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ATUALIDADES

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ARIEL SHARON CAIU NA ARMADILHA E NÓS O ESTAMOS SEGUINDO

 

Osama bin Laden está escrevendo o roteiro da guerra contra o terror.

01/12/02

Já  passou o tempo em que Bali foi o caso do ano, o ato mais violento após doze meses, a ser lembrado com horror como o crime mais terrível de dezembro. Mas Bali foi só a história do mês. E logo, talvez, os bombardeios de Karachi, e os bombardeios de Bali, e os bombardeios de Mombasa, serão as histórias da semana. Vejam só como nos acostumamos com a morte em grande escala. Qual será o pesadelo desta semana? Quantos inocentes serão mortos até você abrir o Independent do próximo domingo?

Mas, as mortes da semana passada, no Quênia, e a tentativa de ataque ao avião isralense foram mais importantes do que a maioria de nós podemos perceber. Porque, ao meter Israel no laço - permitindo que se torne um parceiro da asinina "guerra contra o terror" do presidente Bush - a al-Qaeda garantiu que o mundo árabe muçulmano daqui para frente verdadeira e tranquila simpatia a Osama bin Laden. Responsabilizados pelos crimes contra a humanidade de 11 de setembro de 2001, poucos árabes se oporão a um ataque contra os israelenses, ainda que cruel, enquanto a destruição dos palestinos continuar. Se a al-Qaeda agora é contra Israel, os árabes lhe darão seu apoio.

Com uma total previsibilidade, Ariel Sharon caminhou para a armadilha preparada pela al-Qaeda. Ele prometeu "vingança". Portanto, qualquer ataque a al-Qaeda - pela América, Inglaterra, Austrália - será visto como um ataque israelense. Estados Unidos, Inglaterra e Israel, agora, estão lutando do mesmo lado. No curto prazo - e sua falsa tentativa de ligar Yasser Arafat a bin Laden - Sharon pode ter conseguido alguma vantagem. Afinal, a guerra de  Israel contra o "terror" palestino pode ser colocada em pé de igualdade com sua nova guerra contra a al-Qaeda. Os terríveis porta-vozes de Sharon não mais terão que justificar a brutalidade do exército com os palestinos. Israel está na mesma guerra do "bem contra o mal" que Bush inventou para nós há apenas um ano atrás.

Mas, para os israelenses, existe um grande erro em tudo isto. Responder a um perverso ataque da al-Qaeda a seus civis é admitir a existência de um grande e  poderoso oponente. Porque os homens de bin Laden não são suicidas desesperançados que os palestinos produzem em seus fétidos campos de refugiados. Os homens treinados no Afeganistão que compõem a legião de bin Laden não surgiram da miséria de Gaza ou das massas da Cisjordânia ocupada. Eles são implacáveis, altamente motivados, inteligentes - William Safire estava certo quando os definiu como "guerreiros brutais" - e eles podem ser mais do que um desafio para os homens do serviço de inteligência de Israel. A gentalha do exército israelense mata a criança que atira pedras com facilidade. Mas, a al-Qaeda é um inimigo muito diferente. E, se Sharon quiser enfrentar bin Laden, ele está fazendo com que Israel vá à guerra com seu mais poderoso inimigo em 54 anos de existência. De longe, é melhor deixar que os americanos desafiem a al-Qaeda - e mesmo que pareça que não tenham êxito - do que trazer Israel para o campo de batalha.

No entanto, agora Bush e Blair terão de que observar em silêncio a forma como Sharon submete os palestinos dos territórios ocupados. Israel agora está comprometida com a nosso guerra, está do nosso lado e o que quer que Israel faça terá agora o selo da "guerra contra o terror". Israel, agora, está do lado dos rapazes do bem e se matar nove crianças quando sua força aérea quiser matar um líder do Hamas, a Casa Branca não poderá sequer dizer que foi uma "inabilidade". (A propósito, é instrutivo notar que, enquanto a morte da criança em Gaza foi uma "inabilidade" nas palavras do porta-voz de Bush, Ari Fleischer, a morte de 12 soldados e policiais israelenses foi descrita pelo mesmo cavalheiro como "crime hediondo".)

Mas, por um instante, vamos olhar por um outro ângulo. Alguém viu alguma coisa inoportuna sobre o último episódio da "guerra contra o terror"? Alguém percebeu qualquer dos falcões de galinha da administração americana ou de Downing Street dizer que eles estão perdendo a iniciativa? Alguém notou que bin Laden está escrevendo o roteiro? A al-Qaeda ataca Nova York, e nós atacamos o Afeganistão. A al-Qaeda ataca Bali e o governo australiano torna a confirmar seu apoio à América. A al-Qaeda ameaça os Estados Unidos e lá vamos nós e matamos quatro de seus integrantes no Iêmen. E nossos governos - até mesmo o irlandês, na semana passada - respondem não para nos proteger, não para para nos juntarmos em um novo sistema de justiça internacional e sim para elaborar leis que diminuirão nossas liberdades e direitos. Sob ataque da al-Qaeda? Vamos abrir clandestinamente os e-mails e escutar os telefonemas de nossos inocentes cidadãos. Vamos brincar com cada muçulmano que atravesse nossos aeroportos. Vamos espionar nosso próprio povo. Como bin Laden -  um homem dificilmente bem humorado, como posso atestar pessoalmente - deve estar se rindo!

E os americanos vão conviver com o Departamento de Segurança do Território. Talvez, a raiz teutônica deste nome seja desconhecida atualmente. Mas, os viajantes nos Estados Unidos já se acham atingidos nos aeroportos por causa da cor da pele ou de sua religião ou de seu trabalho.

Aqui, um pequeno exemplo. Recentemente, terminei uma série de palestras em universidades americanas. Os americanos são um grande povo, são brilhantes e querem conhecer a verdade sobre o Oriente Médio, menos pelas mentiras que lêem e ouvem em seus jornais e canais de televisão sobre a região. Dei minhas palestras de graça. O Independent e o Independent of Sunday têm milhares de leitores nos Estados Unidos e nós, jornalistas, temos a responsabilidade de conversar com eles. Mas, nesta última viagem, eu consegui minha 21ª fiscalização "aleatória" no portão de embarque do aeroporto. Cada vez que viajo em um avião americano, além do pequeno código em meu cartão de embarque, toda a minha bagagem de mão é levada por instantes.

Não me importo em absoluto. A equipe de segurança é educada, mal paga e muitas vezes simpática - eu até convenci um deles a assistir à minha palestra em Manhattan - mas a origem de minha viagem,Beirute, ou os vários vistos de pária em meu passaporte ou, talvez, apenas os meus relatos, me inscreveram na lista de segurança dos Estados Unidos. O código de "segurança" do cartão de embarque é, na verdade, bem fácil de ser decifrado - e se um  idiota como eu pode trabalhar fora, esteja certo de que maus rapazes podem - mas a questão é que, mais uma vez, um cidadão respeitador das leis está pagando o preço por bin Laden.

Agora, alguns questionamentos. Por que devemos deixar que a al-Qaeda escreva o roteiro? Por que não criamos os instrumentos de uma verdadeira legislação internacional? Por que não falamos em "justiça" ao invés de estarmos falando em vingança? Por que não temos tribunais internacionais para que aqueles que querem nos matar possam ter sua conduta julgada? Não quero que os membros da al-Qaeda sejam despedaçados no Iêmen pelos esquadrões de Bush. Eu quero vê-los julgados, de forma justa e com o devido processo. É claro que os americanos se irritarão bastante com isto. Eles não aceitarão que americanos possam ser levados aos tribunais com fins políticos, que soldados americanos possam ser responsabilizados por crimes de guerra - e considerando o comportamento no Afeganistão, posso muito bem perceber porque estão preocupados com isto. Posso ver, também, por que Sharon receia ter que parar em tribunais sob a acusação de crimes de guerra por seu envolvimento no massacre de palestinos em Sabra e Chatila, em 1982. Não sei se Sharon é culpado, mas acho que ele merece um julgamento justo.

Não, não estou comparando a al-Qaeda com Sharon e nem estou associando o inocente ao culpado. Mas, houve um tempo em que escrevemos este terrível conflito. É hora de pararmos de esmagar nossas liberdades. Houve um tempo em que falamos de lei e justiça e correção, não só para criminosos, mas para todo o Oriente Médio

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