Serradura
A
minha vida sentou-se
E não há quem a levante,
Que desde o Poente ao Levante
A minha vida fartou-se.
E
ei-la, a mona, lá está,
Estendida, a perna traçada,
No infindável sofá
Da minha Alma estofada .
Pois
é assim: a minha Alma
Outrora a sonhar de Rússias,
Espapaçou-se de calma,
E hoje sonha só pelúcias.
Vai
aos Cafés, pede um bock,
Lê o "Matin" de castigo,
E não há nenhum remoque
Que a regresse ao Oiro antigo!
Dentro
de mim é um fardo
Que não pesa ,mas que maça:
O zumbido dum moscardo,
Ou comichão que não passa.
Folhetim
da "Capital"
Pelo o nosso Júlio Dantas -
Ou qualquer coisa entre tantas
Duma antipatia igual
O
raio já bebe vinho,
Coisa que nunca fazia,
E fuma o seu cigarrinho
Em plena burocracia!
Qualquer
dia, pela certa,
Quando eu mal me precate,
É capaz dum disparate ,
Se encontra uma porta aberta
Isto
assim não pode ser
Mas como achar um remédio?
-P´ra acabar este intermédio
Lembrei-me de endoidecer:
O
que era fácil -partindo
Os móveis do meu hotel,
Ou para a rua saindo
De barrete de papel
A
gritar "Viva a Alemanha"
Mas a minha Alma,em verdade,
Não merece tal façanha,
Tal prova de lealdade.
Vou
deixá-la-decidido-
No lavabo dum Café,
Como um anel esquecido.
É um final mais raffiné.