Heresia, um breve relato
O termo heresia é recente, usado basicamente para os tempos do cristianismo. É aplicado às doutrinas que fogem daquela estabelecida por um determinado grupo (o que primeiro surgiu, ou que é aceito pela maioria). O termo significa 'escolher' e é diferente de 'apostasia' e de 'cisma', ainda que às vezes, um causa o outro.
O cristianismo, além das muitas perseguições que sofreu, teve também que suportar com braço forte as diversas heresias (pensamentos contrários, ou estranhos às Escrituras) que surgiram no seu interior (e ainda hoje surgem). A maior parte das heresias provocaram cismas, isto é, o rompimento com o grupo que tentava preservar as primeiras doutrinas dos apóstolos sobre Cristo (ex. arianismo). Essas divisões sempre trouxeram grandes males à Igreja de Cristo Jesus. Além da nítida divisão dos irmãos, não só doutrinariamente, mas até fraternalmente. O mundo via (e ainda vê) uma contradição na Igreja: ela pregava a união e a fraternidade, porém, nem ela mesma conseguia manter-se unida.
Os cismas, provenientes de heresias (falsas doutrinas - que limitavam ou expandiam um determinado ensino bíblico), não são 'privilégio' dos primeiros cristãos, hoje, vivemos um processo aceleradíssimo de divisões na Igreja do Senhor. Nem tampouco resumem-se ao cristianismo. Na época de Cristo haviam os herodianos, os saduceus, os fariseus ..., era o Antigo Testamento rachado entre as várias facções que o percebiam de forma diferente. Se voltarmos ainda mais no tempo, testemunharemos os próprios Arão e Miriã sendo contrários ao que Moisés fazia da parte de Deus (Nm. 12), em seguida vemos Coré, Datã, Abirão, Om, Pelete e Rúben fazendo algo ainda pior (Nm. 16). Esses são exemplos de pensamentos contrários, que acabaram provocando grandes cismas. Hoje temos cristãos evangélicos, cristãos católicos, cristãos reformados, cristãos históricos, etc. Esses são alguns dos cismas que aconteceram ao longo da nossa história.
Algumas heresias levaram necessariamente à apostasia (abandono da fé). O gnosticismo, ainda que não surgiu a partir do cristianismo, mas incorporou várias de suas doutrinas no seu corpo doutrinal, é um exemplo. O marcionitismo também levou ao abandono do cristianismo, ele tentou fazer o seu próprio cristianismo. A apostasia é esse abandono da essência doutrinal de um determinado grupo, em nosso caso, da doutrina cristã. Quando há apostasia, o nome essencial também desaparece, por exemplo, Testemunhas de Jeová, Espiritismo, e assemelhados, perderam completamente a essência de Jesus e dos seus ensinos, apostataram.
A heresia sempre foi tida como uma contravenção, e contra ela foram estabelecidas penalidades. A expulsão da comunidade (ou excomunhão) era o mais comum. No cristianismo, quando a Igreja gozou dos privilégios do Estado (governo temporal), as penas eram bem mais severas, o exílio do herege, o confisco da propriedade, a perda de direitos civis e até a morte. As perseguições contra os hereges era rara até o tempo da Inquisição (séc. XIII). As mortes, traziam geralmente um ar de vingança, de pura crueldade. Uma parte da repulsa que alguns têm contra a Igreja de Jesus dos nossos dias são resquícios da crueldade com que tratamos nossos próprios irmãos quando esses erravam.
Essas punições em muito foram reduzidas com a queda do poderio da Igreja, e com a criação de leis, em muitos paises, estabelecendo direitos básicos do ser humano, dando a ele liberdade para cada indivíduo pensar da forma como melhor lhe apraz, e adorar a quem desejar.
Igreja de nossos dias (últimos 100 anos da nossa história) ainda pune o dissidente de forma semelhante à anterior, porém, sem molestá-lo no corpo carnal. isso é feito em geral, disciplinando o individuo, separando-o da comunhão plena com o Corpo de Cristo. Para que isso aconteça, não é necessário estar contra o que ensinam as Escrituras, basta estar contrário ao pensamento da liderança vigente.
Nós, os cristãos, ainda não aprendemos a amar da maneira intensa apresentada na primeira carta de Paulo aos Coríntios, nem tampouco entendemos o que diz o Evangelho de João, ou sua primeira epístola à Igreja. Até lá, nesse caminho em que buscamos a perfeição, alguns continuarão sendo vítimas dos erros daqueles que pensam estar certos. Provavelmente, no dia em que olharmos mais fixamente para o nosso Senhor e Salvador, Jesus Cristo, e pudermos ir além da leitura da sua mensagem, atingindo a boa interpretação dela, certamente seremos mais humanos, mais tementes, mais tolerantes, e amaremos uns aos outros mais intensamente.
J. Marques
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