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ATUALIDADES

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KERBALA EM RUÍNAS PELO EXÉRCITO AMERICANO

Por James Conachy

Após três semanas de combate devastador, o exército dos Estados Unidos afirma ter retomado o controle da cidade de Kerbala dos militantes da resistência iraquiana, que são liderados pelo clérigo xiíta Mokhtada al-Sadr. Tanques americanos e veículos blindados entraram pelo centro da cidade nas noites de sexta-feira e sábado, próximo aos templos xiítas sagrados de Imam Hussein e Imam Abbas, que resistiram ao ataque. Registrou-se que a polícia iraquiana controlada pelos Estados Unidos mais uma vez estava realizando o patrulhamento.

O comportamento do exército americano em Kerbala não recebeu, basicamente, qualquer atenção da mídia internacional. A agressão americana deixou em ruínas ruas inteiras da cidade velha em torno dos templos. A agência France Press (AFP) contou no sábado: "Prédios foram devastados, muros bombardeados e os negócios ficaram reduzidos a pilhas de escombros, com fios retorcidos saindo dos destroços ... restos de  veículos destruídos e queimados, espalhados pelo chão, enquanto os moradores irritados tropeçavam nos cabos elétricos caídos"  Grande parte da mesquita Mukhaiyam foi danificada. Balas e metralhadoras deixaram suas marcas em centenas de casas.

Kerbala foi efetivamente resgatada pelo exército americano - com a ameaça implícita de que, a menos que a milícia de al-Sadr acabasse com a resistência, os templos xiítas seriam inevitavelmente danificados pelas bombas e o fogo das metralhadoras que seriam lançados sobre eles. Na sexta-feira de manhã, uma escola e outros prédios imediatamente atrás do templo de Hussein, onde supostamente a milícia do Exército Mahdi, de al-Sadr tem seu quartel general, foram bombardeados violentamente pelos tanques e canhões. A Al-Jazira contou que pelo menos nove civis foram mortos. Um oficial americano descreveu a área  ao sul do templo como de "destruição total e completa."

Há novas acusações vindas de Kerbala de que os soldados americanos estão, de forma intencional, matando jornalistas e fotógrafos que documentam suas ações. Rashi Hamid Wali, de 44 anos, um câmera membro da equipe da Al Jazira, foi abatido a tiros na sexta-feira de manhã, no quarto andar de um hotel, quando tanques americanos passavam pelo local. As redes estão exigindo uma investigação. Em 14 de maio, tanques americanos bombardearam o telhado do Thulfiqar Hotel, onde vários jornalistas estavam trabalhando.

As forças americanas iniciaram uma ofensiva de retomada de Kerbala no início de maio. Os militantes iraquianos, armados apenas de armas de pequeno porte e granadas enfrentaram veículos blindados, helicópteros e metralhadoras e a infantaria dos Estados Unidos com seus soldados protegidos com coletes e equipamentos de visão noturna. O exército dos Estados Unidos alega ter matado, pelo menos, 120 militantes de al-Sadr, contra 4 americanos mortos e 52 feridos. Não há estimativas confiáveis sobre o número de civis que foram mortos ou feridos. Milhares de pessoas fugiram da cidade.

Os soldados americanos entraram em Kerbala no fim de semana e não encontraram sinal das centenas de militantes iraquianos que ocuparam a cidade desde o início de abril até a semana passada. De acordo com um correspondente do New York Times, membros do Exército Mahdi foram vistos na quinta-feira e sexta-feira empacotando suas armas em malas e deixando suas posições defensivas que tinham sido ocupadas em torno dos templos. O Times relatou que os residentes da cidade contaram aos soldados americanos, no domingo de manhã, "que ônibus carregados de militantes vindos de Fallujah" também tinham partido de Kerbala, na sexta-feira, concluindo que eles não tinham as armas necessárias para combater os tanques americanos.

O comandante de campo dos soldados americanos na área, coronel Peter Mansur, disse aos jornalistas: "Parece que eles arrumaram tudo e voltaram para casa."

As circunstâncias que levaram à retirada da resistência iraquiana ainda não estão suficientemente esclarecidas. O importante líder xiíta, Ali al-Sistani, fez repetidos apelos para que os milicianos de Sadr abandonassem Kerbala e Najaf para garantir que os templos xiítas não fossem danificados.

Um porta-voz de al-Sadr, no entanto, afirmou que a saída foi o resultado de negociações com o exército americano, que teria concordado em se retirar do centro da cidade desde que os milicianos fizessem o mesmo. O comando americano nega a existência de qualquer trégua ou negociação. Mas, na sexta-feira de manhã, soldados americanos receberam ordens para se retirarem das posições centrais nos arredores de Kerbala que eles tinham tomado em torno da mesquita de Mukhaiyam. A pausa no combate foi a oportunidade para que os combatentes iraquianos partissem.

Se foi resultado de negociações ou não, o fato é que a capacidade de centenas de insurgentes iraquianos de se misturarem à população para combater no dia seguinte, é a demonstração das tremendas dificuldades militares que enfrentam as forças de ocupação dos Estados Unidos. Elas estão combatendo uma revolta que é capaz de obter o apoio da maioria dos iraquianos e sustentar uma indefinida guerra de guerrilha. Embora os porta-vozes americanos declarassem que os militantes em Kerbala não gozassem da simpatia da população da cidade, não há relatos de moradores ajudando ao exército dos Estados Unidos a identificar os milicianos, sejam xiítas sejam sunitas, que se juntaram na defesa da cidade. 

O foco das operações do exército dos Estados Unidos está mudando agora para Najaf e as cercanias da cidade de Kufa - as últimas áreas sob o controle do levante de al-Sadr. Espera-se que muitos dos combatentes iraquianos de Kerbala façam o mesmo caminho para Najaf para incorporarem-se a al-Sadr e aos milhares de milicianos que estão entricheirados no templo de Imam Ali - o local religioso xiíta mais reverenciado.

Na sexta-feira, tropas americanas capturaram Mohammed Tabtabai, um conhecido ajudante de al-Sadr, quando ele estava em viagem, entre Najaf e a cidade de Kufa. Parece que, provavelmente, os Estados Unidos acreditavam que os carros estavam levando o próprio al-Sadr. Ele tinha falado algumas horas antes para uma audiência desafiadora de 1.500 milicianos, na principal mesquita de Kufa, dizendo a eles que "não permitam que minha morte ou prisão seja uma desculpa para deixar de fazer o que deve ser feito, apoiando a verdade e resistindo ao que está errado."

No domingo, tropas americanas e uma unidade iraquiana tomaram de assalto a mesquita de Sahla, em Kufa. Um tanque foi usado para arrebentar os portões da mesquita. Enquanto o exército dos Estados Unidos alegava ter matado 20 milicianos na operação, o principal hospital em Najaf recebia 14 corpos e 37 feridos que eram, em sua maioria, não combatentes. No domingo, ocorreu outro combate no cemitério xiíta, na extremidade de Najaf, o qual os milicianos vinham usando para atacar com morteiros as posições americanas. As forças americanas agora estão se aproximando do centro da cidade.

A perspectiva de um ataque americano a Najaf está desencadeando terríveis sentimentos por todo o Iraque e Oriente Médio. Os bairros da classe trabalhadora xiíta de Bagdá, a principal base de apoio de Sadr, estão em estado de tensão máxima e podem revoltar-se a qualquer momento.

Na sexta-feira, aconteceu uma demonstração xiíta no Bahrein - um estado-cliente dos Estados Unidos e principal base naval americana no golfo pérsico. Mais de 20 pessoas saíram feridas nos choques quando a polícia tentou dispersar a manifestação. Para realçar a situação explosiva, o rei do Bahrein destituiu seu ministro do interior por ter ordenado que a polícia atacasse os manifestantes e publicou uma declaração em que dizia partilhar "da raiva do nosso povo contra a opressão e agressão que vem ocorrendo na Palestina e nos templos sagrados."

No Líbano, mais de 300.000 pessoas participaram de uma demonstração na sexta-feira, em Beirute, convocada pelo movimento xiíta Hisbolá, "na defesa dos templos xiítas sagrados em Kerbala e Najaf, contra as forças de ocupação lideradas pelos Estados Unidos no Iraque". Milhares de libaneses xiítas vestiam mortalhas brancas e levavam retratos de al-Sadr. Milhares de palestinos também marcharam,denunciando as atrocidades cometidas pelo exército israelense em Gaza.

O secretário geral do Hibolá, Sayyed Hassan Nasrallah, falou para os manifestantes: "Os iraquianos decidem quando,como e onde lutar pela libertação de seu país. No entanto, quando chegar a Najaf e Kerbala, nós nos consideraremos diretamente envolvidos. Vestiremos nossas roupas fúnebres e mostraremos ao inimigo que estamos prontos para lutar e morrer na defesa dos templos e locais sagrados.

Publicado em 24/05/04, no

 

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