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MIL FALLUJAHS Por Pepe Escobar As bombas que estão sendo lançadas sobre
Fallujah não têm explosivos, urânio reduzido ou qualquer outra coisa
prejudicial - elas contêm gás hilariante - o que explicaria, é claro, o
otimismo mal colocado de Rumsfeld (o chefe do Pentágono) sobre não haver
morte de civis em Fallujah. Também, ser "civil" é uma coisa relativa em um
país ocupado por americanos. Você só é civil se estiver do lado deles. Se
você traduzir para eles, se lhes servir comida na Zona Verde, ou varrer o
chão - você é um civil inocente. Qualquer outro é considerado um insurgente
a menos que consiga um trabalho como "civil". Riverbend, uma iraquiana
civil, autora do Blog Baghdad Burning Os moradores de Bagdá dizem que não há praticamente soldados em torno, mesmo que explosões regulares possam ser ouvidas na cidade. Fontes de Bagdá confirmaram ao Asia Times Online que os mujahidin agora controlam partes do subúrbio sul de ad-Durha, assim como Hur Rajab, Abu Ghraib, al-Abidi, as-Suwayrah, Salman Bak, Latifiyah e Yusufiyah - todas na região da grande Bagdá. Esta foi a primeira vez, desde a queda de Bagdá, em abril de 2003, que a resistência foi capaz de controlar essa área. O poderio militar dos Estados Unidos não tem utilidade contra uma rede de mesquitas a todo vapor. Em uma ação maior que não foi relatada pela corporativa mídia americana, pela primeira vez as diferentes facções da resistência iraquiana divulgaram uma declaração conjunta, assinada, dentre outros, por Ansar as-Sunnah, al-Jaysh al-Islami, al-Jaysh as-Siri (conhecido como Exército Secreto), ar-Rayat as-Sawda (conhecido como Bandeiras Negras), os Leões dos Dois Rios, as Brigadas Abu Baqr as-Siddiq, e decisivamente o al-Tawhid wal-Jihad (Unicidade e Guerra Santa)- o movimento supostamente controlado por Abu Musab al-Zarqawi. A declaração está sendo retransmitida para o triângulo sunita através da rede de mesquitas. A mensagem é clara: a resistência está unida. A mobilidade dos mujahidin Civis de Fallujah disseram a familiares e amigos em Bagdá que o bombardeio americano foi pior do que o sofrido por Bagdá, em março de 2003. A resistência em Fallujah, por seu turno, parece ter
tomado a decisão tática crucial de limar duas estradas principais - Nisan 7
e Tharthar Street - atraindo, assim, os americanos para uma batalha no
centro da cidade. Fontes de Bagdá, próximas à resistência, dizem que, agora,
os americanos parecem estar posicionados exatamente onde os mujahidin
queriam que estivessem. Isto leva a resistência a insistir que eles - e não
os americanos, como pretende o Pentágono - controlam 70% da cidade.
As fronteiras do Iraque com a Síria e a Jordânia, todas as estradas com exceção de um caminho secundário que leva às fronteiras, mas o aeroporto de Bagdá, tudo permanece fechado. Em tese, Bagdá tornou-se uma ilha lacrada fora do triângulo sunita - mas não para a resistência que continua escorregando no lado de dentro. Centenas de iraquianos estão amontoados na fronteira síria tentando voltar para casa. Riverbend, a iraquiana mencionada acima, escreve sobre "rumores de que existem, atualmente, 100 carros prontos para serem detonados em Mosul, sendo dirigidos por suicidas procurando por comboios americanos. Portanto, o que acontecerá quando Mosul se transformar em outra Fallujah? Irão eles transformá-la em ruínas também? Ouvi falar de um relatório que citava que Zarqawi 'provavelmente fugiu de Fallujah' ... assim, onde ele está agora? Em Mosul? Ele bem que pode estar em Ramadi, onde centenas de mujahidin armados até os dentes controlam o centro da cidade - sem um único soldado americano à vista.
O Pentágono está tirando todas as paradas para "libertar a população de Fallujah. Segundo os moradores, a cidade agora está coberta de lixo com milhares de bombas. Numa acusação explosiva - e não confirmada - um médico iraquiano que exigiu que seu nome não fosse revelado, contou ao jornal al-Quds que "os soldados americanos estão usando gás contra os combatentes da resistência e enfrentando-os com armas químicas proibidas internacionalmente." O Washington Post confirmou que soldados dos Estados Unidos estão lançando fósforo branco que criam um quadro de fogo impermeável à água. O dr. Mohammad Ismail, um membro do conselho gestor do hospital geral de Fallujah "capturado" pelos americanos como resultado da Operação Fúria Fantasma, fez um pedido de ajuda urgente a todos os médicos iraquianos. Ismail disse às imprensas árabe e iraquiana que o número de feridos civis está aumentando exponencialmente - e os suprimentos médicos quase não existem. Ele confirmou que os soldados americanos tinham prendido vários membros da equipe médica do hospital e que tinham lacrado o almoxarifado com os suprimentos médicos. Os feridos de Fallujah são, na verdade, largados para morrer. Não há um único cirurgião na cidade. E praticamente médicos também, porque o Pentágono decidiu bombardear o Hospital al-Hadar e o Hospital Zayid Mobile. Até agora, o Comitê Internacional da Cruz Vermelha reagiu com uma estrondosa apatia.
Quando um punhado de atiradores consegue manter recordes de fuzileiros por dia em Fallujah - num replay da segunda parte do Full Metal Jacket, de Stanley Kubrick - e quando 8 entre 10 divisões americanas estão colocadas em um atoleiro por uns poucos iraquianos armados com kalashnikovs e lançadores de granadas, o fato é que os Estados Unidos não controlam nada no Iraque sunita. Não controlam vilas, cidades, estradas e mal e mal controlam a Zona Verde, a fortaleza americana em Bagdá, que é o símbolo máximo da ocupação. Em 1999, os russos bombardearam e destruíram Grozny, a capital chechena, uma cidade com 400.000 habitantes.Cinco anos mais tarde, as guerrilhas chechenas ainda armam emboscadas para os soldados russos, em um verdadeiro inferno. O mesmo cenário será exibido em Fallujah - uma cidade com, originalmente, 300.000 habitantes. Toda esta destruição - que qualquer advogado especialista em direito internacional pode qualificar como um crime de guerra - para o governo Bush enviar uma mensagem brutal: ou vocês estão conosco ou nós os reduziremos a pó. A resistência iraquiana não se importa
se milhares de mujahidin forem reduzidos a pó: na verdade, trata-se
de uma estratégia para uma vitória estratégica maior. A estratégia tem duas
partes: metade da resistência de Fallujah ficou para trás, pronta para
morrer como mártires, aumentando o já efervescente ódio pelos americanos no
Iraque e no Oriente Médio e incentivando o apoio urbano. A outra metade
deixada diante do Fúria Fantasma e já incendeia Bagdá, Tikrit, Ramadi,
Baquba, Balad, Kirkuk, Mosul e até a xiíta Kerbala. A resistência iraquiana se configura
atualmente como estando em plena revolução.Segundo fontes em Bagdá, os
líderes da resistência acreditam que não há outra saída para eles que não
seja expulsar os invasores americanos e, em seguida, restabelecer o poder,
principalmente porque se as eleições acontecerem em janeiro, os xiítas por
certo vencerão. Contemplando os cachorros da guerra civil latindo à
distância, não surpreende que o jornal Al-Zaman, de Bagdá, seja tão
sombrio: "O Iraque continuará um vulcão adormecido, mesmo que o estado de
emergência seja estendido para sempre. |