|
|
![]() |
Faleceu, em 10
de novembro de 1999, Pedro Alcântara, arquiteto do Instituto do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), responsável
não apenas por vários projetos de revitalização
do patrimônio cultural, como também pela formação
de muitos técnicos hoje atuantes naquela entidade.
Tive o privilégio de trabalhar com Pedro Alcântara e, com o passar do tempo, fui levado à chefia da Divisão em que Pedro trabalhava. Convivi e aprendi bastante com Pedro Alcântara, mas acho difícil, senão mesmo impossível, resumir toda uma vida de trabalho e de dedicação à causa pública, a um único texto biográfico. Dois predicados, no entanto, marcaram Pedro Alcântara no exercício de sua profissão: Pedro foi sempre exemplo de honradez e de erudição criativa sobre a árdua tarefa de conservador do patrimônio cultural. Nascido em 27 de outubro de 1926, Antônio Pedro Gomes de Alcântara formou-se em 1950 na Faculdade de Arquitetura da Universidade do Brasil. Logo no início de sua vida profissional, fundou, junto com um grupo de colegas, o Núcleo de Estudos e Divulgação de Arquitetura no Brasil (NEDAB), ligado ao Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB), onde organizaria uma exposição, que rodaria vários países europeus, sobre jovens arquitetos brasileiros. Na década de 1950, Pedro já atua na pesquisa de bens culturais. Em 1957, montou uma exposição sobre o arquiteto modernista Luís Nunes, oportunidade em que conheceria o Dr. Ayrton de Carvalho, representante do IPHAN em Pernambuco. Em 1958, Pedro viajou para o Maranhão, de onde passou a mandar ao IPHAN, voluntariamente, informações sobre assuntos relacionados ao patrimônio cultural, mantendo costumeira correspondência com Rodrigo Melo Franco de Andrade, então presidente do órgão e com o qual o arquiteto acabaria desenvolvendo estreita relação de amizade. Em 1959, Pedro ficou encarregado das obras em S. Luís, fazendo trabalhos no Palácio Cristo Rei e em vários bens culturais de Alcântara. Em 1960, elaborou o plano urbanístico para Alcântara e, em 1964, foi assinado o primeiro acordo entre o estado do Maranhão, a Prefeitura de Alcântara e o IPHAN para a preservação daquela cidade. Nascia então, do trabalho e desvelo desse engenhoso arquiteto, a primeira parceria que esse Instituto estabeleceria com órgãos da administração pública estadual e municipal na preservação do patrimônio cultural brasileiro. Na década de 1970, Pedro Alcântara seria contratado pelo IPHAN. Em Macapá, trabalhou na restauração da Fortaleza de São José e, no Rio de Janeiro, desenvolveu vários projetos preservacionistas na Rua da Carioca, Rua da Alfândega, Corredor Cultural, trabalhando também na restauração da Casa do Bispo, do Convento de Santo Antônio e do Chafariz da Praça XV. Pedro teve sempre preocupação com a formação das novas gerações. Essa preocupação não se expressou apenas no trabalho que realizou, ligado à Secretaria de Educação do Governo estadual de José Sarney, na recuperação das escolas de São Luís; Pedro, como lhe fez observar certa vez o arquiteto Lúcio Costa, “era um educador nato”, e marcou a formação profissional de diversos técnicos hoje atuantes no IPHAN. Em 1994, pouco
antes de sua aposentadoria, entrevistei Pedro Alcântara dentro de
um projeto acadêmico de “memória oral”. A entrevista jamais
chegaria a ser publicada pelo IPHAN. Em seu trabalho marcado por indeclinável
compromisso ético com os direitos constitucionais da sociedade de
acesso e de fruição de nosso patrimônio cultural, Pedro
Alcântara nem sempre recebeu o reconhecimento oficial de que seu
trabalho era depositário.
|
Retornar à primeira página | Marcus Tadeu Daniel Ribeiro |