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Pra frente, Brasil

Num ano de escândalos e pouca captação, o público do cinema  nacional cresceu mais de 20%

PAULO VASCONCELLOS

Um dos piores anos do cinema brasileiro foi também um dos melhores. Em meio à recessão e à desconfiança em projetos que espantaram os investidores, o que chegou às telas seduziu 4,5 milhões de pessoas. O público em 1997 não passou de 2,5 milhões. Chegou a 3,6 milhões no ano passado. De lá para cá, cresceu mais 20% segundo dados da Filme B, empresa de assessoria cinematográfica.

O recordista de público foi Simão, o fantasma trapalhão, de Renato Aragão, visto por 1,3 milhão de pessoas só este ano. Orfeu, de Cacá Diegues, emplacou o segundo lugar atraindo 961.961 espectadores até a semana passada. Zoando na TV, com a apresentadora Angélica, foi visto por 911.394 pessoas e abocanhou o terceiro lugar. Central do Brasil, de Walter Moreira Salles Júnior, lançado em abril do ano passado, só em 1999 arrebatou mais 403.016 pessoas. Mauá - O imperador e o rei, de Sérgio Rezende, levou quase 200 mil espectadores aos cinemas.

Todos juntos não dão um Sexto sentido, filmeco hollywoodiano com Bruce Willis feito sob medida para os místicos de fim de século, mas os números ainda assim entusiasmaram os técnicos do governo encarregados de fomentar a trôpega indústria cinematográfica nacional. "Nem tudo é notícia ruim no cinema brasileiro", comemora José Álvaro Moisés, da Secretaria de Audiovisual do Ministério da Cultura. A onda otimista foi saudada com pelo menos duas providências costuradas para dar algum fôlego ao setor. A primeira foi a liberação de R$ 22 milhões do programa Mais Cinema, um fundo de R$ 80 milhões gerido pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, para 30 projetos - 28 destinados à produção, distribuição e comercialização de filmes e documentários e dois para a construção e reforma de salas de cinema. A outra é o convênio que será firmado nesta terça-feira entre o Ministério da Cultura e a RioFilme destinando R$ 1,6 milhão para a empresa municipal de distribuição investir no lançamento e na confecção de mais cópias de 18 produções.

"Com a primeira medida o governo acena para o mercado que pretende continuar investindo no cinema nacional. Com a segunda, aposta num projeto piloto para atacar um dos gargalos da indústria: a distribuição", diz José Álvaro Moisés. A taxas de juros de 17% a 20% ao ano, os financiamentos do Mais Cinema correm o risco de morrer nos cofres do BNDES. Os produtores estão temerosos de lançar mão dos recursos que oscilam tanto quanto o setor. O menor é de R$ 94 mil e vai servir para a realização de um documentário sobre Abrolhos. Os mais altos chegam a R$ 1,5 milhão. É o que está reservado tanto para o debochado Aurélia Schwarzenêga, uma crônica social recheada com os clichês dos filmes de pancadaria estrelados por Arnold Schwarzenneger, como para O amor e outros objetos pontiagudos, próximo filme de Beto Brant, baseado em conto de Marçal Aquino.

"Entrei só para ver como funciona o programa", diz Bruno Strolpiana, da produtora Sky Light, que assegurou um crédito de R$ 500 mil para a finalização de Estorvo, adaptado do livro de Chico Buarque, e de R$ 625 mil para acabar O Xangô de Baker Street, baseado na obra de Jô Soares. "Pretendo usar o financiamento apenas como garantia para a captação de R$ 3 milhões autorizada pelas leis de audiovisual", afirma Leilane Fernandes, diretora de Maria Moura, versão cinematográfica de Memorial de Maria Moura, de Rachel de Queiroz, que ela começa a filmar em abril. "Só vamos pegar o financiamento se houver contrapartida nas leis de incentivos fiscais", diz Sara Silveira, da Dezenove Som e Imagens Produções, que toca a parte operacional de Aurélia Schwarzenêga.

"Não sei mais até onde é capaz de chegar o cinema brasileiro", desconsola-se Paulo Sérgio de Almeida. Dono da Filme B, Paulo Sérgio foi diretor de obras como Banana Split e Sonho de verão. Há dois anos criou a empresa de consultoria e passou a se afogar em números. Entre suas preocupações está uma pesquisa encomendada pelo Ministério da Cultura sobre o desempenho da Lei do Audiovisual. É do alto dessa experiência que ele arrisca um prognóstico: "O número de interessados no financiamento surpreende, mas metade não vai pegar o dinheiro por causa dos juros", diz Paulo Sérgio.

"O convênio com a RioFilme é bom porque ataca um dos pontos fracos da indústria, a distribuição, mas não sei se esta é a hora certa para lançar um programa como esse." O cinema brasileiro, acredita, sobrevive na intuição. Sem nenhum planejamento, ele deve atrair público ainda maior no ano que vem. Castelo Rá-Tim-Bum, de Cao Hamburguer, que custou o equivalente a R$ 7,5 milhões, e O trapalhão e a luz azul, novo longa de Renato Aragão, aliados a títulos chamativos como Estorvo, O Xangô de Baker Street e Amélia, o novo filme de Ana Carolina depois de anos de retiro, podem garantir a fatura. É o milagre.

Romper o gargalo

Dá dois Orfeus divididos por 18 filmes, mas não deixa de ser uma fábula. O R$ 1,6 milhão que a RioFilme vai receber no convênio que será assinado nesta terça-feira com a Secretaria de Audiovisual do Ministério da Cultura se destina prioritariamente a um dos gargalos do cinema nacional: o lançamento. O filme de Cacá Diegues teve uma verba de R$ 800 mil para divulgação na TV que lhe garantiu a segunda bilheteria do cinema nacional no ano: 962 mil espectadores. O dinheiro vai ser usado pela empresa municipal de distribuição também para a confecção de mais cópias de cada obra.

"A experiência deste ano atesta que os filmes que tiveram divulgação maciça conseguiram um bom desempenho de público", diz José Álvaro Moisés. "A estratégia de mídia é fundamental para garantir a bilheteria", afirma José Carlos Avelar, presidente da RioFilme. "Metade dos recursos aplicados no projeto é a fundo perdido, mas a outra parte retorna para ser reinvestido na copiagem e no lançamento de outros filmes."

A lista, como tudo no cinema brasileiro, mistura alhos e bugalhos. Santo forte, filme de Eduardo Coutinho ganhador do Festival de Brasília, está no bolo apesar de já ter sido visto por mais de 7 mil pessoas. Fé, de Ricardo Dias, e No coração dos deuses, de Geraldo Moraes, que estão no circuito e juntos atraíram pouco mais de 13 mil espectadores, vão ganhar uma fatia para o lançamento fora do eixo Rio-São Paulo. Fé, com apenas duas cópias, levou 3,5 mil pessoas ao cinema. O filme de Moraes, com 16 cópias, seduziu 9.463.

O convênio beneficia ainda obras que já contam com alavancas nada desprezíveis. Bossa nova, de Bruno Barreto, terá distribuição da Columbia em parceria com a RioFilme. Castelo Rá-tim-bum, de Cao Hamburguer, entra no pacote de co-distribuição em que a empresa municipal dá força à multinacional. No caso de Gêmeas, de Andrucha Waddington, é a Columbia que se junta à RioFilme para que o leque de salas de exibição do filme não se restrinja a Rio e São Paulo.

Cruz e Souza, de Sílvio Back, Hans Staden, de Luís Alberto Pereira, Iremos a Beirute, de Marcos Moura, A terceira morte de Joaquim Bolivar, de Flávio Cândido, Oriundi, de Ricardo Bravo, A hora marcada, de Marcelo Taranto, Reunião dos demônios, de Cecílio Neto, Através da janela, de Tata Amaral, Amélia, de Ana Carolina, Um certo Dorival Caymmi, de Aluízio Didier, Cronicamente inviáveis, de Sérgio Bianchi, e O dia da caça, de Alberto Graça, completam a lista. (P.V.)

Fonte: Jornal  do Brasil, 19 de Dezembro de 1999

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