AFEGANISTÃO, UMA NAÇÃO ABANDONADA ÀS DROGAS


Por Nick Meo, em Jalalabad, e Leonard Doyle

- País produz 87% do ópio global. De cadda 10 afegãos, um trabalha no comércio do ópio. Segundo a ONU: o país é o segundo pior lugar do mundo para se viver.

Três anos depois da queda do Talebã, a ONU, ontem, fez um dramático pedido de ajuda, dizendo que a plantação de ópio no Afeganistão está florescendo como nunca e que o país está a caminho de se tornar um narco-estado corrupto. Uma estatística sobre ópio efetuada pela ONU revela que o cultivo de papoulas aumentou cerca de 2/3 este ano, dado este que certamente provocará um profundo incômodo a Tony Blair que havia anunciado, em 2001, que havia erradicado o flagelo do ópio juntamente com o Talebã.

A ONU está tão preocupada que está sugerindo um remédio mais radical do que jamais foi adotado que é o de trazer as forças americanas e inglesas para empreender uma guerra contra as drogas semelhante à guerra contra o terror. A organização pretende destruir as plantações dos fazendeiros  antes que possam ser colhidas.

O relatório do Escritório da ONU para Drogas e Crimes (UNODC) diz que o comércio de narcóticos é muito maior do que se possa imaginar. A maioria dos especialistas em Afeganistão acreditam que, mais do que a revolta do Talebã, a droga é o fator mais importante para a violência e instabilidade permanentes no país.

No início da guerra afegã, Blair informou ao Partido Trabalhista que "90% da heroína que circulam pelas ruas de Londres são provenientes do Afeganistão". Apesar de todas as evidências mostradas pela ONU de que o Talebã havia suprimido o comércio de drogas, Blair disse: "As armas que os talebãs compram hoje são pagas com a vida dos jovens ingleses que compram droga nas ruas da Inglaterra. Esta é uma outra parte do regime que devemos procurar destruir."

No entanto, há uma evidência cada vez maior de que, apesar de algumas melhorias, o Afeganistão tornou-se um estado falido. Agora é listado pela ONU como o segundo pior país do mundo para se viver, só ultrapassado por Serra Leoa.

Funcionários ingleses assinalam que a economia afegã está crescendo, que três milhões de refugiados voltaram para casa e que quatro milhões de crianças estão nas escolas. Porém, o relatório de ontem revela que o motor do crescimento econômico é a produção de ópio. No ano passado, o Afeganistão exportou 87% do fornecimento mundial. Segundo a ONU, o ópio é agora o "principal motor do crescimento econômico e o mais forte laço entre pessoas antes tão beligerantes". A maior parte do ópio é contrabandeado ao longo da fronteira paquistanesa, onde o Talebã e a al-Qaeda cobram taxas de proteção e de trânsito aos traficantes de drogas.

O relatório da ONU de 2003, verificou que um em cada 10 afegãos - muitos deles refugiados desempregados - está envolvido com o comércio de droga o qual, no ano passado empregou cerca de 2.3 milhões de pessoas e contribuiu em 60% para o crescimento do PIB.

Em apenas um ano, a área de plantio aumentou em 64%. A produção foi estimada em 4.200 toneladas, um aumento de 17% em relação ao ano passado. O único ano em que a produção foi maior foi em 1999, antes de o Talebã proibir inteiramente a produção.

Antonio Maria Costa, diretor executivo do UNODC, insistiu para que a OTAN e os Estados Unidos se alem para combater o comércio de droga e que advirtam em termos só utilizados na guerra que "Agora no Afeganistão as drogas representam um perigo", disse ele.

Os Estados Unidos, preocupados com o financiamento do terrorismo pelo narcotráfico, prometem gastar US$ 780 milhões no próximo ano na guerra contra as drogas. Uma parte desse dinheiro será gasta na introdução de meios de subsistência alternativos para os fazendeiros. No entanto, a maior parte provavelmente será aplicada em medidas que estão sendo discutidas em Washington, tais como a destruição dos campos de papoulas, e o julgamento dos barões pelos tribunais americanas

Antes de declarar guerra ao Talebã, Blair prometeu aos afegãos: "Desta vez, não nos afastaremos de vocês." Na semana passada, ele jurou que iniciaria um novo ataque ao comércio de ópio. A Inglaterra está liderando um esforço internacional para acabar com a produção e destacou L$ 70 milhões para os próximos três anos para o com] do comércio de drogas.
 

Publicado em 19/11/04, no Indepedent