"Sinais da Revelação de Deus"
Palavra de Deus: Novo Testamento
O Novo Testamento é o lugar privilegiado do testemunho sobre Jesus Cristo. Nele encontramos a plena realização do dina-mismo da Encarnação, já presentes no judaísmo. Nele Deus chega ao humano de forma humana. O homem, neste horizonte, é elevado à condição divina, pela igual natureza de Deus Pai. É a palavra de Deus que se torna homem (Jo 1,14). Assim, a ação de Deus na história da salvação torna-se ativi-dade humana e a presença divina concreti-za-se em presença humana.
Em Jesus Cristo, a palavra interior em que Deus conhece todas as coisas e em que se exprime totalmente, assume a carne e a linguagem do homem, torna-se evangelho, palavra de salvação, para chamar o homem à vida que não acaba.
No Novo Testa-mento encontramos o que Jesus fez e disse de si mesmo, transmi-tido pela comunidade primitiva. A presentificação do filho de Deus, na condição humana, é fruto do dinamismo da Encarnação . Desse modo, o Verbo encarnado está presente entre nós e fala, prega, ensina, atesta o que viu e sentiu no seio do Pai, com termos humanos que podemos compreender e assimilar. Portanto, ele é o testemunho da concretização de tudo que estava "proje-tado e anuncia-do" no advento de Deus, e que por sua vez, tornou-se o presente máximo para a humanidade.
Jesus é o presente novo. Ele é dado nesse tempo e para toda a eternidade. A carta a Hebreus nos dá esta certeza: "Jesus Cristo é o mesmo, ontem e hoje; ele o será a eternidade" (Hb 13, 8). Da mesma forma, essa total doação nos possibilitou a remissão dos pecados, garantindo assim, nossa Redenção. O querigma pascal, como novidade plena, é verdade de testemunho vivo (fé pascal teve início com o testemunho de homens). As apa-rições são acontecimentos da revelação de Deus, que deixa ver este Jesus de Nazaré como o Ressuscitado segundo predizia Ele mesmo sobre si. Ele é o fato, o acontecimento escatológico do Deus que vem. Ele foi ressuscitado pelo Pai. Por esta razão, tornou-se o centro do acontecimen-to histórico-salvífico. Assim, enquanto a ressurreição acontece no homem concreto, Jesus de Nazaré, o Espírito do Pai penetra em nossa história e a salvação acontece. "Cristo instaurou na terra o reino de Deus, por fatos e por palavras deu a conhecer seu Pai e a Si próprio e completou sua obra pela morte, ressurreição e gloriosa ascensão pelo envio do Espírito Santo" .
O Evangelho de Marcos, redigido numa perspectiva pascal, quer levar o leitor à fé na ressurreição. Neste sentido, coloca o leitor num contexto anterior à fé pascal para conduzi-lo à fé no Filho que nos revela Deus Pai. Desde o momento em que um grupo de discípulos reconheceu nele o Cristo, Jesus pôs-se a revelar o caminho do Filho do Homem que deve chegar à glória através da cruz (8,31; 9,12.31; 10,33.45). A Boa Nova anunciada por Marcos é a revelação progressiva do mistério de Jesus.
Segundo o evangelista João, Jesus é o caminho para o Pai (Jo 14,6). Isso constitui-se na revelação de Deus assim como Ele a experienciou em sua consciência humana. Mas como o "Pai é maior" (Jo 14, 28), mesmo sendo Jesus seu verdadeiro revelador e intérprete (Jo 1,18), nosso esforço e reflexão teológica, na perspectiva da Revelação, não exaure o mistério divino, visto que a própria revelação de Deus feita pelo homem Jesus não visa exauri o mistério divino. Neste sentido, o Espírito Santo abre caminho para a reflexão humana do mistério de Deus e para a experiência salvífica de Deus em Jesus Cristo. Assim, nosso acesso à Revelação é a via segundo o Espírito Santo. Nele é que podemos contemplar a eternidade de Deus revelada por e em Jesus Cristo.
A Revelação de Jesus Cristo é a legitimação das esperanças do Povo de Deus. Jesus mesmo faz uso da oração do Salmos meditando com os apóstolos (Mt 26, 30) . Jesus coloca-se, desse modo, como modelo de oração. Ele está situado no centro de toda e qualquer forma de petição. O Cristo é que nutre a esperança do povo, acentuando assim uma formação à fé. Sua expressão é incisiva: "Quando orardes, dizei...( Lc 11, 2-4; Mt 6, 9-13). Esta oração de Jesus é o centro de toda atitude orante de Jesus, bem como de seus discípulos. É a oração da fraternidade universal.
Na oração se expressa um fator importantíssimo que é a certeza de ser atendido. Esta, sem dúvida, é a certeza primeira daquele que ora ( Mt 18, 19; 21, 22; Lc 8, 50). Desse modo, devemos rezar sempre (Lc 18, 1). Esta necessidade perpétua de orar é ensinada por Jesus, segundo São Lucas, no contexto dos últimos tempos (Lc 18, 1-7) onde o Senhor irá sofrer por todos nós ( Lc 21, 36; 22, 39-46).
No Novo Testamento, Jesus ora nas mais diferentes situações seja na montanha (Mt 14, 23) ou à parte ( Lc 9, 18). Sua oração revela sua missão. Segundo São Lucas, a oração do Filho de Deus coincide nos momentos mais importantes de sua missão: no batismo (Lc 3, 21), antes da escolha dos Doze (Lc 6, 12), por ocasião da Transfiguração (Lc 9, 29), antes de ensinar o Pai-Nosso (Lc 11, 1). No contexto da Revelação de Deus no Filho amado, missão e oração, tornam-se realidade concrescível num nexo intransponível do dado da Revelação. Assim, Jesus nos coloca na condição dos preferidos do Pai. Sua oração, portanto, quer que pertençamos a relação filial do Pai-Filho:" Que todos sejam um como tu, Pai, estás em mim, e eu em ti"( 17, 22ss). O Pai tudo dá por causa dessa unidade. Desse modo cumprir-se-á a oração: "todos os que invocarem o nome de Javé serão salvos" ( Rm 10, 13).
Na vida das primeiras comunidades cristãs, a oração teve uma característica de unanimidade, onde todos colocavam-se em oração (At 1,14 ), e todos os dias freqüentavam o templo para orar (At 2, 42-47). Esta prece comunitária que prepara Pentecostes, prepara também o povo para a vida eclesial sob a ação do Espírito Santo. É pela ação do Espírito Santo que podemos chamar Deus de Pai assim como Jesus o chamava Abbá. Esse favor não pode vir senão do alto; "Deus enviou aos nossos corações o Espírito de seu Filho que clama: Abbá, Pai" (Gl 4, 6; Mc 14, 36). Enfim, Deus Revela-se chamando todos à missão . É o chamado para o encontro do céu e da terra : "O Espírito e a Esposa dizem: Vem... Sim, vem, Senhor Jesus!"(Ap 22, 17.20).
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