Natal

Padre Alfredo Gonçalves


O Menino está novamente no berço;
berço-manjedoura, fora dos muros de Belém.
É o sonho de Deus para que o planeta terra-água
seja um grande berço de vida, e vida em plenitude.

Mas, na passagem para o terceiro milênio,
ainda há berços de ouro,
ao lado de berços de barro ou palha;
berços revestidos de rendas e de luxo,
e berços frios e sujos, no concreto das calçadas.
Há berços rodeados de rostos familiares e amigos,
e há berços ignorados pela indiferença de estranhos;
berços abençoados pelas mãos que os geraram
e berços que não sabem quem são seus pais.
Há berços para onde convergem todos os olhares
e berços abandonados à solidão do deserto humano;
berços de feições lindas e puras,
e berços de feições desfiguradas e estigmatizadas.
Há vidas que nunca conheceram berço
e berços que jamais abrigaram vida;
berços "nobres" pelo nome, pelo sangue ou pela cor,
e berços marcados pelo preconceito e discriminação

Ainda hoje, do nascimento à morte,
profundas divisões separam ricos e pobres;
um abismo se abre entre os dois mundos,
desconhecidos e hostilizados um ao outro.

Mas é Natal!
Aniversário de dois mil anos de Jesus.
Ele nasce nu e pobre,
para que ninguém mais passe frio e fome;
nasce fora da cidade,
para que o mundo seja a pátria de todos;
nasce excluído do convívio social,
para que todos nele se sintam incluídos;
nasce menino,
num convite a que jamais deixemos de ser crianças;
nasce no chão duro de uma gruta,
para que a ninguém falte o abrigo de um teto;
nasce entre animais,
para que a vida seja respeitada em toda sua diversidade.

É Natal: a vida está no berço, a vida é berço!
Frágil e forte como a flor, o sorriso, o canto, a luz, o amor;
como o sonho-criança que mora no coração de cada pessoa!