ATUALIDADES
E ELES SÃO CHAMADOS DE TERRORISTAS
O "êxodo" dos palestinos aconteceu no curso de várias décadas, sem qualquer previsão de que vá terminar.
Por Ramzy Baroud
Desde que o povo palestino há muitos anos atrás embarcou nessa jornada manchada de sangue, foram estabelecidos paralelos, comparando a dor que Israel impõe aos palestinos com as práticas da Alemanha Nazista, na primeira metade do século XX, práticas essas que mataram milhões de pessoas. Houve assassinatos, limpeza étnica, destruição em massa, e declaração em cima de declaração, por conhecidos sionistas e funcionários de estado israelenses, uma descrevendo os palestinos como "animais de duas pernas", uma outra comparando-os a "baratas", uma terceira negando a eles sequer o direito de existirem, e muitas outras pedindo sua extinção.
O "êxodo" dos palestinos aconteceu no curso de várias décadas, sem qualquer previsão de que vá terminar.
Em 1948, quase 1 milhão de palestinos foram forçados a fugir de suas casas ou dos escombros delas. Atrás das colunas das massas em fuga, ficaram milhares que foram assassinados, mulheres, crianças, ativistas que lutaram até o fim, com os meios de que dispunham, e 418 aldeias foram queimadas completamente.
Eles foram massacrados e os sobreviventes expulsos, só porque eram "árabes" e porque esta mesma classificação tornava-os um obstáculo diante de uma nação invasora, bandos de estrangeiros de várias origens e línguas diferentes.
Os campos de refugiados então se tornaram uma marca tão distinta para o povo palestino que milhões deles não são só refugiados, mas os mais antigos refugiados de nosso tempo.
Então, alguns temiam estabelecer o paralelo: os judeus estão expondo os palestinos ao mesmo destino que eles e outros grupos étnicos suportaram sob domínio nazista durante a guerra.
Os campos de refugiados palestinos, um lar de sofrimento incompreensível, tornou-se o lar da resistência; geração após outra lutou uma guerra amarga com os invasores, uma guerra que se mostrou penosa para os refugiados, os palestinos que sempre combatiam com poucos recursos e coragem superior.
Toda revolução tem seus próprios guerreiros da liberdade, e os palestinos não são diferentes. Mas eles foram chamados de terroristas; aqueles que muitas vezes combatem seus ocupantes, sempre são chamados de terroristas.
Mas, é o ocupante quem dá o tom, e, assim, os palestinos se tornaram terroristas, enquanto seus molestadores, muitas vezes foram poupados da culpa e responsabilidade.
Durante anos, o povo palestino rejeitou todas as tentativas de "paz" que foram criadas para privá-los da verdadeira paz, de sua condição humana.
Eles estavam, e continuam, convencidos de que a paz é justiça, e não um general do exército israelense com uma lista de exigências que devem ser implementadas ou qualquer coisa assim.
Eles acreditam na legislação internacional; eles mencionam o direito de retorno e uma longa lista de resoluções da ONU e outras disposições previstas na Convenção de Genebra; eles pedem que, aqueles que defendem os direitos humanos, se lembrem de que os palestinos também são humanos, embora pareça que o mundo tenha se esquecido disto.
Os palestinos têm demonstrado uma tenacidade inimaginável porque se recusam a desaparecer, quando Israel faz de tudo para apagá-los; eles lutam com pedras e estilingues; secretamente, costuram bandeiras e corajosamente as carregam em suas demonstrações; eles ensinam às suas crianças a Palestina, apesar dos toques-de-recolher e bloqueios; eles têm um sonho que se recusa a desaparecer.
No entanto, quando eles rejeitaram a injustiça e a pressão crescente e se comprometerem com o que foi deixado em casa, foram rotulados de "radicais", "extremistas" e "inimigos da paz".
O sofrimento do povo palestino se estendeu por anos; muitos deles ficaram restritos a vidas que nada mais são do que o drama entre refugiados oprimidos e soldados cruéis, eles viveram toda a vida em "abrigos temporários", em campos de refugiados em ruínas; nunca vão à praia depois das 18 hs. porque os soldados reivindicam o mar todas as noites; eles receiam olhar pelas janelas durante os toques-de-recolher, porque os soldados atiram para matar os refugiados curiosos. E, enquanto os anos se passaram, os refugiados viram, em agonia, como os assentamentos judaicos se expandiram, seguindo-os por todo o caminho de seus campos de refugiados, roubando suas terras e água, e enjaulando-os para sempre.
Mas, quando eles resistiram, foram chamados de terroristas; e quando começaram a Intifada, eles se fecharam nela; e quando reagiram, foram "caçados" e mortos; e quando protestaram, seus inimigos tatuaram números em seus braços, arrastando-os para campos de concentração, nus, olhos vendados e esfomeados.
Enquanto os israelenses se gabavam: "uma solução militar é possível", as casas palestinas eram arrasadas, enterrando-os vivos em Jenin e Balata; e, enquanto os israelenses exclamavam: "somos a única democracia no Oriente Médio", os palestinos eram assassinados, torturados até a morte, em Ramallah e Gaza; enquanto o governo americano se apressava em enviar ajuda para confortar os israelenses e sanar a desgraça econômica, os palestinos imploravam ao mundo que os ajudasse a enterrar os corpos decompostos de seus filhos e filhas, em toda a Cisjordânia.
Os palestinos corriam, enquanto as câmeras de TV do apático mundo observava de uma casa destruída a outra; de um cadáver a outro, catando os restos de seus entes queridos e procurando sob os escombros os desaparecidos; não houve justiça a procurar, ninguém a quem implorar; a "comunidade internacional" provou ser uma miragem, a legislação internacional nada mais é do que tinta no papel. A vítima se explodiu e a mídia ocidental ostentou, mais uma vez: "terroristas", "radicais", "extremistas", "militantes", "inimigos da paz" e outras coisas mais.
Os líderes do "mundo livre" prometeram combater os terroristas e extirpá-los dos campos de refugiados; quando Israel assassinou o pai de uma criança, que tinha sido morta pelo exército israelense, ou o irmão de um homem que sangrou até a morte, a mídia contemplou: "morte seletiva de militantes palestinos".
Os palestinos continuam a entoar: "sem justiça, sem paz". E, são muito poucos os que ouvem este clamor.
Os palestinos continuam a traçar paralelos entre os sionistas e os nazistas. Mas muitos consideram a possibilidade de "anti-semitismo" nesse paralelo.
Muitos palestinos foram deixados sem casa, sem escola, sem trabalho, sem família, sem direitos, sob os toques de recolher, caçados por Apaches que pairam sobre eles, cheios até a boca com mísseis, e uma longa lista de "militantes procurados" para serem assassinados.
Aos palestinos não restou mais nada a perder, nada, senão
o sonho de voltar para casa, um sonho que não pode se apagar.
http://www.arabia.com/news/article/english/0,11827,249083,00.html
Ramzy Baroud é editor-chefe do Palestine
Chronicle.