A INEVITÁVEL LÓGICA DA REPRESSÃO AMERICANA NO IRAQUE Por Richard Phillips A resposta do governo Bush à revolta popular contra a ocupação do Iraque foi desencadear uma onda de represálias sangrentas. Helicópteros, aviões, tanques americanos e soldados armados até os dentes cercaram Fallujah, no triângulo sunita, enquanto eram realizados ataques militares a Sadr, em Bagdá, e em outras áreas sob controle xiíta. Centenas de inocentes civis, homen, mulheres e crianças, foram mortos ou feridos e o exército americano destruiu casas, fábricas e mesquitas. A mídia americana, que age como claque para Washington, pediu ataques ainda mais violentos. Como George Will, do Washington Post, que, na semana passada, declarou: "Na guerra contra as milícias, cada porta que os soldados americanos derrubam, cada espectador civil baleado - haverá muitos - as coisas piorarão por algum tempo. No entanto, a primeira tarefa da ocupação permanece a primeira tarefa do governo de estabelecer um monopólio sobre a violência." Repercutindo isto, David V.Rivkin e Lee A. Casey, antigos membros dos governos Bush, pai, e Reagan, pediram a criação de cortes militares no Iraque para impor penalidades severas, inclusive execuções, dos rebeldes iraquianos. Qualquer coisa menos do que isso, disseram eles no Washington Post, seria encarado como um sinal de fraqueza e estimularia o "terrorismo". Essas exigências cruéis lembram a repressão da Argélia pelo imperialismo francês, no período 1957/62, que levou algo em torno de um milhão de vidas e apontam na direção das represálias estilo nazistas contra a população civil do Iraque. Embora o governo Bush não seja um regime fascista, a tentativa de Washington de controlar o petróleo iraquiano e implementar seu objetivo de longo prazo de reorganizar politicamente o Oriente Médio para beneficiar as corporações americanas, só pode ser sustentada através do terror militar. Há uma lógica inevitável nesse empreendimento colonialista. À medida que a resistência à ocupação estrangeira cresce, o poder ocupante responde com uma violência ainda maior. Mais cedo do que pensa, Washington se verá obrigado a empregar os tipos de métodos utilizados pelos nazistas para suprimirem os movimentos de resistência na Europa ocupada durante a II Guerra Mundial. Nos primeiros anos daquela guerra, muitos civis defensores da resistência foram deportados para a Alemanha e levados a julgamento em cortes especiais. No entanto, assim que a população dos campos de concentração cresceu e a oposição aumentou, os ocupantes alemães adotaram métodos cada vez mais bárbaros e desesperados. Segundo o historiador inglês Mark Mazower em seu Inside Hitlers Greece: The Experience of Occupation 1941-44: "Na ausência de uma estratégia militar coerente para conter as guerrilhas, a Wehrmacht confiou pesadamente em políticas e ordens que atingiam alvos civis ... Uma das suposições por trás da política de ocupação alemã era a de que "o terror tinha que ser respondido com o terror", para forçar a população a retirar seu apoio aos rebeldes. Embora as represálias sejam muitas vezes uma resposta instintiva de soldados isolados, assustados, o conceito de retaliação ocupou um lugar especial no princípio da justiça militar, fixado dentro de uma estrutura mais ampla de atitudes sociais do Terceiro Reich e exigida com toda a autoridade de seu cargo pelo próprio Fuhrer." Em outras palavras,o assassinato a sangue frio tornou-se política administrativa para subjugar regiões e países inteiros.De acordo com a orientação de um militar alemão: "Todo civil que impeça ou incite os outros a dificultar a atuação das Forças Armadas Alemães é considerado guerrilheiro." Será isto o que a Casa Branca e o Pentágono têm emmente quando declaram que planejam eliminar toda a resistência iraquiana? Ordens emanadas do comandante militar alemão, Wilhelm Keitel, um dos que foram julgados por crimes de guerra no Tribunal de Nuremberg, em 1945, definiu assim a política de represália nazista: "Esta luta não tem nada a ver com nobreza militar ou normas da Convenção de Genebra. Se esta guerra ... não for feita com os métodos mais bruais, as forças disponíveis farão o suficiente para vencer esta praga. Os soldados estão justificados e se obrigam a recorrer a todas as medidas - mesmo contra mulheres e crianças - sem clemência, enquanto não forem bem sucedidos." O alto comando alemão determinou quotas mínimas para as represálias: de 50 a 100 reféns deveriam ser abatidos por qualquer ataque, ou morte, de um soldado alemão; 10 deveriam ser executados se um soldado alemão fosse ferido. Esses números várias vezes dobravam ou triplicavam. Um dos numerosos crimes de guerra cometidos pelos nazistas, ocorreu na Tchecoslováquia, que se seguiu ao assassinato de Reinhard Heydrich. Hitler ordenou um massacre sangrento e duas aldeias, Lídice e Lezaky, foram escolhidas para a punição. As tropas de assalto alemães cercaram as duas aldeias e executaram toda a população masculina e algumas mulheres e crianças e as aldeias foram arrazadas,ficando em ruínas. Como a guerra continuasse, a destruição de Lídice e Lezaky transformaram-se no modelo da resposta da Alemanha fascista à resistência em todos os países ocupados. Em maio de 1941, soldados nazistas invadiram Creta e responderam à oposição local com "operações de vingança", que consistiam em tiros, impostos forçados, incêndio de aldeias e extermínio (Ausrottung) da população masculina empartes da ilha. "Todas as operações devem ser realizadas com grande rapidez, deixando de lado as formalidades e dispensando as cortes especiais ... Estas ordens não valem para os animais e assassinos", declarou um comandante alemão. Em julho de 1943, o general Lohr instruiu a 1a. Divisão Panzer a tomar "as mais rigorosas medidas"contra qualquer sinal de hostilidade e preveniu que qualquer comandante que fracassasse nesse objetivo enfrentaria serveras medidas disciplinares, inclusive corte marcial. Um ano mais tarde, em agosto de 1944, soldados nazistas em Creta receberam ordens para "agirem vigorosamente ... a fim de impor nossa vontade sobre a população grega e para provar que podemos assegurar nosso poder em toda a ilha." A ordem continuava: "Para este fim, não pode mais haver moderação em relação a homens, mulheres e crianças inocentes." Embora a administração Bush e o Pentágono ainda não estejam ordenando que os soldados americanos atirem de forma deliberada em mulheres e crianças, ultimamente só há uma resposta para a crescente oposição popular à ocupação americana ilegal: mais violência militar e terror. Um oficial militar inglês no Iraque queixou-se, neste fim de semana, de que o exército americano via os iraquianos como Untermenschen (subhumanos), uma frase que Hitler usava para descrever aqueles que ele considerava inferiores do ponto de vista racial - judeus, ciganos e eslavos. Publicado em 12/04/2004, no WSWS |