Sombras da História

O Movimento G12

 

Introdução

Jesus Cristo é o Senhor, fundador e sustentador da Igreja. Deus amoroso, eterno e santo. A Igreja foi iniciada após a ressurreição do Senhor, e do cumprimento da promessa do envio do Espírito Santo a nós. Essa Igreja foi-se expandindo nas primeiras décadas daquilo que mais tarde seria chamado de cristianismo, isso, com fortes perseguições. Era fraca na carne, mas poderosa no Espírito. O mundo não lhe dava lugar entre os seus, nem Ela almejava tal coisa. Eram muito distintos, não havia como conciliá-los. Se alguém preferia um, necessariamente preteria o outro.

O tempo foi-se passando e, no século IV da nossa era, as mudanças na Igreja já se faziam sentir fortemente. Ela se distanciava das Boas Novas do seu Cristo. Começou a corromper-se. Desejou o poder temporal! Passou a achar que o mundo lhe pertencia, e que deveria dominar sobre ele. Quis servir-se da promessa da Antiga Lei dada aos israelitas (Deut. 28:13a): "E o Senhor te porá por cabeça, e não por cauda; e só estarás por cima, e não por baixo", sem contudo atentar à condição para se receber a tal promessa (Deut. 28:13b): "se obedeceres aos mandamentos do Senhor teu Deus, que eu hoje te ordeno, para os guardar e cumprir", ou para a terrível maldição decorrente do descumprimento da mesma (Deut. 28:15-68).

Ascenderam os cristão ao trono do mundo, e governaram com a mão-de-ferro dos seus predecessores. Cresceram em fama, honra, poder, e maldade. De perseguidos passaram a perseguidores. Criaram dogmas, superstições, ameaças... A história da humanidade registra o último período da ascensão cristã como A Era das Trevas, tal era a tirania com que governavam. Não representavam Deus, nem seguiam os seus preceitos.

No século XVI, surgiram alguns movimentos internos dentro da prostituída Igreja, cujos líderes demonstravam total insatisfação com a condição deplorável da cristandade. Entre eles, se destacaram Martinho Lutero, na Alemanha, e Ulrich Zwinglio, na Suíça. A Igreja desejou voltar aos seus princípios. Aconteceu a Reforma. Renasceu o espírito de fraternidade, amor e comunhão com Deus. Contudo, mesmo nesse período, a soberba e egoísmo humanos tinham o seu destaque.

Desde então, apesar dos muitos ganhos que teve a Igreja, dentre eles a tradução das Escrituras para a língua da população, Ela passou por um processo contínuo de divisões. Surgiram ministérios, igrejas, denominações, comunidades, associações e outros, numa flagrante contradição com o que diz a Palavra de Deus (1 Cor. 12,13): "Quero dizer com isto, que cada um de vós diz: Eu sou de Paulo; ou, Eu de Apolo; ou Eu sou de Cefas; ou, Eu de Cristo. Será que Cristo está dividido? foi Paulo crucificado por amor de vós? ou fostes vós batizados em nome de Paulo? ". Isso continua até os nossos dias. A insatisfação, o descontentamento, a contrariedade com o estabelecido, e a ganância pelo poder, pelo destaque, pela autoridade, passaram a ser o pontos geradores de rompimentos.

Contrariamente aos ensinos das Escrituras (João 17:11) "Eu não estou mais no mundo; mas eles estão no mundo, e eu vou para ti. Pai santo, guarda-os no teu nome, o qual me deste, para que eles sejam um, assim como nós.", os cristãos passaram a não conseguir conviver uns com os outros em suas diferenças. (Ef. 4: 2; Col 3:13).

A sede de poder político e de grandes lucros têm levado a Igreja a alucinações pela quantidade de fiéis e simpatizantes. O poder de Deus tem pouca expressão no meio cristão; e, na sua falta, o líder faz uso de métodos duvidosos que envolvem a psicologia, a psicanálise, e práticas orientais do ocultismo para garantir a permanência dos fiéis nas congregações. Voltamos ao uso cada vez mais freqüente dos objetos de fé, que ainda não são imagens de pessoas ou animais, mas a expectativa a esse respeito é horrenda.

Não deve surpreender a ninguém o grande vazio que há nos púlpitos, a lamentável situação do ensino bíblico nas igrejas, a deplorável condição do povo de Cristo, que como os antigos atenienses "buscam as novidades a qualquer custo e se maravilham com elas, por pouco tempo." Suas raízes são cada vez menos profundas em Cristo e na Palavra de Deus. A unção se foi e não há interesse em resgatá-la .  'Sob a máscara de obediência ao líder, o povo é coagido a fazer o que a liderança local, regional, nacional ou internacional ordena. Essa obediência cega condiciona a permanência de um fiel membro ou ministro em um cargo na igreja, em uma posição privilegiada, e até mesmo à certeza de que se é ou não cristão fiel, podendo inclusive ser rotulado como alguém que está trabalhando contra Deus. O povo que não conhece se amedronta e submete-se a esse poder.

As Escrituras nos ensinam que temos que obedecer a Deus, acima de tudo e de todos, e o nosso alicerce espiritual com o conhecimento das Escrituras e da vontade de Deus, é que determinará a nossa decisão (Atos 5:29): "Respondendo Pedro e os apóstolos, disseram: Importa antes obedecer a Deus que aos homens".

Diante desse quadro, devastador, surgem constantes movimentos provenientes de visões, revelações, e inspirações de pessoas descontentes, ou com intento de altos lucros, fama ou honra humanos. Desejam voltar à hegemonia de antes.

 

G12 - O Encontro com Deus

O movimento de 'células', chamado 'Grupo dos 12 'ou 'G12' é um caso desses, e é alarmante. Como outros movimentos, ele deseja impressionar. E já conseguiu, pelo menos no Brasil, onde vários e importantes líderes aderiram ao movimento. Seu objetivo principal é a multiplicação da igreja, palavras do próprio fundador do movimento, César Castellanos Dominguéz (César Castellanos Dominguéz, Sonha e Ganharás o Mundo (São Paulo: Palavra da Fé, 1999.  

"Foi então que tive a clareza do modelo que agora revoluciona o mundo quanto ao conceito mais eficaz para a multiplicação da igreja: Os doze. Nesta ocasião, escutei ao Senhor dizendo-me: Vais reproduzir a visão que tenho te dado em doze homens, e estes devem fazê-lo em outros doze, e estes, por sua vez, em outros! Quando Deus me mostrou a projeção de crescimento, maravilhei-me."

É claro que o objetivo, como trazido pelos líderes atuais, é o de "Avivamento" da Obra.  O movimento é mutante, e toma forma diversa em cada lugar e tempo onde é instalado (daí porque não nos determos em detalhes da sua realização). E isso mostra claramente que a visão é de homem, e não de Deus. Pois a visão do homem sofre alterações com o passar do tempo.  As visões provindas de Deus não são assim; cumprem-se inteiramente, conforme foi entregue pelo Senhor.

A interpretação bíblica do movimento é alegórica, simbólica, e subjetiva, como podemos ler no Manual do Encontro, numa tentativa de justificar o porquê de o Encontro ter que acontecer fora do perímetro urbano (Manual do Encontro, 56):

"... Saíram, pois, da cidade e foram ter com ele" (Jo. 4:30). É necessário sair para encontrar-se com Jesus... Saímos da cidade para termos um encontro com Ele. Abraão, Moisés, Jesus saíram da cidade. Nós precisamos sair da agitação para nos encontrarmos com Ele."

Na sua subjetividade, Castellanos Dominguéz aplica passagens que foram para importantes personagens bíblicas, a si mesmo, em mais uma tentativa para justificar o seu sair das Escrituras para a sua visão:

"Nessa ocasião ouvi a voz de Deus, quando me disse que fosse ao Jordão para me batizar novamente, e inclusive me mostrou quem deveria fazê-lo: um missionário mexicano que logo me compartilhou que, quando sua mãe estava grávida, um profeta orou mostrando: Este menino que vai nascer terá o ministério de João Batista. Quando saí das águas, senti literalmente no espírito que os céus se abriram e que Deus enviava seu Espírito."

Sua teologia é antropocêntrica (centrada no homem), o homem é um quase-deus que tem Deus ao seu serviço, como relata o próprio César Dominguéz em suas experiências com o Senhor (César Castellanos Dominguéz, Sonha e Ganharás o Mundo (São Paulo: Palavra da Fé, 1999):

"Experimentei meu espírito se desprendendo do corpo. Lutei... Senhor não é possível que tu permitas esta morte, não é hora, tu precisas de mim na terra..."

Segundo ele, ao orar entregando a direção da igreja ao Espírito Santo, falou-lhe o Espírito (César Castellanos Dominguéz, Sonha e Ganharás o Mundo (São Paulo: Palavra da Fé, 1999):

"E por que tardaste tanto para decidi-lo? Porque até agora tu eras o pastor e Eu teu auxiliar. Tu me dizias Espírito Santo abençoa esta pessoa e esta obra, abençoa o que vou pregar, abençoa a igreja e eu tinha que fazê-lo."

O movimento, como não poderia deixar de ser, achando-se excelente, coloca-se numa postura de perseguidor dos que não aderem a ele (já vimos isso antes?). Os que o negam são tidos como indivíduos que querem impedir o progresso da obra e a salvação de milhares de almas.

Se parássemos aqui, já teríamos motivos suficientes para não aderir a esse estranho movimento. É lamentável ver líderes ungidos de Deus sucumbirem ao chamado para mais uma repetição da história. O apego ao movimento é de uma forma tal que presenciei num evento importante, um líder pedir que levantassem o braço os que iriam ser consagrados a Obreiros naquele momento. E foi contundente ao afirmar que os que não tinham participado do Encontro (parte indispensável do movimento) não seriam consagrados!

O que é isso que está acontecendo? Então essa mentira (a visão) tornou-se parte do Evangelho e necessária para que se faça um líder para a pregação e ensino das Escrituras? Aquele momento foi como perguntar: Você já passou pelo batismo nas águas? Não? Então não poderá ser pregador credenciado. Já aceitou a Cristo como seu Salvador pessoal? Não? Não poderá ser pregador credenciado por esta igreja. Não passou pelo Encontro como ato de obediência ao seu líder? Não? Não poderá ser credenciado, nem poderá ensinar na igreja, nem atuar em nenhuma das suas esferas.

É uma situação absurda! As Escrituras dizem (Gal.1:8): "Mas, ainda que nós mesmos ou um anjo do céu vos pregasse outro evangelho além do que já vos pregamos, seja anátema".  Não podemos. A nossa consciência cristã não nos permite aderir a esse movimento. Estaríamos sendo cúmplices contra Deus.

Nesse movimento, até os atributos do Criador são diminuídos. Nas sessões de regressão, também chamada de 'cura interior', os ministradores do Encontro são orientados a levar os encontristas a perdoar a todos que um dia lhes fizeram sofrer, até mesmo Deus! Eles têm que recordar os seus pecados e confessá-los (como se Cristo não fora suficiente para eles). Isso é aberrante! É inaceitável! O homem é quem precisa do perdão e misericórdia de Deus, independentemente de qual justificativa seja dada para tal conselho (Manual do Encontro, 98):

"Em cada faixa etária, desde a infância até a vida adulta, o ministrador deverá instruir os encontristas a se lembrarem de momento difíceis, amargos, traumatizantes, etc. Eles precisam liberar perdão às pessoas envolvidas em cada fase e até mesmo a Deus".

Esse tipo de técnica vem assolando a Igreja e levando pessoas a crer que foram 'curadas' dos seus traumas, quando na verdade apenas lhes foi dado um paliativo. É chocante ouvir alguns crentes fiéis dizerem que no Encontro conheceram a Jesus, que lá tiveram a melhor experiência da sua vida. No movimento, se convencem que nunca tinham aceito a Jesus, nunca tinham nascido de novo. A dor é saber que a Igreja encontra-se num nível de baixa espiritualidade e afastamento de Deus tais que até os mais destacados e admiráveis líderes se deixam levar por uma heresia tão evidente; (Gal. 5:7): "Corríeis bem; quem vos impediu de obedecer à verdade?", arrastando após si muitos que sem cautela alguma, confiantes no seu líder ou em obediência a ele, seguem essas armadilhas preparadas para os incautos.

Conclusão

Precisamos praticar o ceticismo dos bereanos (At. 17:10-12): Examinemos o que as Escrituras dizem a respeito dessas novas práticas, ainda que tais conselhos saiam do maior e mais confiável, do mais amado e mais experiente líder humano. Pois ele é homem imperfeito, e ainda erra!

Se pura e simplesmente seguirmos as Escrituras teremos pouco o que temer. Sigamos os seus conselhos deixando para trás o que já passou, deixando Cristo nos curar definitivamente, crendo que Cristo é suficiente para nos libertar totalmente de qualquer situação passada ou presente, sem precisarmos de sessões desse tipo.  Em II Co. 5:17 diz Paulo pelo Espírito "as coisas velhas já passaram, eis que tudo se fez novo", e ainda em Fp. 3:13,14 "Irmãos, quanto a mim, não julgo que o haja alcançado; mas uma coisa faço, e é que, esquecendo-me das coisas que atrás ficam, e avançando para as que estão adiante, prossigo para o alvo pelo prêmio da vocação celestial de Deus em Cristo Jesus."

Talvez a primeira das 95 teses apresentadas por Lutero reflita bem o que dizem as Escrituras sobre essas asneiras que vivemos hoje: "Dizendo nosso Senhor e Mestre Jesus Cristo: 'Arrependei-vos', certamente quer que toda a vida dos seus crentes na terra seja contínuo arrependimento". Isso nos faça lembrar o que o próprio Cristo nos diz (Mt. 4:17): "Desde então começou Jesus a pregar, e a dizer: Arrependei-vos, porque é chegado o reino dos céus." Temos nos tornado um tanto hedonistas, e a nossa satisfação consigo mesmos justifica muitos atos. Dessa forma, procuramos justificar o nosso mal hábito, os nossos pecados, em acontecimentos passados, quando, na verdade, devemos mesmo é tomar posição firme diante de Deus e nos arrepender hoje, abandonando o pecado para sempre, Hb. 4:7b, "Hoje, se ouvirdes a sua voz, não endureçais os vossos corações."

Em suma, poderíamos dizer que necessitamos mesmo é do genuíno novo nascimento, e do andar em novidade de vida ensinada pelo nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo (II Cor. 5:17): "Pelo que, se alguém está em Cristo, nova criatura é; as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo."

Já vimos e ouvimos isso tudo antes. Se verificarmos a história, ela testificará deles. Vivemos a sombra do que já passou. A solução, porém, sempre veio das Escrituras.

Que Deus abençoe o seu povo, a Igreja, e a restaure em breve, de forma gloriosa. Amém

Notas:
Alguns outros textos foram consultados, especialmente o que se encontra no site:
http://www.mackenzie.com.br/teologia/fidesonline/vol05/num01/movimento_g12.htm, de Jôer Corrêa Batista.

J. Marques

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