Pesquisas
sobre História da Arte brasileira
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Houve
uma vez um jornal artístico brasileiro que muita importância
teve para o ambiente cultural e político do País, porque
mostrava criticamente as questões mais relevantes de nossa sociedade.
Esse jornal era a Revista Ilustrada, um periódico semanal
de oito páginas, quatro tipografadas e outras quatro litografadas,
de opiniões corajosas e irreverentes e que ficaria conhecido em
todas as províncias brasileiras. Seu fundador e principal colaborador
foi o ilustrador ítalo-brasileiro Ângelo Agostini.
A Revista Ilustrada marcou a história do jornalismo brasileiro não apenas porque foi um hebdomadário desenhado por artista de grande técnica na arte da litografia, mas também porque foi uma das poucas publicações regulares que teve, na liberdade e independência de opiniões, sua maior característica. Para obter essa
liberdade de opinião, a Revista Ilustrada manteve-se, pelo
menos durante sua primeira fase de atuação (1876-1889), como
um periódico independente, que tirava seus proventos exclusivamente
da vendagem dos números que editava e de serviços de litografia
que prestava para outras publicações congêneres. Ângelo
Agostini jamais permitiu imprimir, durante a época que esteve à
frente do periódico, um único anúncio em suas páginas.
Quando a Revista surge, em janeiro de 1876, outros periódicos ilustrados já vinham atuando na imprensa brasileira. Ao longo daquele século, vários jornais ajudaram a divulgar as artes através da imprensa: Semana Ilustrada, O Mequetrefe, O Mosquito, Ilustração Brasileira, Bazar Volante, A Comédia Social, Bataclan e outros, que ainda surgiriam e dividiriam, com a Revista, a preferência do público. O próprio Ângelo Agostini já havia ajudado a ilustrar outros periódicos artísticos, como Diabo Coxo e O Cabrião, quando residiu na cidade de São Paulo. Era a “imprensa alegre” brasileira, pela qual pontificava a caricatura, gênero artístico que começou a circular no Brasil na década de 1830. Nesse clima de irreverência e dalguma independência jornalística, vários foram os artistas que se destacaram por sua notável verve satírica. Ângelo Agostini, por ter origem estrangeira, tanto quanto Rafael Bordalo Pinheiro e Luís Borgomainerio, chegaram a ser atacados por alguns setores da Imprensa, que pretenderam censurar, com a condenação dos leitores, a atuação desses artistas. A caricatura mostrada
abaixo retrata o escritor e jornalista Ferreira de Meneses, que escrevera,
no "Jornal do Comércio", uma crítica àqueles três
caricaturistas estrangeiros, sendo ridicularizado no jornal de Rafael Bordalo
Pinheiro, O Mosquito.
Tal característica da “imprensa alegre” tem levado alguns historiadores a julgar que se tratava de um jornalismo de oposição à monarquia, mas a regra não se aplica de forma tão ampla quanto se tem imaginado. Na verdade, vários desses periódicos surgiram e se desenvolveram exclusivamente sob o apoio governamental ou, não raro, com o patrocínio direto de altos funcionários do poder público. A Semana Ilustrada, editada por Henrique Fleiuss, era um jornal áulico, sempre disposto a apoiar os sucessos da monarquia e dos vários gabinetes de Ministros. A Comédia Social, editado pelo importante artista paraibano Pedro Américo, era financiado diretamente pelo Imperador Dom Pedro II e outros ainda houve nessa linha. O jornal de Ângelo
Agostini manteve-se com independência de opinião durante muitos
anos, participando ativamente de campanhas como a da Abolição
da Escravatura e da propaganda republicana. A partir de 1880, na esteira
dos discursos de Joaquim Nabuco no Parlamento, a campanha que redundaria
na promulgação da Lei Áurea teve atenção
permanente da Revista Ilustrada e suas charges exerceram
influência numa sociedade de baixo índice de alfabetização,
tendo assim desempenhado papel relevante na formação da opinião
pública.
Em 1889, Ângelo Agostini viaja para a Europa. Pereira Neto, que por ele é fortemente iinfluenciado, assume a difícil responsabilidade de o substituir à frente do até então combativo semanário. A Revista Ilustrada entra então em sua segunda fase (1889-1894), marcada pelo abandono sistemático da caricatura, do tom crítico que seus colaboradores possuíam até então e passa a apresentar-se como jornal de apoio ao governo republicano. O jornal fundado por Agostini muda sua linha editorial, perdendo aquela autonomia que sempre o havia caracterizado. Tendo tido alguns de seus principais colaboradores cooptados pelo governo republicano, o periódico diminui sensivelmente o papel de órgão público e passa a servir aos poderosos: condena proposta surgida em prol do voto feminino; cala-se diante dos excessos que o governo de Floriano Peixoto comete contra os insurgentes do sul do País; omite-se em relação à perseguição política que alguns jornalistas independentes sofreram durante o início da República. Ao retornar da Europa, no início da década de 1890, Agostini não quer mais o jornal que criara, vende sua parte aos seus gerentes e funda o Dom Quixote, título algo sintomático para um artista que ainda sonhava com a função pública da imprensa e a liberdade de opinião naqueles difíceis anos inaugurais da República. Mas os tempos já se vinham transformando e o jornalismo artesanal, romântico e idealista de que foi exemplo lapidar a Revista Ilustrada começa a ceder espaço para o jornalismo organizado como empresa. Surgem periódicos como Jornal do Brasil e, mais tarde, O Malho, em cujo quadro funcional Ângelo Agostini vê-se obrigado a ingressar como simples empregado. A Revista Ilustrada
publica seu último número no ano de 1898, após vários
períodos de ausência, apagando de vez o brilho que um dia
representou na História do jornalismo e da arte brasileira.
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