - FICTA - tenha deixado marcas fortes e contemplativas aos intitulados adeptos do “som da surpresa”.

Carlos Lourenço

A linguagem é fonte de mal entendidos, mesmo quando a formulação se rege de acordo com a sintaxe, e segundo os preceitos gramaticais correctamente as grelhas de interpretação são subjectivas e sujeitas a variáveis de interpretação. A linguagem dos sons ainda mais, pois rege-se por métricas e lógicas que lhe aumentam exponencialmente as potenciais capacidades receptoras.
Fui assistir a um concerto do Ernesto Rodrigues e da Orquestra de Geometria Variável. Logo no nome temos um programa, de facto estamos face a um quadro de hipóteses flutuante consoante as disponibilidades da sonoridade, e as capacidades do espaço acústico. O local Abril em Maio lembra outros locais, esconsos e clandestinos, para iniciados e amantes. A música, o alinhamento das estranhas sonoridades, enche os interstícios e ocupa a possibilidade de recepção acústica. Por ela passam memórias e afectos com os instrumentos e a vocalização. Os metais atiram-nos para o free  jazz e as cordas trazem-nos para uma decomposição da sonoridade em que a melodia é uma improbabilidade mágica.
Uma abertura de espírito gera-se enquanto a polifonia desarmónica de ruídos nos enche o cérebro. Ficamos atordoados e despertos, como quando experimentamos cogumelos mágicos.
Parece não haver princípio, parece não haver fim num tempo que parou e fica flutuante nos sons e na sua hipérbole.
Momentos como este valem um êxtase. Divino como o que se concentra e prolonga. Um som que se ouve no silêncio do conhecimento.

António Eloy

Imagine a blank surface. Now think how it would look if you cut with a knife some traces and little holes on it. You have a visual texture now, something to see but at the same time something that reminds you of the nothingness of the surface. That's exactly that what Ernesto Rodrigues, Alfredo Costa Monteiro, Guilherme Rodrigues and Margarida Garcia do with silence. Their knives are sounds - the "incognito" sounds that a conventional musical instrument can produce, even if it's impossible to notate them - and what they do is textures. Maybe you don't want to call painting a texture made with a knife (or maybe you do), and this quartet is indifferent to the doubt if this is or isn't music. The question isn't really important, and you must know by now that there's an imense artistic territory to explore before music and after music - music is only one way to do... well, let's call it music. Ernesto says, amused, that «Cesura» (one of the Portuguese words to say "cut") is his less musical work. Amused, certainly, but with the subversive feeling of someone carrying a knife in the hand.

Rui Eduardo Paes

The violinist Ernesto Rodrigues is a major improviser from Portugal on his own, but combined with his son Guilherme Rodrigues on cello he is part of one of a deeply expressive example of family bonding through creative music. Anyone would agree who has seen a live or filmed performance of the two in action onstage, the father crouching over his son somewhat akwardly in the throes of spontaneous composition but looking a bit like he is trying to smell the kid's breath for alchohol—not that a Portugese father would do such a thing. The senior Rodrigues has been active in avant garde music for several decades, aligning himself with many revolutionary forms of expression including micro-tonal tunings and the art of "preparing" stringed instruments by actually altering their physical structure. The violinist has performed with many groups on the Lisbon avant garde scene, most notably the ensembles Assemblage and Ficta. In the latter trio, the Rodrigues father and son work together with percussionist José Oliviera. The senior Rodrigues started in the direction of free improvisation groups such as this when he came in contact with the type of avant garde classical scores that are often described as "indeterminate," meaning quite a few of the details of the actual performance are left up to interpretation and/or serendipity. Rodrigues was also influenced by electronic music, like many improvisers on traditional instruments relishing the challenge of utilizing their axes to match, sound for sound, the noise coming out of plugged-in equipment. The violinist has performed for films, dance, performance-art projects and video as well as in concerts and on recordings. In 1999 he started up his own label, Creative Sources.

Eugene Chadbourne

Introduce. The days of liner notes that merely provide a description of the music an album contains are long gone – we no longer need to be told how to listen, nor what to listen for – but when it comes to titles, hmm, maybe those words are important after all.. Ernesto Rodrigues – whose Creative Sources imprint is fast becoming one of Europe's essential labels in the domain of improvised music – could easily have chosen some gloriously rugged Portuguese sonorities and had us scurrying to our dictionaries in search of clarification, but instead has borrowed a French noun from the world of photography – "contre-plongée" translates as "low-angle shot", and the associated expression "en contre-plongée" means "from below" – and, to describe the six pieces on offer, the venerable English word "cut". Discuss. Elaborate. In the past ten years, practitioners of improvised music, finally severing the putrescent umbilical cord that attached the genre to its distant transatlantic parent, free jazz, have pushed the technique envelope of traditional acoustic instruments beyond all recognition – as if the instruments themselves have been approached from another angle altogether, as if seen from below.. Illustrate. One need merely draw up a list (woefully incomplete, at that) of standard instruments and namecheck the musicians whose furious innovation has taken them to another level altogether: trumpet (Axel Dörner, Greg Kelley, Franz Hautzinger and Matt Davis – to name but four!), trombone (Thierry Madiot..), tuba (Robin Hayward..), flute (Jim Denley..), oboe (Kyle Bruckmann..), clarinet (Kai Fagaschinski, Isabelle Duthoit..), soprano saxophone (Bhob Rainey, Alessandro Bosetti, Stéphane Rives..), violin (Mathieu Werchowski, Angharad Davies, Kazushige Kinoshita..), viola (Charlotte Hug..), cello (Martine Altenburger, Nikos Veliotis, Mark Wastell..), double bass (David Chiesa, Mike Bullock..), piano (Frédéric Blondy, Sophie Agnel, Andrea Neumann..), not to mention harp (Rhodri Davies..) and accordion (Alfredo Costa Monteiro..). And, en contre-plongée, let's add the names of Ernesto Rodrigues (violin and viola), Gerhard Uebele (violin), Guilherme Rodrigues (cello) and José Oliveira (bowed acoustic guitar and inside piano). Extend. "String quartet" needs some explanation too, then; the classical string quartet consists of two violins, viola and cello, but as Ernesto Rodrigues plays both violin and viola (though presumably not at the same time..) one could argue that the line-up here is a classical string quartet compressed into a trio. There's a wild card though, in the form of Oliveira – guitar passes as a stringed instrument, sure, but the piano is a percussion instrument, right? Conclude. Which takes us to "cut" – as in surgical intervention, or – to pursue the cinematic analogy – stop shooting: break, rethink, start again, remake, remodel. Why should the piano be a percussion instrument (one can, after all, bow those strings) and why should a violin not be a percussion instrument (it's about time we dispensed with "percussion" altogether – friction would be more appropriate..)? Cut, yes, time to take the scissors to the map, prepare a landing strip for the string quartet of the 21st century. Listen.

Dan Warburton (www.paristransatlantic.com)

Ernesto utilizando todas y cada una de las partes del arco para sacar sonoridad a la viola, con apenas algún pasaje melódico, ha sabido estrujar su instrumento hasta el límite de hacerlo sonar con una balleta de esas de metal, las que tan bien rascan los restos de las sartenes, y que en sus manos han rascado todos los restos posibles sonoros que puede haber en un instrumento de cuerda-madera, optando por mostrar una faceta totalmente expresiva más que musical.

Sadhu, Septiembre 2004, Madrid (España)

Creative Sources Recordings was founded by Ernesto Rodrigues in 1999, but the first record was released in 2001. In the beginning the label's task seem to record its owner's activity (he appears on half of the cds). It's intelligible because Ernesto, active for twenty years musician (violinist, improviser, composer) wasn't favoured to release records as a leader. It has to be accentuated that increasing amount of records didn't decrease the quality of music. Ernesto Rodrigues hasn't forget about other musicians. Soon, in cd catologue (14 records so far) appeared records by new artists (not only form Portugal). Rodrigues focused on music from the space between improvisation, electroacoustic and so called "new music" (mostly specific comprehended chamber music).

Tadeusz Kosiek (http://www.diapazon.pl/)

About a year ago, I first reviewed a Creative Sources disc for Dusted and noted that improvised music would be nothing without local scenes and the labels dedicated to documenting them. That’s still true. But when people start to take notice, the next level is the formation of links with other scenes. The Lisbon-based label – run by Ernesto Rodrigues, an excellent improviser who plays on some of the label’s releases – has made that next step. Along with labels like Erstwhile, For4Ears, Confront, Meniscus, and Potlatch, this imprint is documenting some of the finest “lowercase” improvisation around and has become a label with a strong track record and a global focus. Their release schedule has really picked up of late too. In fact, they’ve just dropped a quintet of recordings featuring a fairly broad array of European improvisers. Many readers won’t be too familiar with the majority of the players. That deserves to change. […] Taken as a whole, this quintet of discs is pretty satisfying. While some clearly work better than others, they give improv freaks some insight into what’s happening in some lesser-known European scenes. They also confirm the strength and identity of this excellent label.

Jason Bivins (Dusted)

Três dos melhores improvisadores nacionais reencontram-se para abordar um programa de música composta no momento em que é executada. Micro-climas sonoros criados em tempo real, que permitem investigar novas formas de combinação e organização sonora. O concerto de Ernesto Rodrigues, Manuel Mota e José Oliveira, ontem à noite na Trem Azul – a que assisti apenas parcialmente – naquilo que me foi dado ver e ouvir, cumpriu plenamente as expectativas. O som do trio é muito coeso e a sala da Trem Azul possui boas condições acústicas para a prática musical, em particular para este tipo de contextos, pequenas formações de improvisação livre, que induzem e facilitam uma relação de grande proximidade - de intimidade até - entre artistas e público. Musicalmente, o trio atingiu um elevado nível de maturação e desenvolvimento, evidenciando a prática de tocarem juntos, cujos resultados são conhecidos das gravações para a Creative Sources, editora portuguesa criada por Ernesto Rodrigues. Os músicos interagiram bem, construindo um discurso atravessado por uma poética que vai do silêncio à brusca explosão, numa linha estética que se filia na livre-improvisação europeia - em particular da escola de Londres, pós Spontaneous Music Ensemble (SME), profusamente documentada pela editora EMANEM - com referências à música de câmara contemporânea. Manuel Mota afagou, percutiu e esfregou as cordas, transformando a guitarra num instrumento cujo primeiro resultado é a produção de texturas, ora rugosas e ásperas, ora suaves e aveludadas, com enorme variação de cor e forma, que se misturam com a manta de percussão que José Oliveira estendeu, encolheu e voltou a estender. Estruturas flexíveis sobre as quais a liquidez sonora do violino de Ernesto Rodrigues teceu malhas recortadas a partir de uma imensa variedade de técnicas de execução do instrumento. A electrónica, usada com parcimónia e integrada na paisagem, contribuiu menos para a alteração ou modificação sonora, que para adicionar novos significados e um certo efeito de transparência sobre os procedimentos em curso. Música fragmentária e descontínua, mas assinalavelmente coesa e estruturada em regime de construção em tempo real, cheia de incidentes e surpresas a cada volta. Na música de Rodrigues, Mota e Oliveira, todos os sons e silêncios são válidos, pertinentes e fazem sentido, na sua totalidade como no mais ínfimo detalhe.

Eduardo Chagas (Jazz e Arredores – à sombra de Ra)

Violinista e manipulador de electrónica, Ernesto rodrigues tem-se afirmado nos últimos anos como uma das figuras de proa da actual cena improvisada portuguesa. Não obstante a robusta discografia de que é senhor, na sua maioria disponibilizada pela creative sources recordings, a editora que dirige desde 1999, Rodrigues ainda está longe do reconhecimento que há muito vem justificando. Na sessão às escuras que lhe propusemos, e cujo grau de dificuldade poucos deixarão de reconhecer como (pelo menos!) distante do acessível, tentámos cobrir as suas principais áreas de interesse: Jazz, Livre Improvisação, Electrónica e Clássica Contemporânea. Aqui ficam então os principais momentos. […]

João Aleluia (Jazz.pt)

I'm continually surprised at the rate with which Ernesto Rodrigues releases discs on his superb Creative Sources imprint. As most folks reading this know, the excellent viola/violin/electronics improviser began to document Portuguese and Spanish improvisation several years back and has quickly developed his label into one of the premier outlets for improvisation at the intersection of European free music, electroacoustics, and new music. I recently opened up my mailbox to find a package stuffed with seven of the label's latest goodies. All told, it's a strong batch. […]Taken together, this septet of discs is worthy not just for their quality but also for their documentation of this music (and some of its lesser known players). Rodrigues already has a new batch out. In the meantime, however, don't miss out on some of these gems.

Jason Bivins (Bagatellen)

As últimas edições da portuguesa Creative Sources testemunham que algo se está a passar no sector da criatividade sonora a que demasiado apressadamente (percebemos agora) se chamou "reducionismo". Já se discutia se esta frente da improvisação reduzia, de facto, os materiais da sua produção musical até às proximidades do silêncio, ou se, pelo contrário, o que se pretendia era somar algo ao zero. Pois o que nos oferece a maior parte destes discos - e creiam que a editora de Ernesto Rodrigues se tornou mesmo no barómetro das evoluções ocorridas nesta família - comprova que os tais "reducionistas" são cada vez mais "acrescentacionistas". Com uma tónica mais electroacústica do que alguma vez esperaríamos de um catálogo que parecia apostar nos novos improvisadores acústicos, é a toda uma mudança de parâmetros que assistimos. Se antes o trabalho das texturas era uma característica genérica, agora verifica-se já uma acentuação no labor tímbrico e no plano harmónico, o que, se aproxima mais estas práticas das correntes preocupações da música escrita contemporânea, liberta-as também do que parecia estar a converter-se numa cartilha. A recusa do fraseado e da nota convencional e o microtonalismo mantêm-se, mas o estado presente desta prática deixou de lembrar a "action painting" de Pollock para nos remeter às manchas pictóricas de Rothko, com a rarefacção dos sons a ser contrariada, muitas vezes, pela disposição de "drones" e até pela sobreposição de camadas de elementos, tão transparentes quanto aguarelas, decerto, mas valorizando a densidade. O próprio volume auditivo subiu, o que até era previsível face ao crescente desejo de evidenciar os mais pequenos pormenores do mundo microscópico em que esta música tem vivido, por meio de microfones de proximidade e de contacto no que aos instrumentos tradicionais diz respeito. […]

Rui Eduardo Paes (Ananana Newsletter)

[…] If the gallery works for the aformentioned groups as a new place for both creative relief and inspiration, for 45 year old violinist Ernesto Rodrigues it’s been the one concert space in town where his shows have regularly taken place. A militant label owner, promoter and generous curator of collaborations, Rodrigues is now more than used to having to find his own solutions to present his work. He set up the Creative Sources label to put out his own music, and since the label’s first release (2001’s Multiples), he has established himself as one of the most accomplished improvisors in the lowercase/near silence circuit. With Creative Sources, he has been constantly putting out releases by several groupings and solo artists, including Tetuzi Akiyama, Axel Dörner, Raymond Strid and Taku Unami, as well as by regular collaborators Manuel Mota, Margarida Garcia, Barry Weisblat, Alfredo Costa Monteiro, José Oliveira or his cellist son Guilherme, who he has been working with since the age of 11. Rodrigues’s path through extreme music precedesPortugal 1974 revolurion, prior to which he became acquainted with American free jazz. He was inspired by Cage’s Zen-influenced (non-)musical strategies in silence and sound, Feldman’s microtonalism, an upbringing surrounded by Ligeti and Stockhausen, as well as a strong connection with the first generation of English improvisors of the late 60s/early 70s.

Pedro Gomes (The Wire)

The unflaggingly energetic Portuguese label continues its chronicle of new areas of free improvisation, as Jason Bivins attempts to keep up. Since writing about Creative Sources earlier in 2005, over a dozen new recordings have been released on Ernesto Rodrigues’ fine imprint. Still concentrating, roughly speaking, on micro-improv and electroacoustics, the label has developed several specific areas of concentration: solos, duos, and group improvisations.

Jason Bivins (Dusted Magazine)

Violinista / violista de formação clássica e interesses que vão da música contemporânea (é um habitual frequentador dos seminários de Emmanuel Nunes) ao free jazz e à livre-improvisação, Ernesto Rodrigues tem protagonizado uma abordagem reducionista e de "near silence" em que a nota é substituída pelo som puro (ou pelo ruído) e a estrutura pelas texturas, com deflagração dos fraseados em elementos atomizados, quase total desaparição dos três factores essenciais da musicalidade convencional (melodia, harmonia e ritmo) e utilização de microtons ou total atonalidade.

Rui Eduardo Paes

A Trem Azul, prosseguindo a bem-aventurada série de concertos que tem vindo a promover ao fim da tarde (19h30) na sua Jazz Store, em Lisboa, acolheu desta vez a estreia mundial do Sexteto de Cordas, dirigido por Ernesto Rodrigues. Além do violista e director, a formação inclui Manuel Mota, guitarra acústica; Pedro Costa, violino; Hernâni Faustino, contrabaixo; Eduardo Raon, harpa; e Guilherme Rodrigues, violoncelo. Durante pouco mais de meia hora, o Sexteto executou duas peças de música delicadamente pontilhística, livremente improvisada, expressas num idioma que, se não totalmente familiar a todos os executantes, se apresentou de modo a fazer com que as diferentes partes se integrassem plenamente na progressão colectiva. Contrastes, dinâmicas vivas e boa gestão de intensidades, criaram uma interessante tapeçaria sonora de tonalidades escuras, como um drone que ia perdendo e adquirindo carga na sua sinuosa e elegante evolução. Todavia, o mais cativante da performance foi a forma gentil e graciosa como se entrelaçaram as texturas criadas pelos diferentes cordofones, seguindo uma pulsão rítmica interna, irregular e assimétrica, tecida por uma infinidade de fragmentos melódicos, poalha recolhida e reposta em jogo pelo trabalho de sustentação da harpa e do contrabaixo. O resto foi o extravasar da enorme riqueza tímbrica das cordas, num set de música de câmara com muitas arestas, oscilações e inflexões de guitarra, violino, viola, violoncelo e contrabaixo, ligados entre si por uma corrente de energia criativa, para a qual contribuiram os protagonistas com o que têm: ideias próprias para o colectivo e instantâneo desenvolvimento musical. Apesar da boa qualidade artística, vezes houve em que se notou algum desinvestimento na direcção musical, com os músicos ocasionalmente “aos papéis”, facto que é, simultaneamente, o mais difícil e o mais fácil de acontecer na improvisação livre – um género em que não há “papéis” e em que “andar aos papéis” é um dos riscos inerentes à prática musical sem rede –, controlo imediatamente retomado no ciclo seguinte, muito porque estes músicos souberam fazer uso do sentido de oportunidade, ouviram-se entre si e comunicaram quando sentiram que o momento era propício. Pena é que o público do jazz não se interesse, despreze ou não esteja preparado para dar ouvidos a esta música, que é de muito boa vizinhança e interpenetração com aquele género, do qual não é, seguramente, nem degeneração nem abastardamento. Diferentes entre si, têm convivido pacificamente ao longo de décadas, com benefício estético para ambas as linguagens. Mas essas são contas de outro rosário. O que para aqui releva é que o Sexteto de Cordas apresentou ao público uma boa proposta musical, eloquente nos detalhes e delicada nas intersecções espontaneamente geradas. Ideal para apurar o ouvido e despertar a fantasia.

Eduardo Chagas (Jazz e Arredores)
 
 
 
 
 
 
 
 
 

home
 


1
1
1
1
1
1
1
1 1