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Originalmente publicado em Novembro de 1999 "Sou obrigado a acreditar. E acredito"Coordenador do Projeto Nova Vera Cruz, Ivan Ísola diz ter como obrigação acreditar no projeto e afirma: "o governo tem feito sua parte". Conhecedor dos problemas do cinema brasileiro, Ísola aponta soluções e os caminhos a serem seguidos para que o cinema brasileiro ganhe maior destaque não só no mercado nacional, mas também internacional, nesta entrevista exclusiva. Memórias On Line: O governo tem feito sua parte? Ivan Ísola: O poder público tem um papel e ele tem assumido esse papel. O governador (de São Paulo, Mário Covas) é uma pessoa diretamente envolvida com isso. M: E as obras estarão prontas em Abril? I: Obra é obra. Depende do consórcio, do fluxo de recursos. Acho que estamos na estrada e temos um caminho a ser percorrido. M: Você acredita mesmo nesse projeto? I: É minha obrigação. É uma coisa que saiu da minha cabeça. Sou obrigado a acreditar. E acredito. O projeto é uma proposição para o enfrentamento dos problemas estruturais que a produção áudiovisual tem. Enquanto nós ficamos simplesmente reivindicando dinheiro para produzir ou reivindicando coisas vagas que não configuram o conjunto da atividade, não atacam a cadeia produtiva-distributiva do áudiovisual como um todo, nós vamos sempre ficar fazendo políticas parciais, destinadas não digo ao fracasso, mas a não resolver o problema, que é estrutural e não conjuntural. M: Há pouco tempo, a revista Veja publicou uma reportagem falando sobre a atual situação do cinema brasileiro e mostrou que essas leis de incentivo à cultura só servem para alguns produtores se encherem de dinheiro. O que você pode dizer a respeito dessa reportagem? I: A reportagem foi de uma grande incompetência . Problemas existem. Comprar notas fiscais você compra em qualquer cidade. O repórter era mal intencionado. O PIC TV é o contrário disso tudo. O PIC-TV é uma extraordinária resposta a esta matéria. O repórter conhece muito bem o PIC-TV e simplesmente não quis falar nisso. Será que ele está a serviço do Pato Donald? Parece que sim! M: Você não sente falta de divulgação para que as pessoas, inclusive as do próprio ABC, conheçam sobre a Vera Cruz? I: Nós vamos fazer o Memorial Vera Cruz, mas antes falta estudar, catalogar, levantar outras informações, reproduzir coisas que a gente não tem mas podem ser reproduzidas. Por exemplo. Você pode reproduzir os cenários. O Pierino (Pierino Massenzi) tem até as plantas. Você faz hoje o que foi feito há 50 anos. Isso depende de um trabalho de pesquisa. Já existem algumas coisas feitas. O MIS (Museu da Imagem e do Som) tem horas e horas e horas, centenas de horas de depoimentos. Estes depoimentos nunca foram publicados. Então precisa-se organizar uma publicação de depoimentos. Precisamos adquirir o acervo de filmes. O acervo é privado. Precisamos de fato adquirir esse acervo para disponibilizarmos para o público. Há um acervo, mas há um trabalho a ser feito neste acervo. M: Poucos sabem sobre o significado da Vera Cruz. Esse resgate vai ser importante não só para o ABC, mas para todo o país. I: Acho isso fundamental. Eu dirigi museu e acho que não há transformação sem conservação. Estou absolutamente convencido que você só constrói o novo a partir da consolidação do conhecimento passado. Já me disseram que a Vera Cruz é longe. É longe nada! Leva meia-hora da Faria Lima até aqui. E todos os cineastas têm esta mania de dizer que é longe! Quando optamos por fazer isso, teve gente que dizia: por que vocês não fazem aqui na Marginal (Marginal do Rio Pinheiros ou Tietê em São Paulo). Por que fazer lá em São Bernardo?. A escolha da Vera Cruz foi exatamente para proporcionar uma recuperação da memória, da tentativa de se fazer cinema industrialmente no Brasil. Tudo isso é um processo longo que não depende só da vontade de algumas pessoas. Ou é uma vontade coletiva ou não acontece.Reportagem: Mônica Manfrini Revisão: Leandro Andrade Editoração: Leandro Andrade [arquivo 1999] |