PROJECTO
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PROJECTO PARA UMA DIFERENTE GESTÃO HORÁRIA DO PROGRAMA DE LÍNGUA PORTUGUESA DO 3º CICLO DO ENSINO BÁSICO
 
O PRINCÍPIO DO SUCESSO?
 
GÉNESE
Não é  novidade para ninguém, minimamente atento à educação dos nossos jovens, que algo de mal se passa no ensino-aprendizagem da Língua Portuguesa. Os pais alfabetizados verificam que os seus filhos, às vezes com o 9º ano, lêem e escrevem pior do que eles que têm uma menor frequência da Escola; os professores lamentam, frequentemente, o estado lastimoso, por vezes anedótico, da escrita dos seus alunos; o próprio Ministério da Educação considera que o trabalho a realizar para obter sucesso real no ensino-aprendizagem da Língua Portuguesa deve ser uma prioridade de todos.
Nós, professores de Língua Materna já há alguns anos, fomos percebendo, com o andar do tempo, que a «culpa» da situação não está só nos docentes que não ensinam ou nos alunos que não estudam. Diversos factores contribuem para o actual estado das coisas.
Após inúmeras tentativas a fim de encontrar algumas respostas para as nossas dúvidas e uma ou outra solução para o problema, chegámos à seguinte ideia:
- Seria possível treinar de uma forma mais individualizada o oral, a leitura e a escrita, sobretudo o aperfeiçoamento da escrita, que é o domínio que exige mais tempo de reflexão, de autocorrecção e de assimilação das regras, por parte de cada aluno e distribuir as quatro horas semanais dos alunos, de forma a permitir a divisão das turmas em turnos?
OBJECTIVOS
Os objectivos que delineámos partiram do pressuposto de que havia um insucesso real no ensino-aprendizagem da Língua Portuguesa do Ensino Básico - apesar de, desde a implementação da Reforma do Sistema Educativo, estarmos a trabalhar a partir de um excelente corpus programático.
Na prática, porém, continuava a ser inviável operacionalizar as múltiplas estratégias para que o Programa apelava. Isto porque as turmas de 7º, 8º e 9º anos nunca tinham menos de vinte e cinco alunos, os quais não possuíam hábitos de trabalho autónomo e as dificuldades, sobretudo a nível da expressão escrita, continuavam aparentemente intransponíveis.
Assim, traçámos, entre outros, os seguintes objectivos para este projecto:
Fomentar o sucesso real em Língua Portuguesa
Desenvolver a competência comunicativa do aluno - oralidade, leitura e escrita
Permitir a exequibilidade das metodologias activas diferenciadas propostas pelo Programa
Criar situações de ensino mais individualizado.
 
ESTRATÉGIA GLOBAL/ METODOLOGIAS
 
Estávamos bem conscientes de que o problema fulcral residia num ensino mais individualizado. Acreditávamos que só se aprende a ler, lendo e só se aprende a escrever, escrevendo. Portanto, havia que tornar isso possível na sala de aula - e de forma não pontual - tanto mais que uma franja considerável de alunos provém de meios sociais desfavorecidos, em que não há qualquer estímulo ao desenvolvimento das competências da leitura e da escrita.
Por isso, a estratégia global para a exequibilidade do projecto passou pela alteração da distribuição da carga horária dos alunos e professores. Cada turma foi dividida em dois turnos e havia duas horas de aula consecutivas para cada um desses turnos; as outras duas horas eram ministradas ao conjunto da turma. Assim, os alunos não viram aumentada a sua carga horária (que permaneceu com quatro horas), ao passo que a dos professores aumentou para seis horas.
De realçar também a pronta aceitação que esta estratégia teve por parte dos órgãos de gestão da escola, que a entenderam como uma alternativa às aulas de APA. As horas que os professores tinham acrescidas no seu horário foram retiradas a essa bolsa de horas de apoio.
Com esta abertura, foi possível trabalharmos duas horas por semana com grupos de doze a catorze alunos. Além disso, conseguimos que as aulas se concentrassem numa sala de Português que foi apetrechada para o efeito - com equipamento audiovisual, armários para bibliotecas de turma, dicionários e gramáticas.
Procurámos desenvolver nestas duas horas semanais (consecutivas) todos os aspectos do Programa que apontavam para estratégias mais individualizadas, a saber:
No domínio OUVIR/ FALAR - a exposição oral individual, com pontos de partida diferentes em cada um dos períodos: relato de experiências/ vivências (1º), apresentação de livros (2º), apresentação de notícias de âmbito internacional (3º).
No domínio LER - foi implementada uma biblioteca de turma (com livros, contos, artigos de jornais/ revistas, publicidade, banda-desenhada...), a nível da leitura recreativa. A propósito da leitura para informação e estudo, os alunos puderam trabalhar com dicionários e gramáticas com alguma frequência dentro da sala de aula e realizaram trabalhos orientados na biblioteca da escola, pesquisando em suportes bibliográficos e interactivos.
No domínio ESCREVER, as aulas de duas horas em turno ajudaram, sobretudo, a nível do item aperfeiçoamento de texto. Experimentaram-se modalidades como a correcção colectiva no quadro de textos previamente criados pelos alunos; o aperfeiçoamento individual e autónomo, na aula, com utilização de dicionários e gramáticas.
Interessante foi também toda a implicação que se conseguiu dos alunos. Durante praticamente o primeiro mês de aulas, todo este processo de trabalho foi apresentado e negociado com eles. Criou-se um mapa anual de tarefas e cada aluno fez o seu plano individual de trabalho. Assim, rotativamente, cada um se inscreveu nas seguintes actividades: exposição individual («tempo de antena»); dinamização da biblioteca de turma (bibliotecários, tesoureiros, responsáveis pela organização e actualização de dossiers); visita a uma livraria (para adquirir livros com os fundos angariados); redacção de sumários no quadro; recolha e organização de textos livres; comissões de «críticos» desses textos; supervisão da arrumação da sala de aula.
A maior parte destas actividades teve uma calendarização mensal, outras trimestral.2
Depois de os alunos se terem proposto de livre vontade para estas tarefas, chegou-se à redacção final do contrato/compromisso de trabalho.
Concluindo, todas estas metodologias activas permitiram uma forte motivação dos alunos, uma implicação muito maior no processo de ensino-aprendizagem e uma responsabilização notória. A aula de Língua Portuguesa foi, sem dúvida, uma aula viva, rica de actividades, altamente participada. Os alunos referiam muitas vezes que as aulas de duas horas «passavam muito depressa»...
Caminharam no sentido da autonomia, numa atitude verdadeiramente activa, experimentando eles próprios processos normalmente tidos como do domínio exclusivo do professor. Por exemplo, puderam ler os textos livres criados pelos colegas e apreciá-los, corrigindo-os e classificando-os. Claro que, a posteriori, o professor reavaliava todo o trabalho (do aluno-autor e do aluno-crítico), mas isto foi muito importante para o seu crescimento. Criticar os outros ajudou a ver os próprios erros.
Outra actividade em que se revelaram bons críticos, num processo de hetero-avaliação, foi a apreciação das exposições orais dos colegas.
A vertente lúdica - se bem que insuficientemente explorada - foi considerada indispensável quando se trabalha com alunos desta faixa etária;  aprenderam a brincar, por exemplo, com  alguns aspectos do funcionamento da língua, como aconteceu com um concurso de verbos.
Todo o trabalho foi realizado tendo por base uma concepção do ensino-aprendizagem do Português como experimentação em laboratório de língua viva.
Através deste leque variado de metodologias (com que combinámos, obviamente, as mais tradicionais) pensamos ter despertado múltiplas potencialidades, tendo, assim, mais hipóteses de atingir todos (ou quase todos) os alunos: os que gostam mais de falar ou os que se exprimem melhor por escrito, os mais objectivos ou os mais criativos, os que lêem muito ou os que têm relutância na leitura, os que têm vocação de actores ou os que preferem ser espectadores, os que trabalham melhor sozinhos ou os que têm facilidade em partilhar, os mais solícitos ou os mais «reservados»...
 
 
 
AVALIAÇÃO ( ver grelha )
Este foi um dos pontos nevrálgicos do sucesso sentido - até ao momento - pelas docentes que experimentaram, ao longo do ano lectivo de 1997/ 98 o novo esquema de ensino da disciplina de Língua Portuguesa no 7º ano de escolaridade.
Houve um especial cuidado em contemplar decisiva e definitivamente os três domínios-base do Programa - OUVIR/ FALAR
( ver guião), LER( ver lista ) e ESCREVER( ver grelha) - assim como o item ATITUDES E VALORES, aspectos que foram alvo de um trabalho aturado, ao nível da criação e aplicação de instrumentos de avaliação que permitissem alcançar um teor de objectividade o mais rigoroso possível.
Os tipos de avaliação foram os clássicos: diagnóstica, formativa e sumativa - tendo-se atribuído uma percentagem diversa a cada um dos domínios, a citar:
OUVIR/ FALAR               - 20%
LER                                   - 30%
ESCREVER                      - 40%
ATITUDES E VALORES -10%
Quanto aos instrumentos de avaliação utilizados, citaremos apenas aqueles que nos pareceram conter alguma inovação, pelo facto de permitirem o constante empenhamento, a necessidade de organização do trabalho individual sentida dos alunos e, evidentemente, o rigor e objectividade tão almejados pelos docentes de Língua Portuguesa.
Ao nível do OUVIR/ FALAR, criaram-se grelhas de observação de exposições orais individuais, previamente marcadas no mapa de tarefas afixado na sala de aula e no plano de trabalho de cada aluno e testes de compreensão de enunciados orais (gravados em audio e vídeo).
Ao nível do LER, utilizámos fichas sobre a localização da informação em fontes diversas - dicionários, gramáticas e outras, assim como fichas de leitura recreativa de modelos diversificados.
Ao nível do ESCREVER, a inovação consistiu na elaboração de: fichas autocorrectivas/ testes sobre modelos de escrita; grelhas de hetero-avaliação da escrita (comissões de críticos de textos livres); fichas de controlo do aperfeiçoamento individual de textos, tendo por base um código de correcção identificador da tipologia do erro, o que obrigava o aluno a pesquisar no sentido de se autocorrigir.
Ao nível das ATITUDES E VALORES, foram experimentadas grelhas de observação o mais sistemática possível, partindo dos seguintes parâmetros: assiduidade, pontualidade (na entrada na sala de aula e no cumprimento de prazos), organização do caderno diário, realização de trabalhos de casa, oportunidade nas intervenções orais, convivência (com colegas e professora) e autonomia (cumprimento do plano individual de trabalho).
CONCLUSÕES
Este projecto foi iniciado no 7º ano de escolaridade com o propósito de ser continuado até ao final do 3º ciclo, o que só nos permitirá chegar a conclusões mais consistentes daqui a dois anos.
Entretanto, para já, consideramos que houve três premissas determinantes para o ainda relativo sucesso da experiência: a existência de turnos em duas horas consecutivas, as metodologias activas e o processo de avaliação.
Nos alunos, verificámos, entre outros resultados positivos, uma evolução significativa da atitude face ao trabalho na disciplina de Língua Portuguesa. Possuem, agora, uma maior consciência da necessidade de organização pessoal e da importância do aperfeiçoamento constante ao nível das tarefas a executar. Desenvolveram, também, hábitos de trabalho autónomo.
Nós, professoras, funcionámos quase sempre em grupo, pesquisámos, adaptámos  e criámos materiais necessários à operacionalização de objectivos, quer ao nível dos domínios da Língua, quer ao nível da avaliação. Enfim, trabalhámos sob forte motivação.
Será esta a receita milagrosa para solucionar os nossos problemas do ensino/ aprendizagem da Língua Portuguesa?
Temos consciência de que ainda há muito caminho a percorrer. Pensamos, no entanto, que algo de bom aconteceu que merece ser analisado e corrigido ou continuado.
Vivemos perplexidades, angústias, alegrias e tristezas, mas, sobretudo, queremos continuar uma experiência que parece repleta de virtualidades positivas.
Não esquecemos as dificuldades, as lacunas, as frustrações; é isso que vai permitir que aperfeiçoemos a nossa prática lectiva e sejamos melhores professores.
 Para o efeito, contamos também com sugestões de outros professores que se interessem por estas matérias e no-las queiram fazer chegar para o seguinte endereço:
 
Escola Secundária Dr Manuel   Laranjeira
Anta
4500 Espinho
tel. 7330833
Internet: www.nca.pt/laranjeira
Professores envolvidos - Cristina Marques
                                   Eneida Felizes
                                   Hermínia Lima
 
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