História
O
Porto congrega, cria, difunde contrastes, símbolo do progresso, sustentando o
futuro, enraizada na Universidade do Porto, criada em 1911, herdeira de escolas
de ensino superior do Século XVIII, um pólo de excelência na investigação e um
dos principais agentes nacionais do desenvolvimento científico e tecnológico com
reconhecimento internacional. Quando se fala no Porto pensa-se na cidade
e arredores, não o limitando em fronteiras, definindo-se como um espaço
envolvente entre a arquitectura e a luz, com mais harmonia e equilíbrio, onde as
pessoas são o que melhor define a cidade. As raízes do povo portuense
encontram-se, segundo alguns, há três milénios atrás. Pensa-se que a zona onde
nasceu a Sé da cidade, já era habitada nessa altura. Sinceridade e
espontaneidade são duas características que se atribui a generalidade dos
portuenses.
O nome da cidade do Porto deriva da
palavra "portus" (porto) e "cale" (abrigo) ou seja, "porto de cale". A partir do
Século XII, a cidade passou a designar-se apenas por "Portus" (Porto). A
cidade colaborou na Grande Epopeia dos Descobrimentos desde o início,
demonstrando o seu grande potencial na
construção naval, assim como na indústria e no comércio que cresceram sempre
ligado ao rio Douro e ao Oceano Atlântico. Historicamente, muitos foram os povos
que viveram na península (território português). Os primeiros povos conhecidos
foram os Iberos, dando o nome a península (Península Ibérica), depois os
Fenícios, os Celtas e os Gregos. Os Romanos chegaram em 201 a.C. e foi durante a
ocupação Romana que a cidade do
Porto
tomou a designação de Cale e mais tarde Portucale. Com a reconquista Cristã aos
Mouros, este pequeno território, foi-se expandindo para sul derivando o nome de
Portugal, com uma única fronteira e um imenso espaço atlântico.
Apesar de existirem diversas versões para explicar o aparecimento do nome
Portucale, todos são unânimes em afirmar que a cidade do porto participou no
baptismo do
país, emprestando o seu nome.
Nos finais do século V, os
Visigodos venceram os Romanos. Os Cristãos ocuparam a península até 711 perdendo
depois para os mouros que introduziram o Islamismo e séculos de cultura na
Península, novas técnicas e conhecimentos valiosos na ciência (matemática,
astronomia e naútica), para além de terem enriquecido a língua peninsular com
novos vocábulos. No Século X, Lisboa aparecia como centro político,
administrativo, económico e religioso do ocidente do
al-Andaluz, de uma região que envolvia a península de Setúbal como Almada,
Palmela e Alcácer, Sintra e outras vilas do actual distrito de Lisboa. A Lisboa
muçulmana ocupava uma área circunscrita por duas muralhas, a da Alcáçova, no
alto da colina, e a Cerca Moura, que descia ao longo da encosta para o rio. A
Mesquita situava-se, segundo a tradição, no actual espaço da Sé de Lisboa. Os
trabalhos arqueológicos realizados, em 1990, no claustro da Sé, confirmaram em
certa medida que a Sé de Lisboa foi construída no espaço religioso da Mesquita.
No território peninsular, ocupado pelos muçulmanos, era patente o contraste
civilizacional entre os vencedores (muçulmanos) e os vencidos (cristãos). Estes
últimos eram designados por moçarabes, ou seja, populações cristãs que viviam em
território dominado por muçulmanos, embora conservassem a maior parte dos seus
costumes, tradições e crenças.
A
expansão Islâmica iniciou-se na
Arábia, quando surgiu no Século VII, Muhammad (S.A.W.), uma personalidade
que veio unificar os árabes, através do Islamismo, elemento catalizador,
permitindo a coexistência de várias tribos ali existentes. Muhammad (S.A.W.),
cujo nome completo é Muhammad ben Abdullah ben Abdul Muttalib ben Háxime (S.A.W.),
nasceu em Meca, por volta de 570 d.C., pertencente a uma família notável da
região, o clã Coraixita, foi o grande continuador da missão de Abraão, a qual
designou por religião Islâmica ou Muçulmana, actualmente professada por mais de
um bilião de pessoas em todo o mundo. Aos 40 anos de idade, Muhammad (S.A.W.)
começou a receber a mensagem da palavra de Deus, por intermédio do Arcanjo
Gabriel (Jibrail), na
cava de Hira, perto de Meca. Muhammad (S.A.W.) que envolto numa manta, em
silenciosa vigília nocturna, ouviu uma voz que o chamava. Destapando-se, um
jacto de luz incidiu sobre ele, com intolerável esplendor e Muhammad (S.A.W.)
viu um anjo de forma humana, que aproximando-se dele lhe ordenou:
«Lê!» diz-lhe o anjo. «Não
sei ler!» replicou Muhammad (S.A.W.). «Lê
em nome de Deus!» repetiu o anjo. Nesse momento, o Profeta
sentiu que uma luz celestial lhe iluminava, o entendimento, e leu o que ali
estava escrito. Terminada a leitura, «Ó Muhammad (S.A.W.),
na verdade és o Profeta de Deus! E eu sou o Anjo Gabriel».
A partir daí, o Mensageiro Sagrado continuou a receber sucessivamente, durante
vinte e três anos (entre os anos 609 e 632 d.C.), as revelações da palavra de
Deus, que depois foram compiladas no Alcorão. A nova proclamada por Muhammad (S.A.W.),
da existência de um só Deus, suscitou o ódio dos habitantes de Meca que viviam
dos rendimentos da Caaba (ídolo comum a todas as tribos da Arábia) e do
obscurantismo do Povo. Perseguiram-lhe, atacaram-lhe e condenaram-lhe à morte.
Muhammad (S.A.W.) viu-se forçado a organizar, com os seus discípulos, a
Emigração de Meca para Medina, denominada de Hégira (do árabe "Hijra), iniciando
a Era Muçulmana no dia 16 de Julho de 622, o Primeiro Dia e o Primeiro Ano do
Calendário Islâmico. Em Medina, Muhammad (S.A.W.) organizou uma comunidade
dentro dos princípios Islâmicos, cuja lei não estava dissociada da fé.
A partir de então, nem a indiferença, nem as feridas
de amor próprio, nem as maquinações ou ameaças diversas vezes repetidas pelos
politeístas, conseguiram desviar Muhammad (S.A.W.) da sua missão, de estabelecer
a religião Islâmica, que do Árabe "içlam", significa "submissão voluntária à
vontade de Deus", uma religião simples, isenta de dogmas e fundamentando-se em 5
pilares básicos (crença em Deus, nos Seus anjos, nos livros e nos mensageiros,
no dia do juízo final, e na predestinação) e em 5 pilares da fé (o testemunho, a
oração 5 vezes ao dia, o pagamento do zakat, o jejum no mês do Ramadan e a
peregrinação a Meca pelo uma vez na vida). Muhammad (S.A.W.) é o último Profeta,
mais nenhum virá depois dele. Muhammad (S.A.W.) conforme diz o Alcorão, é a
benção para a humanidade e um perfeito exemplo para seguir. Morreu em 632 d.C. e
deixou ao Mundo o Sagrado Alcorão e os seus SUNNAHS (ditos e actos) como fonte
de orientação para todas as gerações.
Após a morte do Profeta (S.A.W.),
o Islamismo atravessou um período de instabilidade. A comunidade muçulmana de
Medina era constituída por quatro grupos principais: os Muhajirin, muçulmanos de
Meca, que tinham acompanhado o Profeta (S.A.W.) por ocasião da Hégira; os Ansar,
cidadãos de Medina, que tinham recebido os muçulmanos de Meca e abraçado a mesma
causa; os partidários de ‘Ali, que defendiam que o sucessor do Profeta (S.A.W.)
deveria ser alguém da família (Hashemita), ou seja ‘Áli ibn Abu Talib, genro e
primo do Profeta; e os Omíadas, pertencentes à aristocracia de Meca, cujo líder
do clã era Abu Sufyan. Estes grupos, defendiam ser os legítimos sucessores do
Profeta (S.A.W.), porque o Profeta (S.A.W.) não se referiu sobre a forma da sua
sucessão. Baseando na tradição, em que a escolha do líder do clã era em função
da experiência, sabedoria e prestígio, escolheram Abu Bakr Assidik, encarregado
pelo Profeta (S.A.W.) para dirigir a oração, para ser o primeiro Califa (do Ár.
khalifa, sucessor ou chefe ou soberano dos Muçulmanos).
Antes de morrer, designou como o seu sucessor Umar Ibn Al Khattab que foi
assassinado dez anos mais tarde, em 644 d.C., ocupando o lugar de Califa, Uthman
Ibn Affan, da dinastia Omíada, até 656 d.C., ano em que foi também assassinado.
Finalmente, 'Ali Ibn Abu Talib, primo e genro do Profeta (S.A.W.), assumiu o
Califado.
A Religião Islâmica
continuou a
expandir-se com os quatro primeiros Califas. Os Árabes tinham como principal
objectivo das conquistas muçulmanas a pregação e a propagação da fé Islâmica.
Síria, Mesopotâmia, Pérsia, Egipto e Cirenaica foram as primeiras regiões
conquistadas. Realizaram-se também incursões na Anatólia, nas ilhas do mar Egeu,
no norte de África e na Armênia. A conquista Árabe não seguiu um plano
estratégico. Seguiu um movimento natural das tribos Árabes, nómadas, levadas
pelo desejo de converter os povos à nova fé e em direcção a terras habitadas por
populações agrícolas e sedentárias.
Em pouco tempo, a mensagem
do Islamismo, religião de paz, amor e tolerância, foi espalhada por toda a
Arábia e vários
países. No início do Século VIII, o poder muçulmano crescia no Noroeste do
Continente Africano. A origem da penetração
muçulmana no Sudão Ocidental apareceu associada a emergência progressiva duma
camada social africana seguidora de Marabu (espécie de eremita, solitário, que
se dedica à prática e ensino da vida religiosa) que, assegurou o sucesso da
difusão do Islão nos enclaves da
Senegâmbia (engloba não só o Senegal e a Gâmbia mas também a Guiné-Bissau
até à zona que circunda a Serra Leoa, ao Sul), com predominância na curvatura do
rio Niger (Tombouctou, Gao, Djenné). A difusão do Islamismo em Moçambique,
sobretudo no norte e ao longo do litoral, ter-se-á feito através da costa, por
intermédio dos Swahilis-Árabes (mestiçagem entre Persas, Árabes e nativos Bantus,
grupo Bantu Central Yao). A maioria dos primeiros muçulmanos no Brasil eram de
origem africana, concentrados principalmente na área do estado da Baía. Com os
Yoruba e os Hausa, os muçulmanos formavam a maioria dos escravos do Brasil.
Os Muçulmanos, comandados
por Tarique, oficial do governador do norte de África, Musa ben Nusayr,
atravessaram o estreito de Gibraltar com um exército de cerca de 9.000 homens e
invadiram a
Península em 711, completando a ocupação 5 anos depois. Durante o Século
VIII, uma série de grupos, de Berberes e de famílias nobres Árabes, vindos do
norte de África e do oriente estabeleceram-se na Península. A segunda metade do
Século VIII foi o do fim da dinastia Omíada em Damasco e da ascenção dos
Abássidas em Bagdad. A dominação Árabe na Península nos primeiros anos foi da
responsabilidade dos Califas do Oriente formando-se mais tarde o Califado Omíada
(756-1031) que a partir de Córdova elevou a civilização do Al-Andaluz através de
Abdul Rahman I, o último Omíada de Damasco que chegou à península, escapando da
Revolução Abássida de 750 d.C., e estabelecendo uma dinastia, em nome do Omíadas.
A proclamação do califado tinha um duplo objectivo. Internamente, os Omíadas
queriam fortalecer o reino peninsular, e externamente queriam consolidar as
rotas comerciais do Mediterrâneo, garantir uma relação com Bizâncio
oriental e controlar o triângulo formado pela Argélia, Siyimasa e Atlântico. Em
822 d.C., sucedeu-lhe Abdul Rahman II que trouxe um período de prosperidade e
que desejoso de tornar o seu califado, cada vez mais autónomo, determinou que se
adquirisse em Bagdad tudo o que fosse referente à ciência grega e árabe. Em 929
d.C. Abdul Rahman III proclamou-se Príncipe dos crentes e tornou-se independente
de Bagdad, começando o Califado de Córdova que foi
dividido em províncias (Kuwar) e concelhos (Kurar). O Al-Garb Al-Andaluz,
lado ocidental da Península (Portugal) ficou sujeito aos Kuwar de Badajoz,
Silves e Mértola. No Al-Garb Al Andaluz, o reino de Badajoz dominava as terras
entre o rio Douro e o Vale do Sado. As rivalidades étnicas entre Árabes,
Berberes e escravos conduziram o Califado Omíada a uma prolongada guerra civil e
ao seu colapso em 1031. Na sequência destes conflitos, os chefes dos Kuwar de
Badajoz, Silves e Mértola cortaram as dependências com Córdova formando, no
Século XI, os Reinos Taifas, pequenos reinos independentes em todo o Al-Andaluz,
isto num primeiro período de 1031-1095. Perante a ofensiva dos cristãos, os Reis
Taifas pediram auxílio ao Emir Almorávida (1061-1104) de Marraquexe que
conseguiu conter a ofensiva cristã. Este, aproveitando-se do prestígio
alcançado, anexou os Reinos Taifas e criou nos fins do Século XI um Império, o
Emirado Almorávida (1095-1144) que abrangia todos os territórios islâmicos da
Península Ibérica e Marrocos. No Al-Garb Al-Andaluz, os governadores de Mértola,
Beja e Silves aproveitaram-se do declínio do Emirado Almorávida e tornaram-se
"independentes" em 1144, iniciando, no Século XII, um novo período de Reinos
Taifas, ou seja, o segundo período de 1144-1147.
Os Conquistadores, os
Cruzados e os Cristãos, opuseram-se aos mouros. Nas montanhas das Astúrias, no
norte da Península, foi onde teve início a reconquista cristã, guerra militar e
santa, abençoada pela Igreja e que provocou importantes movimentos de
populações. Partindo de um núcleo de resistência, restos dos exércitos
hispano-visigóticos e cristãos rebeldes, o movimento foi-se alastrando para o
sul, recuperando os territórios perdidos, formando-se os
Reinos de Leão, Aragão, Navarra e Castela. Entre 886-910, o Reino das
Astúrias alargou-se até ao Mondego e repovoou Portucale (Porto), Coimbra, Viseu,
Lamego. Em 953, grande incursão Muçulmana na Galiza. Em 962, revolta do Conde de
Portucale (Porto) contra o domínio do Rei de Leão. Abu-Amir invadiu o Reino de
Leão e entre 981-1002 fez recuar a fronteira até ao rio Douro. Em 1037, deu-se a
união de Castela e Leão. Em 1096, casou-se D. Henrique de Borgonha com D.
Teresa, filha de Afonso VI, recebendo como dote as terras a sul do rio Minho
(condados Portucalense e de Coimbra). Em 1112, morreu D. Henrique de Borgonha,
assumindo D. Teresa o governo do Condado Portucalense. Em 1121, Fernão Peres de
Trava governa Porto e Coimbra como Conde e torna-se Conselheiro de D. Teresa. Em
1128, Batalha de S. Mamede, confronto decisivo que saldou-se pela vitória de D.
Afonso Henriques e dos barões portucalenses que rejeitaram a autoridade dos
Travas e de D. Teresa no condado, recusando a política galega que reclamava um
reino que englobasse a Galiza e Portugal.
Em 1143, Leão e Castela
reconheceram Portugal através do tratado de Zamora. No reinado dos Reis
Católicos de Espanha, Fernando e Isabel encerrou-se o período de dominação dos
Árabes, que durou sete séculos e teve o papel de desencadear a formação de
Portugal como Estado monárquico. D. Henrique, Conde de Borgonha, pelos serviços
prestados, recebeu do Rei de Leão e Castela o Condado Portucalense, território
desmembrado da Galiza, junto ao rio Douro. A língua desse território era a mesma
da Galiza. Ao se separar da Galiza, o território (Condado Portucalense) foi
estendendo os seus limites através de lutas contra os árabes e, com a conquista
do Algarve, fixou os
limites actuais de Portugal, ou seja, em 1147 conquistou-se Santarém,
Lisboa, Sintra, Almada, Palmela. Em 1159, conquistou-se Évora e Beja. Os Mouros
vencidos, beneficiaram de actividades de tolerância, formando bairros próprios
fora dos recintos amuralhados, as mourarias. Foi-lhes aplicada uma legislação
específica contida nos forais, sendo o primeiro foral concedido por D. Afonso
Henriques, em 1170, às comunas de Mouros em Lisboa, Almada, Palmela e Alenquer.
Esta legislação concedia um estatuto específico que reconhecia aos mouros a sua
identidade religiosa e cultural, permitindo-lhes a prática da religião e o
ensino da língua Árabe entre outras, contribuindo assim as mourarias para a
preservação da civilização Árabe no período após a reconquista. Em 1179, bula do
Papa Alexandre III de confirmação da Independência de Portugal e na qual
designava pela primeira vez D. Afonso Henriques de Rei, dando o direito de
conquistar terras aos Mouros sobre as quais outros príncipes cristãos não
tivessem direitos anteriores. Em 1184, devido a ofensiva de Almançor (Muhamad
Ben Abdallah Ben Abi Ahmer), perdeu-se as Terras até ao Tejo. Em 1252, foi
conquistado novamente o Algarve. Em Dezembro de 1496, D. Manuel I ordenou que
todos os Judeus e Mouros fossem expulsos se não quisessem baptizar-se. O Monarca
quis assim agradar aos Reis Católicos de Espanha, para casar com a filha, Isabel
de Castela que por essa altura, haviam tomado idêntica resolução.
A história do Estado
Português começa com a assumpção do título de Rei por D. Afonso Henriques, conde
de Portucale, em 1143. Esta ruptura política com o Reino de Leão é provocada por
uma aliança entre os grandes senhores a sul do Rio Minho, com o apoio de algumas
ordens religiosas e militares. Os seus grandes centros são Braga (a mais antiga
capital dos reinos pós-romanos e que disputava a primazia cristã das Espanhas
com Santiago de Compostela), o Porto e Coimbra. As primeiras escolhas que se
colocam ao reino são entre a expansão para Norte (a Galiza, com quem o irmana a
cultura e a religião), e para Sul (com quem também o irmana a cultura, mas, na
época, dominado pelos muçulmanos). A escolha, ditada pela força de Leão, acaba
por ser o Sul, conquistando o primeiro Rei quase todo o Alentejo. A expansão
para Sul, com avanços e recuos geográficos, alianças e guerras com os Estados
muçulmanos do Alentejo e Algarve, continuará a ser uma constante até meados do
século XIII. As fronteiras actuais de Portugal Continental datam dessa época,
sendo as mais antigas da Europa. Os conflitos com Leão (impedindo as tentativas
de expansão para Leste) e com Castela (quando este Reino absorveu o de Leão)
prosseguiram, interferindo os três (e depois dois) Estados nas políticas
internas uns dos outros. Ao mesmo tempo criam-se alianças (através de casamentos
reais) com os outros Estados peninsulares (que não Leão) e com países da Europa
do Norte e reforça-se o poder da monarquia através da aliança com os burgueses
dos concelhos, evitando assim a feudalização do País. O rei passa a governar com
as cortes, onde estão representados os Três Estados (Clero, Nobreza e Povo). A
conquista dos territórios do Sul faz-se através da integração das populações de
religião Islâmica e Judaica (para além das populações cristãs que se mantinham
sob domínio muçulmano).
Ao
mesmo tempo, Portugal desenvolve-se economicamente, estabelecendo relações
comerciais (exportando produtos mediterrânicos e marítimos) com a Europa do
Norte e com o Magrebe. No século XIV começam a brilhar as primeiras luzes da
Idade de Ouro de Portugal. A sua língua separa-se do galaico-português, a sua
corte ganha brilho intelectual de dimensão europeia, funda-se a universidade.
Portugal continua a interferir militar e politicamente nos assuntos da
Península, sustentando guerras com o seu vizinho castelhano, mas lutando também,
em casos específicos, ao seu lado contra o inimigo religioso comum (o Califado
de Córdova e, posteriormente, o Reino de Granada). A afirmação marítima do País,
que já tinha tradição de navegação anterior à fundação do Estado, inicia-se
então, com as primeiras viagens marítimas às Canárias, datando dessa época a
rivalidade comercial entre Lisboa e Sevilha. O episódio de Inês de Castro, que
foi cantado por toda a Europa durante o século seguinte ocorreu em meados do
século XIV. No final do século, Portugal foi afectado pela crise social que
percorreu toda a Europa, conjugada com uma crise política interna relacionada
com a que ocorria em Castela e na qual Portugal interferiu fortemente, tal como
Castela na portuguesa. A crise terminou com a vitória de um novo rei, com o
reforço dos poderes dos concelhos e a aliança entre Portugal e a Inglaterra (a
mais antiga aliança estável da Europa), através da qual ambos os países
reforçaram os seus laços comerciais e políticos e se prestaram mutuamente apoio
militar (os ingleses enviando corpos de arqueiros e os portugueses enviando
navios). No século XV, resolvida a crise e estabilizado o País, Portugal
lança-se na expansão para Sul e para Oeste através do oceano. É descoberto
oficialmente o arquipélago da Madeira e, depois, o dos Açores, a um terço do
caminho entre a Europa e a (futura) América. São conquistadas cidades no actual
Marrocos. Ao longo de todo o século a expansão marítima continua e ganha uma
importância económica, política, intelectual e espiritual cada vez maior. As
viagens sistemáticas pela orla do continente africano (mas obrigando a viagens
em mar alto no regresso, devido ao regime de ventos) descobrem para a Europa um
novo mundo, apenas conhecido pelas memórias dos romanos (havia mil anos atrás) e
pelos contactos com os povos do Norte de África. Portugal estabelece feitorias
comerciais e relações políticas com os Estados que encontra, mantendo com as
zonas onde estes não existem contactos mais esporádicos. O Continente passa
então a funcionar como grande placa giratória do comércio internacional entre a
África e a Europa. Navegadores portugueses exploram sistematicamente toda a
costa atlântica de África e também a sua costa índica, alcançando a almejada
Índia por mar antes do dobrar do século.
Ao
mesmo tempo, lançam-se em arrojadas, mas bem planeadas, expedições de exploração
do Atlântico Norte e Sul, descobrindo provavelmente várias zonas da América do
Norte e do Sul.
Na Europa, pela
acção de Portugal, abrem-se novos campos a vários tipos de conhecimento.
No início do Século XVI, Portugal domina os
oceanos Atlântico e Índico, alcançando também o Pacífico Norte. As frotas
portuguesas impõem a lei no Índico, disputando a primazia, primeiro, e vencendo,
depois, as frotas turcas. Lisboa torna-se então o maior empório comercial do
mundo, e o modo de vida de Portugal baseia-se no comércio pela primeira vez
global. Apesar do seu poder naval, Portugal não tem força suficiente para sequer
pensar em aventurar-se no domínio da América do Norte, limitando-se a
expandir-se pelo Brasil (conhecido desde o século anterior, mas só descoberto
oficialmente em 1500) de forma a proteger as suas rotas para o Índico. A ciência
produzida em Portugal dita então leis na Europa e é através dos portugueses que
esta conhece (para além da fábula) a Etiópia, a Índia, a Indochina, a China, o
Tibete, as ilhas da futura Indonésia e o Japão. Dois factos vêm então marcar o
começo da decadência deste império (que, mesmo assim, durará de 1415 a 1975),
baseado no domínio tecnológico da navegação e da guerra naval e em pequenos
pontos de apoio em terra: a importação da Inquisição e uma crise dinástica que
se sucede a uma derrota militar no Norte de África, onde se tentava talhar um
reino que compensasse o crescente poder da Espanha. O chefe de Estado português
passa a ser Filipe II de Espanha e Portugal vê-se envolvido nas guerras contra a
Inglaterra e os Países Baixos, naquela que foi, de facto, a primeira guerra
mundial, com operações militares na Oceânia, no Índico, na América e na Europa.
Portugal perde então o domínio de imensos portos e rotas no que viria a ser mais
tarde a Indonésia e mares adjacentes (algumas dessas comunidades mantêm ainda
hoje traços claros da presença portuguesa), mas consegue derrotar as pretensões
holandesas em África e na América do Sul. Em 1640, Portugal recupera a sua
independência da coroa de Espanha (numa revolta contra o que começara por ser
apenas uma união dinástica e acabara sendo uma ocupação estrangeira), mantendo
uma longa luta militar e diplomática para a garantir e para limitar as perdas do
seu império.
No início do século XVIII, o
império marítimo do Índico, a braços com a expansão holandesa e inglesa e com a
falta de poderio (desviado para a defesa do Continente e do Atlântico), soçobra
lentamente, iniciando-se então o ciclo atlântico, centrado na expansão na
América do Sul e na criação do Brasil e nos arranjos com os ingleses,
adversários comerciais no resto do Mundo e aliados políticos na Europa, de um
modo de convivência no Atlântico.
Apesar de tudo,
Portugal continua a ser uma das seis grandes potências europeias e uma das
quatro grandes potências mundiais. Portugal já não dita leis no campo
intelectual, científico e tecnológico, mas mantém-se a par da restante Europa.
As intervenções na Europa destinam-se exclusivamente a garantir que a Espanha
não adquira o poder suficiente para voltar a realizar a sua ambição de dominar
Portugal. Ao contrário do que fizera precedentemente (no Índico, onde dominou
uma estratégia de domínio de portos comerciais e militares importantes e a
miscigenação racial), no Brasil, em parte devido à escassez de população,
Portugal empreendeu uma política de emigração populacional e de ocupação
territorial sistemática. Ao mesmo tempo, faz-se um esforço de desenvolvimento
económico e de reforma das estruturas administrativas, que encontra alguma
resistência política, que fará essas reformas gorarem-se no último quartel do
século. Contudo, na área do conhecimento, Portugal continua, já não a produzir,
mas a importar o que de melhor se faz na Europa. O esforço de desenvolvimento
económico é limitado pela dimensão do País e pelos acordos comerciais com a
Inglaterra, onde a revolução industrial já segue a pleno vapor. Uma nova guerra
europeia, derivada da revolução francesa do final do século XVIII, virá,
simultaneamente, perturbar o crescimento económico e provocar a reforma
política. Devido às guerras napoleónicas, Portugal passará, por alguns anos, a
ser o único Estado europeu a ter o seu Chefe de Estado fora da Europa, o que
contribuirá decisivamente para a independência do Brasil, no primeiro quartel do
século XIX. Tendo sido um dos primeiros Estados de regime absolutista, mesmo «avant
la lettre», Portugal só mudará para um regime constitucional no segundo quartel
do século. Este atraso, conjugado com a destruição económica provocada pelas
guerras napoleónicas e a perda do Brasil, provocará um longo período de
instabilidade política e de decadência económica. Apesar de possuir extensos
territórios em África, Portugal não dispõe de meios para os povoar e para
defender militarmente a sua presença, num contexto em que as grandes potências
(que Portugal já não é) se lançam numa política de ocupação efectiva deste
continente. Ao mesmo tempo, Portugal, com excepção do Brasil, não tem uma visão
de ocupação territorial (que lhe será imposta pelas circunstâncias em África),
mas sim de estabelecimento de entrepostos comerciais. Será, no entanto, forçado,
para não perder a única coisa que lhe dá estatuto mundial, a proceder à
colonização dos territórios de Angola e Moçambique através da ocupação militar.
O sonho de um novo Brasil (desta vez em África e de costa a costa, ligando
Angola e Moçambique através de territórios regularmente atravessados, mas nunca
ocupados) é impedido pelas ambições imperiais inglesas, criando o fermento para
uma nova mudança de regime político. O crescimento económico continuou, mas de
forma lenta, com Portugal a atrasar-se em relação à Europa, devido à falta de
reformas nos campos relacionados com o conhecimento. No início do século XX,
Portugal muda de regime político instaurando uma República. Resultado da
crise financeira que varreu a Europa após a I Guerra Mundial e da instabilidade
política, o regime parlamentar (I República) foi derrubado em 1926 por uma
ditadura militar. Em 1933, este regime deu então origem ao Estado Novo, a
ditadura que governou Portugal até 1974. Portugal procurou preservar a sua
herança colonial contrariando a tendência dos tempos, mantendo uma longa guerra
em três frentes que impediu o desenvolvimento económico, intelectual e
científico.
O fim da mais longa
ditadura da história da Europa Ocidental chegou em 25 de Abril de 1974, quando o
Movimento das Forças Armadas, reinstaurou o regime democrático. Um ano depois,
foi eleita, pela primeira vez por sufrágio universal, uma assembleia
constituinte, elaborada uma constituição e, mais outro ano passado, eleita a
Assembleia da República (parlamento) e um governo constitucional. Após alguns
anos de instabilidade política, o regime, no começo dos anos 80, evoluiu para a
democracia plena em que hoje os portugueses vivem. Com a democracia veio o
desenvolvimento económico, o florescimento cultural e científico e, cada vez
mais, a afirmação no campo das novas tecnologias. Fechado o ciclo do império
(com a descolonização em meados da década de 70), Portugal aderiu à actual União
Europeia, mas sem deixar de procurar manter uma ligação estreita quer aos outros
sete países que falam português (o que levou à criação da Comunidade dos Países
de Língua Portuguesa), quer às comunidades portuguesas e descendentes de
portugueses espalhadas por todo o mundo.
No presente,
Portugal é um país constituído por três espaços territoriais (as Regiões
Autónomas dos Açores e da Madeira, no Atlântico, e o Continente, na orla
atlântica da Europa). É hoje um país estável social e politicamente,
economicamente próspero, humanamente desenvolvido e que se afirma cada vez mais
pela sua atitude e capacidade de diálogo e de entendimento da diferença e pela
sua cultura e modo de vida, resultado de séculos de estreita convivência com
modos de vida diferentes, a partir do momento em que, pela sua acção, nasceu o
mundo moderno.
O Ministro da
Justiça, Governo do Primeiro-Ministro José Sócrates, assinou em 2006-09-14 os despachos de radicação de duas
comunidades religiosas, a Comunidade Israelita de Lisboa e a Comunidade Islâmica
de Lisboa. Um despacho de radicação consubstancia, de acordo com o estatuído no
n.º 1 do art.º 37º da Lei da Liberdade Religiosa, o reconhecimento por parte do
Estado Português de que determinada igreja ou comunidade religiosa possui
presença social organizada no país há pelo menos 30 anos e que se encontra já
inscrita no Registo. A qualidade de igreja ou comunidade religiosa radicada
confere certos direitos. Assim:
o Estado coopera com essas entidades, com vista à promoção dos direitos
humanos, do desenvolvimento integral de cada pessoa e dos valores da paz, da
liberdade, da solidariedade e da tolerância;
representantes de igrejas e comunidades religiosas radicadas integram a
Comissão do Tempo de Emissão das Confissões Religiosas, que é a entidade que, de
acordo com o a representatividade das várias confissões e com aplicação do
princípio da tolerância, celebra os acordos de atribuição e distribuição do
tempo de emissão nos serviços públicos de televisão e de radiodifusão;
as igrejas e comunidade
radicadas no país podem propor a celebração de acordos com o Estado sobre
matérias de interesse comum.
Aquando da monarquia
absoluta, vivia-se em Portugal um regime de religião de Estado, com mera
tolerância para as outras religiões. Com o triunfo do liberalismo e o início do
constitucionalismo, em 1822, verificou-se um crescente conflito traduzido em
medidas como a abolição das dízimas e outras contribuições de que era
beneficiária a Igreja; a tributação fiscal da propriedade eclesiástica que, em
algumas situações, atingia 50% dos seus réditos; a negação do direito de
representação em Cortes ao clero regular, bem como da sua capacidade como
votante nas eleições. Não obstante este clima de oposição à Igreja Católica, as
três constituições liberais tinham como denominador comum declararem a religião
católica apostólica romana religião oficial do Estado português. A Constituição
de 1822 previa como deveres dos cidadãos, o de venerarem a religião (artigo
19.º); admitia a censura pelos Bispos dos escritos públicos sobre dogma e moral;
só aos estrangeiros autorizava o exercício, e particular, dos respectivos cultos
(artigo 25.º). A Carta Constitucional e a Constituição de 1838 foram mais longe
ao estabelecer que «ninguém pode ser perseguido por motivos de religião, uma vez
que respeite a do Estado» (artigo 145.º. & 4). Assistia-se a uma situação que
não era de liberdade religiosa mas de mera tolerância religiosa. A própria
Igreja Católica via a sua actividade cerceada essencialmente por dois
mecanismos: o provimento dos benefícios eclesiásticos e o beneplácito régio. O
Estado assumiu-se como protector de uma religião que considerava oficial mas
simultaneamente abriu, com a instauração do regime de liberdades um conflito com
a Igreja Católica que conduziu ao corte de relações com o Vaticano, só reatadas
em 1841. O Estado, ao longo da história de Portugal, tem tido várias formas de
relação com as instituições, grupos e agentes religiosos, sendo sempre um facto
social e politicamente relevante o modo como o faz, em especial com a Igreja
Católica, dado a sua particular importância no contexto nacional. Três dias após
o triunfo da Revolução Republicana, Afonso Costa decreta a expulsão de todas as
ordens religiosas do País e a supressão de todos os conventos, mosteiros,
hospícios, casas religiosas, colégios e centros de caridade dirigidos pelas
congregações, passando para o Estado todos os seus bens. Em termos
constitucionais foi com a I República que, pela primeira vez, na História de
Portugal, se introduziu a noção de neutralidade religiosa do Estado. A
Constituição de 1911, embora não consagrasse expressamente o princípio da
separação de poderes, decretado a 22 de Abril pelo Governo Provisório na
sequência de um despacho de Afonso Costa, que seguiu de perto as leis francesas
de 1905, garantiu formalmente a inviolabilidade de liberdade de crença e da
liberdade de consciência e a igualdade política e civil de todas as confissões
religiosas perante o Estado, se bem que, simultaneamente, adoptasse medidas
restritivas da actividade das confissões religiosas, afectando especialmente a
Igreja Católica. Com o advento da Ditadura e do Estado Novo assistiu-se a um
apaziguamento das relações entre o Estado e a Igreja e verificou-se um
ressurgimento do papel da Igreja Católica. As soluções normativas adoptadas eram
conducentes à afirmação da liberdade religiosa dos católicos e não asseguravam a
igualdade de direitos às outras confissões. A Constituição de 1933, no plano
formal, admite a liberdade e a inviolabilidade das crenças, estando os cidadãos
livres de perseguição e isentos de deveres de culto (artigo 8.º). O artigo 45.º
dispõe ser livre o culto público ou particular de todas as religiões; o artigo
46.º manter-se o regime de separação entre a Igreja Católica e o Estado
português, princípio que foi, pela primeira vez, constitucionalmente consignado;
o artigo 47.º continuar a afectação dos edifícios de culto a essa finalidade.
Com a revisão constitucional de 1951 passou a reconhecer-se a religião católica
como «Religião da Nação Portuguesa» e tornou-se o reconhecimento das confissões
religiosas como era até então, mas facultativo e condicional, dependendo esse
reconhecimento da prática dessas confissões dentro do território nacional. Em
1971 é revista a Constituição de 1933, através da Lei n.º 3/71, de 16 de Agosto,
passando a considerar-se a religião católica como «Religião Tradicional da Nação
Portuguesa», e publicada a Lei da Liberdade Religiosa - Lei n.º 4/71, de 21 de
Agosto -, que afirmou o direito das confissões religiosas a igual tratamento
«ressalvadas as diferenças impostas pela sua diversa representatividade» e
previu um sistema de reconhecimento das confissões não católicas, se bem que em
moldes algo restritivos, exigindo-se a sua implantação em território nacional.
Após a 2ª. Guerra Mundial
(1939-1945), os movimentos de libertação irrompem por todo o continente
africano. O fim do colonialismo e independência de todas as colónias, era uma
necessidade. Este princípio consagrado, em 1945, no capítulo XI - "Declaração
sobre os territórios não autónomos" da Carta da Organização das Nações Unidas
(ONU). Em especial, o segundo artigo desse capítulo, o 73º., sobre a necessidade
de rapidamente se proceder ao desenvolvimento de formas de auto-governo dos
povos colonizados. A ditadura que governava Portugal, a semelhança do que faziam
outros regimes democráticos europeus, procurou resistir a este movimento
internacional. Os primeiros territórios a serem libertados foram os situados na
Índia (Goa, Dão e Diu) no dia 18 de Dezembro de 1961, através de tropas da União
Indiana que invadiram estes territórios e declararam que eram parte integrante
da Índia. Depois, formalmente, iniciaram-se as guerras de libertação em Angola
(1961), Guiné-Bissau (1963) e Moçambique (1964).
Apenas por volta dos anos
cinquenta do Século XX, estabeleceram-se em Portugal, principalmente em Lisboa,
muçulmanos, estudantes que vinham das colónias. Em 1968, este grupo de
estudantes criou a Comunidade Islâmica de Lisboa, apresentando-se como
associação religiosa e cultural, aberta a todos os muçulmanos residentes em
Portugal, conforme consta no Diário do Governo, n.º 83, III Série, de 6 de Abril
de 1968 e que tinha como um dos objectivos prioritários obter um terreno da
Câmara Municipal para a construção de uma Mesquita. Os anos foram passando e as
diligências continuaram a ser efectuadas ininterruptamente. Chegado o 25 de
Abril de 1974, Golpe de Estado em Portugal. Numa mensagem dirigida a nação em 27
de Julho de 1974, António de Spínola, Presidente da República Portuguesa, dizia
"Se há hora grande na vida e na história de um povo essa é, sem dúvida, a do seu
reencontro com a vocação, a fisionomia e a forma de ser e de estar no mundo que
lhe são próprios. Portugal vive hoje essa hora grande e é com a mais viva emoção
que dirijo ao povo português de aquém e além-mar, na mais perfeita coerência com
a nossa tradição histórica e com o ideário que nos preside e nela se inspirou a
declaração formal de haver chegado o momento de reconhecer às populações dos
nossos territórios ultramarinos o direito de tomarem em suas mãos o próprio
destino".
Com a instauração da
liberdade e da igualdade de direitos em Portugal, o número de muçulmanos começou
a aumentar, originários das antigas colónias, principalmente vindos da
Guiné-Bissau e de Moçambique que progressivamente abriram, cada vez em maior
número, em todo o país, Lugares de Culto Islâmico, servindo-se essencialmente de
habitações de famílias muçulmanas e de espaços diplomáticos, comerciais e de
lazer, cedidos gratuitamente ou arrendados provisoriamente.
Em
França e em quase todos os outros países da Europa, o Cristianismo parece estar
em queda. Mais de 88 % dos Franceses identificam-se como Católicos, mas apenas
cerca de 5 % frequentam a Igreja aos Domingos; 60 % dizem mesmo “nunca” ou
“praticamente nunca” vão. Mas o Islamismo é uma força em crescimento. Os 12 ou
15 milhões de Muçulmanos que vivem na Europa constituem apenas cerca de 5 % do
total da população, mas a vitalidade da sua fé levou a que alguns especialistas
previssem que o Islão será, um dia, a fé dominante no continente. O historiador
Bernard Lewis, da Universidade de Princeton, especialista americano em assuntos
do Médio Oriente, calcula que a Europa será Muçulmana no final deste século.
Neste novo
Milénio, o número de imigrantes, muçulmanos que desembarcaram em Portugal,
vindos dos cinco
Continentes,
como alternativa ao insucesso económico dos países de origem, aumentou
significativamente. Nesta sequência foi aprovada uma legislação, visando
consolidar linhas de uma política de imigração positiva e pro-activa em Portugal
- um porto de chegada e um porto de solidarriedade - na medida em que
projecções do Instituto Nacional de Estatística indicam que a população
Portuguesa está a diminuir e como essa tendência acentua-se de ano para ano, os
imigrantes parecem ser a única forma de manter os níveis de competitividade da
economia no quadro de uma política de fluxos regulados. Bruxelas argumenta que
nas previsões recentes sobre a evolução do mercado de trabalho espera-se que
entre 2010 e 2030 a população activa na UE vá sofrer uma quebra de 20 milhões de
trabalhadores e que a imigração não é, isoladamente, uma solução para o
envelhecimento da população mas fluxos de imigração podem-se revelar cada vez
mais necessários para atender às necessidades laborais da Europa e assegurar a
sua prosperidade. Portugal recebe aqueles que se pode responsavelmente acolher e
integrar, de modo a ter imigrantes que sejam também cidadãos, com direitos e
deveres, e isso tem-se conseguido com políticas de inclusão, que passam pelo
reconhecimento da situação legal dos estrangeiros em Portugal, pelo combate ao
tráfico, às redes de imigração clandestina e ao trabalho paralelo. Em matéria de
direitos e deveres fundamentais dos cidadãos a Constituição de 1976 veio
consignar que ninguém pode ser privilegiado ou prejudicado em função das suas
convicções religiosas (artigo 13.º); que a «liberdade de consciência, de
religião e culto é inviolável» (artigo 41.º); e que as «igrejas e comunidades
religiosas estão separadas do Estado e são livres na sua organização e no
exercício das suas funções e do culto». O mesmo artigo garante ainda a liberdade
de ensino de qualquer religião, assim como a de utilizar meios de comunicação
social próprios. O artigo 43.º dispõe mesmo ser o ensino público não
confessional e, na mesma linha, o artigo 47.º, relativo ao foro partidário,
proíbe aos partidos o uso de denominações contendo expressões alusivas a
qualquer religião ou igreja.
Por deliberação Camarária
de 26 de Setembro de 1977, presidida pelo Eng.º Aquilino Ribeiro Machado, foi
aprovada a proposta de cedência, à Comunidade Islâmica de Lisboa, de uma parcela
de terreno, para a construção de uma mesquita e instalações culturais
complementares. Em 22 de Junho de 1979, com um número crescente de cidadãos
muçulmanos, portugueses e estrangeiros, residentes em Lisboa ou em trânsito,
começou a funcionar um Local de Culto Islâmico, Mesquita, em instalações
provisórias, o rés-do-chão do prédio n.º 15 da travessa do Abarracamento de
Peniche (ao Príncipe Real), até estar construída a Mesquita de Lisboa, graças ao
gesto do Prof. Carlos da Mota Pinto, Primeiro-Ministro de Portugal, com base no
despacho, de 11 de Junho de 1979, publicado no Diário da República (II Série,
n.º 154), que considerava "ser razoável proporcionar a concretização efectiva da
liberdade de culto e assegurar um tratamento equitativo das religiões
professadas pelos portugueses, como meio adequado ao pleno desenvolvimento das
suas personalidades". No dia 17 de Novembro de 1979 foi lançada a primeira pedra
para a construção da Mesquita de Lisboa. No dia 29 de Março de 1985 (27 de Rajab
de 1405), após um esforço contínuo e apoio de alguns países Islâmicos (Arábia
Saudita, Kuweit, Emirados Árabes Unidos, Líbia, Jordánia, Egipto, Irão,
Sultanato de Omã, Paquistão e Libano) e de muitos muçulmanos e não muçulmanos,
destacando-se os apoios dos Presidentes da Câmara Municipal de Lisboa, Eng.º
Aquilino Ribeiro Machado e Eng.º Kruz Abecassis, a Mesquita de Lisboa foi
inaugurada na presença de altas personalidades nacionais e do Centro Islâmico
de Portugal (Instituição criada em 1978, por todos os Chefes das Missões
Diplomáticas dos Países Islâmicos acreditados em Portugal, com o objectivo único
de conseguir apoios junto dos respectivos Governos para a construção da primeira
Mesquita em Portugal, depois de sete Séculos). Entretanto, a primeira Mesquita a
ser inaugurada, foi a Mesquita do Laranjeiro (Comunidade Islâmica do Sul do
Tejo) em 1982, seguida, um ano depois, pela pequena mas impressionante Mesquita
Aicha Siddika, em Odivelas. Em 1991 inaugurou-se a Mesquita de Coimbra, no
Bairro de Santa Apolónia, seguidas de outras inaugurações, Mesquitas provisórias
e Locais de Culto, no país. Em 1992, três talhos islâmicos no distrito da Grande
Lisboa começaram a oferecer carne Halal (carne abatida segundo os procedimentos
da Religião Islâmica) localizados em Alvalade, Odivelas e Laranjeiro. A partir
de Fevereiro de 1986, começaram a fazer-se obras de acabamento e melhoramentos
na grande
Mesquita Central de Lisboa (Comunidade
Islâmica de Lisboa) englobando os sectores, religioso, cultural e social. A
Câmara Municipal de Lisboa, presidida pelo Dr. João Soares, atribuiu o nome de
Rua da Mesquita, à rua que passa em frente da Mesquita de Lisboa, no dia 22 de
Junho de 2001 (1 de Rabi-ul-Thani de 1422), na presença de Sua Alteza Real o
Príncipe Salman Ben Abdelaziz. "Esta atribuição evoca um período da história de
Portugal e mais particularmente de Lisboa, bem como, o legado que a presença
muçulmana deixou em Lisboa e igualmente o respeito e a tolerância entre todos os
povos". Neste dia foi também promulgada a
Lei da Liberdade Religiosa - Lei
16/2001, de 22 de Junho, pelo Presidente da República, Dr. Jorge Sampaio.
O Porto, cidade da
ciência, cidade de negócios e do trabalho, universalista e muito
influenciada pelas diferentes comunidades que há séculos nela se radicaram, está em acentuado processo de mudança e os mecanismos de modernização e
de reajustamento das estruturas económicas, têm ditado nas últimas décadas uma
série de mudanças demográficas, sociais e culturais.
À cidade do Porto, no
Século XII, foi doada ao Bispo D.Hugo, que lhe concedeu o primeiro foral, carta
de lei que regulava a administração de uma localidade ou lhe concedia
privilégios. O prelado, volvidos três anos, dá a carta de foral aos moradores. O
foral era bastante generoso, o que contribuiu para o rápido desenvolvimento do
território. As muralhas foram rapidamente extravazadas em todas as direcções. Em
meados do século XIV, tornou-se premente construir uma nova muralha no Porto, de
modo a proteger a cidade em pleno crescimento de todas as arremetidas inimigas.
Em 24 de Agosto de 1820, deu-se a Revolução Liberal no Porto (Monarquia
Constitucional). Em 1834, ao brasão foi introduzido uma inscrição
"Antiga, Mui Nobre sempre Leal e Invicta cidade do
Porto" título honorífico atribuído no Século XIX pelo Rei D. Pedro IV, quando os
portuenses se bateram pela defesa da cidade e contra o cerco militar
absolutista. Marcado pela industrialização e
pelas lutas a favor da liberdade, o Século XIX culminou com a primeira tentativa
de instaurar a República em Portugal, pela revolta gorada de 31 de Janeiro de
1891. O Século XX caracterizou-se por um novo surto construtivo e pela
planificação das infra-estruturas necessárias ao crescimento urbano. Entre 1900
e 1940 a cidade crescia a grande ritmo. A população aumentava e com ela os
fluxos de mobilidade entre a cidade e as periferias. A rede de carros
eléctricos, surgidos em 12 de Setembro de 1895, em substituição do primeiro
serviço de carros americanos (carros puxados por duas ou mais parelhas de mulas
que se deslocavam sobre carris, surgidos em 1872), acompanhavam o crescimento
urbano do centro para a periferia e tornavam-se indispensável ao seu
desenvolvimento. Com o final da 2ª. Guerra Mundial, intensificou-se o tráfego de
pessoas e bens, surgindo em 1959 o trolley-carro, menos poluente, que iria
servir as populações dos arredores da cidade. Com o fim da ditadura, em 1974, o
carro eléctrico perdeu a sua importância, apesar de terem sido eles que em menos
de um século ajudaram a transformar a cidade, ligando o centro com as periferias
e abrindo novos caminhos e eixos de circulação, para as pessoas do grande Porto
que tem como características a sinceridade e a espontaneidade. Em Setembro de
1989 foi apresentado, o estudo «Transporte Colectivo em Sítio Próprio» (TCSP), o
primeiro documento que propôs o metro ligeiro como solução para os problemas de
mobilidade na Área Metropolitana do Porto e, tendo sabido preservar e
requalificar o primitivo centro histórico, o
Porto viu este, em 1996, ser reconhecido pela Unesco como Património
Cultural da Humanidade.
A cidade do Porto que em
parceria com Roterdão (Holanda) foi eleita Capital Europeia da Cultura viu em
2001 inaugurar a Mesquita Hazrat Bilal r.a., Mesquita Central do Porto, próximo
da estação de Campanhã, no dia 25 de Maio de 2001 (26 de
Safar de 1421), situada na rua do Heroísmo n.º 223. A Mesquita, Lugar de Culto
Islâmico, é administrada pelo Centro Cultural Islâmico do Porto, associação de
carácter religioso e cultural, criado (13 anos depois dos primeiros
muçulmanos se terem organizado, iniciando a prática concentrada das orações em 1986,
servindo-se de habitações de famílias e de espaços
comerciais e de lazer, cedidos gratuitamente ou arrendados provisoriamente)
por escritura pública de 7 de Janeiro de 1999 e autorizada por despacho do
Ministro da Justiça de 22 de Março de 1999 - registo n.º 492, tendo como
objectivos:
Promover e sustentar o
culto religioso islâmico (com conhecimento, amizade, espírito aberto, sem
qualquer sectarismo).
Defender a observância por
parte dos seus associados dos princípios relativos à Religião Islâmica,
solicitando as entidades oficiais o auxílio e a protecção que forem necessários
para a prática regular dos actos do culto respectivo.
Estudar as necessidades de
carácter religioso das populações islâmicas e os meios de as satisfazer.
Promover e incentivar a
solidariedade, a cooperação e a aproximação com adeptos das outras religiões.
Pronunciar-se sobre todas
as questões de âmbito cultural e religioso que afectem directa ou indirectamente
os direitos ou interesses legítimos dos seus associados.
Promover os actos do culto
islâmico com a conveniente dignidade, devendo sempre que possível efectuar
reuniões, exposições, conferências, excursões, visitas de estudo, publicações,
etc.
Em 2005, a cidade do
Porto viu inaugurar a sua segunda mesquita, Mesquita Hazrat Hamza r.a.,
Mesquita da Batalha, na travessa do Loureiro n.º 19, por trás da estação de São Bento.
Em 2007, abriu o primeiro
talho islâmico na cidade do Porto,
situado
na Batalha.
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Izidine * |
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* Página duáh, dedicada a minha família, pais e irmãos