Nos dias imaculados
Nos
dias imaculados
Em que ningém bate à porta,
Naqueles dias lavados
Em que sou anjo e sou morta,
Em
que da luz dos desertos
Partem chamadas e gritos,
E à flor dos olhos abertos
Se adormecem infinitos...
Tudo
a escorrer frio e ordem,
Horas certas e contadas,
Sem que os soluços me acordem
Mesmo a dar-me chicotadas.
E
me rasguem pele e calma,
E me atirem para o fundo
-- O fundo da minha alma,
O fundo do Fim do Mundo.
E
de rojo, como dantes,
Me larguem pelos caminhos.
E me esmaguem os Gigantes
E me intimidem os ninhos.
E
ao curso ingénuo dos rios
Me entreguem como uma folha,
Bem ressequida...e bem morta!
P'ra que ninguém me recolha.
Mudas
viagens eu faça
Nas águas que ninguém olha.
Natércia Freire