Nenhum dos meus caminhos guarda a tua sombra:
só minhas mãos ficaram maiores com tua ausência
e andam perdidas,
não sabendo encontrar-se mais uma com a outra.

O ventre de cada coisa é um espelho a recordar-te
-um espelho onde o meu rosto não cabe-
e eu avanço, petrificado de silêncio,
como se me chamasses,
tendo-te cada momento mais distante
nas asas cansadas dos olhos sonolentos.

Se descendo muito as pálpebras prendesse a tua imagem,
jamais amanheceria para mim.
Se minhas mãos decepadas pudessem encontrar-te,
dar-te-ia minhas mãos como espada para o teu regresso.

Assim, gasto-me nos longos túneis desta ânsia,
certo de que jamais
estarei presente para ti
em cada estrela que descobrires na noite.

José Bento

 

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