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Cineasta leva a Amazônia à Internet

Jorge Bodansky, que já rodou vários filmes e documentários na região, criou o maior acervo de dados sobre a floresta da rede de informática, em parceria com a produtora Raquel Couto

CARLOS ALBERTO MATTOS

Imagine um barco singrando as águas do Arquipélago do Bailique, no Amapá, deslizando entre igarapés, araras-vermelhas em vôo rasante e a algaravia das comunidades ribeirinhas. Agora, imagine-se numa réplica desse barco numa cidade européia e, mesmo de tão longe, podendo chegar bem perto daquele sagüi-leãozinho ou até desviar o barco de verdade daquele boto-tucuxi. E ainda trocar idéias com especialistas num estúdio do Rio.

Tudo isso em tempo real pela Internet. Essa é a experiência que o Projeto Navegar vai oferecer aos visitantes da Feira MUBA, na Basiléia (Suíça), em abril, e do pavilhão brasileiro da Expo 2000 de Hannover (Alemanha), em junho.

Mas ninguém precisa cruzar fisicamente o oceano para experimentar o duplo sentido do termo "navegar". A partir do dia 18, qualquer computador conectado na rede vai ter acesso a esse barco de comunicação equipado com câmeras e plugado na Web. Basta digitar www.amazonlife.com para entrar não só no Amazonboat como no maior acervo de informações sobre a Amazônia disponível na Internet. "Estamos caminhando para criar um grande portal que sirva como janela do mundo voltada para a Amazônia", diz o cineasta Jorge Bodansky, que coordena o projeto com a produtora e montadora Raquel Couto, com patrocínio da JCS Business Partners Ltda., empresa do Rio que investe em desenvolvimento de sites da Internet.

O site Amazonlife é o escoadouro de uma verdadeira enciclopédia multimídia da Amazônia, além de um deflagrador de ações relacionadas ao desenvolvimento da região e à preservação de seus ecossistemas. Nada a ver com os livreiros virtuais Amazon.com, que apenas utilizam a segunda marca mais conhecida no mundo depois da Coca-Cola.

"A verdadeira Amazon somos nós", brinca Bodansky. O site brasileiro já pode ser visitado hoje mesmo, mas a partir do dia 18 estará com mais conteúdo e mais serviços, além de uma nova interface visual. Ali o internauta encontrará desde informações sobre biodiversidade e cultura da região até jogos interativos em que se aprende a proteger o meio ambiente sob pena de perder a vida do bichinho e a partida. Quem estiver se preparando para o ecoturismo na Amazônia vai dispor de relatos personalizados de viagem, mapas, dicas práticas e até um guia de sobrevivência na selva.

Os fanáticos pelo e-shopping já podem adquirir uma variedade de itens que inclui peças de artesanato amazônico, sachês, curiosos brinquedos de folha de palmeira e mesmo um "anel do rapto", artefato de palha utilizado pelos índios para capturar namoradas pelo dedo.

Bodansky e Raquel vêem o projeto como uma via de mão dupla, cujo aspecto social é tão importante quanto o lúdico. "Queremos usar toda essa tecnologia para uma coisa conseqüente", afirma o cineasta. O link Amazonshop coloca potenciais compradores em contato direto com artistas e artesãos locais, estimulando o chamado desenvolvimento sustentável.

O Amazonboat permite, por exemplo, que crianças da beira do Amazonas convivam virtualmente com crianças de cidades grandes, brasileiras ou não. O barco começará sua trajetória física entre as oito ilhas do Arquipélago do Bailique, justamente onde a União Européia vem financiando o projeto de educação ambiental Escola-Bosque. "O Amazonlife estará sempre associado a ações como essa, de interesse da Amazônia", garante Bodansky.

O maior desafio da dupla no momento é responder aos muitos e-mails que chegam diariamente de vários países, principalmente de estudantes e pesquisadores interessados em informações sobre a megafloresta. Uma equipe de parceiros está sendo montada para fornecer respostas praticamente imediatas às questões. Cada pergunta respondida reverte para o conteúdo permanente do site. No futuro, eles pretendem jogar na rede sites similares sobre os demais ecossistemas brasileiros, ou seja, a mata atlântica, o Pantanal, a caatinga e o serrado.

Linguagem - Outro passo a ser dado é criar um canal de televisão em banda larga na Internet, um fluxo contínuo de imagens 24 horas por dia no ar, correndo a 30 quadros por segundo, ou seja, com uma qualidade excepcional diante dos padrões atuais. "É uma linguagem inteiramente nova que se apresenta como uma extensão do nosso trabalho com cinema e vídeo", diz Bodansky.

Se os meios multimídia ainda representam uma novidade para esse experiente e talentoso documentarista, o cenário amazônico já não lhe reserva tantos mistérios. Desde 1968, quando estreou na selva como fotógrafo free lance para a revista Realidade, Bodansky já perdeu a conta de suas viagens à Amazônia. A observação do movimento de caminhoneiros e prostitutas na Transamazônica rendeu-lhe o argumento e as locações de Iracema, um clássico do semidocumentário brasileiro co-dirigido por Orlando Senna.

O Terceiro Milênio, viagem pelo grande rio em companhia do pitoresco senador Evandro Carrera, é outra obra-prima da não-ficção nacional. Em diversos documentários realizados para emissoras de TV alemãs, Bodansky foi coadjuvado por Raquel Couto, outra apaixonada pela Amazônia desde que realizou com Edilson Martins o vídeo Chico Mendes: Um Povo da Floresta.

"Queremos levar para o site a nossa emoção no trato com a Amazônia", frisa Raquel.

O salto para a multimídia deu-se há quatro anos, quando Bodansky convenceu o Ministério do Meio Ambiente a escolher um CD-ROM como presente aos ministros estrangeiros que compareceriam a uma reunião da ONU. O disco Amazônia - Um Fantástico Universo foi a semente de tudo o que está sendo feito atualmente.

"Tínhamos apenas a vontade de experimentar essa mídia, mas nenhuma experiência anterior", conta Bodansky. O bom resultado estimulou-o a prosseguir num campo habitualmente desconsiderado por cineastas e videomakers. As encomendas começaram a chegar. Para a Fundação Ford, um CD-ROM sobre o Programa Poema - Pobreza e Meio Ambiente; para a distribuidora Riofilme, o excelente Cinema Brasileiro Anos 60; para o jornal O Globo, um CD-ROM sobre o seu parque gráfico, feito em conjunto com o cineasta Geraldo Sarno; para a prefeitura do Rio, ficará pronto em breve O Rio de Janeiro do Século 16, todo ele baseado em materiais do Arquivo da Cidade.

Apesar do advento de um novo jargão ("gerar e disponibilizar conteúdo", "guarda-chuva informacional" e outros que tais) e da necessidade de atender aos imperativos da interatividade, Bodansky vê mais similaridades que diferenças entre a produção para a Internet e para os suportes tradicionais.

"Não deixamos de viajar, ter contato com as pessoas, recolher e editar o material", esclarece. A emoção de exibir o filme para o público reproduz-se nas respostas por e-mail, "o nosso ibope de todo dia". A maior diferença, segundo ele, é que a Internet, ao contrário do filme, tem princípio mas não tem meio nem fim. "A experiência com o universo humano e a emoção do cinema é um diferencial que trazemos para essa mídia", complementa Raquel.

Conteúdo - Segundo Bodansky, tampouco há uma perda de dramaturgia na passagem do cinema para a linguagem da Web. "Enquanto no cinema o espectador recebe os parâmetros de dramaturgia já prontos, na Internet ele recebe apenas as ferramentas para criar os próprios parâmetros, mas ele pode rir e chorar do mesmo jeito", explica. Tudo vai depender, então, da qualidade do conteúdo fornecido. "Se esse conteúdo for amorfo, aí ninguém viaja."

Fascinados com as relações pessoais que se estabelecem entre criador e usuário na rede, Bodansky e Raquel mostram com satisfação diversas mensagens de visitantes do site que querem "entrar no barco", participando ativamente do seu projeto. Para esses e futuros amigos virtuais, o tapete vermelho para o universo.

Fonte: Jornal O Estado de São Paulo, 3 de Abril de 2000 - www.estado.com.br

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