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ATUALIDADES

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ISLAM X OCIDENTE NO SÉCULO XXI

Ghulam Sarwar

É uma verdade axiomática que, para se alcançar o progresso, seja no campo intelectual ou material, é preciso que tenhamos em mente as perspectivas futuras de nossos ganhos e perdas. Senão conseguirmos, nosso empreendimento será apenas um salto no escuro. Também é igualmente importante para nós, mergulharmos fundo no passado e avaliar nossos sucessos e fracassos. Fazendo isso, não quero dizer que ruminemos o passado da "idade de ouro" e entreguemo-nos ao sonho. Devemos olhar para o passado apenas para aprendermos com ele.

Não obstante nossas tradições gloriosas, a atual situação é triste. O mundo muçulmano hoje apresenta um triste espetáculo de torpor e indolência. Não usufrui do respeito do concerto das nações porque denuncia traços de atraso e ignorância. Houve um tempo em que o império muçulmano floresceu desde as praias do Atlântico no Marrocos até ao arquipélago da Indonésia. Ainda que os estados muçulmanos tenham melhorado consideravelmente, é por demais lamentável que os estados muçulmanos estejam discutindo sobre questões menores e dissipando suas energias com assuntos banais. Estórias de seu passado de glórias agora enfeitam os livros. Seus vestígios são vistos em alguma parte no chão. Tomemos como exemplo o caso do Iraque. Houve um tempo em que Bagdá era vista como o centro intelectual do mundo, mas agora o curador da "Nova Ordem Mundial" a transformou num projeto de cidade. Houve um tempo em que os intelectuais muçulmanos eram os verdadeiros líderes mundiais nas ciências, mas agora eles são considerados como não entidades. Eles foram usurpados de sua glória por causa de sua ignorância.

Apanhados em meio a essas nuvens escuras, podemos, no entanto, ver uma linha prateada no horizonte. Apesar dos perigos e vicissitudes que o Islam enfrentou durante séculos, é motivo de grande satisfação que as suas mensagens espirituais ainda permaneçam intactas. São o reflexo ainda da capacidade de regeneração do espírito e da vitalidade de seus adeptos em todos os campos da vida.

Aqui, uma palavra de cautela de nossos companheiros muçulmanos. Eles precisam perceber que enquanto contemplam o futuro do Islam, não podem ignorar os esforços das influências externas sobre nosso corpo político. Como todos sabemos, a idade moderna precipitou uma onda de secularismo e de novos critérios, e expõe uma civilização moderna dominante. Vista por esta perspectiva, o mundo muçulmano não pode escapar da influência, mesmo que quisesse. Lamentavelmente, os países muçulmanos, também, estão sendo influenciados por essa onda atual de secularismo, principalmente como uma reação a forças de intolerância e obscurantismo que se têm oposto à explicação científica do fenômeno natural. O homem moderno, por outro lado, começa a aceitar a idéia de uma estrutura mutável e fluida dos valores da sociedade. Visto desapaixonadamente, este conceito está em completo desacordo com  uma norma divinamente ordenada, inalterável, sem mudança. A natureza incansável desta norma pode ser atribuída à eternidade de Allah, o Todo Poderoso, que nos deu os padrões de "Bem" e "Mal" a serem concretizados através dos ensinamentos do Profeta.

Cabe assinalar que na estrutura do secularismo, é o homem quem faz as regras e determina seus vícios e virtudes. A glória é outorgada ao homem ao invés de a Deus. Obviamente, esta filosofia se confronta com as crenças e práticas islâmicas.

Uma vez que as duas filosofias são diametralmente opostas, devemos supor que elas continuarão lutando até que uma  tenha dominado a outra completamente? Em nosso entender, essa é uma visão bem sádica, ter pouco a fazer com realidades palpáveis. Reconhecemos que a visão de mundo do Islam é diferente da do ocidente mas isso não quer dizer que eles devam recorrer à violência e atirar acusações levianas um contra o outro.

No contexto atual, a cultura ocidental é um fenômeno dominante e, como tal, os muçulmanos têm sido inegavelmente afetados por ela. Como tal, os países muçulmanos aceitaram, de boa vontade ou não, as influências da educação liberal ocidental com o resultado que vemos de destruição e confusão nas sociedades muçulmanas, sem qualquer perspectiva em vista. Neste contexto, sentimos que se as sociedades muçulmanas forem sérias na preservação de seus valores morais básicos e salvarem seus intelectuais da lavagem cerebral completa, elas devem reformular as metas e objetivos da educação muçulmana, tendo em vista as exigências atuais.

É promissor ver que, recentemente, estudiosos e educadores muçulmanos tenham começado a examinar a filosofia predominante da educação e estejam formulando recomendações a fim de integrar tanto o secular como o dinivo. O que se exige hoje é olhar para a situação criticamente e ver até onde as sociedades muçulmanas podem aceitar influências do ocidente sem comprometer os valores perenes de sua fé. Enquanto realiza as pesquisas, devemos ser realistas em nossa abordagem e ver todo o espectro com uma mente aberta, sem sujeitar nossa pesquisa a noções preconcebidas ou ao preconceito.

É de se lamentar que uma nova tendência em detrimento dos valores islâmicos esteja surgindo tão rapidamente. Vemos à nossa volta inúmeros estudiosos muçulmanos que seguem o ocidente e tomam a filosofia ocidental como um evangelho e sujeitem o Islam a ela. Esses estudiosos acreditam que o Islam, como força política, perdeu seu impacto e, assim, o caminho que resta é formular uma nova jurisprudência contrária àquela consagrada no Alcorão e nas sunas. Esta abordagem é absolutamente sacrílega e por isso precisa ser veementemente condenada. Esses falsos estudiosos não conseguiram perceber que o mundo muçulmano é uma entidade qualitativamente diferente do mundo ocidental. As abordagens muçulmana e ocidental da realidade são diferentes. Na verdade, o futuro do Islam no mundo moderno depende da manutenção da norma islâmica, não através do compromisso com o liberalismo, mas através do enfrentamento deste desafio do secularismo, fornecendo uma alternativa islâmica racional.

Em suma, para livrar os seres humanos do pântano do caos e da confusão, os muçulmanos precisam apresentar um aspecto dinâmico de sua fé. Uma vez feito isso, seguir-se-á um longo caminho na remoção da desconfiança mútua entre o Islam e o Ocidente. Então, o entendimento resultante engendrará a boa vontade de ambos os lados. O primeiro requisito para se conquistar isto é desenvolver uma atitude de espírito positiva, a fim de que estejamos preparados para ouvir um ao outro, respeitar as tradições de um e outro e aprender com as experiências de um e de outro.

 

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