Pesquisas sobre História da Arte brasileira 
Emílio Rouède 
(1848-1908) 
e a pintura de paisagem no Brasil 
 
 
Emílio Rouède 
c. 1873
 

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

 
 
 
 
 

No ano de 1998 comemorou-se o sesquicentenário de nascimento de Emílio Rouède, pintor e escritor de origem francesa que chegou ao Rio de Janeiro no início da década de 1880. A cidade que o recebeu estava plenamente envolvida na campanha pela abolição da escravatura, à qual se seguiria intenso período de discussão e propaganda republicana. Rouède participou ativamente desses dois movimentos políticos, integrando-se ao meio intelectual de época não apenas como artista, mas também como colaborador do jornal abolicionista Cidade do Rio, dirigido por José do Patrocínio. 

Em 1882 fez sua estréia no meio artístico brasileiro, apresentando seis paisagens na exposição da Sociedade Propagadora das Belas-Artes, organizada no Liceu de Artes e Ofícios pelo arquiteto Francisco Joaquim Bethencourt da Silva, diretor da instituição. Dois anos depois, em 1884, participou da importante Exposição Geral da Academia Imperial das Belas-Artes, expondo um conjunto de pinturas cujo tema predominante era a marinha, que ele sabia interpretar com sensibilidade e poesia.  
 
Vista do Gragoatá, em Niterói, óleo sobre tela 
35,5 x 46 cm, coleção particular 
 
Rouède era daquelas pessoas polivalentes, capazes de atuar em diversos ramos do saber: fotógrafo, cantor, dramaturgo, gravador, professor, jornalista, conspirador político... um francês de sete instrumentos, nas palavras de Carlos Drummond de Andrade, em cuja terra natal – Itabira (MG) – o artista estivera em 1895, lecionando pintura e esgrima no ginásio Santa Rita Durão, instituição que havia fundado com o advogado José Soares da Cunha e Costa.  

Itabira não seria a única cidade conhecida pelo pintor e escritor em Minas Gerais. Antes, já estivera em Ouro Preto, e também nessa ocasião por motivos políticos: durante os primeiros anos da República, Rouède fizera oposição a Floriano Peixoto, o Marechal de Ferro, que acabou determinando sua prisão. Rouède fugiu. E não apenas ele, mas vários outros intelectuais daqueles anos de consolidação da República: Olavo Bilac, com quem manteve estreita amizade, também exilou-se na antiga capital mineira; Carlos de Laet, ferino jornalista monarquista, também abalou do Rio de Janeiro escapando da repressão florianista; José do Patrocínio e Pardal Mallet foram presos e deportados para Cucuí, no Amazonas; o poeta Guimarães Passos foi para Buenos Aires, onde escreveu no jornal La Nación; e Rui Barbosa também saiu do país. 

Em Ouro Preto, Rouède colaborou, oculto por pseudônimo, no jornal Le Brésil Republicain, órgão no qual publicou aquele que talvez tenha sido o primeiro libelo em favor da preservação do patrimônio cultural brasileiro. Ali também o pintor exerceu seu ofício, não apenas registrando a paisagem bucólica da bela Ouro Preto, como também criando um estabelecimento de ensino onde ministrou aulas de pintura de paisagem.  

Depois, mudou-se para São Paulo e, de lá, para Santos, dirigindo uma escola de teatro, atividade sobre a qual também possuía largo conhecimento, pois que anteriormente havia escrito várias peças em parceria com Aluísio Azevedo, Coelho Neto e João Luso. Em Santos, passaria os últimos anos de sua vida. 

Há dez anos passados, a obra de Emílio Rouède foi objeto de estudo no Museu Nacional de Belas Artes, quando organizei exposição reunindo cerca de 30 trabalhos do artista na Sala Bernardelli, sendo então publicado um catálogo ilustrado com 54 páginas que se tornou a mais completa fonte de informação de que dispomos a seu respeito até o presente. Uma monografia biográfica e crítica sobre a obra desse artista está por ser lançada em breve. A localização de muitas de suas pinturas permanece, todavia, ainda desconhecida. 

Marcus Tadeu Daniel Ribeiro  
(Texto originalmente divulgado na ArteData) 
 

 

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