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## Aguarde!   No mês de  abril Memórias  On Line  publica uma  entrevista exclusiva com  Anselmo Duarte   ##

 

 

 

 

## "O Pagador de Promessas" já foi lançado em VHS.  Em 1998 a revista ISTO É lançou uma coleção de fitas do  Cinema Brasileiro. O Pagador  foi o primeiro filme dessa série ##

 

 

 

 

 

 

 

 

## A história de  Anselmo Duarte pode   ser lida no livro Adeus Cinema, de Óseas S. Jr, que foi escrito com base  em entrevistas e depoimentos  do próprio Anselmo  ##

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

## Aguarde!   No mês de  abril Memórias  On Line  publica uma  entrevista exclusiva com  Anselmo Duarte   ##

Reprodução Exclusiva do JB

Anselmo, galã e cineasta

Vida e obra de Anselmo Duarte, ator,
diretor e testemunha do cine nacional
são contadas em documentário

DENISE LOPES

O maior prêmio do cinema brasileiro mora em Salto, no interior de São Paulo (a 114 quilômetros da capital), está há mais de 20 anos sem filmar, tem 79 anos, lúcidos, três roteiros prontos jamais filmados, um curta inacabado, alguma mágoa pelo que chama de "cerco" ao seu trabalho e muita história para contar. Essa verve do típico causeur vai ser resgatada em película. A vida e a obra do ator, roteirista, produtor e diretor Anselmo Duarte saem do ostracismo para ser documentadas em película por Sylvio Back. Até 21 de abril, quando o cineasta de O pagador de promessas completa 80 anos, um longa divido em sete episódios para ser exibido na televisão, que tem título ainda provisório de O exílio do cineasta, deverá estar pronto. "Quero filmá-lo. Toda vez que a gente volta ao passado é de uma forma diferente. Joseph Losey (diretor americano) disse uma vez que o passado é outro país. Para visitá-lo tem que se levar passaporte. Não vou ligar a câmera e deixar que ele fale. Vou querer levá-lo a lugares para revisitar certas coisas com cuidado. Anselmo é a história viva do cinema brasileiro", afirma Sylvio.

Revisitar a trajetória do ganhador da Palma de Ouro, em 1962, será, no mínimo, mexer na ferida do que teria sido o movimento cinemanovista. Uma anotação de próprio punho em uma foto sua filmando o inacabado curta O Homem só resume um pouco da polêmica e da exclusão da qual diz ter sido vítima. "Anselmo com a câmera na mão e o Glauber inventou o quê?", pergunta alfinetando. Depois do sucesso da adaptação do texto de Dias Gomes para o cinema, considerado um clássico no mundo inteiro, Anselmo nunca mais conseguiu projeção. Seus filmes realizados após o prêmio em Cannes - Vereda da salvação (1964), Quelé do pajeú (1969), Um certo capitão Rodrigo (1970), O descarte (1973), O crime do Zé Bigorna (1977) e Os trombadinhas (1978), último, que trazia Pelé no elenco - foram, segundo ele, renegados pela crítica e pela classe cinematográfica. A lembrança de Anselmo na Europa causa furor até hoje, mas, no Brasil, seu nome vem à tona sempre com um certo distanciamento. Na biografia lançada em 1993, Adeus cinema, vida e obra de Anselmo Duarte, de Oséas Singh Jr., a epígrafe assinada por André Gide confirma a regra: "Todas as coisas já foram ditas, mas, como ninguém escuta, é sempre necessário recomeçar". "Anselmo nunca fez o culto à sua biografia, por isso é preciso reescrevê-la", justifica Back

Os mistérios e deformações que cercam a figura de Anselmo Duarte - que, entre outras ousadias, simplesmente deixou de comparecer à festa de entrega do Oscar, em 1962, com O pagador concorrendo a melhor filme estrangeiro - são muitas. "Dei a passagem ao Fernando Barros, que hoje é editor de modas da Editora Abril. Aquilo lá é um nojo, um prêmio do sindicato dos produtores de Hollywood. Eles acabaram com o Golden Gate de São Francisco, onde ganhei, na época, melhor filme e música, concorrendo com West side story (Robert Wise). Da academia, sabia que não ia ganhar nada, então, não fui."

Nos 50 anos de Cannes, em 1997, onde se reuniram todos os premiados, vivos, com a Palma de Ouro, Anselmo era o único representante da América Latina. O documentário de Back era para ter ficado pronto nessa época. "Queria ter aproveitado essa homenagem", conta. "Anselmo foi à comemoração confirmar o culto à sua obra". Quando foi apresentado em Cannes, O pagador de promessas arrebatou todas as atenções por sua originalidade.

Com os roteiros inéditos de Messias, o mensageiro, O mentiroso e O rapto - que tentou rodar em Paris, em 1960 - nas mãos, Anselmo ainda sonha em filmar o primeiro. Escrito muito antes de O pagador, Messias é a história de um carteiro que, ao abrir as correspondências antes de entregá-las, seleciona só as boas notícias para serem entregues. Na morte de Dias Gomes, em maio, Anselmo chegou a afirmar aos repórteres que havia perdido uma oportunidade de fazer as pazes definitivas com o autor de O pagador. "Tinha muita vontade de trabalhar com Dias Gomes o roteiro de Messias. Ele também sabia retratar o homem comum. Esse poderia ser o nosso reencontro. Meu gênero também sempre foi a intolerância", disse.

Para convencer Dias de que faria um bom trabalho para o cinema a partir de  O pagador, Anselmo levou um bom tempo. "Ele não gostava das soluções que eu apresentava para o seu texto no cinema. Brigamos muito durante todo o processo. Mas quando eu ganhei a palma, ele foi até Santos me recepcionar e desfilamos no carro dos bombeiros juntos pela cidade." Tanta desconfiança por parte de Dias Gomes tinha lá suas razões. Afinal, antes da adaptação de O Pagador, Anselmo só tinha dirigido o curta Fazendo cinema e o sucesso musical de público, Absolutamente certo! (1957), que retratava um programa de adivinhação televisivo, realizado bem ao estilo da escola da pornochanchada que o havia feito galã ao lado de Cyll Farney e outros.

"Produzi, roteirizei, dirigi e atuei em Absolutamente certo!, que acabou dando muito dinheiro. Mas minha formação começou na Atlântida, onde aprendi a manejar a câmera com restos de chassis de tomadas de filmes que ia juntando." Seu primeiro roteiro foi Carnaval no fogo (1949), ainda na Atlântida. A Vera Cruz só veio em 1951, onde começou de fato a co-produzir, escrever e montar filmes. Sua estréia no cinema, aconteceu em 1942, aos 22 anos, no polêmico It’s all true, de Orson Welles, rodado no Brasil. A namorada Lolita, que dançava no filme, trazida de Salto, sua cidade natal, acabaria perdida para o diretor americano. "Foi a minha primeira desilusão amorosa". Boêmio, Anselmo se casou duas vezes, a segunda vez com a atriz Ilka Soares, e tem quatro filhos.

Sylvio Back ainda procura um parceiro no mercado de televisão a cabo para produzir o documentário. Entre o material inédito que tem para montar o filme, há algumas preciosidades, como a seqüência retirada e perdida de O pagador de promessas que traz Glória Menezes nua e Geraldo del Rey de terno se beijando sob o chuveiro (veja box). Além de um making off de Arara vermelha (1957), filme protagonizado e co-produzido por Anselmo, trechos de filmagens, em Paris, do interminado O rapto, registros de suas passagens como ator pela Argentina, Espanha e Portugal, onde fez As pupilas do Sr. Reitor, e cenas de Um homem só. Este último, um curta inacabado, rodado em 16mm, na Ilha dos Frades, como forma de pagamento ao hotel onde a equipe de O pagador havia ficado hospedada em Salvador. "A Secretaria de Cultura da Bahia saldou as dívidas da produção em troca da realização do filme", contou Anselmo. O filmete turístico ganharia ares ficcionais dos mais elaboradas na mãos do diretor. Com Antônio Pitanga e Geraldo del Rey no elenco, o filme conta a história de um negro que resolve se refugiar numa ilha do preconceito racial. "Sugeri ao Back que termine o filme", conta Anselmo.

A idéia de documentar Anselmo para o cinema encontra eco também na própria família do cineasta. Seu filho, Anselmo Junior, que trabalha numa tevê em Natal, já recolheu muitas imagens do pai com o mesmo objetivo de Back. O diretor de Yndio do Brasil e Rádio auriverde quer trafegar na fronteira entre o documentário e a ficção. "Toda vez que voltamos ao passado é de uma forma diferente. Quando o entrevistado está remontando a sua biografia sempre há uma tentativa de refazer aquela história e, geralmente, ele está mentindo", assume, desconcertando o caráter imparcial do documentário pelo que há de mais sólido: a veracidade do depoimento oral das pessoas que participaram diretamente dos fatos levantados.

Com O exílio do cineasta, Back quer terminar o que chama de "pentalogia do exílio". Completam o projeto, Ana em Veneza, baseado no livro de José Silvério Trevisan, sobre a babá de Thomas Mann, escrava vinda da África que teria sido levada para a Alemanha; Lost Zweig, sobre a estadia e morte de Stefan Zweig no Brasil, que começa a rodar em outubro; Cruz e Souza, o poeta do desterro, em fase de finalização; e Tigre Royal, sobre a o que chama de sua própria trajetória de exílio. "Vim do Sul, sou filho de húngaro e alemão e me considero um emparedado também, porque nunca servi a idéias servis".

Brigitte é a culpada

Imagine a cena. Bonitão (Geraldo del Rey) chega ao hotel debaixo de chuva. Sobe ao quarto e ao invés do corte após a abertura da porta para os pingos no beiral da janela, a câmera acompanha a sua entrada de terno e gravata, por detrás do chuveiro, até ele entrar debaixo da água e beijar Rosa (Glória Menezes), mulher de Zé-do-Burro (Leonardo Vilar), completamente nua. O fragmento de cerca de dois minutos de O pagador de promessas foi o corte cirúrgico sugerido pelo diretor do festival de Cannes, Robert Favre Le Bret, responsável, talvez, pela unanimidade em torno da originalidade do filme. Perdido e muito pouco conhecido, o trecho é um dos maiores trunfos anunciados por Back em O exílio do cineasta. "Seria curioso rever essa cena", afirma o próprio Anselmo Duarte. Back não conta de onde pretende desencavar o negativo, mas sorri com malícia toda vez que a pergunta vem à tona.

O rolinho do corte ficou em poder de Anselmo por muito tempo, mas há uns 10 anos sumiu. "Nunca mais achei. A última projeção do filme com essa cena aconteceu numa sala do jornal O Globo. Mas acho que ele pode ter ficado com o A. Carvalhaes, crítico de cinema do Diário Popular, que já morreu, ou no arquivo da TV Cultura, que também exibiu o filme sem o corte", especula.

O motivo do corte: a semelhança com uma seqüência de E Deus criou a mulher, de Roger Vadim, que havia lançado Brigitte Bardot em ousadas cenas. "Cheguei dois dias antes do início do festival. O Le Bret foi me procurar no Hotel Sul Americano e abriu o jogo. Disse que a comissão tinha ficado muito bem impressionada com o meu filme, mas que havia uma cena que parecia cópia. Para ele, esse ponto podia ser um empecilho na hora da votação, porque o pessoal de Cannes havia gostado do meu filme exatamente pela originalidade de conteúdo e forma. Faltavam ainda 10 dias para a projeção - O pagador foi exibido na penúltima noite do festival. Eu não sabia quem era Vadim nem Brigitte. Eles ainda não eram conhecidos nem nunca tinha ouvido falar do filme. Mas não ia arriscar por causa de uma cena. Decidi o corte ali mesmo na moviola da sala de projeção."(D.L.)

Fonte: Texto reproduzido da reportagem originalmente publicado no Jornal do Brasil, Rio de Janeiro,  em 31  de Julho de 1999. Copyright (c) 1995, 1999, Jornal do Brasil.


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