ATUALIDADES
O QUE BUDA DIRIA AO TALEBAN?
Por Enver Masud
A destruição das estátuas de Buda pelo Taleban, em Bamiyan, no Afeganistão, provocou uma condenação quase que universal. No entanto, uma voz ainda não foi ouvida, a do próprio Buda.
O que Buda diria se tivesse testemunhado 13 séculos de domínio muçulmano no Afeganistão, durante os quais toda a herança cultural foi preservada? Contudo, em apenas 21 anos, desde a invasão russa de 1979, "milhares de objetos gregos, iranianos e hindus deste passado afegão foram contrabandeados para fora do país, pelo voraz e amoral mercado de arte do ocidente" - Robert Hughes, "Buddha Bashing", Time, 19/03/2001.
O que Buda diria, tendo testemunhado uma década de
ocupação soviética, sobre a expulsão, pelos corajosos afegãos, da poderosa
superpotência soviética, que levou à sua morte e à queda do Muro de Berlim, a um custo
de 1.5 milhões de afegãos mortos, outro milhão de mutilados, 6 milhões que emigraram
por causa da brutalidade russa e de muitos milhares que ainda continuam a ser mutilados ou
mortos em razão das minas terrestres deixadas pelos soviéticos?
O que Buda diria aos Estados Unidos, que, apesar disso, não só voltou as costas para os
afegãos, mas continua a fomentar uma guerra civil contra o Taleban, que trouxe segurança
para 90% do Afeganistão controlado por eles, e que, conforme relatado, eliminou
praticamente toda a produção de ópio (aproximadamente 75% do suprimento mundial), mas
que vê a paz e o progresso frustrados pelos Estados Unidos?
O que diria Buda aos Estados Unidos que, em meados dos anos
90, embargou armas para os muçulmanos bósnios, e ao mundo que apoiou e assistiu ao
genocídio dos bósnios e à destruição, pelos cristãos ortodoxos sérvios e católicos
croatas, de 8.000 mesquitas e tesouros inestimáveis do Museu Nacional da Bósnia?
O que diria Buda à OTAN, que, em seu 50* aniversário, para proteger sua credibilidade, e
ansiosa por uma nova missão após o colapso da União Soviética, sob o disfarce de
salvar os muçulmanos do Kosovo, bombardeou alvos civis e militares na Iugoslávia?
O que diria Buda aos Estados Unidos (que satanizam o inimigo Taleban), que procuram
controlar o petróleo do mar Cáspio, para justificar os gastos com defesa (a parte
americana nos gastos militares mundiais é de cerca de 35%, muito mais alto agora do que
na época da Guerra Fria, e perto de três vezes mais do que o potencial de todos os seus
adversários juntos), e impedir que outros construam um oleoduto no Afeganistão?
O que diria Buda aos chineses, russos e hindus que receiam o apoio do Taleban aos muçulmanos oprimidos da província chinesa de Xinjiang, da ex-república soviética da Chechênia e do disputado estado da Caxemira?
O que diria Buda às grandes potências mundiais, pela
determinação em proteger as estátuas de Bamiyan, enquando pouco fazem para impedir a
destruição das casas palestinas, as mortes de centenas de palestinos, armados apenas com
pedras, alguns rifles e armas automáticas, contra o mais poderoso estado e poder nuclear
no Oriente Médio - Israel?
O que diria Buda a "um mundo (que) parece preocupar-se mais com a destruição de
duas estátuas de pedras, as quais, sejamos honestos, dificilmente alguém tinha ouvido
falar há até 10 dias atrás, do que com os cerca de 100.000 refugiados que estão
morrendo de fome e congelados em Hirat, a uns poucos quilômetros de distância
deles?" "The Afghan Iconoclasts", The Economist, 10/03/2001.
Nascido em 563 a.C., na India, Sidarta Gautama, o Buda, sentiu-se profundamente comovido com o sofrimento de seu povo e, com a idade de 29 anos, abandonou seu reino e uma vida de luxo para buscar a iluminação. Quando lhe perguntavam "Tu és um santo?, Tu és um anjo?, Tu és um deus? O que tu és?" ele respondia "sou um avatar". Sua resposta tornou-se seu título, porque este é o significado de Buda.
Buda poderia perguntar ao mundo "Sois um avatar?" Para o Taleban poderia dizer "Não consegui aliviar o sofrimento do povo afegão. Perdoe-me."
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Publicado em 18/03/2001
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