ATUALIDADES
NASCIDO PARA SER LIVRE
Por Apty Bisultanov, filósofo e poeta checheno
Os chechenos vivem em um pequeno território, o qual, em vários períodos da história, foi alvo de interesses ambiciosos de inúmeros povos que eram poderosos na época. Cada contato com os estrangeiros causava um cataclismo (catástrofe) para os chechenos, porque os poderosos normalmente só tinham um instrumento para alcançar seus objetivos - a força. O uso da força desemboca na guerra e toda guerra provoca perdas e destrói tudo o que foi construído.
Nascido para ser livre, o checheno jamais foge aos desafios, o que aproxima sua nação da completa eliminação. Mesmo derrotado, o checheno não pode aceitar o cativeiro, porque tudo se modifica - o modo de vida, as tradições, a mentalidade, as características genéticas. Em resumo, significa perder da originalidade concedida por Deus - uma relíquia de toda nação - e deixar de ser checheno.
A guerra atual não é apenas o resultado do conflito entre a Rússia e a Chechênia, mas do conflito entre chechenos e todo o mundo moderno. O mesmo aconteceu com os mongóis e os tártaros, com Tamerlão, e vem acontecendo há três séculos na Rússia. E continuará até que o mundo perceba que está lidando com uma civilização que teve êxito em realizar uma rara experiência de criar uma sociedade que estava destinada ao mecanismo de supressão. As instituições públicas orientaram as relações humanas lá, enquanto dominavam a liberdade, a honra e a dignidade do indivíduo.
É difícil para o mundo moderno entender a lógica dos chechenos, quando eles se lançam, mais uma vez, a uma guerra que não poderão vencer. Mas, após muitos anos de total incapacidade de resistir, após enfrentar uma opção entre render-se ou morrer, os chechenos desta vez, viram a liberdade de lutar e morrer pela própria liberdade.
O mundo moderno está atônito e não pode compreender o milagre de como um pequeno povo, sem um exército regular e sem serviço militar obrigatório, pode resistir à enorme força de milhares e milhares de homens fortemente armados. O mundo até tenta encontrar uma explicação na fraqueza de um dos maiores poderes militares. Mas não!
As razões estão expressas no "Manifesto contra o serviço militar obrigatório e o sistema militarista", assinado no início do século XX por contemporâneos famosos. Ele diz que "O serviço militar obrigatório leva à degradação da personalidade humana, à eliminação da liberdade". Somente um povo geneticamente livre está pronto para uma nobreza genuína, para grandes sacrifícios por conta de valores supremos.
A tragédia dos chechenos é que o mundo simplesmente não nos conhece. Nossos ancestrais assinaram a convenção banindo armas de ataque mil anos antes que a Europa o fizesse. Um homem atacando alguém com sua faca é declarado um pária na sociedade chechena, que fixou rigidamente os direitos e deveres não só do homem mas também dos animais e dos pássaros. Uma pessoa que ouse caçar um bode caucasiano durante o período de acasalamento, ou recorrer à violência contra o fraco é declarado ignóbil e privado do direito de ser um livre membro da sociedade chechena.
Nossa vida está fundamenta-se em valores supremos e rejeita mentiras, violência e escravidão. Somente um homem verdadeiramente livre é capaz de respeitar a liberdade e morrer por ela. Não queremos derrotar ninguém ou despojar quem quer que seja da liberdade. Queremos assegurar a liberdade para o mundo!.