Título
do Projecto: Alfabetização Emocional
Destinatários: Alunos do 8.º Ano com problemas de comportamento, dentro e fora da sala de aula, da Escola José Macedo Fragateiro – Ovar.
Responsáveis/Dinamizadores do Projecto: Professores Celso Oliveira (Grupo 10.ºB), Guilhermino Monteiro (Grupo 10.ºA), João Carvalhas (Educação Física) e Carlos Aníbal (Educ. Moral e Religiosa).
Duração
do Projecto: Início: Janeiro de 2000; Fim: Maio de 2000
Horário:
A gerir, com o tempo, começando por
funcionar às 6.ªs feiras, das 16.30h às 18.30h, e ocupando outras horas em que
haja disponibilidade dos alunos e professores envolvidos.
A
investigação recente no campo da psicologia cognitiva tem permitido distinguir,
por um lado, e relacionar, por outro, o papel diferenciado dos dois hemisférios
cerebrais no desenvolvimento da pessoa humana e, particularmente, na relação
fecunda entre emoções e inteligência.
Cada
vez mais, hoje em dia, se defende que a aprendizagem tem de implicar o “cérebro
total”, permitindo que o lado mais emocional (o cérebro direito) – também mais
holístico e sistémico – facilite e cimente o trabalho do cérebro esquerdo, mais
lógico, racional e analítico.
No
actual contexto escolar, por outro lado, é hoje constatação geral entre os
professores e outros agentes do processo de ensino-aprendizagem que os
problemas de natureza comportamental (indisciplina, comportamento desviante,
hiperactividade e falta de atenção/concentração, desmotivação e desinteresse
pelas actividades escolares tradicionais) se sobrepõem à aprendizagem dos
conteúdos académicos e dificultam a sua consolidação e progressão.
Entretanto, vários estudos no campo da hoje denominada Inteligência Emocional – terreno de investigação que, por sua vez, se relaciona com temas de grande actualidade, como sejam a teoria das Inteligências Múltiplas e os vários domínios de estudo dos Estilos de Aprendizagem e Estilos de Ensinar – mostram à evidência não só a necessidade como também a possibilidade de se ensinarem as emoções, isto é, de se fazer uma verdadeira Alfabetização Emocional.
Alfabetizar os afectos, conhecer e controlar as emoções,
desenvolver a empatia e o relacionamento eficaz entre pessoas diferentes, eis
então um dos papéis que, no futuro, terá necessariamente de passar pela Escola.
A
acrescer a tudo isto, por outro lado, todas as recentes investigações
científicas nesta área revelam a importância que a música
e algumas técnicas de autoconhecimento (de cariz oriental) como o Qigong acabam por ter no autocontrole, no
relacionamento interpessoal, no reconhecimento e gestão das emoções e, numa
palavra, na aprendizagem em geral. A música, como parecem demonstrar os estudos
naquilo que hoje se chama o Efeito Mozart, não só acalma os hiperactivos como
activa e incrementa o desenvolvimento neurocerebral nos aspectos mais
relacionados com as múltiplas inteligências e com a criatividade.
Partindo destas bases teóricas do conhecimento psicológico actual e tentando, de acordo com os princípios subjacentes à filosofia de uma escola inclusiva, e não apenas reeducativa, combater alguns dos problemas relacionados com a indisciplina, dentro e fora da sala de aula, pretendemos, com este projecto, levar à prática as ideias oriundas da investigação e intervir em alunos disruptivos ou em situação de comportamento desviante.
1. Material e espaço necessários: uma sala, relativamente isolada dos barulhos e ruídos típicos do ambiente escolar, com possibilidade de ligação de aparelhagem de reprodução de peças musicais (CDs ou cassetes...) e que permita alguma mobilidade e interacção entre os alunos;
2. Fases e Calendarização do projecto:
a. Dezembro de 1999: Seleccionar, com o contributo dos Directores de Turma e do núcleo de apoio educativo da escola, até 10 alunos com as características previstas para os destinatários deste projecto;
b. Dezembro de 1999: Solicitar aos Encarregados de Educação dos alunos seleccionados a autorização necessária para se realizar com eles este trabalho;
c. Janeiro a Maio de 2000: Reunir os alunos seleccionados e os professores envolvidos, no horário e dias determinados, e pôr em prática as técnicas e procedimentos que são descritas no ponto seguinte.
d. Maio de 2000: Avaliar os resultados e elaborar relatório a apresentar ao Conselho Pedagógico.
3. Procedimentos e Técnicas a desenvolver:
a. Nas primeiras sessões, após uma explicitação dos objectivos do projecto, os alunos envolvidos serão avaliados nos aspectos seguintes: competências sociais; inteligências múltiplas; estilos de aprendizagem; auto-estima; comportamento desviante.
b. As sessões iniciar-se-ão com um curto período de explicitação dos objectivos de cada encontro e uma descrição/clarificação das actividades a desenvolver; De seguida, conforme o plano de trabalho previamente marcado e acordado entre os participantes, proceder-se-á à audição comentada de alguns trechos musicais seleccionados e, conforme o evoluir dos trabalhos, serão realizados alguns exercícios de autocontrole e autoconhecimento de Qigong (relaxação, concentração, etc...). No final da sessão, proceder-se-á a um outro momento de reflexão conjunta em que se avaliam os resultados da sessão e se planificam (ou antevêem) as actividades da sessão seguinte.
c. De todas as sessões será elaborado um registo escrito, numa espécie de “diário de bordo”, elaborado pelos professores envolvidos e, se possível, por alguns dos alunos, registo que servirá de instrumento de reflexão e de suporte a avaliação posteriores.
d. Nas últimas sessões do projecto, os alunos envolvidos voltarão a ser avaliado nos aspectos e com os instrumentos utilizados na avaliação inicial a fim de se verificarem as modificações eventualmente ocorridas. Se possível, o mesmo tipo de avaliação será efectuado, nos dois momentos indicados (início e fim do projecto), a um grupo equivalente de alunos não envolvidos no projecto e que servirá de grupo testemunha, ou grupo de controle.
A avaliação do projecto será contínua, com base na reflexão e nos diários das sessões elaborados pelos professores envolvidos. No final do projecto, será elaborado um relatório, a apresentar ao Conselho Pedagógico, com a análise dos resultados obtidos e discriminando as diferenças verificadas nos alunos participantes a partir da comparação dos resultados dos testes de avaliação psicológica aplicados no início e fim do mesmo.
Se possível, no decurso do projecto, serão recolhidos relatos de professores que leccionem quaisquer disciplinas nas turmas frequentadas pelos alunos envolvidos, não só para se ter uma percepção das mudanças que eventualmente se estejam a verificar nesses alunos mas também para se poder rever ou replanificar as actividades em curso.
Observações Finais:
Este projecto pretende ser aberto e admite alguma flexibilidade na sua planificação e calendarização, dado o seu carácter inovador e as características de instabilidade que, por princípio, se esperam dos alunos nele envolvidos. O ideal seria que os alunos que o iniciam nele se mantivessem até ao seu fim. No entanto, se necessário, poderá haver lugar à entrada de novos alunos no decorrer do projecto, salvaguardando-se sempre que a dimensão do grupo não ponha em causa a eficácia dos trabalhos a desenvolver.
Ovar, Novembro de 1999
Os proponentes:
Celso Oliveira
Guilhermino Monteiro
João Carvalhas
Carlos Aníbal.