As mãos

Que tristeza tao inútil essas mãos
que nem sequer são flores
que se dêem:
abertas são apenas abandono,
fechadas sao pálpebras imensas
carregadas de sono.

Pela noite adiante, com a morte na algibeira,
cada homem procura um rio para dormir,
e com os pés na lua ou num grão de areia
enrola-se no sono que lhe quer fugir.

Cada sonho morre às maos doutro sonho.
Dez-reis de amor foram gastos a esperar.
O céu que nos promete um anjo bêbado
é um colchão sujo num quinto andar.

Eugénio de Andrade

 

 

[Voltar]