Polinemas são as formas, topologicamente diferentes entre si no plano, de unir segmentos retos pelas suas extremidades. O caráter bidimensional decorre da restrição ao plano, e a união dos segmentos implica a não-descontinuidade dos polinemas. Quaisquer dois segmentos unidos por ambas as respectivas extremidades não integram polinema — ou seja, um polinema não contém segmentos duplos.
O conceito de polinema surgiu da abordagem empírica: "Quantas figuras diferentes podem ser construídas com n segmentos?", e trata-se com efeito de uma generalização dessa questão. O termo deriva do grego nêma "fio".
Em particular, para n
segmentos, os polinemas são ditos de ordem n. Utilizam-se
convenientemente as denominações mononema, dinema,
trinemas
etc.
Nós são
pontos onde dois ou mais segmentos se ligam.
Braços são
extremidades livres de segmentos. Um polinema que não possui braços
é dito abráquio.
Ciclos são
subconjuntos do plano completamente cercados por segmentos do polinema,
sem serem atravessados por nenhum outro segmento.
Os números de segmentos,
nós, braços e ciclos de um dado polinema são designados
respectivamente por x, y,
z e k. O conjunto
dos polinemas de mesmo
x, y e z é notado como
[x,
y,
z],
e cada um de tais conjuntos não contém necessariamente um
único polinema; na verdade comumente ocorre o oposto.
Existem os seguintes números de polinemas das oito primeiras ordens:
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Teorema 1
Tese: A relação
x
+ 1 = y + z + k é válida para todo
polinema.
Hipótese:
Todo polinema de ordem superior a 1 pode ser derivado do mononema por acréscimos
sucessivos de segmentos.
Demonstração:
A demonstração ocorre por indução completa:
Se a relação valer para o mononema, e puder ser demonstrado
que valerá para um dado polinema caso valha para outro que tem um
segmento a menos, será então válida para todos os
polinemas.
Para o mononema a relação
vale, pois x = 1, y = 0, z = 2, k = 0.
Seja um polinema P0
com x = x0,
y = y0,
z
=z0,
k = k0. Há cinco
maneiras diferentes de se acrescentar um novo segmento, produzindo os polinemas
Pi
(1 £i£ 5) com x = xi,
y
= yi,
z =zi,
k = ki:
1. Ambas as extremidades
do novo segmento se ligam a nós de P0:
Os cinco casos de acréscimo de segmento tratados no teorema acima podem ser ilustrados pela Figura 1, onde a linha mais espessa representa o novo segmento.
Para possibilitar a referência
unívoca a diferentes polinemas, propõe-se um sistema de nomenclatura
que supõe a existência de uma cadeia de segmentos principal
(a mais longa cadeia contínua), ou de um polinema abráquio
central, e descreve as cadeias laterais anexadas a essa cadeia ou polinema
abráquio. Seguem-se alguns exemplos dessa nomenclatura:
Figura 2: 6(b1,b2)
- A cadeia central compõe-se de 6 segmentos e possui duas cadeias
laterais no nó b: uma de 1 segmento e outra de 2 segmentos.
Figura 3: 7(2b1,c1,d1)
- A cadeia central tem 7 segmentos, e hhá quatro cadeias laterais:
duas no nó b, ambas com 1 segmento, e uma com 1 segmento
em cada um dos nós c e d.
Figura 4: 9(d3(b1))
- A cadeia central tem 9 segmentos; no nó d há uma
cadeia lateral com 3 segmentos, que por sua vez tem uma sub-cadeia de 1
segmento no seu próprio nó b.
A nomenclatura
de polinemas abráquios segue uma sistemática específica.
A denominação do polinema da Figura 5, por exemplo, é
C72B,
contendo C (de cíclico), 7 (o número de segmentos),
o subscrito 2 (o número de ciclos) e a maiúscula
B,
designando-o como o segundo na seqüência dos polinemas abráquios
com x = 7, k = 2.
Corolário do Teorema
1
Os polinemas abráquios
podem ser interpretados como diagramas de Schlegel de poliedros. Assim,
por exemplo,
C63 é o diagrama de um tetraedro,
e C84B é o diagrama de uma pirâmide de base
quadrilátera.
Por essa analogia:
o número de segmentos
x
representa o número de arestas A;
o número de nós
y
representa o número de vértices V;
o número de braços
z
é nulo, pois se trata de polinemas abráquios;
o número de ciclos
k
é menor em uma unidade que o número de faces F, pois
este inclui também o contorno poligonal do diagrama de Schlegel,
que no polinema não é considerado um ciclo.
Do Teorema 1, tem-se que:
Observação
Histórica
A idéia que originou
os polinemas é de 1973. Só está sendo publicada agora,
mais de um quarto de século depois. Eu a havia apresentado por carta
a Martin Gardner - que então ainda escrevia sua coluna "Mathematical
Games" na revista Scientific American - e esta foi a resposta dele,
de 3 de novembro de 1973:
Obrigado por sua carta.
Incluí um problema muito semelhante ao seu em uma antiga coluna
que foi reimpressa no meu livro The Unexpected Hanging and other mathematical
diversions [sic]; vide página 79 e segs.
Mostrei as figuras topologicamente
diferentes que podem ser formadas com 1, 2, 3, 4, 5 ou 6 fósforos.
No entanto, não considerei as junções como contas
[eu havia dito que poderíamos interpretar os segmentos como seções
de fio, unidas por contas em suas extremidades - RK], de modo que na minha
interpretação uma "cauda" com dois fósforos é
o mesmo que uma cauda com um fósforo, e um quadrado é o mesmo
que um triângulo. Conseqüentemente minhas listas têm algumas
figuras a menos que as suas.
Gosto da sua abordagem
do problema, e manterei sua carta arquivada. Não vi em forma impressa
precisamente o mesmo problema, tal como você o define. Gosto mais
da sua versão do que daquela que usei, porque acho que é
mais fácil de entender.
Vide também: Eric
Weisstein's World of Mathematics