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Cavalcanti ainda é um desconhecido

Diretor , cuja memória será resgatada por Tavernier, é enigma para a crítica

LUIZ ZANIN ORICCHIO

Bertrand Tavernier tem razão: Alberto Cavalcanti é mesmo um cineasta injustiçado e desconhecido em seu País, fato que não chega a ser surpresa sabendo-se que ele é brasileiro. Tomara a publicação do livro sobre Cavalcanti, pela coleção dirigida por Tavernier, possa corrigir um pouco essa injustiça, pelo menos no plano internacional. No Brasil, o resgate de Cavalcanti, tímido até agora, começou com a publicação de um livro sobre sua vida e obra escrita por Lorenzo Pellizzari e Claudio M. Valentinetti - dois italianos (Alberto Cavalcanti, Instituto Lina Bo e P. M. Bardi, 445 páginas).

Há uma explicação para esse esquecimento, que ultrapassa o habitual descaso com que se trata artistas no País: boa parte da carreira de Cavalcanti foi feita no exterior. Ele participou da vanguarda francesa dos anos 20 e depois da escola documentarista inglesa, na década seguinte. De 1926 é seu seminal Rien que les Heures, ode a Paris e mescla de registro do real com tratamento surrelista. En Rade, do mesmo período, é a descrição de uma utopia proletária numa vila portuária. Em Londres a partir de 1933, substituindo Flaherty na Unidade de Filmes do GPO (General Post Office), levou sua vocação de vanguarda para o outro lado do Canal da Mancha e fundiu-a com a tradição realista britânica.

Em 1949, Cavalcanti interrompeu uma carreira internacional bem-sucedida e voltou ao Brasil para concretizar uma idéia mirabolante: instaurar no País uma indústria cinematográfica de qualidade. À frente da Companhia Cinematográfica Vera Cruz, plantada em São Bernardo do Campo, passou a desenvolver projetos desta que deveria ser a Hollywood tropical. Chamou técnicos e cineastas do exterior, como o fotógrafo Chick Fowle, o assistente e depois diretor Tom Payne, e o montador John Waterhouse. Por motivos variados (o principal deles localizado na má distribuição dos filmes), a Vera Cruz não conseguiu alcançar seus objetivos e fechou.

Cavalcanti realizou poucos longas-metragens no Brasil, entre eles Simão, o Caolho,baseado no romance de Galeão Coutinho, uma comédia ligeira, cuja maior virtude, segundo críticos da época, era o intimismo conseguido por seu realizador. Possivelmente seu melhor trabalho no ciclo brasileiro seja O Canto do Mar, este sim tido como um mergulho profundo, sociológico, nos usos e costumes da gente que vive à beira-mar. De volta à Europa, filmou um Brecht de boa cepa, O Senhor Puntila e seu Criado Matti e The Life and Adventures of Nicholas Nickleby - estes dois, tidos por ele mesmo como seus filmes mais importantes.

Cavalcanti deixou no Brasil alguns projetos inconclusos, como a transposição para a tela da vida do dramaturgo português Antônio José da Silva, queimado pela Inquisição. Esse projeto foi terminado muitos anos depois pelo cineasta Jom Tob Azulay, que enfrentou filmagens das mais atribuladas.

Sua vocação internacional, que o mantinha sempre longe, e também a diversidade estilística de uma obra vasta, fazem de Alberto Cavalcanti, até hoje, um objeto algo misterioso para a crítica brasileira e, mais ainda, para o público.

Fonte: O Estado de S.Paulo, 14 de Dezembro de 1999

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